Eu não estava dormindo o tempo todo escrita por The Lost World, Miss Krux


Capítulo 1
EU NÃO ESTAVA DORMINDO O TEMPO TODO


Notas iniciais do capítulo

Data da entrega: 01 de maio de 2021.
Minha amiga secreta: Miss. Samira (Olivia Ryvers)

Está é uma oneshot de O Mundo Perdido - Série TV Show, realizada devido a um sorteio de amigo secreto, tendo como participantes alguns moradores da nossa casa da árvore, a qual foi escrita e entregue como um presente que representa laços de amizade e carinho entre os mesmos.



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Depois de todas aquelas emoções, o receio da morte eminente de Challenger e Marguerite, todos, ou quase todos se sentiam exaustos, o primeiro a se desculpar e se retirar foi o próprio cientista, ele julgava já não ter mais idade o bastante para esse tipo de aventura, além disto, o encontro com William Maple White havia despertado muitas de suas memórias, antes do platô e também quando o descobriu, o remorso de ter tomado algo que pensava pertencer ao outro estudioso, e não a si mesmo, não o deixava compartilhar daquele momento com os amigos, precisava dormir, reorganizar muitos de seus pensamentos. Marguerite observou o amigo se retirando, usava de uma desculpa qualquer, mas ela mesma tinha ciência do verdadeiro motivo que o fez se deitar ainda cedo, eram os fantasmas do passado, perdida em seus desvaneios, a herdeira se ateve aos risos e conversas, em toda sua vida ela perdeu amigos, mais que amigos, mas de todas as perdas, a de Adrienne foi a que mais lhe afetou, os pesadelos penduraram meses, a sua busca foi em vão e olhar para aquelas joias que um dia tanto almejou, hoje não passava de memórias amarguradas.

Ned: Marguerite, você não concorda? Marguerite?

Os três amigos a olhavam com feições que demonstravam um misto de incomodo e curiosidade, aguardavam certa resposta, a qual ela sequer lembrava do que se tratava, ou mesmo do que falavam a minutos atrás.

Marguerite: Sobre o que seria Malone? ... Quer saber deixa pra lá, se me derem licença.

A herdeira não aguardou a resposta, alheia ao seu redor tomou em suas mãos uma xícara com café e se retirou, seguiu rumo a varanda, depois do seu quarto este era sem dúvidas o seu local favorito, por algum motivo, ela se sentia confortável neste “seu mundo particular”. Os demais não contestaram ou perguntaram algo que pudesse incomodá-la, mas ao mesmo tempo, observando o comportamento dos amigos, todos os três percebiam que eles ainda estavam abalados, não importava o quando tentassem esconder seus reais sentimentos, ainda precisavam de mais tempo para aceitarem os últimos acontecimentos. Verônica não pode deixar de perceber que o caçador manteve a conversa, mas o seu olhar estava em outro lugar, o vi por pelo menos três ou quatro vezes olhando para varanda, “ahh aqueles dois, o que será que estava acontecendo entre eles, será possível que os seus jogos se tornaram algo mais sério?”...

Era inevitável tal pergunta, a garota da selva os acompanhou desde sua chegada no platô, mas nos últimos meses percebeu que os dois haviam mudado, o comportamento deles, tinham algo a mais, que podia palpitar ser paixão ou desejo, mas diante daqueles fantasmas, por alguns segundos ela se perguntou se seria amor.

Verônica: Escuta Ned, porque não vemos nos diários dos meus pais se encontramos algo sobre essa caverna? Assim, você aproveita e me conta um pouco mais sobre essa gaiola de Faraday, tenho certeza que o Roxton não vai se importar.

Roxton: Na verdade não Verônica, não que eu não aprecie a companhia de vocês dois, mas eu ainda tenho algumas coisas para fazer, antes de dormir.

Não passou despercebido ao caçador, o que Verônica tinha acabado de fazer, ela provavelmente deve tê-lo visto ansioso, mais tarde se lembraria de agradece-la. De fato, ele queria conversar com Marguerite, havia algo que não conseguia tirar de seus pensamentos, horas atrás, quando se despediram na caverna e ela revelou que não estava dormindo o tempo todo, implicava em dizer que então, ela poderia ter escutado suas declarações, de que não voltaria para casa sem ela, Roxton não tinha certeza disso, mas estava prestes a descobrir.

O casal de cabelos claros também “bateu em retirada”, dado o convite de Verônica, o repórter sentiu-se entusiasmado, afinal, ambos fariam algo que apreciavam, estudar os diários, buscar novas informações, tudo poderia ser usado em seus relatos, e ainda estariam juntos, o que constantemente os dois desejavam cada dia mais, desfrutar da companhia um do outro. Roxton aguardou mais alguns minutos, perguntando-se se que estava prestes a fazer era o certo, mas para o seu azar ou não, constatou que quanto mais pensava, mais instigado e curioso ficava. Além disto, algo entre eles havia mudado, se perguntava quando exatamente isto aconteceu, quando foi que se tornou tão devotado aquela mulher, quando deixou de se importar se voltaria ou não para casa desde que estivesse com ela, era o que faria diferença e aparentemente dava sentido a sua vida. Ele se preocupou e tento cuidar de todos os integrantes da expedição, como sempre fez, mas vê-la em coma, ferida e inconsciente, havia consumido todo o seu ser, o medo quase o tomou por completo e sabia que se não fosse por Malone e Verônica, o desespero talvez, tivesse levado a morte também.

