Our Game escrita por daylightsx


Capítulo 1
Our Game




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/801935/chapter/1

— Edward, você disse que sua vida mudou drasticamente entre sua convocação e sua participação na Olimpíada de Tokyo. Pode nos contar como isso aconteceu? – A mulher elegante perguntou, enquanto equilibrava o notebook no colo. Ela olhava para mim curiosa. Olhei para a mulher que me acompanhava. Ela sorriu para mim, e acenou com a cabeça.

— Vou contar o que aconteceu. 

 

"E por último, obviamente, nosso capitão. O último convocado para as Olimpíadas de Tokyo é Edward Cullen." 

Pela televisão, eu assistia às coletiva de imprensa de Aro Volturi, técnico da seleção americana de vôlei. Tive o prazer de trabalhar com ele no primeiro time que defendi durante toda a minha carreira, e sempre guardei um carinho especial por ele em meu coração. Ele acreditou em mim quando ninguém acreditou. Me transformou no atleta que eu sou hoje. Ele continuou a falar, dizendo, provavelmente, como estava feliz em ter o time dos sonhos e como estava satisfeito por poder defender a seleção nos Jogos Olímpicos. Eu também me sentia orgulhoso. Nunca imaginei que chegaria onde estou, com uma medalha de ouro exposta em minha estante. Eu preciso de outra. Quero me manter no pódio e dar orgulho ao meu país. 

— NOSSO CAPITÃO FOI CONVOCADO! – Edythe, minha irmã gêmea, chegou gritando pela porta, junto com Alice, nossa irmãzinha. Elas pularam em mim e caí de costas na cama. 

— Ei, calma. Eu preciso estar inteiro para jogar! – Gargalhei e elas saíram de cima de mim. 

— Eu nem acredito que nós vamos para Tokyo. Edward, eu te amo. – Edythe falou. Ela era completamente obcecada pela cultura oriental. Quando fomos ao Brasil na Olimpíada passada, ela fez questão de ir um final de semana para São Paulo para visitar um bairro super conhecido, que era basicamente um "mini Japão" no país. Ela ficou encantada, e acho que se apaixonou ainda mais pela cultura. 

— Você me ama só porque eu vou te levar para Tokyo, Edythe Amelia? – Perguntei, com o meu melhor tom de deboche. 

— Claro que não, Edward Anthony. Você sabe que eu morro de orgulho de você. Tanto orgulho que nem cabe em mim. – Ela passou a mão pelo meu rosto, e me deu um beijo na bochecha. – Mas confesso que você me levar para Tokyo é uma coisa que faz eu te amar mais ainda. – Ela gargalhou. 

— Você é uma mercenária. Eu não vou te levar. – Sorri para ela, brincando. 

— Sou sua agente, caso você tenha esquecido. Eu vou, nem que seja escondida na sua mala. – Minha irmã entrou na brincadeira. 

— Não vai caber. – Falei e ela deu um tapa forte em meu braço, que ficou vermelho na mesma hora. – Aí! 

— Palhaço. – Ela deu um sorriso diabólico e ouvimos o telefone tocar. Provavelmente era nossa mãe, acompanhando a convocação. 

— Ed… – minha irmãzinha começou a falar. – Eu posso ir também? Eu quero conhecer a China!!! 

— Os jogos serão no Japão, meu amor. – Edythe passou a mão pelos seus cabelos pretos e deu um beijo no alto de sua cabeça. – Vou pegar o telefone. – Edythe desceu da cama e saiu correndo pela casa para pegar o aparelho. 

— Ah… Eu posso ir? – Alice perguntou, com os olhos brilhando. 

— Por mim, você iria comigo pra todo lugar. – Eu a abracei, fazendo cosquinhas nela. Ela começou a gargalhar. – Mas temos que olhar as regras e com a mamãe também. 

— Tudo bem então, Ed. A mamãe vai deixar! Eu sei que vai! – Ela falou, me deu um abraço e saiu correndo.

