Os Oito e o Mundo escrita por BRENA, Paola Mellark Valdez Weasley


Capítulo 7
Nikolay Vody, Koldovstoretz


Notas iniciais do capítulo

Nikolay Vody: https://www.artbreeder.com/i?k=8f0c2fdd9e6867581cfa1387e58e

Yumi : https://www.artbreeder.com/i?k=783d19cb8ba96c8161f85ea9718a

Rayna Krum: https://www.artbreeder.com/i?k=a51b13a4ddf062e82f1da8f7e07d



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/802199/chapter/7

Nikolai Vody só queria seus fones de ouvido. O burburinho que teve início após a profecia ser concretizada passou a se intensificar a cada segundo e Nikolai Vody parecia o único bruxo no recinto completamente desinteressado na nova informação, mas definitivamente era a pessoa mais incomodada com o barulho que o prenúncio causara. O garoto, que estava sentado de forma desleixada e de perna aberta, mantinha uma expressão tediosa no olhar enquanto tentava focar em apenas uma das conversas paralelas que ocorriam no auditório, na tentativa de amenizar o incômodo causado pelos sons sobrepostos.

Estava relativamente próximo ao palco e decidiu voltar sua atenção para os ministros. Deu um leve sorriso sarcástico ao pensar em quão importantes aquelas pessoas eram para a comunidade bruxa. Tinha uma opinião controversa acerca da hierarquia política no mundo bruxo e certamente não possuía mais estima pelas pessoas importantes em cima do palco, do que por  aquelas consideradas ordinárias. Para ser sincero, basicamente nenhum ser vivo naquele salão lhe parecia minimamente interessante. Continuava a desejar seus fones de ouvido para que pudesse ouvir sua música e cessar, de vez, o incômodo barulhento que era estar cercado de curiosos.

Música. Se havia algo no mundo que Vody estimava, era música. Sorriu, de forma menos sarcástica dessa vez, pensando nas músicas que costumava escutar, que costumava compor e tocar ao lado de seu pai, um dos músicos trouxa mais famosos de todo o território Russo. Sentia a música assim como sentia a magia: Não existia nenhuma parte de seu corpo que não estivesse inundado por elas. Fechou os olhos e tentou pensar nas turnês que tinha feito com seu pai e de como achava legal o fato de sua mãe, uma sangue puro, ter largado tudo para casar com um músico trouxa de quem era fã. Tentou lembrar dos dias na estrada, onde ele, seus pais e banda riam e não havia outro som além da música, das risadas e do ronco do motor. Tentou pensar na progressão de acordes que faria em sua guitarra assim que chegasse em casa, tentou compor uma melodia em sua cabeça…

Mas o barulho impedia sua concentração de fluir. Arregalou os olhos enraivecido e avistou o Cacique Supremo, Hermione Granger e os outros ministros reunidos em um círculo, o que obviamente não indicava coisa boa. A feição de Hermione demonstrava nítida preocupação e Vody conseguiu ler os lábios da ministra proferindo palavras em inglês que soube traduzir facilmente para o russo: Precisamos respeitar a profecia.

A crença imediata da bruxa nas palavras de um velho japonês irritou Vody profundamente. Nada impedia o professor de Mahoutokoro de falar o que quisesse para pregar uma peça na comunidade bruxa. Se Vody fosse tão velho como ele e ainda estivesse trabalhando, era exatamente o que faria. Devaneou pensando em como enganaria os bruxos em um evento de escala mundial até ser interrompido pela voz do Cacique Supremo.

— Faremos uma pausa na conferência. Peço por favor que aguardem no saguão do Auditório. Assim que possível serão convocados novamente para o término da conferência.

