Selvagem escrita por elda


Capítulo 1
único




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Não havia muito tempo que Zoro se mudara para aquela cidade e não havia muito tempo que ele o observava. Sempre estava na sua rua pela tardinha, jogando futebol com outros rapazes da mesma idade. Zoro ficava prostrado na janela de seu quarto, acreditava que ninguém notaria a sua presença por conta de ser o segundo andar, e observava tudo lá de cima. Porém, somente esse rapaz chamava a sua atenção de fato.

Era um rapaz de corpo franzino e que tinha uma sobrancelha enrolada, a outra era coberta pela franja. Era branco, loiro dos olhos azuis.

A sobrancelha enrolada foi a responsável por chamar a atenção de Zoro, depois foi a franja que nunca saia do lugar por mais que o garoto se movimentasse. E aos poucos foi o seu talento para o futebol, o loiro fazia belos passos e chutava alto como se não houvesse gravidade.

Durante esses dias de observação, descobriu o seu nome: Sanji. Volta e meia pronunciava bem baixinho só para sentir as sílabas desenhadas nos seus lábios. Ansiava poder chamá-lo um dia pelo nome, mas Zoro achava tudo besteira e o ignorava, até ficava alguns dias sem vê-lo.

Nos dias de chuva, surpreendentemente, os meninos selvagens jogavam sem se importar de se molharem. Zoro não conseguia se segurar e ia para a janela, só para ver a blusa branca do uniforme escolar ficar transparente e grudada no tronco magro do rapaz, que seus olhos castanhos tanto cobiçavam.

Sanji era muito alegre e gentil com seus companheiros, ainda que xingasse tanto. Mas ele não os subestimava, isso era mais importante para Zoro. Exatamente como ele agia no dojô.

Um dia Zoro voltava do supermercado e começou a chover forte pelo caminho, o inverno se aproximava e dias chuvosos aconteciam com mais frequência. Para se proteger, entrou numa casa abandonada e coberta de poeira que lhe fez espirrar assim que entrou. As crianças da cidade costumavam brincar ali e os pais pareciam não temerem da casa cair em cima delas, porque era evidente que estava aos pedaços. Uma tábua do assoalho quase acertou Zoro quando pisou em cima, por sorte pisou sem muito peso e não a levantou o suficiente para mirar em seu rosto. Resolveu se sentar o mais perto possível da entrada e evitar de pisar naquele chão.

Esperava a chuva passar, mas ouviu um burburinho. Logo compreendeu que alguns garotos perseguiam alguém e pareciam muito bravos. De repente, Sanji entrou na casa para se esconder e Zoro não pensou duas vezes ao segurar o seu braço para impedi-lo de levar uma cacetada da maldita tábua. Na verdade, Zoro nem sabia que era o menino selvagem ainda.

Sanji parou ofegante e se virou com o olhar confuso. Quando viu quem era, o rosto de Zoro corou e resolveu se explicar.

— Não pise nesse assoalho com tanta força, algumas tábuas estão soltas.

O loiro compreendeu, mas continuou confuso por aquele marimo não ter lhe soltado. Mirou seu olho azul para a mão morena apertando o seu braço com força, a fim daquele esquisito se mancar. Zoro ficou novamente rubro e lhe soltou dando um passo para trás em seguida.

— Me perdoa...

— Tudo bem. - Respondeu andando com cuidado e notou as compras de Zoro. Algo numa das sacolas lhe chamou a atenção. - Sua mãe mandou comprar coentro?

— Que? - Piscou os olhos com força. - Ah, não!! Eu confundi de novo!!

— Era salsa, né? - Zoro assentiu entristecido e Sanji riu de sua cara. - O meu nome é Sanji, qual é o seu?

— Zoro. - Respondeu, mas parecia que Sanji não o ouviu quando tateava seus bolsos e com um olhar tão desdenhoso.

Isso até sorrir por achar seu maço nos bolsos de trás da bermuda. Acendeu o cigarro e tragou. - Quer um?

