Constellation escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Fanfic pertence ao House of Black July (@julytoujourspur) do Twitter.



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Seria bom fazer aniversário quando já estivesse na segurança de seu dormitório na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, mas ela completava anos antes do primeiro dia de aula — dia 25 de agosto, para ser mais precisa. Por esse motivo, a primeira coisa que todos ao seu redor procuraram com o olhar foi o seu pulso direito.

Bellatrix não foi tão discreta. Assim que desceu as escadas para o café da manhã, em frente a toda a família, ela puxou o seu pulso, deixando-o em evidência para que todos pudessem ver.

— É uma constelação, que novidade — disse, antes de finalmente deixá-la em paz.

Era bastante comum na família Black a marca da alma gêmea ser uma constelação ou símbolo astrológico. A dela fazia jus ao seu nome, Andrômeda.

— Bom dia para você também, Bella — retrucou.

Narcissa era a única das irmãs a não ter a marca ainda, já que era a mais nova. Bella tinha uma runa estelar, que significava "deusa das estrelas", e já tinha um par equivalente. Se ela não fosse apenas uma estrela da constelação de Órion, provavelmente teria uma constelação também.

— A marca nunca erra — Druella deu uma olhada em direção a Bellatrix — Foi assim que encontrei o pai de vocês, e Bella encontrou o seu noivo.

— Blablabla — resmungou a mais velha.

Era sempre a mesma discussão. Ela não estava satisfeita com aquele arranjo, mesmo que Rodolphus fizesse todas as suas vontades sem hesitar ou reclamar.

— Eu não consigo ver — comentou Cissa casualmente — Que marca combinaria com a de Andrômeda?

— Desde que não seja Cetus, vai ficar tudo bem — respondeu Bella.

A maioria das constelações tinha uma história por trás, vinda da mitologia grega. Cassiopeia tinha ofendido as nereidas quando declarou que sua filha, Andrômeda, era a mais bela das mulheres. Como castigo, o monstro Cetus foi enviado à Etiópia e a única forma de afastá-lo seria sacrificando-a. Ela foi amarrada a uma rocha, deixada para morrer por seus pais. Seria no mínimo problemático se sua alma gêmea tivesse a constelação de Cetus em seu pulso.

— Eu não deveria ter uma marca que me desse uma dica de quem é? — perguntou, ainda observando as linhas em sua pele — Diz mais sobre mim do que ele.

— Isso varia de pessoa para pessoa, a única regra é que as marcas combinem. Algumas exigem um pouco de conhecimento para serem interpretadas — respondeu sua mãe — Mitologia grega, alfabeto astrológico, runas estelares...

Era quase impossível afastar o assunto de Bellatrix quando falavam sobre a tatuagem — como chamava secretamente, já que se parecia muito com uma.

A sua constelação foi esquecida pelos últimos dias de férias em casa. Quanto mais se aproximava 1º de setembro, mais nervosa se sentia, tanto pela volta às aulas quanto pelo fato de que provavelmente a sua alma gêmea se encontrava na escola.

— Eu mal posso esperar pela minha, não consigo imaginar o que seria. Não tenho nome de estrela como vocês — disse Narcissa quando caminhavam pela plataforma.

Bellatrix não estava acompanhando-as porque já tinha se formado e não gostava de se despedir na plataforma. Dizia ter coisas melhores a fazer do que ir até a estação de trem e voltar para casa logo depois.

— Talvez alguma flor — sugeriu.

Cissa não gostava de ser a única a não ter um nome relacionado a astronomia. A flor não era a preferida de nenhuma delas e Andy sentia que ela não gostaria de ser comparada ao conto grego de Narciso, apesar de ter atitudes semelhantes muitas vezes.

— Onde fica mesmo a cabine dos monitores? — Narcissa a distraiu da sua contemplação inconsciente à tatuagem em seu pulso — Não acredito que terá um dormitório inteiro só para você!

Era possível escutar o tom de inveja em sua voz. Naquele ano, a sua carta de Hogwarts veio acompanhada da sua insígnia de monitora chefe. A escola devia estar com falta de opções se considerava que, de todas as quatro casas, ela era a mais indicada para o cargo.

— O que acha de deixarmos o malão no vagão da Sonserina e depois irmos para a cabine dos monitores? — sugeriu a mais velha.

