High escrita por Jojo


Capítulo 1
Capítulo Único




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Fecho meus olhos e apoio a cabeça no encosto do sofá enquanto a música de abertura de Dexter preenche o cômodo. Eu gosto dessa abertura, é uma das melhores que já vi. Estranhamente acolhedora.

Uma rajada de ar deixa meus pulmões enquanto tento amarrar minha mente em volta do fato de que é madrugada de domingo e, mais uma vez, estou sozinho em casa reassistindo a melhor temporada da minha série favorita. Deus, como eu vim parar aqui? Tenho 26 anos, eu não deveria estar vivendo?

Eu aposto que ela está.

Pensar sobre ela é um caminho perigoso, mas não consigo evitar deixá-la arrastar suas garras pelas paredes da minha mente e entrar em foco, tampouco consigo evitar minha mão de pegar meu celular e clicar no ícone da rede social de fotos.

Ela é a primeira a aparecer na barra de stories recentes, o círculo verde ao redor de sua foto de perfil me faz rir sem emoção. Melhores amigos, sei.

Eu não deveria abrir seu story, o que ela faz ou deixa de fazer não é da minha conta. Se eu tivesse algum amor próprio, bloquearia a tela do celular e voltaria a prestar atenção no que Michael C. Hall está falando em minha tevê, mas não é isso o que eu faço. 

Assim que sua imagem aparece na tela do aparelho, sou tomado pelo déjà vu.

Eu já estive aqui, nesse mesmo sofá, assistindo a mesma série, vendo basicamente o mesmo story. Eu podia ver tudo tão claro, tão óbvio. Sabia o que estava vindo. 

Ela é tão fodidamente linda.

Mas eu não estou mais fazendo isso. Já é suficiente, não posso continuar. Eu não mereço isso e, honestamente, ela também não. 

Estamos presos em areia movediça, afundando lentamente. 

Meu dedo está sobre o botão de bloqueio quando vejo uma nova notificação de mensagem, o nome dela parece me atingir como um soco na boca do estômago. É tão previsível que chega a ser até um pouco cômico, mas a sensação de sufocamento em meu peito não tem graça alguma.

 

Bella: Está fora essa noite?

 

Preciso de um tempo, então bloqueio o celular e vou até o banheiro. Lavo meu rosto e me encaro no espelho, as gotículas de água estão escorrendo pela minha pele e meu reflexo parece rir de mim.

— Não – Sussurro. – Não farei isso de novo.

Eu quase posso acreditar nas palavras conforme elas saem da minha boca. Quase. Mas parece que sou incapaz de tomar as decisões certas.

Volto para a sala e pego meu celular, há duas novas mensagens.

 

Bella: Preciso de você, Ed.

Bella: Você pode me buscar?

 

O que eu devo dizer? Não?

Ela precisa de mim.

Pelo curto e desfocado vídeo em seu story, posso ver que ela realmente precisa de mim. 

Tenho uma ideia de onde ela esteja, mas decido perguntar ao invés de parecer um maníaco obcecado.

 

Edward: Onde você está?

 

A resposta chega rapidamente, como se ela já estivesse esperando por mim.

 

Bella: Newton's.

Edward: Estou indo.

 

Simples assim. Eu sou patético, sei disso, mas ela precisa de mim. Então, eu empurro meu ego ferido de lado, coloco meu casaco e pego a chave do carro antes de sair do meu apartamento mais uma madrugada para ir buscar Isabella Swan e levá-la para casa em segurança.

Porque ela precisa de mim.

E porque eu preciso ter certeza de que ela está bem.

Mas é só isso, faço questão de pensar com veemência conforme o elevador me leva para o estacionamento do prédio, apenas irei buscá-la no Newton's e levá-la para casa. Posso fazer isso. Tenho que fazer isso.

 

[...]

 

Percebo que as palmas das minhas mãos estão suadas e meu coração está batendo forte em meu peito quando paro o carro em frente ao conhecido bar.

Bella não está à vista, então saio do carro e vou em direção ao estabelecimento. Está tarde, mas isso não impede que a música esteja desconfortavelmente alta e há mais pessoas do que eu julgaria possível circulando pelo local. Preciso empurrar algumas enquanto ando em direção aonde sei que ela vai estar.

Eu a vejo sentada em uma das banquetas do bar. Seus braços estão dobrados sobre a bancada e sua cabeça apoiada sobre eles. Acho que ela está com os olhos fechados, mas ainda estou longe demais para conseguir ter certeza disso sob a luz precária, então continuo andando. A poucos passos de estar ao seu lado, vejo Bella erguer a cabeça e levantar o indicador, Mike sacode a cabeça em negação e ela faz um bico.