Zoro estava um pouco incomodado. Não sabia que um dos meninos selvagens fumava, mas também não queria passar uma imagem careta logo na primeira vez que se encontravam. Portanto, aceitou. Pegou o cigarro que Sanji ofereceu, mas não esperava que ele se aproximasse tanto para acender com o dele próprio. Fez uma concha com as mãos e queimou a ponta do seu cigarro, que já segurava pelos lábios. O menino selvagem estava tão perto que o marimo sentiu seu cheiro de suor e viu seus mamilos através da blusa transparente e molhada por conta da chuva.

— Pronto! - Disse e se afastou.

Zoro não sabia como proceder dali e resolveu tragar aparentando uma confiança fingida, mas tossiu. Sanji voltou a rir de sua cara, deixando-o aborrecido.

— Sabia que não fumava!!

— Como?

— Você é tímido.

— Do que está falando?

Olhava Sanji perplexo, enquanto o idiota continuava a fumar tranquilamente.

— Você sempre observa, mas nunca pede pra entrar.

O rosto de Zoro voltou a ficar rubro, mas largou o cigarro e percebeu que a chuva parara. Pegou as compras para dar o fora dali, porém Sanji pegou no seu pulso antes que saísse.

— Marimo-

— Meu nome é Zoro! - Se soltou do loiro com força e saiu. Jurou a si mesmo que nunca mais o observaria.

No outro dia, Zoro foi até a casa abandonada como se Sanji estivesse lá o esperando. Depois daquilo, ele refletiu o porquê de não ter dito a Sanji que queria jogar também como sempre desejou, mas em vez disso fora embora. Não era timidez, Zoro não era tímido... Querendo ou não, fugiu e perdeu uma grande oportunidade de se juntar a eles, e o motivo era desconhecido. Se acaso se juntasse ao jogo, poderia falar com Sanji todos os dias. Mas algo o impedia de realizar esse desejo. Compreendeu que não era selvagem e não podia andar com eles.

De repente ouviu mais uma vez gritos e Sanji entrou na casa dando de cara com ele. Os dois trocaram olhares e desviaram os rostos sem mais nem menos. Um silêncio tomou conta e Zoro resolveu quebrá-lo.

— De quem tanto foge?

— Dos panacas dos meus irmãos. Mas não se preocupe com isso, garoto tímido.

Zoro grunhiu, pensou que preferia ser chamado de marimo a isso. No entanto, Sanji continuou.

— Me perdoe por ter dito ontem algo que te ofendeu. Não era a minha intenção.

Agachou o olhar ao ouvir essas palavras do loiro. - Você está certo.

— Oi?

— Eu não sou incrível como você e sinto inveja.

— Quê?! - Estava assustadíssimo do rumo que a conversa tomou. - Como assim?!

— Eu observava um menino selvagem... mais do que os outros... Um menino que lançava a bola pro alto como se fosse um profissional e que conseguia ter o sorriso mais gentil, mesmo xingando quase a partida toda. Ele é livre.

— Não me diga que esse menino é...

— É você, sim.

O rosto de Sanji se avermelhou, porque aquilo pareceu ter sido uma confissão de amor, só que aquele marimo de cara fechada parecia não levar dessa maneira. Será que ele não havia percebido? Era um cara lerdo com os próprios sentimentos? De qualquer forma, o idiota de cabelos estranhamente verdes intrigava cada vez mais o loiro.

— Legal. - Pensou que não tinha nada melhor para dizer e os dois se encontravam com os olhares desviados. Um silêncio tomou o lugar novamente, mas Sanji foi quem dessa vez que quebrou. - Apareça por lá. Você pode ser um "selvagem" se deixar tentar pelo menos uma vez.

Zoro estava com os olhos abertos por causa do pedido. Um dos meninos selvagens o convidou, e era logo o Sanji!

— Eu vou.

— Ótimo!! - Deu tapinhas no ombro do marimo e planejava deixar o lugar. No entanto...

— Sanji!

— Oi?

— Nada...

Ele só queria realizar mais um desejo: chamá-lo pelo nome no tom alto.


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