Seguiram pelos corredores abarrotados de alunos conversando, sem importar-se com atravancar a passagem, e alguns ainda procurando por uma cabine para se instalarem. A cada ano, parecia que mais alunos frequentavam Hogwarts. A escola devia acrescentar um novo vagão a cada ano, pois não era possível caberem todos.

O vagão que era dominado pelos sonserinos era diferente do restante do trem. Provavelmente os trouxas faziam aquela área de vagão restaurante, mas como eles se alimentavam basicamente dos doces do carrinho, era um vagão não muito útil para essa função. Era bom para grupos grandes conversarem entre si, sem precisarem se preocupar com a passagem frequente de alunos pelos corredores, ou com as portas das cabines se fechando a qualquer movimento brusco.

— Deixe-me ajudar.

Andrômeda estava de pé em um dos assentos, tentando empurrar a mala de Narcissa, que estava mais pesada do que a dela. Sua irmã conseguia realizar um feitiço de extensão, mas era incapaz de usar um feitiço peso de pena? Francamente.

Ela desceu, revirando os olhos e permitindo que Lucius se exibisse.

Imaginava se a tatuagem de Narcissa não combinasse com a dele, ia ser um tombo. Conteve um sorriso, repreendendo a si mesma por ser tão cruel em pensamento com sua irmã.

— Vamos, Cissa, vamos nos atrasar — disse apenas.

Lucius era o outro monitor da Sonserina, então ele as acompanhou até a cabine em que tradicionalmente os monitores chefes se reuniam com os monitores. Aquela cabine ficava vazia durante toda a viagem, nenhum outro aluno entrava lá.

A porta já estava destrancada, os monitores da Corvinal já estavam sentados aguardando. Pôde ver Cissa e Lucius torcendo o nariz assim que entraram, ao verem quem era o monitor chefe.

A cabine era estreita, apesar de ser mais extensa internamente do que as demais. Isso porque, além dos dois monitores chefes, cada ano possuía dois monitores por casa. Sendo quatro casas e três anos (5º, 6º e 7º) era o total de 24 alunos. Seriam 26, se não fosse pelos dois monitores chefes.

Os sonserinos sentaram-se o mais afastados possível, mais próximos da porta, como de praxe, enquanto que as outras casas não se incomodaram com isso. Os grifinórios chegaram atrasados, como sempre, e então eles puderam começar a reunião.

— Certo, a professora McGonagall nos passou os planos de ronda desse mês — começou Andrômeda — Pelos problemas que aconteceram no ano passado, agora cada um fará a ronda longe do seu salão comunal.

Alguns alunos tendiam a fazer vista grossa para não tirarem pontos de suas casas.

— Os principais pontos são próximos da cozinha, da Torre de Astronomia, do hall de entrada, do banheiro dos monitores... — e assim seguiu-se a reunião.

A escala foi resolvida em algumas horas, assim como a data da próxima reunião, já dentro do castelo. Os monitores foram liberados, com o dever de ficarem de olho nos corredores próximos de suas cabines, caso acontecesse alguma altercação.

Enrolou os pergaminhos, deixando-os dentro de uma gaveta abaixo dos bancos, como sempre ficavam. Onde geralmente ficavam as malas em outras cabines, tinha algumas caixas atravancadas de itens perdidos no trem. Alguns itens estavam lá há alguns anos, sem seus donos preocuparem-se em ir atrás deles. Ninguém tinha coragem de ir na seção de “achados e perdidos” na sala do Filch durante o ano, então reservavam o início do ano letivo, o final, a ida e a volta das férias de natal para procurar. Por isso, era recomendado que etiquetassem com os seus nomes, para prevenir toda essa burocracia.

— Você leva jeito para isso — disse Narcissa, assim que ela trancou a porta da cabine.

— Uma pena que tenha que dividir esse cargo com um sangue ruim — Lucius estava esperando-as para voltarem ao vagão dos sonserinos.

— Pelo menos ele não me interrompeu durante a explicação — disse Andrômeda, com aquela vontade incontrolável de contrariar tudo o que Malfoy dissesse.

— Claro que não, você parecia saber muito mais do que ele — Narcissa retrucou.

Pensou em dizer que tinham recebido as mesmas instruções, mas sabia para onde aquela conversa iria, então resolveu ficar calada.

