Coração escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 1
Capítulo 1 - Não viva sozinha


Notas iniciais do capítulo

Essa mini fic terá poucos capítulos, provavelmente 3. Ela se passa um pouco depois da última que escrevi, "Eu desejo que você seja feliz", e antes da última cena do último capítulo.

*A montagem da imagem de capa foi compartilhada por それのような ♕. Está disponível no Pinterest "We Heart It".



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Capítulo 1 – Não viva sozinha

                            Ichigo correu escada acima quando ouviu Rukia gritar em seu sono. Quando chegou ao quarto das gêmeas, onde agora havia mais uma cama para quando Rukia estivesse com eles, viu a namorada ainda dormindo, de costas para a entrada do quarto.

            O shinigami mestiço correu até ela, sentando-se ao seu lado e afastando de seu rosto os cabelos curtos que estavam agora desalinhados, e vendo lágrimas escaparem de seus olhos.

                - Rukia! – A sacudiu levemente – Ei, Rukia! – Chamou um pouco mais alto, finalmente a despertando.

            Ela respirou fundo quando abriu os olhos, e sentou-se de repente, assustando-se ao ver Ichigo perto dela e se afastando até ficar encurralada entre ele a parede.

            - Ei, baixinha! Sou eu – ele falou erguendo as mãos em sinal de calma – Foi só um pesadelo – Ichigo disse suavemente.

            Alguns segundos depois o olhar dela se acalmou quando sua mente finalmente acordou e o reconheceu. Ela suspirou, soluçando de leve e escondendo o rosto entre as mãos.

            -  Ei... Rukia...

            Ichigo a puxou suavemente para ele, abrigando-a num abraço protetor e sentando-se melhor na cama com ela no colo.

            - Está tudo bem, querida.

                Ela respirou fundo mais uma vez e se aninhou no peito dele com um sorriso. Era a primeira vez que Ichigo a chamava assim.

                - Você poderia me dizer o que aconteceu? – Ele perguntou enquanto secava suas lágrimas com a mão livre e aqueles olhos castanhos cheios de preocupação e afeto a encaravam.

                - É que hoje... Eu nem lembro mais ao certo quanto tempo.

                - Que tempo, Rukia?

                - Tem uma coisa que eu nunca contei a você. Me desculpe por isso.

                - Você já carrega muitas dores, baixinha. Não tem que se desculpar por nada. E eu já sabia disso. Só estava esperando que você se sentisse confortável e dissesse.

                Rukia ficou em silêncio.

                - Como você esperou que eu contasse sobre minha mãe. Você também perdeu alguém na chuva além de Homura e Shizuku, não foi?

                A respiração dela denunciou que ele estava certo e que ela estava surpresa, ao menos um pouco.

                - Como você...?

                - Toda vez que tocávamos no assunto você ficava estranha ou dizia algo que me fazia desconfiar disso. E em uma das noites chuvosas que você dormiu aqui, logo que nos conhecemos, você falou, enquanto dormia, pra chuva ir embora. Na hora eu achei que você só não gostava de frio, ou do som da chuva, mas quando abri o armário pra te provocar você estava dormindo. Quando eu acordei você já tinha ido pra escola, e depois apareceram hollows, e eu acabei não falando sobre isso. Agora me pergunto se eu deveria ter feito o contrário. Seja o que for, você carrega isso há muito tempo, não é?

                - Você não fez nada de errado, Ichi. Você só faz coisas boas por mim.

                Ele sorriu.

                - Mas agora... Por que não contar? – Ela falou.

                - Quer mesmo me dizer?

                - Sim.

                - Então vamos ficar mais confortáveis.

                Ichigo mudou de posição, a deitando na cama, tirando os próprios sapatos e se acomodando ao lado dela.

                - Se Isshin chegar, você nunca mais terá paz.

                Ichigo riu baixinho.

                - Você é tudo que importa agora. Estamos só conversando, e a porta está aberta. Não que isso vá ajudar.

                Ichigo se sentiu melhor ao vê-la rir e segurou a mão dela sobre o colchão.

                - Eu nunca te contei o que realmente houve entre mim e Ganju na época que vocês me salvaram.

                - O lance sobre o irmão dele...? – Ichigo perguntou com cuidado.

                - Sim... Aquilo ficou mal resolvido até hoje. Guerra atrás de guerra nós nunca voltamos a visita-los por tempo o bastante pra conversarmos como combinamos.

                - Rukia...