Enquanto ela ia brincar, voltei a olhar para a televisão. Agora, o técnico da seleção feminina, Phil Dwyer, falava o nome das jogadoras convocadas. Aumentei o volume. 

"Como levantadoras, Rosalie Hale e Leah Clearwater. E na posição de líbero, Isabella Swan." 

Phil cantava o nome das jogadoras, e, quando falou o nome da última, sua foto apareceu na tela. Eu nunca a tinha visto, mas seus olhos e cabelos cor de chocolate chamaram minha atenção. 

— Ei, é a mamãe. Ela quer falar com você. – Minha irmã parou ao meu lado, me estendendo o telefone. – Edward? – Eu ainda olhava a imagem da garota, com um belo sorriso enquanto Edythe estava parada ao meu lado. 

— Conhece ela, Ed? 

— Oi? Não, não conheço. – Desviei o olhar da ESPN. –  A mamãe. – Sinalizei para o aparelho e peguei o telefone da mão dela. – Obrigado. 

— Oi, mãe. – Eu sorri, e Edythe me deixou sozinho no quarto. 

— Ah, querido. Parabéns. Eu estou muito orgulhosa de você. –  Minha mãe disse. – Mal posso esperar para te ver em quadra.

— Eu também, mãe. Obrigado. Eu estou muito feliz. 

— Eu imagino. Vou passar aí para dar um beijo em você e em sua irmã. Vou aproveitar e buscar a Alice. Ela tem coisas da escola para fazer. – Esme disse. 

— Se prepare, viu. Ela quer ir para o Japão também. – Eu contei, e minha mãe caiu na gargalhada. 

— Ela te ama, Edward. Quer ir para onde você for. Você e a Edythe. Ela se inspira muito em vocês. Acredita que ela me pediu para colocá-la na aula de vôlei? 

— Mentira! Mãe, isso é incrível! E você vai colocar, né? – Perguntei, extasiado. 

— Claro. Você sabe que eu faço tudo o que vocês me pedem. Vou ao clube essa semana. O seu pai deu a maior força. Você sabe, como ele é.  

— Sei. Deve ser por isso que ela sempre pede para ir me ver treinar. Imagina que incrível, dois jogadores na família? – Falei, imaginando a pequena Alice dentro de uma quadra. Lembrei-me de mim mesmo, na idade dela, treinando saques e batendo bola. Foi ali que minha paixão pelo vôlei começou, quando eu ia com meu pai para o centro de treinamento do time que ele era médico. Eu via os atletas em quadra e me imaginava ali, no lugar deles. 

— Seria perfeito. Querido, eu preciso desligar. Já passo aí para pegar a Alice. Com certeza ela adorou o final de semana com os irmãos. Agora, vai querer passar todos os fins de semana aí. –  Esme disse e riu. 

— Ela pode passar! Mãe, eu fico praticamente sozinho aqui. Nem parece que a Edythe mora comigo. Ela vive na rua. Com a Alice aqui, pelo menos a casa tem um pouco de alegria. – Expliquei para minha mãe. 

— Ah, querido, eu sei, mas não quero tirar sua liberdade. Você e sua irmã se entendem bem porque são adultos. Mas cuidar de uma criança é complicado. Deixe esse trabalho para mim. Vocês só aproveitarão as partes boas. –  Ela completou. 

— Tudo bem, você que sabe. Mande um abraço para o papai. – Dei uma pausa para olhar meu celular vibrando. Olhei de relance as notificações das mensagens. Whatsapp, Instagram, Twitter, e várias mensagens de algumas garotas com quem saí recentemente. Ignorei todas. – Mãe, vou comer alguma coisa. Eu te amo. Nos falamos mais tarde? Nós podíamos sair para jantar, sei lá… Comemorar minha escalação. 

— Ótima ideia. Vou falar com seu pai. Ele vai adorar. Eu te amo, querido. Parabéns novamente. 

— Obrigado, mãe. 

— Por nada, meu amor. Até mais. Ela disse e desligou o telefone. Desci as escadas e fui até a cozinha, onde Edythe fazia sanduíches. Meu celular continuou a vibrar, e li algumas mensagens pela barra de notificações, sem necessariamente abrí-las. Edythe olhou-as por cima de meu ombro quando passou para ir até a geladeira. 