— Acho que chega por hoje – O escuto dizer quando estou perto o suficiente, os olhos azuis dele se voltam para mim e ele solta o ar de seus pulmões parecendo aliviado.

Bella acompanha o olhar do barman e, de repente, seu sorriso dispara em minha direção. Eu não tenho tempo de achar que ela está feliz em me ver.

— Eddie! – Ela sabe que eu odeio o apelido, mas o usa mesmo assim. – Venha aqui, querido, vamos beber!

As exclamações em sua voz estão perfurando um buraco através do meu cérebro, então fecho meus olhos e prendo a ponte do nariz entre o indicador e o polegar antes de dar uma boa olhada na garota diante de mim. Ela está claramente bêbada. Suas pálpebras estão caídas, suas bochechas coradas e os fios castanhos de seu cabelo estão completamente desalinhados.

— Tendo uma boa noite? – Pergunto. Ela inclina a cabeça para o lado e me olha com ar de falsa inocência. Vejo seu lábio inferior se propagar para frente e um bico sendo formado, é sexy como o inferno e eu não consigo evitar lembrar o quão doces e macios são os lábios dela. Mas eu vim apenas levá-la para casa. – Você me chamou para levá-la para casa, esqueceu? – Eu mudo de assunto e encaro um ponto qualquer sobre sua cabeça, tudo para evitar continuar olhando para aquela boca que já esteve por todo o meu corpo incontáveis vezes.

— E você veio! Me deixe pagar uma cerveja, pelo menos, como forma de agradecimento – Ela está falando alto e animadamente e muito, muito lento. Eu sequer consigo entender como ela está fazendo isso.

— Não posso beber, estou dirigindo – Por algum motivo, isso não parece algo lógico para Bella. Ela me olha como se eu fosse estúpido.

— Tudo bem, então. Você pode esperar um pouco? Só mais uma… – Ela volta a olhar para Mike que está novamente olhando para mim.

Não há como discutir com Bella. Acho que eu poderia dizer que não iria esperar e ameaçar ir embora se ela não viesse comigo nesse exato momento, mas ela sabe que eu jamais a deixaria sozinha aqui, portanto não há sentido em tentar isso. Aceno para Mike deixando-o saber que está tudo bem servir a garota com qualquer que fosse o veneno que ela escolheu para hoje e o vejo encher um copo com Black & White.

Ela vira o líquido de uma vez. Não há sequer um indício de careta em seu rosto quando ela apoia o copo de volta na bancada e pede a conta. Bom, pelo menos ela não está tentando me convencer a deixá-la tomar mais uma dose, e outra, e outra depois daquela. Eu finjo não ouvir o valor absurdo quando ela me olha pelo canto do olho esperando uma reação.

Com a conta paga, Bella se levanta e imediatamente cai para frente. Ela estaria beijando o chão se seu rosto não tivesse encontrado meu peito primeiro. Sob o cheiro de álcool, nicotina e sabe-se lá mais o que há nesse buraco do inferno que Newton ostenta como o bar mais movimentado da pequena cidade, posso sentir o cheiro de morangos do shampoo de Bella, o cheiro de flores de seu perfume e… Céus, apenas o cheiro dela. 

Eu poderia me afogar nesse cheiro.

— Desculpa – Ela murmura, ou pelo menos eu acho que ela o faz, sua voz está abafada com sua boca ainda colada em meu peito. Então, ela ri. 

Deixe-me contar algo sobre a risada de Bella: é o melhor som do mundo. Pode iluminar cidades inteiras, aquecê-lo nas noites mais frias de inverno. Acho que pode até curar algumas doenças. 

Ainda estou um tanto atordoado quando ela se afasta minimamente e ergue a cabeça para me olhar nos olhos. Ela está tão perto que posso sentir seu hálito de menta e álcool. Eu gostaria de poder provar a mistura, gostaria que as coisas fossem diferentes. Mas ainda somos nós dois e as coisas ainda são complicadas e… Eu apenas não posso continuar fazendo isso.

Então, eu sorrio como se nada daquilo tivesse me afetado e digo que ela não precisa se desculpar, ofereço meu braço como apoio e nós saímos do bar. 

O caminho até onde meu carro está estacionado parece ter se alongado três vezes o seu tamanho original com Bella se agarrando em mim para ter equilíbrio, mas eventualmente chegamos lá. Ela se senta no banco do carona e eu me abaixo para colocar seu cinto. Péssima ideia.

Nossos rostos estão perigosamente nivelados nessa posição e eu posso sentir sua respiração quente em minha nuca enquanto encaixo a lingueta do cinto na trava. Me viro ligeiramente e então ela está respirando na porra da minha boca. Eu quero tanto beijá-la. Merda.