Estavam caminhando de volta para o final do trem e sua irmã flagrou o momento em que puxou a manga de sua blusa para olhar a tatuagem no pulso.

— Podíamos tornar a nossa viagem muito mais interessante, se déssemos uma volta no trem — ela sugeriu, fazendo-a franzir o cenho — Vai ser o seu último ano em Hogwarts, a última vez que vamos ficar juntas. Nós passamos todos esses anos nos sentando na cabine e esperando anoitecer, nunca tivemos uma aventura.

— Somos monitoras agora — disse Andrômeda, sem entender onde queria chegar.

— Podemos argumentar que estamos “monitorando” — ela fez as aspas com os dedos — E enquanto isso, dar uma olhada em pulsos por aí.

Então ela entendeu.

— E o que te garante que ele estuda em Hogwarts? Pode muito bem morar em outro país — ela rebateu.

— Esta seria uma boa oportunidade para que vocês fossem ao baile de final de ano — Lucius intrometeu-se no assunto — Todos os sangues puros respeitáveis estarão presentes.

Narcissa pareceu considerar o convite, apesar de seus pais quase sempre obrigarem-nas a ir na reunião anual da sociedade.

— Vou deixar a cargo de Cissa — a morena escapou do assunto, caminhando mais rápido.

Sua irmã, pelo contrário, pareceu satisfeita por ter uma missão a seguir. Ela perturbaria todos os rapazes que encontrasse pela frente, atrás de uma marca que combinasse com a sua, e ninguém estranharia, porque ela era desse jeito. Já Andrômeda, se começasse a agir dessa forma, o que não aconteceria, seria cômico e bem bizarro.

Era um alívio não ter de lidar com Bellatrix, embora ela provavelmente ignoraria tudo.

Considerando que o uniforme escolar incluía uma camisa social de mangas longas, suéter e capa por cima, e estavam próximos do inverno, não era muito fácil encontrar pulsos descobertos. De qualquer forma, não estava tão preocupada com isso, então seguiu com as suas obrigações escolares: estudar para os NIEMs, organizar as rondas, escrever relatórios das reuniões e das monitorias, além de comparecer de vez em quando às reuniões que o professor Slughorn organizava.

Em meados de novembro, o monitor novato da Corvinal foi a primeira dor de cabeça que teve de enfrentar. Os jogos de quadribol tinham começado, e ele já não estava tão preocupado com a monitoria, deixando os relatórios acumulando enquanto ia treinar para o campeonato. Sua parceira lidou com isso por algum tempo, mas até ela precisava estudar para os NOMs, o que deixou tudo nos ombros de Andrômeda. Ela era a monitora chefe, a responsabilidade cairia toda sobre ela.

Suspirou silenciosamente, sentindo a vista cansada pelo sono e por estar lendo há tantas horas. Quem seria o louco que gostaria da ideia de ter mais trabalho para lidar no último ano da escola?

— Ainda acordada?

Ela levantou o olhar.

Em algum momento, tinha decidido que o chão era mais confortável do que o sofá. Pergaminhos estavam espalhados pelo tapete, as chamas da lareira de tempos em tempos precisavam ser mexidas para não se apagarem.

Edward Tonks, o monitor chefe, parecia ter saído do quarto para pegar a garrafa de água que os elfos deixavam no salão comunal, para que não precisassem sair à noite.

Eles quase não conversavam, geralmente eram assuntos da monitoria. Passava a maior parte do tempo no seu quarto, enquanto que ele geralmente ficava mais no Salão Comunal da Lufa Lufa, provavelmente por se sentir solitário ali sem seus amigos. Além do mais, não soaria bem para a sua família se soubessem que estava conversando com um nascido trouxa.

— Pensei que o relatório final fosse só semana que vem — ele comentou, observando por cima os pergaminhos espalhados.

Eles costumavam se reunir na sala de reuniões para passar a limpo os relatórios mensais e entregar um memorando final à professora McGonagall.

— Hughes não tem ido às rondas há duas semanas, e apesar da Payne ter tentado, tem muitos furos nisso aqui — ela disse.

Não a julgava. Não era função dela fazer o seu relatório e de outra pessoa.

— Podia ter me falado, nós poderíamos ter resolvido isso semana que vem — o lufano aproximou-se.

