Maldito roteiro escrita por Amaterasu


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Para OblivionPjct (o tema do mês de junho foi teatro)
Ship hashimada / hashimadamito
Capa: @i4mriver
Betagem: @Ane-kun



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De todos os lados, tudo o que a roteirista da Founders ouvia e lia eram comentários que apontavam como aquele grupo estava se tornando mais do mesmo; o auditório não enchia há tempos, os patrocinadores estavam se esquivando e até a habilidade do elenco estava sendo questionada entre um murmúrio e outro. A reputação da Founders estava em queda livre. E antes que a situação ficasse irremediável, a melhor coisa a se fazer era uma mudança completa — claro, começando pelo roteiro.

Mito Uzumaki apresentou algo novo, temperando um de seus clichês com a rivalidade pessoal de seus companheiros de trabalho de quem o público mais gostava. Mas o elenco parecia preferir entregar currículo em outros lugares e fazer audições que necessitavam muito mais de bons contatos para contratação do que de talento e experiência a ter que seguir o roteiro.

É alguma piada? — Madara estava tão impaciente que dispensou as formalidades para lhe cobrar uma explicação ainda por telefone. Ainda não acreditava que o que tinha lido era o roteiro da próxima peça da Founders. — Fala que é brincadeira, e talvez eu te desculpe.

Como esperado, nem o fato de ter o papel principal o impediu de tecer reclamações. Afinal, seria a primeira vez que faria par romântico com Hashirama, seu rival nos bastidores e na maioria das vezes, na ficção. Eles eram como água e óleo sobre quase tudo na vida, mas todo mundo concordava que eram a alma da Founders. Logo, eram os textos que não estavam à altura deles. O ego da roteirista logo sarou a ferida que as críticas faziam como picada de cobra. Mito concordava que precisavam tentar algo novo, começando por ela mesma, a pessoa que escreve.

— Madara, todo mundo concordou que a gente precisava sair da caixinha tradicional — pacientemente tentou explicar o óbvio, checando os e-mails e vendo que um dos patrocinadores estava formalmente retirando o apoio à Companhia. — Tinha que começar pelo roteiro.

O que a Tōka acha disso? 

— Ousado. Mas concorda que o público é soberano, então prefere pagar para ver do que censurar de cara. — arrancou de imediato qualquer esperança que Madara tivesse sobre aquela ideia não vingar.

Tōka sabia tomar as rédeas quando a roteirista dava sinais de que a Founders estava saindo do family friendly. Mas isso foi antes de esvaziar o repertório por receio de ousar e perderem a identidade. Se a crítica estava batendo e o auditório ficava mais vazio a cada sessão, algo não estava certo, o público queria mais. Até Tōka admitia que apostar alto era muito melhor que ficar inerte.

Preciso de um hiatus. Põe outra pessoa no meu lugar.

— Não dá. É só a gente dessa vez ou todo mundo se fode. Sem querer assustar, mas um dos patrocinadores acabou de nos dar tchau e o resto não demora a fazer o mesmo se não der casa cheia nas primeiras sessões.

Você pode mexer no roteiro. Não dá para cortar a parte do beijo?

— Fica a critério da diretora, que também sou eu, e ela concorda que é essencial para a história. 

Com Tōka em período de estágio na faculdade, a direção das peças passou para Mito. Seu desafio era duplo daquela vez. Ou triplo, se considerar Madara. Até a ciumenta da namorada dele serviria de escudo para tentar se livrar do que ele mais tarde chamou de maldito roteiro. Felizmente, Mito já estava pronta para lembrá-la de que namorar um ator não é fácil e que um bom profissional não deve permitir interferências do tipo em seu trabalho.

NEM FODENDO! — berrou tanto que Mito precisou afastar o dispositivo da orelha. — Sem beijo, entendeu? Já basta ter que fazer par romântico com aquele ordinário! 

Entre vãs reclamações berradas, Mito já recebia um sem fim de mensagens sobre as questões burocráticas, uma função a mais que havia pegado para si desde que o pai dela adoeceu e ficou afastado da Companhia.

— Decore o texto, Madara. O primeiro ensaio já foi marcado. — e desligou. 

Madara foi o primeiro do elenco a reclamar, mas não o único. Logo Hashirama estava no encalço da Uzumaki, fazendo drama como se nunca tivesse feito mais que beijar um homem no palco. O material dele no onlyfans que o diga… Mesmo com fantasias que protegiam sua identidade, Hashirama era sucesso no site.