Me levanto rápido demais e de repente estou tonto, mas fecho a porta da Bella antes de me apoiar no carro e respirar fundo. Quando faço meu caminho para o outro lado do carro e finalmente entro, ela está me olhando com o cenho franzido em uma expressão de curiosidade. Apenas coloco meu cinto e dou partida no carro.

— Você está de barba – Bella diz após alguns minutos de total silêncio. Eu involuntariamente passo uma das mãos pelo meu queixo, sentindo os fios da barba por fazer há pelo menos uma semana roçarem em meus dedos. – Eu gosto, fica bem em você.

Olho para Bella, seus olhos estão quase fechados e sua cabeça está jogada no encosto do banco, parece que ela vai dormir a qualquer momento, mas ela está sorrindo. 

— Obrigado – Respondo.

Mais alguns minutos em silêncio e ela volta a falar, agora sua voz está arrastada e eu tenho certeza de que ela está lentamente se deixando levar pelo sono.

— Você sempre vem… Você… Você é tão bom, Edward.

Tão bom, mas não bom o suficiente, ao que parece.

A pergunta de sempre surge em minha mente, me atormentando.

Meus amigos costumam dizer que eu sou do tipo que evita conflitos, mas talvez eu devesse falar. Talvez fosse preciso colocar as cartas na mesa para quebrar esse ciclo vicioso e torturante. Então eu digo.

— Por que você só me procura quando está bêbada assim, Bella? 

Mas ela não responde e eu percebo que ela dormiu.

Bem, não terei minha resposta hoje, então.

 

[...]

 

— Bella? – Eu chamo quando paro meu carro em frente a casa dela. Todas as luzes estão apagadas, então suponho que Alice esteja dormindo. – Ei, Bella? Chegamos.

A garota ao meu lado não move um músculo, então saio do carro e vou até a entrada da casa, bato na porta três vezes antes de decidir chamar pela melhor amiga com quem Bella divide o aluguel, mas não há respostas.

Volto para o carro e pego meu celular, disco o número da Alice e aguardo enquanto a ligação é completada. 

Edward? — escuto-a dizer do outro lado da linha. 

— Desculpe te acordar, mas eu te chamei e…

Espera, o que? Você me chamou?— Ela pergunta. – Onde você está?

— Em frente a sua casa.

Oh, Edward, eu não estou em casa, eu estou… Bem, não em casa. O que você está fazendo aí uma hora dessas?

— Bella está dormindo no meu carro, eu a trouxe para casa mas ela não quer acordar.

Calma, a Bella está com você? Droga, eu a deixei no Newton’s com o James... — Ela fala mais como se estivesse constatando um fato para si mesma do que para mim, mas isso não me impede de coletar as informações.

Bella estava com um homem.

Sei que não estamos mais em um relacionamento há um bom tempo e que ela é uma mulher jovem e linda, é óbvio que ela vai ficar com outras pessoas. Mas, porra, saber que ela estava fazendo isso doeu mais do que eu esperava.

Além da dor óbvia, eu estava muito, muito irritado. 

O que deu na Alice de deixar a Bella sozinha com um cara que ela mal conhece em um bar? Tudo bem que o Mike a conhece a anos e com certeza não deixaria nada de ruim acontecer com ela, mas ainda assim.

A não ser que o cara não fosse alguém que ela acabou de conhecer, talvez eles estejam juntos há algum tempo.

Não, por que ele a deixaria sozinha então? Com certeza era algo novo. 

Eu estou pensando demais e meu coração começa a bater mais rápido. Sinto que a estou perdendo de novo e é uma merda.

Edward? — Ouço Alice falar. – Merda, eu falei demais. Olha… Eu…

— Imagino que você não vá voltar para casa essa noite? – Digo tentando desviar do assunto. Ela claramente percebeu como eu reagi à notícia de que Bella estava, aparentemente, em um encontro. – Ela pode ficar no meu apartamento essa noite.

Sinto muito por isso, Edward, se eu soubesse que ele ia deixá-la sozinha lá eu…

— Não tem problema, Ali. Boa noite.

Boa noite, Ed.

Guardo meu celular e ligo o carro novamente, dessa vez pego o caminho em direção ao prédio no qual tenho morado pelos últimos dois anos. Bella ainda está dormindo no banco ao meu lado, seu rosto ligeiramente inclinado em minha direção. Ela parece estar em paz, tranquila. Olhando para ela assim, ela parece tanto com a minha Bella, antes de tudo se tornar confuso e complicado e fodidamente doloroso.

O caminho não é longo, então logo estou estacionando o carro na minha vaga na garagem do prédio. Saio do veículo e vou até o lado onde Bella está, abro a porta e tento acordá-la mais uma vez. Ela apenas resmunga e fecha os olhos com mais força, por isso a pego no colo e a carrego até a área dos elevadores para subirmos até meu andar.