— Eita que eu vi esse diabinho roxo. Tá fazendo sucesso hein. – Minha irmã falou, e se aproximou para ler a mensagem completa. – "Vamos comemorar, meu capitão?" – Ela forjou uma voz fina, bem diferente da dela. Eu caí na gargalhada, e ela também. 

— Ah, ficou igualzinho. E você nem conhece ela. – Eu disse. 

— Claro que eu não conheço. Você nunca trás ninguém aqui. Você não vai se aquietar nunca, maninho? – Edy perguntou. 

— Não. Eu já disse que isso de relacionamento não é comigo. Essa coisa de se apaixonar… – Balancei a cabeça em negativo. 

— Seu cupido deve estar dormindo. – Minha irmã completou. 

— Ele morreu atropelado, não te contei? – Eu brinquei. 

— Você é um idiota, Edward. – Minha irmã riu, enquanto Alice entrava na cozinha. 

— Edy, por que o Ed é um idiota? – Alice perguntou. 

— Porque ele só fala besteira. Não vai na onda desse aí não, viu. – Minha gêmea falou para a mais nova. 

— Ali, diz pra ela que você me ama mais. – Eu disse. 

— Claro que não. Ela me ama mais. Eu sou a irmã mais velha. – Edythe falou. 

— Mas eu sou a inspiração dela. Vai, Ali, conta pra ela que você pediu à mamãe pra te colocar no vôlei. – Eu falei e a pequena confirmou com a cabeça, e foi se sentar no banquinho ao meu lado. 

— Isso é demais. Você quer ser jogadora? – Edythe perguntou à ela. 

— Quero! Igual ao Ed. Quero ir viajar igual ele faz. – Alice disse, animada. 

— Então você vai. – Edythe disse e apertou o pequeno nariz de Alice. Ela a entregou o prato com o sanduíche e olhou o celular. – Daqui a pouco a mamãe vem te buscar. – Anunciou a mais velha para minha irmãzinha, que apenas balançou a cabeça em sinal positivo e começou a comer o sanduíche. 

 

Cerca de quinze dias depois da minha convocação, estávamos eu e minha família indo ao aeroporto. Eu iria para a concentração, e já tínhamos feito o check-in e despachado minha mala. Alice, que, desde que saímos de casa, estava de mãos dadas comigo, disse: 

— Ed, quando eu vou poder treinar igual a você? Eu quero ir também! Deve ser muito legal. – Ela disse, dando pulinhos enquanto se agarrava à minha mão. Ajoelhei-me para ficar do tamanho dela. 

— É bem legal sim, mas você precisa ter muita disciplina. Leva tempo para você chegar ao seu foco. Mas nunca se esqueça: se é isso que você quer, você precisa trabalhar duro todos os dias. – Expliquei à minha irmã, enquanto meus pais e Edythe assistiam. 

— Tudo bem. Eu vou treinar porque quero ser campeã. Você promete que, quando voltar, vai trazer uma medalha? – Alice pediu, e não pude deixar de sorrir. Ela, ultimamente, era o motivo de todos os meus sorrisos. 

— Prometo, mas nós ainda vamos nos ver antes dos Jogos. Você vai lá no centro de treinamento me visitar, o que acha? Você vai poder conhecer meus colegas de time. Eles são tão legais quanto eu. – Falei para ela, e no mesmo momento, seus olhinhos brilharam. 

— Eu quero! Papai, mamãe, nós vamos, não vamos? – Minha irmãzinha perguntou. 

— Sim, meu anjinho. Nós vamos visitar o Edward quando estiver perto dos Jogos. – Meu pai disse, sorrindo. 

— Ok, então. Bem, então você vai me prometer que vai se dedicar ao vôlei até lá. Eu quero jogar com você quando estivermos juntos de novo no CT. Tudo bem? – Disse. 

— Tudo! – Alice respondeu. 