                - É melhor você saber do começo.

                - Como você quiser.

— Há muitas décadas, muito antes de você nascer, o meu esquadrão tinha outro tenente. Ele tinha vindo de Rukongai como Renji e eu, mas era incrivelmente habilidoso, e alcançou o cargo de tenente muito mais rápido que o normal. Era uma ótima pessoa. Era muito fácil gostar dele e trabalhar com ele. Ele já estava lá há alguns anos quando me formei e fui pra Sereitei, logo depois que fui adotada. Foi um dos melhores amigos que tive e foi quem me ensinou a lutar e usar minha shikai. Desenvolvemos juntos. As técnicas dele também estavam relacionadas à dança, então isso também acabou acontecendo com as minhas. Ele tinha um lado muito moleque e brincalhão, mas também era muito gentil e inteligente. Às vezes até parecia que ele estudava filosofia por como nos ensinava a ver a vida de uma forma bonita. Era jovem como nós, ou tinha essa aparência, uma vez que se demora muito pra envelhecer na Soul Society, como você já sabe.

                Rukia fez uma pausa, como se sua mente meditasse antes do próximo passo.

                - Ele amava os shinigamis, por isso quis se tornar um pra ajudar todos que ele pudesse desde que percebeu que podia usar bem sua energia espiritual. Acho que nunca vimos alguém que acreditava tanto nos shinigamis.

                Ichigo já conhecia alguns desses detalhes, contados pelo próprio Ganju quando se conheceram, mas esperou que Rukia continuasse, feliz por finalmente ela se abrir com alguém sobre o assunto que a machucava há tanto tempo.

                - Eu costumava acompanhá-lo nas missões. O capitão dizia que me ajudaria a me aprimorar, e que trabalhávamos bem juntos. Isso nos tornou mais amigos ainda e chegou um dia em que senti que tinha ganhado outro irmão mais velho, mas que gostava de interagir comigo sem tanta formalidade como o nii-sama, embora ele tenha melhorado muito isso nos últimos anos.

                - Então foi uma época feliz, apesar de todo o serviço? - Ichigo perguntou com um sorriso, tentando encorajá-la.

                - Foi sim. Uma das mais felizes da minha vida. E deveria continuar sendo se aquela noite terrível não tivesse acontecido. Se aquele hollow desgraçado não tivesse nos alcançado, e se eu fosse mais habilidosa. Eu passei muito tempo pensando que a culpa foi minha, embora depois que as memórias voltaram, e fizeram questão de se repetir tantas vezes nos meus pesadelos, meu cérebro brigue com o coração dizendo o contrário.

                Ichigo pensou em falar, em dizer que tinha certeza que ela jamais faria isso de propósito. Mas ainda não tinha certeza do que exatamente Rukia sentia sobre isso e uma palavra errada poderia feri-la ainda mais, ou fazê-la desistir de falar, então continuou em silêncio, assim como Rukia. Silêncio demais. O pesadelo a estava arrastando para longe dele. Ichigo entrelaçou seus dedos com os dela, fazendo Rukia despertar e encará-lo outra vez.

                - Ei... Estou aqui.

                Ela o compensou com um pequeno sorriso antes de continuar.

                - Desde a academia, eu era muito boa em kido, mas nunca fui um talento em esgrima, e muitas vezes isso me fazia pensar que eu não merecia estar entre os 13 esquadrões. No entanto, ele sempre me dizia o contrário, falando como se estivesse irritado, com a mesma cara emburrada que você faz de vez em quando, Ichigo. Era engraçado, ele falava de coisas grandiosas e importantes com as palavras de um moleque, mas ainda conseguia expressar a dimensão daquilo de uma maneira bonita. No meu primeiro treinamento com ele até falei que uma das coisas poéticas que ele disse era brega. Ele ficou indignado, e disse que estava falando sério – Rukia riu – Então ele me disse que pra ele o coração não fica dentro do corpo, mas nasce entre duas pessoas quando elas pensam e sentem algo uma pela outra, e que se as pessoas vivessem sozinhas, não existiria coração no mundo. E que onde está o seu coração, onde você quiser ficar, é o motivo de você existir.

                - Isso é muito bonito.