Não tenho dificuldade em carregá-la até estarmos dentro do meu apartamento. Empurro a porta com meu pé até que ela esteja encostada e levo Bella para o meu quarto. Só quando Bella já está confortavelmente deitada sobre a minha cama que paro para pensar que eu deveria tê-la levado para o quarto de hóspedes, mas, bem, ela já está aqui. Tiro os coturnos que ela está usando e coloco o edredom sobre seu corpo. Vou até meu closet, pego um conjunto de pijama limpo e saio do quarto, vou até a sala para trancar a porta e então caminho até o banheiro. Sinto que preciso de um banho.

A sensação da água escorrendo pela minha pele é boa, fecho meus olhos e aproveito o máximo de tempo possível antes de sair do box, me secar e colocar minha roupa. Quando abro a porta sou surpreendido pela visão de Bella sentada no corredor, encostada na parede diretamente de frente para a porta que acabei de abrir. Ela olha para cima e sorri antes de tentar levantar e fracassar majestosamente. Me aproximo para ajudá-la e então ela está de pé.

— Você acordou – Digo. Não é uma pergunta, então não espero por uma resposta, mas ela me dá uma mesmo assim.

— Acho que eu estava em um estado de semiconsciência desde o elevador, mas aí ouvi o barulho da água e comecei a me sentir realmente suja – Diz Bella. – Posso tomar um banho?

Ela aponta em direção ao banheiro e eu quero rir. Ela realmente está perguntando se pode tomar banho? O que aconteceu com a garota que andava por esse apartamento como se fosse a dona do lugar? 

— Claro… Hum, eu vou pegar uma toalha pra você.

— E uma camiseta – Paro em meu caminho e olho para Bella. – Digo, você pode me emprestar uma camiseta? – Concordo com um breve aceno e vou ao meu quarto.

Com a toalha e minha camiseta da Darthmouth em mãos, volto para o corredor – Bella não está mais lá e eu concluo que ela entrou no banheiro. A porta está aberta, então eu entro sem me preocupar imaginando que ela está me esperando. Talvez ela esteja. 

Bella está apenas de lingerie na minha frente e meu cérebro parece estar tendo um curto-circuito. Devo fechar meus olhos? Me virar? Talvez sair correndo? É, eu provavelmente deveria estar fazendo todas essas coisas, mas estou paralisando, preso. Ela não está tentando se esconder e não há constrangimento no olhar que ela está me lançando. Quer dizer, não há motivos para Bella ficar constrangida. Eu a vi nua mais vezes do que seria capaz de contar e, francamente, ela é perfeita. 

Mas ainda assim…

O que infernos ela está fazendo?

— Obrigada – Ela diz estendendo as mãos para pegar os itens que estou segurando. Ela coloca a toalha no gancho e a camiseta dobrada sobre a bancada da pia. Eu ainda não me mexi, ou respirei.

— Sem problemas – Consigo dizer, finalmente meu cérebro consegue mandar os devidos sinais para o resto do meu corpo e eu me movo para a porta. – Se você precisar de algo, estarei no quarto de hóspedes. Você pode ficar no meu. Boa noite. 

Quase não posso ouvir sua resposta conforme meus pés se movem impressionantemente rápido para fora do banheiro, pelo corredor e então para dentro do quarto no final deste.

Mas não fico sozinho por muito tempo.

Cerca de meia-hora depois, sinto o outro lado da cama afundar e percebo que esqueci de trancar a porta. Ou talvez eu a tenha deixado propositalmente aberta. Não, eu esqueci. Se eu admitir que a queria aqui, irei enlouquecer.

Não dizemos nada e o silêncio nunca me pareceu tão alto, preenchendo todo o cômodo e me deixando desconfortável. Por isso, me viro para ela.

Bella está olhando pra mim. Não posso vê-la propriamente, a única coisa iluminando o quarto é a luz do corredor entrando pela fresta da porta, mas sei que ela está me olhando. Sinto uma de suas mãos em minha bochecha e fecho meus olhos novamente. 

— Eu preciso de você – Ela sussurra e meu coração parece que vai sair do peito por que eu sempre espero que ela vá dizer algo assim e que vai significar algo totalmente diferente, mas eu sei o que ela quer dizer.

— Por que seu encontro te abandonou? – Pergunto sem pensar e posso ouvir sua respiração travar. Deus, eu me odeio quando estou com ciúmes.

— Isso… Não, não foi isso que aconteceu – Ela diz. – Como você sabe sobre meu encontro?

— Eu falei com a Alice antes de te trazer para cá, tentei te levar para casa.

Silêncio.

— Me desculpe por estar te dando trabalho… De novo – Tento focar no rosto dela quando escuto as palavras porque, caramba, ela realmente quer dizer aquilo. 

— Você nunca se desculpou antes.