O caçador verificou o bule de café e ainda havia metade do recipiente, junto de sua própria xícara o segurou em sua mão, e silenciosamente foi atrás de Marguerite, precisavam desta conversa, ou pelo menos ele precisava. E lá estava ela, sentada, olhando para imensidão da noite, o cabelo solto, os cachos livres ao vento realçavam ainda mais a sua beleza, um tanto quanto exótica, “porque ela não deixava dessa maneira mais vezes?”.

J.Roxton: Eu não estava dormindo o tempo, me pergunto se devo me alegrar por sua declaração ou me preocupar.

Marguerite não o viu se aproximar, estava concentrada demais em suas recordações, apenas despertou delas quando ouviu sua voz, se ele soubesse o quanto se sentia grata neste momento, a figura de Adrienne ali, convivendo no mesmo ambiente que eles, exatamente como ela mantinha em suas memórias, a acusando de ter roubado suas joias, de não tê-la salvo, foi uma experiência que mais parecia um reflexo de seus piores pesadelos, carregados de culpa, tristeza e solidão. Mas como sempre ele estava lá, encostado em um dos pilares da estrutura da varanda, com um sorriso no rosto, a convidando para uma conversa...

A sua companhia havia se tornado bem vinda, ainda não lhe agradava o modo como confiava nele ou como ele vinham aprendendo a decifrar os seus sinais, quando foi que ela concedeu a este homem permissão “para entrar?” , ou será que não concedeu e mesmo assim ele o fazia. Ela devolveu o sorriso e surpreendentemente depositou um tapinha na cadeira ao lado.

Marguerite: Se o que tem em mãos for café, talvez eu possa pensar em te responder, verdadeiramente.

J.Roxton: Porque isso não surpreende?

Marguerite: Culpe o Malone, ele quem tem incentivado.

Ambos sentaram-se lado a lado, Roxton a serviu, preenchendo a sua xícara vazia com tal bebida, e fez o mesmo com a dele, ela o agradeceu e voltou ao seu silêncio, durante alguns instantes tudo o que pode escutar era a sua respiração, os animais lá fora e mesmo as risadas Malone e Verônica, mas isso não o incomodava, ele a aguardava tomar o seu tempo.

Marguerite: Eu não menti para você John, se o que pode estar pensando... Não estava dormindo o tempo todo, porque não confiei em Adrienne desde o momento em que a vi, sabia que havia algo errado, no começo eu achei que fosse uma alucinação da minha imaginação, que estivesse tão ferida a ponto de criar algo assim, a dor talvez ou veneno naquelas malditas estacas, não havia muitos mistérios, cheguei a pensar que estaria morrendo. ... E quando vocês também a viram, eu sabia que algo estava acontecendo, que fugia do nosso controle, que nem a ciência do Challenger era capaz de explicar, e pensei que isso nos colocasse em perigo, por isso fingi que estava dormindo quase o tempo todo.

A herdeira fez uma pequena pausa, desfrutou de um gole da bebida e a sua maneira discreta analisou a expressão do caçador, ele a ouvia atentamente, cada palavra, esperando-a pacientemente.

Marguerite: Mas isso você já sabia não é mesmo meu Lorde Roxton?! ... Me pergunto se é possível passar algo despercebido por seus olhos, e também o que quis dizer que não voltaria para Londres sem que eu estivesse junto, achei que pensasse que eu era a mulher mais teimosa, cabeça dura e que te faz perder toda a paciência que ainda têm.

Roxton sentiu-se envergonhado, o que poucas vez ocorreu em toda sua vida, bem verdade, ele se afundou naquela xícara de café, tentando esconder o tanto que seu rosto ficou rubro, isso sem dúvidas era uma novidade para si mesmo, mas vindo de Marguerite, nunca sabia o que esperar, então ela definitivamente escutou as suas palavras, e o chamava de “meu”, meses atrás quando encontraram aqueles piratas, ela também o chamou dessa forma, o som sendo pronunciado por sua voz soava tão natural, que algo dentro dele quase desejava que fosse verdade, e não mais uma de suas brincadeiras.

J.Roxton: Você sabe, minha vida ficaria muito chata sem você, como falou, quem mais me faria perder a paciência da forma que faz, e eu não teria mais ninguém para brigar, não poderia admitir que isso acontecesse.

Marguerite: É claro, o que eu imaginei.

J.Roxton: Isso, exatamente o que imaginou.

Marguerite sabia que ele estava mentindo, e ele era um péssimo mentiroso, ambos sabiam que algo entre eles estava acontecendo, não eram capazes de definir o que seria, mas podiam sentir, no entanto, Roxton não a olhava como de costume, por alguns segundos se perguntou o motivo, até que... “ele está envergonhado, o grande caçador conhecido mundialmente está com vergonha” , ela viu o seu gesto de constrangimento, e podia jurar que também o viu corar, mesmo o tom da sua voz estava diferente, era a primeira vez.