Pegou um pergaminho do chão para ler e então sentou-se ao seu lado.

— Tem uma pena aí?

— O que está fazendo? — ela perguntou.

— Corrigindo um relatório — ele disse, como se fosse óbvio — Você já faz todo o trabalho como monitora chefe, deixe algo aos pobres mortais.

Sentiu seu rosto corar diante da brincadeira.

— A pena? — ele ergueu uma sobrancelha, sem desviar o olhar do pergaminho.

Ficaram algumas horas terminando aqueles relatórios, mas a presença de Tonks tinha acelerado o seu trabalho. Teria passado a noite em claro se não fosse por sua ajuda.

Depois desse dia, ela permitiu-se relaxar por perto do nascido trouxa. Ele sempre se oferecia para ajudá-la em alguma lição, embora às vezes ele claramente não tinha ideia do que estava fazendo.

— Espero que tenhamos mais sorte no baile de réveillon — Narcissa sentou-se ao seu lado, na mesa da Sonserina — Não consegui nada.

Ela batucou os dedos sobre a mesa, uma mania que sua mãe consideraria irritante e a repreenderia ao mesmo instante.

— Como eu disse, talvez já tenha saído de Hogwarts, ou nem estuda aqui — disse Andrômeda — Além do mais, pode ser mais novo, não teria a marca ainda.

Cissa a olhou como se a ideia de ter uma alma gêmea mais nova fosse absurda, e então mudou a sua expressão, voltando a se animar.

— E se não for sonserino? — ela perguntou e então murchou — Poucos sangues puros respeitáveis são de outras casas.

— Cissa... — tentou dizer.

— Vou dar uma procurada na Corvinal, é uma casa aceitável. Vamos torcer para que não seja um grifinório — a loira não permitiu que ela terminasse de falar, levantando-se e afastando-se apressadamente.

Sua irmã era uma força da natureza, impossível de ser contida. Negou com a cabeça, voltando a sua atenção para a sua comida.

Ela teria ronda da monitoria aquela noite com o Tonks, era a primeira vez que caíam juntos na escala.

Deviam caminhar pelos corredores próximos da Torre de Astronomia, dando voltas na região, mas em certo horário, decidiram subir as escadas até lá em cima. Não tinha escolhido frequentar a turma de NIEMs de astronomia, apesar de seu grande conhecimento sobre as estrelas e o céu noturno, então fazia um tempo que não subia até lá.

Caminhou silenciosamente pela sala de aula, tocando nos telescópios de ouro, que eram deixados lá mesmo após as aulas. Era curioso que a maioria das salas de aula não fossem trancadas fora do tempo de uso, isso poderia evitar algumas invasões e assaltos ao estoque particular do professor Slughorn.

Estar naquele ambiente a fez puxar a manga de sua blusa alguns centímetros, podendo visualizar e traçar com seus dedos as pequenas estrelas e linhas que formavam a constelação de Andrômeda em sua pele anormalmente pálida.

— O que significa?

Não assustava-se com facilidade, mesmo com o quão sorrateiro Edward podia ser. Sempre caminhando a passos leves no salão comunal compartilhado deles, sempre com um tom de voz sussurrante e tranquilizante.

Antes e em outras circunstâncias, seria evasiva e até mesmo ríspida com ele, mas respondeu:

— É a constelação de Andrômeda. A marca que aparece nos nossos pulsos quando completamos a maioridade, nos ajuda a encontrar quem é a nossa alma gêmea.

— Então essas linhas são estrelas? — ele riu — E eu pensando que fosse uma brincadeira de "ligue os pontos".

Ela franziu o cenho, olhando para ele.

— Ligue os pontos — repetiu Ted, tentando fazê-la entender — Sério que vocês não têm isso? É muito comum no jardim de infância. As crianças ligam os pontos, que formam um desenho.

— Faz sentido. É quase como acontece com as constelações mesmo — ela deu de ombros.

— Então todos os bruxos acordam com essa marca? — ele perguntou, encostando-se na mureta — E eu pensando que tinha tomado todas e feito uma tatuagem de porre.

Ela deixou escapar uma risada cantarina. Era raro que conseguissem fazê-la rir, sempre foi muito séria.

— É o tipo de coisa que trouxas fazem? — apoiou-se contra a parede de pedras.