                - Não é? Ele também me disse pra nunca acreditar que estamos sozinhos na morte, pois o corpo volta a ser partículas espirituais, mas o coração entregamos pros nossos companheiros, e assim ele continua vivo com outra pessoa. Ele me disse “não morra sozinha. Jamais”. Hoje sei que na verdade ele estava me dizendo pra não viver sozinha... Quando encontrei o novena espada no Hueco Mundo, ele usou a imagem dele pra me confundir, cheguei a pensar por um tempo que fosse verdade, que ele tivesse dominado o hollow depois que chegou ali, mas alguns detalhes me fizeram desconfiar. Esse espada tinha absorvido tantos hollows que sua forma mais forte era disforme e até nojenta. Mesmo assim, até o fim ele usou a imagem dele pra tentar me abalar. O espada tinha registro de todas as habilidades e memórias dos hollows que tinha absorvido e do que eles tinham absorvido também. Foi muito difícil lutar contra ele, mesmo depois que testei e consegui provas de que não era ele.

                - Eu sinto muito, Rukia... – Ichigo falou baixinho, como se aumentar a voz pudesse lhe fazer mal.

                - Me distraí com um pássaro levantando voo no nosso primeiro treinamento, e ele me venceu. Na luta contra o espada eu me distraí com meu coração brigando com o que meus olhos viam, e o espada me acertou, quase me matou.

                Ichigo sentiu uma pontada de tristeza passar brevemente por seu coração, lembrando-se do estado em que Hanatarou revelou terem encontrado Rukia naquele dia. Caída, coberta de ferimentos e sangue, inconsciente, e com a espada quebrada na mão estendida para o deserto sem fim, como se tivesse tentado se arrastar para continuar seguindo, o que depois ela lhe revelou que era exatamente o que tinha tentado fazer até seu corpo perder as forças, além de tudo que ainda tinha acontecido depois disso até que ela pudesse descansar e ser curada em segurança. Nesse dia ele e Byakuya tinham ficado quites, deixando Ichigo grato por ele proteger a vida da shinigami que os dois tanto amavam.

                - Ichi...?

                - Me desculpe. As lembranças me distraíram. Mas tudo que importa agora é você. Você estava falando do espada.

— Sim – ela disse, acariciando a mão dele com o polegar, indicando que não estava chateada pela breve distração dele – No último segundo eu me lembrei de algo que teria tornado aquela luta bem mais curta se eu não tivesse esquecido ou tentado não lembrar. Desde sempre, era impossível que aquele fosse ele, porque o coração dele está comigo.

                Ichigo arregalou um pouco os olhos, que depois foram tomados pela mesma tristeza de Rukia, ainda que ele já soubesse que a pessoa em questão havia morrido. Ele sabia que Rukia tinha um passado difícil, e da luta contra o espada, mas ela nunca tinha contado os detalhes, nunca tinha dito a muitas pessoas o quanto aquilo realmente teve impacto sobre ela.

                - Estrelinha...

                - Tem mais.

                - Ok.

                Ela fez uma longa pausa silenciosa, e Ichigo pensou que ela podia estar refletindo se deveria ou não prosseguir, mas logo viu que Rukia estava apenas se preparando.

                - Numa noite... Um hollow incomum apareceu. Meu esquadrão foi acionado. E de repente algo muito estranho aconteceu. Miyako, a esposa dele, veio de outro local até onde nós dois, o capitão e outros oficiais estávamos. O rosto dela estava sujo de sangue e ela tentou nos atacar, mas hesitou quando ouviu a voz dele, como se brigasse com algo que a estava controlando. Foi aí que entendemos o comportamento do hollow. Ela fugiu num instante em que estava conseguindo se controlar. Na mesma noite achamos somente as roupas dela, e o hollow. Percebemos trade demais que a situação tinha fugido do controle. Ele ficou desesperado e chegou a lutar com o hollow usando literalmente as próprias mãos. Mas o desgraçado nos surpreendeu conseguindo tomar o controle do corpo dele. O capitão lutou com ele pra que eu me afastasse. Estava apenas no início do meu treinamento e já tínhamos mortos suficientes pra uma noite. Quando decidi que não queria mais correr, eu fiquei com a espada erguida em posição de defesa... E quando ele deixou o capitão pra trás e me encontrou, se atirou na minha direção e minha lâmina atravessou o corpo dele – Rukia sussurrou essa última parte, e lágrimas silenciosas correram de seus olhos para o travesseiro.

                Ichigo a deixou chorar enquanto afagava seu rosto e esperava que ela decidisse o rumo do momento.