— Sempre há uma primeira vez – Ela ri, mas não há muito humor nisso. Ela parece triste, um pouco pensativa. 

— No que você está pensando?

— Que eu realmente preciso de você – Diz ela. Oh, e eu aqui pensando que teríamos uma conversa como dois adultos com nossas roupas em seus devidos lugares.

Bem, eu poderia dizer não, certo?

Eu queria dizer não?

Porra, posso sentir o corpo dela tão quente aqui perto do meu. Isso é o que eu quero: o calor dela, senti-la cada vez mais perto.

Eu devo ser a pessoa mais fraca em todo o planeta e minha palavra não vale um tostão furado, aparentemente, porque estou puxando-a pela cintura até que ela esteja sentada sobre mim, me prendendo entre suas pernas.

— Não deveríamos… – Eu consigo dizer.

— Você não me quer mais? – Ela pergunta olhando diretamente nos meus olhos. Como eu posso mentir para ela assim? Como posso dizer qualquer coisa além da mais absoluta verdade: que eu a quero mais do que qualquer coisa que eu já tenha desejado na minha vida? Eu apenas a quero mais do aqui, do que agora. 

Quero que ela seja minha novamente, não somente fodê-la apenas para encontrar minha cama vazia quando eu acordar pela manhã. Eu quero fazer planos e eu quero um futuro, porque eu a amo e, merda, eu sinto tanto a falta dela quando ela não está por perto. Mas nada disso é o que ela quer. 

Eu posso continuar com isso? Posso ter apenas essa pequena parte dela? Eu sei a resposta e é não. Mas isso é tudo o que eu tenho agora e é tão difícil pensar direito com ela em cima de mim, tão perto que nossos lábios estão se tocando. Acho que posso fazer isso mais uma vez, uma despedida. Posso fodê-la do jeito que ela gosta, garantir que ela irá se lembrar de mim assim como sei que nunca irei esquecê-la. Ela está marcada no meu coração, eu estarei marcado por todo o corpo dela. Pensando nisso, eu digo:

— Eu quero – E então estamos nos beijando e é incrível pra caralho. O gosto de sua língua dentro da minha boca é inebriante o suficiente para me levar ao limite da razão. Eu só quero me enterrar profundamente dentro dela a noite toda, beijar seu corpo inteiro, torná-la minha pela última vez.

Afastamos nossos lábios, ela se senta e tira minha camiseta. Agora ela está apenas com sua calcinha minúscula e eu me sinto vestido demais, então me sento também e a deixo me despir. Com apenas nossas roupas íntimas entre nós, eu sei que não há como voltar atrás. Tudo bem, eu não quero voltar de jeito nenhum. Eu a quero.

Eu quero senti-la. Adorá-la. Amá-la.

E é isso que eu faço a noite toda, até que ela esteja tremendo, choramingando e gritando meu nome, de modo que todo o meu prédio esteja ouvindo. Eu não me importo, é impossível me importar com qualquer coisa além dela. Eu não paro até que ela esteja satisfeita, dormindo silenciosamente em meus braços.

Não consigo dormir, quero aproveitar cada segundo em que a tenho aqui. Estou com medo de adormecer, porque sei que quando acordar estarei sozinho e isso é uma merda. Mas, eventualmente, não aguento mais e acabo fechando meus olhos. Quando os abro novamente, estou sozinho e a cama parece grande demais, fria demais.

Eu suspiro encarando o teto do quarto.

 

[...]

 

O primeiro sinal de que há algo errado estava no chão do quarto de hóspedes. Ou melhor dizendo, não estava lá.

A camiseta que eu havia emprestado para Bella havia desaparecido da pilha de roupas que havíamos deixado no chão, assim como a calcinha que ela estava usando na noite anterior. Bella costumava roubar minhas camisetas o tempo todo quando estávamos namorando, mas ela nunca havia voltado a não me devolver algo depois do nosso término. Na verdade, ela havia feito questão de pedir para que Emmett, um de nossos amigos em comum, trouxesse uma caixa enorme com todas as minhas coisas que estavam em sua casa assim que encerramos tudo entre nós.

Então, é, eu deveria ter pensado que aquilo era algum tipo de sinal de que algo não estava certo, mas apenas concluí que ela havia roubado uma camiseta minha por qualquer que fosse o motivo, coloquei minhas roupas e vim para o banheiro.

Foi aqui que eu encontrei o segundo sinal de que algo realmente não está certo.

Estou parado no batente da porta, minha mão ainda está na maçaneta e meus olhos estão fixos na pilha de roupas sobre a bancada. Calça jeans skinny desgastada, uma camisa preta com rasgos propositais e uma jaqueta de couro. Também há um sutiã sobre a pilha. Todas as roupas dela estão aqui, o que significa que…

Porra.