— Tatuagens não existem no mundo bruxo?

— Não são muito bem vistas. Geralmente marcam os prisioneiros de Azkaban — e ela ergueu o pulso — ou simbolizam as almas gêmeas, mas não costumamos chamar isso de tatuagem.

Ela nem sabia que nascidos trouxas podiam ser marcados, pensou que era algo exclusivo de bruxos de sangue puro, mas fazia sentido. A magia corria por suas veias da mesma maneira, o que mudava era só a família.

— Você é boa com constelações, então? Porque até hoje não tinha ideia de que era uma — ele puxou a manga do seu braço, mostrando o "ligue os pontos" em seu pulso.

Segurou as costas de sua mão, sentindo uma corrente elétrica percorrer por sua pele. Ignorando a sensação e tentando desfazer o sorriso, se pôs a observar a constelação.

— Parece um cara sem braços nem cabeça — opinou Ted.

Ela teria rido mais uma vez, se não tivesse identificado que constelação era.

Sentiu a sua espinha gelar.

Ficou em silêncio e paralisada por tempo suficiente para que ele estranhasse.

— O que é?

Andrômeda soltou a sua mão, tentando agir com naturalidade para não alarmá-lo. Precisava pensar no que aquilo significava, precisava surtar, precisava de tempo.

— É a constelação de Perseus — ela disse, a sua voz sem estremecer.

Devia ter percebido o que estava prestes a descobrir assim que ele lhe disse que tinha uma constelação. Era tão óbvio. Quantas outras famílias tinham constelações como suas marcas?

— E como funciona? — Ted perguntou, olhando para sua marca, pensativo — A outra pessoa tem a mesma marca que a minha?

— Geralmente as marcas combinam — ela respondeu, virando-se para observar o céu.

— E não existem duas pessoas com a mesma marca? Mas são tantos bruxos pelo mundo! E se depois de séculos surgirem pessoas com as mesmas marcas, isso significa que reencarnação existe?

O pressuposto de almas gêmeas envolvia reencarnação, mas nunca tinha pensado nesse assunto a fundo, então apenas forçou um sorriso às suas perguntas, sem respondê-lo.

Perseus.

A marca de Edward Tonks envolvia a mesma lenda que a sua.

Perseus tinha salvado Andrômeda de ser devorada por Cetus depois que seus pais a sacrificaram para salvar a cidade.

Não tinha como ser uma simples coincidência.

Ela era a alma gêmea de um nascido trouxa.

De volta ao seu dormitório, sentiu-se incapaz de dormir. Começou a pensar em várias coisas. Era tanta estupidez pensar que sangues puros sempre seriam ligados a outros sangues puros. Quer dizer, havia relatos de deserções em todas as famílias, por mais que tentassem abafar. Na família Black mesmo, lembrava-se de Isla Black, que casou-se com um trouxa. Ela não devia ter recebido uma marca aos 17 anos e percebeu que estava destinada a alguém proibido.

Não precisava perguntar a ninguém para saber o que aconteceria com bruxos ligados aos nascidos trouxas. Uma das opções era ser deserdado sem direito a explicações. A outra era que ignorasse a marca e fosse prometido a outro sangue puro que fosse marcado à pessoa "errada" ou não tivesse a marca.

Então por que a marca existia? Sempre pensou que fosse uma maneira de manter o sangue puro, mas...

Tonks era simpático, prestativo, altruísta, engraçado, mas...

Era demais para ela.

Ela teria que escolher entre virar as costas para sua família ou ignorar o seu destino. Isso era sequer possível?

Seria ingenuidade demais pensar que seus pais aceitariam, que ignorariam as suas crenças pela sua felicidade. Sentiu um aperto no peito ao pensar que sua família não a amava o suficiente para apoiar suas escolhas. Odiava chorar, mas sentia-se completamente sem saída. Suas irmãs, seus pais, seus primos, amigos, ninguém poderia saber. Todos a julgariam por algo que não era culpa sua, por algo que não poderia mudar.

Não tinha com quem conversar, além da própria causa de seu drama.

— Você parece péssima. Aconteceu alguma coisa? — Narcissa a abordou no café da manhã do dia seguinte.

— Fiquei acordada até tarde na ronda ontem — respondeu simplesmente, era uma meia verdade.