O anúncio inesperado fez o murmúrio do público aumentar e, de forma impulsiva, Vody foi um dos primeiros a levantar e caminhar em direção a saída do barulhento auditório. Caminhava com uma pressa quase voraz quando percebeu que, ao seu lado, o professor de adivinhação da Escola de Magia e Bruxaria do Japão, fazia o mesmo. Ambos continuaram com os passos em uma cadência apressada e Nikolai se sentiu coagido a competir a velocidade com o professor, que deslocava-se rapidamente. O jovem músico passou a acompanhar o ritmo dos passos do professor ao perceber, com relutância, que não tinha o preparo físico para caminhar mais depressa que o velho sem se sentir ofegante. Quando o professor de adivinhação parou bruscamente no meio do saguão branco que guardava a entrada para o auditório, Vody fez o mesmo, sentindo gratidão pela pausa. Refletiu sobre como seu pai ia todos os dias para academia no mundo trouxa e cogitou, por instante, em fazer o mesmo: No mundo bruxo, nem mesmo os atletas precisam de um preparo físico tão apurado. No Quadribol, por exemplo, todos estão sempre sentados em vassouras voadoras, o que necessita equilíbrio, mas não resistência física. "Será que esse velho vai na academia?", pensou Vody.

Após questionar suas habilidades físicas e pegar algumas arfadas compulsivas de ar, o russo percebeu o motivo do breque em sua caminhada. Uma jovem japonesa estava parada em frente ao velho, com lágrimas nos olhos. Com o corpo estático e com o olhar que encontrava o do seu professor de adivinhação, a garota tinha as mãos em frente ao rosto, como se fosse fazer uma oração. O senhor japonês que conjurou a profecia tocou as mãos da jovem, que instantaneamente começou a debulhar-se em lágrima. A cada gota que saia de seus olhos, Nikolai sentia que saíam dos dele também. O garoto, que permanecia ao lado de Kobayashi, chegou a passar a mão em seu próprio rosto para conferir se fenômeno era real, mas constatou que seus olhos permaneciam secos. Não só sentia as lágrimas dos olhos da moça que estava em sua frente, mas o barulho do burbúrio cessou e ele passou a escutar apenas o som do mar. Sentiu a água como nunca havia sentido antes.

Nikolai nunca havia sentido sede. Bebia água por convenção, mas não sentia que de fato precisava dela, tinha apenas se acostumado com o consumo do líquido. Gostava de consumi-lo, mas não precisava dele. Já tinha comentado seriamente com alguns colegas de sua escola que achava que a sede não existia de fato, que era apenas uma mecanismo de controle de massa e que poderia ficar o resto da sua vida sem beber nenhuma gota de água, mas foi tão caçoado pelos amigos que nunca mais comentou no assunto. Também nunca havia ficado muito tempo sem beber água para comprovar sua teoria, pois acreditava que era melhor prevenir do que remediar. Mas ao olhar para Yumi, percebeu em suas lágrimas um rio, uma nascente. Questionou, no fundo de sua mente, se ela também era uma pessoa abençoada pela água, com a sede eternamente saciada.

— Yumi - disse o sábio adivinhador para a garota - É você, minha aluna? Você faz parte dessa profecia?

— Eu não sei professor - Balbuciou a garota - Eu não entendo.

— Me mostre o que sabe fazer. - O velho disse com terna firmeza - Te guiarei e prepararei como puder.

Nesse momento, o som de sapatos de salto alto pisando de forma decidida no chão irromperam o som de mar que Vody escutava. Yumi, Kobayashi e Nikolai viraram em direção ao som. Rayna Krum, uma das melhores jogadoras de quadribol de Durmstrang, caminhava em direção ao inusitado grupo. Ao perceber que estava sendo observada, Rayna sorriu e virou as duas palmas das mãos para cima, surpreendendo a todos que viram o fogo materializar-se em suas mãos.

— Acho que quem você procura sou eu, professor. - Disse Rayna abaixando as mãos e  fazendo o fogo deixar de existir. Olhou Yumi de cima a baixo, com desdém. Parecia uma patricinha dos filmes trouxas: O cabelo marrom e ondulado em cachos perfeitos que iam até os ombros, o salto alto combinando com a bolsa azul e um vestido elegante de quem claramente possui dinheiro para investir em roupas da melhor qualidade. Rayna Krum suspirou e sorriu, piscando os olhos mais vezes do que o considerado comum - Claramente essa mocinha não tem como oferecer aquilo que eu posso, professor. Fiquei muito feliz ao ouvir sua profecia, me identifiquei na hora. Podemos conversar mais sobre o assunto em particular?