— Agora me dá um abraço bem forte que eu preciso embarcar. – Falei e abri os braços, e ela me deu um abraço de urso. Ela era pequena, mas seus braços eram fortes. 

Me despedi do resto de minha família e de minha gêmea. 

— Te ligo quando chegar lá. – Disse para a garota ruiva. 

— Ok. Juízo, Edward. Muito juízo. – Edythe falou no meu ouvido enquanto me abraçava. 

— Por que? – Eu ri da recomendação. Eu estava indo treinar, ora. 

— Não sei, me deu vontade de falar isso. Espero que você siga meu conselho. 

— Tá bom. Que estranho! – Ri novamente. 

— Já ouviu falar que gêmeos têm uma conexão? Então escute sua gêmea. E siga o conselho dela. – Edythe piscou. 

— Ok, senhora conselheira. Juízo, você também. – Eu disse e segui para o portão de embarque. 

 

Ao pisar fora do avião, eu já sentia a diferença do clima frio de Washington para o calor escaldante da Califórnia. Peguei um Uber para ir até o centro de treinamento e, de dentro do carro, eu observava as praias lotadas, banhadas pelos raios de sol. Los Angeles era mesmo linda! Ao chegar ao CT, deparei-me com o lobby do prédio cheio de fotos de nossa última conquista. Alguns de meus colegas paravam para observar as imagens também. Aqueles murais eram mais que lembranças da vitória, mas um catalisador e uma inspiração para as próximas. Teríamos que trabalhar duro ali se quiséssemos ser campeões novamente. Todas aquelas conquistas estampadas na parede me davam força. Meu espírito esportivo era maior do que eu mesmo, e o orgulho de poder vestir a camisa do meu país e representá-lo nos Jogos era inimaginável. Enquanto – num momento totalmente narcisista – eu observava a mim mesmo estampado em um pedaço da parede, mais jogadores chegaram. Virei-me na mesma hora, e deparei-me com algumas jogadoras da seleção feminina. Algumas passaram e me cumprimentaram, outras, desconhecidas por mim, apenas deram sorrisos amarelos. Mais a frente, elas pararam para observar as fotos da última conquista da seleção feminina. Voltei minha atenção para minha foto na parede, quando senti uma mão em minhas costas. 

— Edward, observando sua feiúra? Você não tem espelho em casa? – Emmett Hale, meu melhor amigo e antigo colega de time disse. 

— Você é um palhaço. E a propósito. Eu sou lindo. – Eu disse, o fazendo rir. 

— Se a Esme mentiu para você, a culpa não é minha. – Emm falou. – E aí, cara, quais são as novidades? Como vão sua mãe, Carlisle, Edythe e a pequena Alice? – Meu amigo perguntou. 

— Eles estão ótimos, mas a Alice não é mais tão pequena assim. – Eu sorri e lembrei-me do seu abraço forte no aeroporto. – E vocês? Eu vi que a Rosalie foi escalada. Ela é uma guerreira. E a Lily? Eu preciso rever minha afilhada! 

— Elas estão ótimas. A Rose está chegando. Não achamos lugares no mesmo voo. Tivemos que vir separados. – Ele explicou, enquanto andávamos em direção ao auditório, guiados por um funcionário do espaço. – E a Lily está ótima. Tem o quê? Uns seis meses que você não a vê? Ela está crescendo rápido. – Emmett falava de sua filha, todo orgulhoso. 

— Ela está enorme. Eu vi no Instagram. Está linda, parabéns. Mas preciso dizer que ela puxou a Rose. – Eu disse. 

— Isso eu não posso negar. – Emm riu. – Ela quer começar a falar. Já solta algumas sílabas, é muito engraçado. – Falou. – A mãe da Rose vai trazer ela quando estivermos indo para Tokyo, aí você vai poder revê-la. 

— Ah, que ótimo. E você, já está com saudades, né? 

— Sim. Eu nunca fiquei longe dela tanto tempo. Às vezes eu acho que ouço o choro dela, mas não é. Loucura. – Ele disse e balançou a cabeça. Aquilo era inimaginável para mim, mas era lindo vê-lo falando com tanto amor da família. 