Antes que eu possa pensar sobre o que estou fazendo, estou correndo pelo apartamento procurando por ela. Não consigo achar minha voz para chamar o nome de Bella. Se ela não me responder, se ela perdeu totalmente o juízo e foi embora usando apenas uma calcinha e minha camiseta, eu ficarei desapontado e muito preocupado com a sanidade dela. Mas se ela responder… Deus, se ela responder eu nem sei como reagir.

Ela nunca fica depois de transarmos, eu sempre acordo sozinho e fico sozinho até a próxima rodada. Eu prometi que não haveria uma próxima rodada. Aquela foi a nossa despedida, embora eu não tenha dito isso a ela. Ela não deveria estar aqui.

Mas ela está.

Ou eu enlouqueci de vez, porque estou vendo Isabella Swan de costas para mim, equilibrada em um único pé enquanto o outro está apoiado na lateral de sua coxa, mexendo em algo no fogão. Ela está distraída e ainda não percebeu minha presença. Eu percebo que a cafeteira está ligada apenas meio segundo antes de sentir o cheiro de café recém preparado. 

Ela está fazendo café da manhã para nós? 

— O que você está fazendo? – Eu pergunto em voz alta, ela se sobressalta virando-se para mim. Inicialmente ela parece assustada, mas então ela sorri e eu quase esqueço que ela deveria ter ido embora e me deixado sozinho de novo. Mas ela está aqui.

— Bom dia – Diz ela. – Achei que seria… Eu não sei, legal? É, achei que seria legal da minha parte preparar o café. Você está com fome?

— Não, o que você está fazendo aqui, no meu apartamento? – Não estou tentando ser rude, mas é isso o que faço. Percebo então que estou na defensiva. Ela não pode me julgar por isso, foi ela quem criou a regra silenciosa de ir embora pela manhã antes de eu acordar e agora ela está quebrando esse padrão. Eu não sei como agir, o que falar, o que esperar. 

Mas então eu olho mais atentamente para Bella e vejo que ela parece triste. A postura dela mudou, seus ombros estão caídos e ela está olhando para baixo. Seu lábio inferior está entre os dentes, ela está nervosa. Ela se vira para o fogão e desliga o fogo. Eu observo enquanto ela serve as panquecas e o bacon, assim como o café. Bella se senta à mesa e sinaliza para que eu me sente de frente para ela e, por algum motivo que está além da minha compreensão, eu obedeço.

Sinto que estamos nos encarando por toda a eternidade e mais um dia quando ela finalmente decide dizer algo.

— Eu queria conversar com você.

— Queria ou ainda quer?

— Eu quero falar com você – Ela se corrige e então caímos no silêncio novamente, faço um sinal para que ela continue e assim ela o faz. – Ontem eu disse que precisava de você – Eu permaneço em silêncio, em parte porque não foi uma pergunta, mas também porque eu não faço ideia de onde ela quer chegar. – Eu não estava falando sobre sexo. Quer dizer, um pouco disso também, mas não realmente. Deus, por que eu sou tão ruim nisso? Ok, olha, eu estava falando sobre sexo, mas era mais do que isso. Eu… Eu… Merda.

Não sei se estou entendendo direito o que ela está dizendo. Ela parece confusa, nervosa e um pouco frustrada. 

— Você não estava falando só sobre sexo? – Ela assente. – O que isso significa, Bella? 

— Eu tive um encontro ontem – Assim que as palavras saem da boca dela, meus olhos estão revirando. Eu não quero ouvir sobre a porra do encontro dela. – Por favor, Edward, me escute. Eu estava em um encontro com um cara que eu conheci há alguns meses. Ele é novo no escritório e tem tentado conseguir um encontro comigo há um tempo e eu finalmente aceitei. Ele não é ruim, na verdade, ele é ótimo. Engraçado, gentil, inteligente e nada mal para os olhos... 

— Bella, eu realmente nã-

— Me deixa terminar, por favor? – Ela implora novamente. A última coisa que quero ouvir é a mulher que amo derramando elogios sobre outro cara, mas eu meio que quero saber para onde tudo isso está indo, então eu seguro a onda e escuto. – Foi um encontro duplo, Alice chamou um cara com quem ela tem conversado pelas últimas semanas e eu fui com o James, tudo estava indo bem até Alice e o cara com quem ela estava irem embora. Até então, nós quatro estávamos conversando e rindo o tempo inteiro e eu havia esquecido completamente que aquela não era uma simples saída entre amigos, mas, assim que nós estávamos sozinhos, James começou a atualizar seu jogo.