                - O sangue dele se espalhou pelo meu rosto, minhas mãos, minha espada... – ela murmurou entre as lágrimas – E começou a chover. Enquanto morria, ele recuperou a consciência e os olhos horríveis do hollow voltaram a ser os olhos verdes dele. A última coisa que ele fez antes de partir foi deixar seu coração comigo. Ele morreu sorrindo. Ele era grande e pesado como você, mas eu nem senti isso quando o corpo dele pesou na minha espada e nos meus ombros. Eu nem sentia como se estivesse realmente ali, parecia um pesadelo. Aquela foi uma das piores noites da minha vida.

                - Ah, Rukia... – Ichigo finalmente se ergueu para puxá-la para o peito e abraça-la mais uma vez, onde ela se aninhou sem dizer mais nada enquanto molhava sua camisa com o choro – Eu sei que você pode argumentar de mil maneiras diferentes, mas não foi culpa sua. Você mesma se lembrou disso agora. Não foi. Você jamais faria isso, Estrelinha. E eu tenho certeza que ele jamais culparia você.

                Pelos próximos minutos Ichigo apenas a abraçou e afagou seu cabelo, deixando que ela chorasse e se livrasse de toda a dor que guardou desde o incidente que acabara de relatar a ele, até apenas o silêncio restar entre os dois.

                - Por que você nunca nos disse isso? Você voltou tão ferida da luta contra aquele espada. Você podia ter morrido.

— Eu não queria falar disso... Eu sabia que você me ouviria e cuidaria de mim, mas eu não conseguia.

— Eu sei... É que... Não pense que estou chateado ou te julgando por isso, Rukia.

— Eu sei. Não foi assim também quando foi com você?

Ichigo sorriu e assentiu.

— Naquela mesma noite, eu mesma levei o corpo dele pra casa. A irmã mais nova dele foi muito mais compreensiva do que eu poderia imaginar, mas o caçula reagiu muito mal. Era só um garotinho. Ver o sofrimento daquela criança me deixou ainda pior.

Não sabendo o que dizer, Ichigo beijou seus cabelos e afagou suas costas. Ele conhecia a dor de Ganju, e também conhecia a dor de Rukia, sentira ambas através da morte de sua mãe e do que descobriu sobre isso após se tornar um shinigami.

— Rukia... Me desculpe perguntar. E tudo bem se não quiser me dizer. Mas qual era o nome dele?

Ela tomou uma longa respiração antes de respondê-lo.

— Kaien. Kaien Shiba.

—Hum... Vocês nunca me disseram naquela época. Daquela vez, Ganju me contou algumas das coisas que você me disse agora, e disse que lembrava do seu rosto, mas não sabia do seu nome, ele não reagia quando falávamos.

— Kuukaku não quis contar a ele. Era só uma criança. Ela foi muito melhor comigo do que eu merecia naquela noite.

— Ela é uma boa pessoa.

— É sim. Como ele era.

— Eles são parecidos?

— Quase clones. Você poderia pensar que são gêmeos. Eu fiquei estarrecida da primeira vez que a vi. É praticamente uma versão feminina dele, com o cabelo mais longo. É o mesmo rosto, só um pouco mais delicado. Ganju claramente tem os traços deles, mas não se parece muito com os dois.

— Toda família tem um oposto, não é? Kuukaku me lembra Yoruichi e Urahara em suas invenções, é um gênio. Ganju é um idiota.

Rukia riu.

— Ele vai te matar se souber que disse isso.

— Eu sou mais forte que ele, não vai conseguir.

— Nunca mais tive coragem de visita-los.

— Podemos fazer isso se você quiser. Ganju sempre diz que ainda temos muito a conversar quando nos encontrarmos com mais calma. E acho que estamos num momento bom. Sem guerras, a Soul Society trabalhando pra integrar melhor os híbridos e outras espécies, permissão pra você passar tempo aqui e eu passar tempo lá.

— Eu vou pensar sobre isso.

— Rukia... Outra coisa estranha aconteceu quando estávamos tentando te resgatar. Ukitake perguntou se Byakuya me conhecia quando nos encontramos. Ele disse que eu não tinha ligações com o homem que ele estava pensando.

Rukia ficou um longo tempo em silêncio, enquanto Ichigo continuava acariciando seu cabelo, e esperando pacientemente.

— Esse foi um dos motivos pelos quais eu nunca toquei nesse assunto com você.

— Como assim?

— Assim como eu sou incrivelmente parecida com minha irmã, como você já viu nas fotos na minha casa, você também é assustadoramente parecido com ele.