Yumi, que outrora parecia abalada emocionalmente pelo prenúncio, tinha mudado sua feição por completo desde a chegada de Rayna, A garota, que antes parecia frágil e confusa, agora possuía em seu semblante uma determinação indignada e voraz. Aproximou-se de Rayna com uma frieza calculada e, olhando para cima de forma a fixar os olhos na garota, questionou:

— Quem você pensa que é?

Rayna sorriu, debochada.

— Eu penso que sou Rayna Krum. A Rayna Krum que você provavelmente já ouviu falar. E você, quem é? - Disse Rayna aproximando-se de Yumi até uma distância invasiva - Baixinha.

No mesmo instante, um dos canos da tubulação do auditório implodiu e um jato de água certeiro caiu sobre a cabeça de Rayna, que ficou encharcada. A ocorrência durou apenas um instante, pois depressa Kobayashi lançou um feitiço de reparo no cano saturado e tudo voltou à ordem - ou ao máximo de ordem que aquele dia incomum poderia ter. Rayna permaneceu imóvel e incrédula, pingando, com a boca aberta em descrença pelo que havia acabado de acontecer.

— Vocês duas possuem poderes elementares incomuns a maioria dos bruxos - O professor de adivinhação fez uma longa pausa após o comentário. Em seguida, passou a mover os lábios depressa, em uma fala baixa, quase muda: um encantamento. Assim que terminou o feitiço, Rayna e Yumi resplandeceram. A pele das garotas iluminou-se de tal forma, que todos os presentes no saguão voltaram sua atenção para as garotas. - Depois de tantas profecias, desenvolvi um encantamento útil. - Sussurrou Kobayashi para Yumi - Uma espécie de revelium. Mas apenas funciona se o escolhido estiver de acordo com seu destino. Vocês duas se mostraram aptas e apostos para os desafios que estão por vir. E a revelação confirma: Vocês são peças dessa profecia.

Mas o saguão inteiro, incluindo Rayna e Yumi, prestava atenção em Nikolai. Sua pele resplandecia tanto quanto a das garotas. No primeiro instante, o bruxo se arrependeu por permanecer tanto tempo próximo do epicentro do drama - devia ter permanecido longe do Kobayashi e de suas profecias malucas. Pensou que talvez a pele resplandecente fosse contagiosa e, devido à proximidade que estava de Rayna e Yumi, tinha pegado o brilho por tabela. 

Mas Nikolai sentia. Sentia a magia. Sabia que fazia parte daquela loucura e que sua sina seria resolver um problema que não era seu. Estava cansado só de pensar no trabalho que teria, afinal não se importava com aquelas pessoas e não queria o drama daquelas garotas pra si. E além disso, não estava de acordo com aquele destino como havia dito Kobayashi. Por que estava brilhando então? Por que? O garoto suspirou.

— Eu sinto você. - Disse Yumi, franzindo o cenho.

Na hora, o coração de Vody acelerou, mas foi por pouco tempo até a atenção do público estar com a atenção completamente voltada para outro lugar. Resplandecente como sol, um garoto tímido caminhava em direção a Kobayashi. Tinha a pele rosada, o corpo magro e os cabelos loiros claros. Sorria de canto, apesar da situação claramente constrangedora, e apressou o passo para encurtar a distância até o grupo de escolhidos assim que percebeu a atenção de toda aquela gente voltada para si.

—Da água a aventura e a senhora e do fogo a luz e a vitória - Disse Kobayashi, parafraseando sua própria profecia. Após suas palavras, o brilho abandonou os jovens, que suspiraram baixinho, aliviados. - Esperava que meu encantamento revelasse apenas a verdade sobre as duas moças, mas ao invés disso me revelou quatro. Quatro de oito. - Kobayashi sorriu ao anunciar:

— Os oito escolhidos estão aqui.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥ deixe um comentário dizendo o que está achando da história! Adoraríamos ler.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Oito e o Mundo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.