“Ele estava flertando a noite toda, é claro, mas depois que ficamos à sós ele se tornou ainda mais ousado. Nada para se preocupar, ele é um cavalheiro e se eu fosse outra pessoa, ficaria lisonjeada, mas eu apenas conseguia pensar como eu queria que fosse você ali me dizendo aquelas coisas, perto de mim, segurando minha mão, me beijando. Então eu disse para ele que queria ir embora, ele se ofereceu para me levar para casa, mas eu disse que pegaria um táxi. Ele insistiu, insistiu tanto que eu fiquei até um tanto irritada, mas finalmente foi embora.

Eu não peguei o táxi. Eu decidi que iria te ligar e dizer que estava sentindo sua falta, que eu fui uma idiota, que eu faço tudo errado e que ver como o casamento dos meus pais foi tóxico e destrutivo provavelmente me arruinou mais do que eu sou capaz de admitir. Eu queria te dizer que eu me arrependo do jeito que eu lidei com o nosso relacionamento, do jeito que eu te tratei e ainda trato. Eu queria te dizer que você merece mais, Edward, muito mais do que uma pessoa fodida da cabeça que não consegue fazer nada certo. Mas, mais do que qualquer coisa, eu queria dizer que eu te amo. Eu te amo tanto que às vezes eu não consigo respirar, não consigo pensar. E é por isso que eu continuo voltando, continuo te machucando.

Eu deveria ser uma pessoa melhor e te deixar seguir sua vida, mas eu não consigo. Eu não posso. Sou egoísta demais pra isso. E eu fui egoísta de novo na noite passada, porque eu não tive coragem de te ligar sóbria, então eu enchi a cara e fiz o que eu sempre faço. É ridículo, eu preciso estar alta para sequer falar com o homem que eu amo, para admitir que o quero.

Então, é, eu não estava falando só sobre sexo, eu estava admitindo que preciso de você, mas não fiz nada para impedir que você entendesse tudo errado. Quer dizer, por que você entenderia outra coisa, não é mesmo? O que fiz para merecer que você entendesse outra coisa? Eu sou uma bagunça e definitivamente não sou boa pra você. Mas eu estou tentando, é por isso que eu fiquei, é por isso que estou dizendo tudo isso. Eu não espero que você vá me perdoar por tudo que eu fiz, tudo que eu disse, toda a dor que eu sei que te causei. Mas… Mas… Eu precisava tentar… Eu… Eu te amo.”

Bella está soluçando quando termina de falar. Seu rosto está coberto de lágrimas, suas bochechas e nariz estão vermelhos. Eu nunca a vi tão vulnerável, tão exposta. Sinto meu peito arder e percebo que não estou respirando. Todo o meu corpo está rígido, o exato oposto dela, todas as minhas defesas estão levantadas. No começo, achei que talvez ela estivesse tirando uma com a minha cara, mas não é o caso. Ela se abriu para mim, finalmente, pela primeira vez. Realmente se abriu. A Bella na minha frente é a real Bella, aquela que eu via em pequenos flashes durante os meses em que ficamos juntos. 

Frágil.

Quebrada.

Mas, ainda assim, tão malditamente corajosa.

Eu não achava que poderia amá-la ainda mais, mas eu a amo. 

— Eu também te amo – É a primeira coisa que eu digo. De alguma forma, o fluxo de lágrimas de Bella parece aumentar. Ela está sendo corajosa, eu também preciso ser. Deixo minhas defesas caírem e me levanto, vou até ela e a puxo para o meu abraço. Permanecemos assim por incontáveis minutos até ela se acalmar. – Sabe, todo mundo erra...

— Por favor, não. Não tente tirar minha culpa de cima de mim – Ela parece um pouco irritada agora, mas seus olhos são gentis quando seu olhar encontra o meu. – Eu mereço me sentir uma merda.

— Não, não merece. Ninguém nunca cuidou de você, Bella. Sua vida inteira você esteve sozinha. Seus pais estavam ocupados demais lutando um contra o outro para perceber que quem estava mais sendo ferido no meio disso tudo era você. O mais próximo que você tem de uma família é a Alice e ela tem uma fodida família perfeita, ela não entende como é pra você. Droga, eu não entendo. Eu não vou te culpar por fugir quando algo finalmente parece estar dando certo. Além do mais, você nunca me iludiu ou me forçou a algo. Eu sempre escolhi abrir minha porta para você, assim como abri meu coração. 

— Como se você tivesse escolhido se apaixonar por mim – Bella ri sem humor e desvia o olhar do meu. – Quem faria uma coisa dessas?

— Você está certa, eu não escolhi. Mas escolheria se pudesse – Seguro seu rosto em minhas mãos e a faço olhar pra mim, quero que ela veja que estou sendo sincero. – Você me deu os melhores meses, então, quando terminamos, você me deu as melhores noites. É, você me machucou, mas eu te machuquei também, certo? Todas as expectativas, eu não deveria tê-las colocado sobre você. 