A expressão de Ichigo ficou surpresa, mas esperou que ela falasse mais.

— Acho que nem se fossem gêmeos se pareceriam tanto. Céus, vocês são praticamente clones. Eu arriscaria dizer que você se parece mais com ele do que Kuukaku.

Ichigo lembrou-se de na época ter ficado impressionado ao se achar fisicamente parecido com Kuukaku, mas pensou ser apenas impressão, e afastou o pensamento ao lembrar que isso podia também fazê-lo se parecer com Ganju. Mas se Kaien e Kuukaku eram tão parecidos, então ele estava certo.

— Agora fiquei curioso. Na época que conheci Kuukaku, eu fiquei impressionado quando a achei parecida comigo, mas achei que era coisa da minha cabeça por causa de tudo que estávamos passando. E eu não queria me parecer com Ganju.

Rukia riu.

— Acho que você tem a mesma altura que Kaien, ou quase. E portes físicos parecidos, e até a personalidade um pouco parecida. A única diferença é que ele tinha cabelos negros e olhos verdes. O cabelo era espetado como o seu. Até quando ele ficava com raiva ou indignado a cara emburrada e a reação dele era parecida com a sua. É assustador.

Ichigo sorriu, curioso para saber quais conclusões tirariam daquilo, e impressionado por existir alguém tão parecido com ele que ele sequer conhecia. Seu coração se acalentou ao ver que Rukia tinha parado de chorar e estava conseguindo falar de Kaien sem que doesse tanto agora.

— Você já ouviu uma teoria sobre isso que existe nesse mundo? – Ichigo falou – De que há outras cinco pessoas com a mesma aparência que a sua, algumas tão parecidas que qualquer um diria que são gêmeos, e que podem estar em qualquer lugar do mundo. Sendo ou não parentes, próximos ou distantes. Talvez isso se aplique à Soul Society também.

— Isso é interessante.

— É sim. Mas... Por que isso foi um motivo pra você não falar sobre isso e segurar essa dor sozinha por tanto tempo, Rukia? Eu achei que tinha sido um sonho, ou uma alucinação pelo quão ferido eu estava, mas no dia que Byakuya e Renji levaram você de volta, eu pensei tê-lo ouvido dizer que entendia, que eu era muito parecido com ele. Mas aconteceu de verdade?

— Sim. O nii-sama disse aquilo. Ele não foi o único a pensar que eu só te ajudei e transferi meus poderes porque você me lembrava ele.

— Mas o que você pensa disso?

— Eu reflito sobre isso até hoje. E eu não sei se tenho uma resposta. Da primeira vez que nos vimos na rua, eu só parei pra olhar você porque pensava que estava vendo um fantasma. Da primeira vez que nos falamos, eu estava mais impressionada com isso do que com o fato de você poder me ver.

— Mas por que você me ajudou?

— Talvez... Em parte, meu irmão esteja certo. Embora eu também tenha usado a lógica. Nós íamos morrer. Eu não conseguiria lutar com aqueles ferimentos. Você tinha uma energia espiritual alta suficiente pra sobreviver à transferência, já era claro pra mim que isso não era normal, fosse porque fosse. Mas era uma chance. E de certa forma... Eu me lembrei daquela noite. Parecia que se eu não te mantivesse vivo, estaria deixando ele morrer de novo. Esse pensamento ficou bem no fundo na minha mente, mas estava lá. Me considerei tola e imprudente durante um bom tempo sem entender porque fiz o que fiz, embora não me arrependesse de ter salvado você e sua família. Passei dias me perguntando se teria feito o mesmo por outra pessoa, ou lutado até à morte com o hollow. Eu acho que até hoje não tenho uma resposta. Independente do quanto você se pareça com Kaien-dono, eu senti que devia ajudar você. Não queria vê-lo morto, ou sua família.

Ichigo ficou em silêncio, alcançando mais um nível de compreensão sobre o quanto Rukia respeitava Kaien.

— Olhe-se no espelho e você o verá, apenas com cores de cabelo e olhos diferentes. Mas eu garanto, Ichi, que foi por você que eu me apaixonei e pra você que eu disse sim, não pra um fantasma, por mais importante que ele seja e sempre será pra mim. Esse era um dos dilemas que sempre me enlouquecia quando pensava em falar sobre isso.