Marguerite: Você está é com vergonha.

J.Roxton: O que? Não, acho que as estacas tinham veneno e estão afetando os seus pensamentos Marguerite.

Marguerite: Hahaha você é um péssimo mentiroso John, é a primeira vez?

Os dois riram juntos, o sorriso dela, o fez compartilhar daquele momento, ele foi pego mentindo em flagrante e descoberto, e pior Marguerite estava certa, sobre tudo, como sempre nada lhe passava despercebido. Passados alguns minutos, o silêncio preencheu a varanda, mas nada que os incomodassem, pelo contrário, eles pareciam apreciar esses momentos juntos, ainda que palavras não fossem pronunciadas. Entretanto, o fato de as luzes estarem sendo apagadas, lhes dizia que já estava mais tarde do que pensavam, que era hora de dormirem. Roxton se pôs em pé, deixando sua xícara e bule sobre a cadeira que se sentava há pouco, e de um modo carinhoso e convidativo estendeu a mão para Marguerite, que surpreendentemente não o recusou, ainda por conta dos ferimentos demorou mais do que o habitual para levantar-se, mas logo estava frente a frente com o caçador, separados apenas por centímetros e estranhamente suas mãos permaneciam entrelaçadas.

J.Roxton: Vamos minha Marguerite, hora de dormir.

Marguerite: Sua Lorde Roxton, está certo disso?

J.Roxton: Você quem falou que sou seu primeiro.

Era a vez de Marguerite sentir-se constrangida, e não era a primeira vez que o chamava dessa forma, ele provavelmente só respondeu o suposto apelido, “estes seus malditos jogos estavam se tornando perigosos demais, para o seu próprio bem e ao dele também, talvez fosse melhor repensar sobre, mas era algo que acontecia de uma forma tão espontânea, imprevisível, que por vezes, nem ela os controlava, talvez estive desconstruindo suas barreiras, isso não estava certo, o que estava acontecendo aqui?!” A herdeira inutilmente tentou desviar o seu olhar, vendo a luz do quarto da Verônica sendo apagada por último, poderia ser uma tangente, um meio de escapar daquela conversa que ainda não estava disposta ou pronta.

Marguerite: Você está certo. ... Já está tarde, acho que é mesmo hora de dormir, boa noite.

Ela mais uma vez escapou literalmente de suas mãos, se soltou dele antes que pudesse oferecer qualquer resposta que pudesse pensar, e já caminhava para próximo da entrada da sala principal, mas algo a “atingiu”, ainda um tanto desatenta ao seu redor.

Marguerite esbarrou em um dos móveis próximos de si, o que a fez de imediato levar uma das mãos no ferimento e a outra apoiar-se na parede, em questão de instantes Roxton mais uma vez estava a sua frente, preocupado e aflito.

J.Roxton: Marguerite se machucou? O que está sentindo? Quer que eu chame o Challenger?

Marguerite: Está tudo bem, só foi um acidente, só isso, nada com que precisemos nos preocupar.

J.Roxton: É, talvez ... Tudo ficará bem.

Marguerite: Você sempre diz isso.

J.Roxton: E eu sempre cumpro.

A herdeira apenas acenou com a cabeça, lhe oferecendo mais um de seus sorrisos, quase se esquecendo que Roxton a segurava pela cintura, o que de fato, foi um gesto tão involuntário, que nem o próprio percebeu, tudo o que lhe ocorreu foi mantê-la de pé, verificar os ferimentos e nada mais importava. Marguerite e Roxton pensavam serem tão diferentes e tinham tanto em comum, mais que um dia poderiam imaginar, mal sabiam que ambos naquele exato momento desejam em seu íntimo a mesma coisa, que um dia pudessem explicar o que estava acontecendo entre eles, que não fossem apenas brincadeiras sem sentidos, e alguma coisa dizia a eles que não eram.

A proximidades entre eles foi rompida, quem havia dado o primeiro passo seria mais um mistério, para outro dia, mas os lábios de um encontrou o caminho do outro, assim como antes, até os seus beijos já não eram os mesmos, tornaram-se suaves o suficientes que os faziam sentir como se estivessem em meio a flores do campo e em um dia de primavera, que os fazia esquecer dos perigos a sua volta, mas também os dava forças para seguir a diante a sua jornada, então Roxton tinha razão, não importava onde estivessem, desde que sempre estivessem juntos, saberiam resolver qualquer que fosse o problema. O que demorou segundos, parecia como uma eternidade e nenhum dos dois desejava que terminasse, não estavam dispostos a se separarem tão cedo, talvez nunca mais, e quando finalmente foram capazes de se separarem, suas matérias físicas como Challenger descreveria, suas almas ainda pareciam permaneceriam unidas, mesmo quando se despediram um tanto envergonhados, e se puseram a deitar e descansar, cada um em seu quarto, seus últimos pensamentos daquele dia foram um do outro, e os primeiros do dia seguinte seriam os mesmos, e de muitos outros dias.


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