— Para – Diz ela. – Você sempre se culpa. Não é sua culpa, é…

— Ok, eu paro se você parar. Não importa, nada disso importa. Eu não quero te culpar, isso seria fácil demais. É, eu poderia dizer que você fez com que eu me apaixonasse por você, aceitou namorar comigo e então terminou tudo e me usou, mas essa não é a verdade. E, sim, eu não tive culpa em me apaixonar por você, nós dois escolhemos iniciar um relacionamento e você estava no seu direito de terminar as coisas, e ninguém me viu reclamando de ter você na minha cama depois disso. A vida é complicada e merdas acontecem. Quem liga? Eu com certeza não.

— Você deveria. Você é o melhor, Edward, merece alguém…

— Não me importo com o que eu mereço, me importo com o que eu quero. E eu quero você, Bella. Sou grande o suficiente para decidir o tanto que posso aguentar, o quão longe eu posso ir. Você está tentando, certo? Eu quero tentar também.

— Você quer? – Eu confirmo, ela parece incapaz de acreditar. – Fácil assim, uh? Achei que eu precisaria, sei lá, fazer uma serenata ou alguma porcaria romântica.

— Se você quiser… – Ela me dá um tapa no braço e ri, eu também rio. A tensão no ar está se dissipando. – Você não precisa fazer essa merda, romance é tão desatualizado, certo? Quem precisa disso?

— Você precisa – Diz ela e, pela primeira vez, não é uma crítica. – É quem você é, como você foi criado. Seus pais parecem ter saído de um maldito filme da Disney. Me desculpe por ter te feito sentir como se você não merecesse isso.

— Para de se desculpar.

— Me desculpa – Assim que ela diz as palavras, Bella fecha os olhos e balança a cabeça. Eu estou rindo porque parece que se desculpar virou seu novo hábito. – Romance não é desatualizado, é… Totalmente aceitável. Nós podemos ser românticos.

— Você sabe que não precisa fazer isso, certo? Não quero que você mude quem você é.

—– Mas eu quero – Ela está determinada. – Eu não quero ser a Bella que partiu seu coração. Aquela Bella estava pensando em garrafas de bebida sendo jogadas contra a parede e gritos e brigas no meio da noite. Aquela Bella estava com medo de repetir a história de seus pais. Eu não quero ser ela. Ela não é boa para você ou para mim. Além disso, como você notou, eu disse que estou tentando e não é realmente tentar se eu continuar fazendo as mesmas coisas que fazia no passado. Então, que se foda os meus medos, essa sou eu tentando. Eu quero mudar, ser melhor. Nós merecemos isso.

— Isso foi romântico – É o que eu consigo dizer e eu me sinto um idiota por isso. Ela está colocando todas as cartas na mesa e eu não consigo raciocinar. Eu apenas sei que a amo demais e estou feliz demais por ela estar aqui. Eu penso em falar mais alguma coisa, mas Bella está gargalhando. – O que foi?

— Eu esqueci que você não funciona direito antes de tomar seu café, provavelmente eu estou exigindo demais de você agora. Nós deveríamos comer logo, aliás, você sabe que eu odeio cozinhar e as coisas estão esfriando – Uma risada esquisita sai pelo meu nariz, então estamos ambos gargalhando. 

Nós nos sentamos de novo para tomar o café e está ótimo. Eu ainda não entendo o porquê dela odiar fazer qualquer coisa ligada à cozinha se ela é tão boa nisso, mas não questiono. Quando ela quiser, irá me contar. Terminamos de comer e Bella me pergunta se eu quero que ela vá embora para que eu possa pensar melhor antes de tomar uma decisão definitiva. Eu não preciso pensar, a decisão está tomada. Então, eu digo a ela para que fique – e eu não estou me referindo apenas à agora. 

Eu espero que ela fique para sempre.

— Até você me chutar para fora daqui – Ela brinca.

— Você nunca mais vai embora, sabe disso? – Eu não poderia estar falando mais sério.

— Você não me verá reclamando.

Estamos olhando um para o outro em silêncio, sorrindo como tolos. Não consigo amarrar minha mente em volta do fato de que ela realmente está aqui e me disse todas aquelas coisas. Nós estamos com medo, mas estamos tentando. Não será fácil e talvez não dê certo, mas talvez dê e apenas a possibilidade já é o suficiente para que faça tudo valer a pena. Aqui, olhando para olhos pelos quais eu me apaixonei, sei que podemos fazer dar certo. E eu a amo, sei disso também.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado de ler essa o/s tanto quanto eu gostei de escrever. Ela me ajudou a sair de um bloqueio criativo no qual eu estava há um bom tempo e por isso sempre terá um lugar especial no meu coração.

Ademais, me deixem saber o que vocês acharam e até a próxima!