— Rukia – ele disse seu nome de uma forma que fez seu coração doer de tão amada que se sentiu, transparecendo a tristeza dela e o amor enorme que ele tinha por ela ao mesmo tempo – Eu nunca pensaria isso de você – Ichigo disse, puxando-a para mais perto para beijar sua testa – E de qualquer forma, eu te faço lembrar de alguém que você também amava, inclusive um pouco na personalidade como você disse, então sei que você se sente feliz ao meu lado, e isso me deixa feliz.

Rukia suspirou, fechou os olhos e o abraçou com força, sentindo os braços de Ichigo também se fecharam em suas costas, e uma de suas mãos subir para embalar sua cabeça. Seu coração apertou e novas lágrimas arderam nos olhos com o amor que sentiu. Se Ichigo fora um presente do futuro para atenuar todas as dores pesadas que ela carregava desde o início de sua vida solitária em Rukongai, ela nunca saberia, mas não desejaria que fosse diferente, nem mesmo os momentos difíceis que passaram, estando juntos ou não.

— Eu te amo tanto – Rukia sussurrou perto de seu ouvido, fazendo o coração de Ichigo se apertar agora pela forma como ela falou.

— E como não amar você, querida?

Rukia não fez nada para impedir as lágrimas que escaparam de seus olhos fechados, os quais ela não se deu ao trabalho de abrir quando Ichigo segurou seu rosto com as mãos e ela sentiu seus lábios se unirem, num beijo longo e cheio de sentimento, conforto e cumplicidade. Ele a beijou até sua mente se acalmar e suas lágrimas sessarem, deixando os dois abraçados em silêncio por um longo tempo quando se afastaram e voltaram a sentar-se contra a parede.

— Você está bem? – Ichigo perguntou, olhando para a shinigami encolhida em seu colo e aninhada em seu abraço.

 - Estou – ela respondeu baixinho, parecendo aliviada e feliz.

— Eu imagino que você não queira mais falar disso por enquanto, mas... Eu tenho que perguntar.

Rukia o olhou, aguardando com curiosidade.

— É por isso que Byakuya não gosta de mim?

Rukia tentou se segurar, mas acabou gargalhando. E Ichigo abriu um sorriso enorme, vendo sua luz brilhar novamente.

— Talvez... Mas o nii-sama implica com todo mundo que se mete comigo.

— Ele ama você.

Rukia sorriu. Ela sabia disso, mas era bom ouvir de outra pessoa, especialmente sendo Ichigo.

— Ele ficaria feliz de ouvir você dizendo isso.

Ichigo pensou em quais implicações isso poderia ter, mas apenas sorriu, não querendo pensar nisso agora.

— Você quer descer agora? Comer e beber alguma coisa?

— Quero sim.

Ichigo beijou sua testa, saindo da cama com ela no colo e só então a colocando no chão.

— Eu te amo – ele sussurrou antes de lhe dar um selinho.

— E eu de volta – ela sorriu.

Os dois desceram a escada de mãos dadas, surpreendendo-se ao encontrar Isshin sentado à mesa da cozinha com uma expressão séria. Um bule de chá e copos estavam à mesa, como se ele os esperasse.

— Pai...? Não ia ficar na clínica até Karin e Yuzu chegarem da escola?

— Eu ia, filho. Mas eu fechei por hoje, deixei um aviso para nos contatarem apenas em emergências, só por hoje.

— Por que...? – Ichigo questionou, especialmente por ele não recebê-los com um de seus escândalos por aparecem juntos, sozinhos e de mãos dadas, mesmo que já namorassem há um bom tempo.

— Filho... Rukia... – ele lhes mostrou um sorriso triste – Vamos tomar chá juntos. Há muito que vocês ainda não sabem. Esse não é o único motivo pro capitão do 6° esquadrão ter cismado com você desde o início, Ichigo.

— Você nos ouviu?

— Perdi o começo da conversa, mas ouvi suficiente com a porta aberta e esse silêncio.

— Vamos, sentem-se.

Os dois assim o fizeram, sentando juntos do lado oposto da mesa.

— A vida é tão irônica... – Isshin falou enquanto servia chá para os três – Até parece Romeu e Julieta.

— Onde você quer chegar? – Ichigo quis saber.

— Há um bom motivo pra você e Kaien Shiba serem tão parecidos. E é hora de você saber qual.

— Você conhece os Shiba? – Ichigo perguntou.

— Muito mais do que você imagina.

O casal se entreolhou em surpresa, e novamente para Isshin, aguardando o que viria daquela conversa.


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