— Minha família assiste às minhas peças, mulher! Quer destruir minha reputação? — apelou para o emocional.

— Você é quem vai destruir sua reputação e a da Companhia se abandonar a gente agora ou deixar a desejar no papel que pode decidir a sua vida e a nossa. — rebateu, dando a entender que nunca se sabe quando um olheiro estaria na plateia. — Se preferir não trazer a família, não traga. Agora decora a porra do texto e mostra que suas aulas serviram para alguma coisa. 

Destruiu qualquer esperança de barganha. O resto do elenco só estava chateado com o figurino minúsculo e poucas falas. Que engolissem a chateação da qual nem se lembrariam depois que o público decidisse que o novo formato da Founders era um sucesso e todo mundo saísse ganhando.

O choramingo deles era o de menos em comparação ao de Hashirama e Madara, as estrelas do espetáculo que davam mais trabalho à Mito do que ocupar mais de uma função na Companhia. Os ensaios eram um misto de fascinação e dor de cabeça. Mito ficou grata e arrependida umas mil vezes por ter designado Hashirama e Madara para os papéis principais sem nem um teste. Não havia tempo, e mesmo assim, eles eram os queridinhos do pessoal. Foi inteligente colocá-los aonde estavam, mesmo com as farpas trocadas e uma ou outra maldizência sobre o roteiro ser maldito.

— Ânimo, Madara! Você é um príncipe apaixonado pelo seu escudeiro. Sorria ao vê-lo. Hashirama, você já percebeu que caiu nas graças do príncipe. Seduza e mantenha o que já é seu. — o modo diretora estava ativado. — Tem que haver flerte, pessoal! 

— Isso não tá no roteiro. — Madara era audacioso o bastante para questionar a roteirista e a diretora, que eram a mesma pessoa. Hashirama apenas respirou fundo pela milésima vez, e Mito preferiu fazer de conta que seduzir Madara dava uma canseira e não que ele estava guardando para si vários palavrões em relação a ela.

— Nas entrelinhas, meu bem! — respondeu de ótimo humor ao príncipe. Não daria o gosto de evidenciar estresse. Não tão cedo. — Agora sorria para o seu amado!

Um ruído de irritação veio de Madara e logo ele esboçou um sorriso que estava mais para algo próximo da dor do que da paixão. Seria divertido se Mito fosse espectadora; como diretora era trágico. A única coisa que eles fizeram perfeitamente sem sua intervenção foi a primeira briga dos personagens, que não tinha fundo de ciúme. Era como se nem precisassem de esforço para serem insolentes um com o outro.

Já a parte do beijo… Uma sucessão de desgraças. Se não soubesse que estavam de birra para pressionar o corte da cena, diria que estavam errando para ter reprise. 

— Ele não fez a barba. Incomoda. — Madara tinha uma desculpa pronta para sugerir o corte da cena pelo menos naquele dia. 

— Hashirama, sem barba da próxima vez. — a diretora advertiu. — Hoje você finge que o rosto dele tá liso, Madara. 

A meta daquele ensaio seria fazer esse beijo sair melhor do que os atores estavam oferecendo. Eles eram muito melhores do que aquilo.

— Galera, mais paixão nesse beijo aí. Não pode ser frio assim, não. O público não é bobo. — avisou mais uma vez. — Vocês vão repetir até ficar aceitável. O resto do elenco está dispensado por hoje.

— Então beija você essa pedra de gelo. — Hashirama deu uma resposta mal-criada sem esperar que o resto dos colegas saísse.

A diretora se levantou, foi até eles e beijou Madara com mais técnica do que uma atriz em atividade. 

— Não é tão difícil. — disse à Hashirama, ignorando a cara de tonto de Madara. — Mais da metade do espetáculo pronto e nada do beijo do casal? Lamentável, rapazes. Principalmente para atores com tanto potencial como vocês. A crítica vai bater como nunca pela má atuação, não pela ousadia do roteiro.

Ainda sem demonstrar mais estresse do que realmente sentia, Mito anunciou uma pausa antes de cumprir com a meta do ensaio — ou dos dois borrarem as calças porque não conseguem seguir um maldito roteiro fora da zona de conforto.

Que morte horrível, Founders, a roteirista e diretora pensou durante os longos minutos de pausa.


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Notas finais do capítulo

Obrigada quem leu e deixou mimos.



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