— Estava pensando, acho que minha estratégia não está funcionando. Preciso reler sobre a história da sua xará, acho que estou deixando alguma coisa escapar.

Cissa era a sua irmã mais próxima.

— Eu quero esquecer desse assunto — ela disse.

— Mas por quê?

Ela tinha ideais românticos demais para a sociedade em que viviam. Se Lucius não fosse a sua alma gêmea... isso partiria o seu coração.

— Porque minha alma gêmea não é um sangue puro respeitável.

A expressão de Narcissa pareceu cair.

— Que tipo de brincadeira é essa? — ela perguntou.

— Não é brincadeira — Andrômeda replicou.

— Bom, que não seja respeitável, mas pelo menos...

— Não.

A loira desviou o olhar dela.

— Mestiço? — sussurrou.

Arrependida de ter dado início ao assunto, ela deixou o seu prato pela metade na mesa e levantou-se.

— Não — disse, antes de afastar-se.

Sua irmã não foi atrás dela, mas sabia que não diria nada a seus pais.

Não lhe dirigiu um único olhar durante a reunião de sexta-feira, retirando-se junto com os outros monitores logo que a pauta terminou. Parecia que não era a única que precisava de tempo e espaço para pensar. Esperava que ela viesse com uma solução brilhante, mas, se pudesse, mudaria tudo? Se pudesse, apagaria a marca de seu pulso ou a mudaria por outra pessoa? Observou silenciosamente Ted pegar os pergaminhos espalhados pelas mesas.

— É quase como se fôssemos professores, não acha? — ele comentou — Você daria uma boa professora de poções ou astronomia.

Ele a olhou e sentiu uma sensação esquisita no estômago.

— E você daria um bom professor de herbologia — respondeu, caminhando até ele.

— Ou zelador — ele resmungou, abaixando o olhar para os pergaminhos.

— Qualquer um seria um zelador melhor que Filch, não tome o mérito inteiro para você — brincou.

— O cara limpa a escola inteira sem magia. Eu nunca o vi usar uma varinha, você já?

Era meio que consenso entre os alunos aristocratas que Filch era um aborto, mas parecia não ser uma informação de senso comum a todas as casas.

— E mesmo odiando crianças, ele ainda trabalha aqui — ela concluiu.

Será que abortos tinham a marca? Havia sangue mágico neles, mesmo que não tivesse se manifestado.

Ted pareceu prever para onde foram os seus pensamentos porque disse:

— O que acontece quando você encontra a sua alma gêmea?

Pegou os relatórios de suas mãos e deu a volta para ir até a maior mesa da sala, à frente do quadro negro.

— Como assim? — perguntou, após pigarrear, abrindo uma gaveta.

— As marcas desaparecem? Elas dão algum indício?

— Como se fossem ímãs? — achou a ideia curiosa.

Era engraçado como, sendo sangue pura, sabia tanto quanto ele, que era nascido trouxa.

Ted aproximou-se dela. Ficou estática, sem entender o porquê, observando enquanto ele pegava o seu braço e expunha o seu pulso. Sentiu aquela descarga elétrica mais uma vez, mas não se afastou. Na verdade, queria se aproximar ainda mais dele.

Os seus olhos foram de seu pulso para o seu rosto. Contemplou silenciosamente as suas feições, antes de descer novamente o olhar, vendo como ele encostava o seu pulso descoberto ao lado do dela.

A tatuagem em seu pulso se moveu. Assustada, afastou o seu braço. Teria sido uma ilusão de ótica?

Levantou o olhar, percebendo o quão próximo ele estava dela. Não conseguiu se afastar, por mais que sua razão dissesse que deveria. Ted pôs as mãos em suas bochechas, puxando-a para um beijo.

Não é que Andrômeda nunca tivesse beijado antes, mas todas as sensações que um simples toque de lábios lhe proporcionou era incomparável a qualquer beijo que tivesse dado antes.

Quando sentiu a língua dele pedindo por passagem, recobrou a consciência e o empurrou.

— Andy...

Ela o ignorou, correndo para fora da sala.

Ele agora sabia. Sabia que as suas marcas se completavam. Sabia que eles eram almas gêmeas.

E ela sabia que ele não a deixaria ir embora.

Assim como Perseus, Ted a salvaria dos seus próprios pais.


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