— E você? Como vai o coração do meu amigo? – Emmett perguntou. – Ocupado ou livre, leve e solto? 

— Ele nunca está ocupado, Emmett. Eu nem sei porque você pergunta. – Eu ri. – Já falei que nessa terra ninguém pisa. 

— Sei, sei. Se você diz...  – Emmett deu de ombros. – Preparado para mais uma Olimpíada? – Ele mudou de assunto. 

— Eu sempre estou. Esse ano estou sentindo que vai ser diferente, Emm. Sei lá. Alguma coisa me diz. 

— Ih, virou sensitivo agora, Edward? – Emmett riu. – Não estou te reconhecendo. 

— Eu não sei explicar, Emm. Deve ser coisa da minha cabeça, mas estou preparado como nunca estive. Na verdade, acredito que estou no meu melhor momento mental e fisicamente. E você, como se sente? – Devolvi a pergunta. 

— Bem. Melhor do que em muito tempo. A paternidade me renovou. – Ele disse, e apenas concordei com a cabeça. 

Continuamos a conversar, até que mais jogadores chegaram e o auditório se encheu. Emmett foi procurar pela esposa, antes de nossa comissão técnica começar a reunião. 

Ficamos cerca de uma hora conversando sobre como seriam nossos treinos e nossa preparação. A comissão explicou também a presença das meninas ali. Elas iriam dividir conosco o centro de treinamento nesse ano, o que seria bom, pois o espaço era grande e comportaria muito bem as duas seleções. Além disso, ter a companhia de mais pessoas seria maravilhoso. Depois de um tempo, fomos levados à recepção, para que as chaves dos quartos fossem entregues a nós. Como o centro era grande, cada jogador pôde ficar com um quarto para si. Peguei minhas chaves e fui em direção aos quartos. Eu estava cansado da viagem, e não tinha dormido direito naquela noite. Eu só precisava cair na cama, mas foi impossível. Meu celular começou a tocar alto, com várias notificações do grupo do time ao mesmo tempo. Os garotos queriam descer e se reunir para a primeira resenha. Suspirei, me levantei da cama e coloquei meus tênis. 

A área de lazer do centro de treinamento era grande, totalmente aberta e arborizada. Tínhamos, à nossa disposição, um buffet já recheado. Meu estômago roncou um pouco quando eu vi toda aquela comida. Já fazia mais de três horas que eu tinha me alimentado pela última vez, e, com minha dieta regrada, não podia demorar demais a comer. Enquanto eu fazia meu prato, Emmett e James, o outro levantador, se juntaram a mim. 

— Como vai, Edward? – James perguntou. – Nós não nos vemos há muito tempo. A última vez acho que foi naquele show do Drake. 

— Sim! Nossa, faz muito tempo! – Me recordei daquele dia. Eu o encontrei com uma garota que ele saia na época. Eu namorava uma outra, e elas até ficaram amigas. Depois, descobri que após nosso término, elas começaram a namorar. 

— E você, sossegou ou ainda está na vida boêmia? – James questionou e Emmett riu alto. 

— Esse aí não sai dessa vida nunca. – Emm disse. 

— Eu estou mais quieto agora. Focando só no vôlei, mesmo. Isso de relacionamento, essas coisas, não são pra mim. – Falei. – E você, James, sossegou? 

— Sosseguei, cara. – Ele apontou para a aliança em seu dedo. – A hora chegou, não deu pra correr. – James riu. 

— É aquela ruiva de cabelo cacheado, com quem você postou uma foto  no Instagram? – Emmett perguntou, mas eu não sabia de quem se tratava. 

— Ela mesma. Victoria. Nós vamos nos casar depois dos Jogos. – James explicou. 

— Wow. – Exclamei. 

— O Edward se assusta, mas quando chegar a hora dele… Eu não quero nem ver. – Emmett falou e gargalhou. 

— Não se preocupe, meu amigo, pois essa hora não vai chegar. Eu garanto. – Pisquei. Realmente acreditava naquilo. Se em 32 anos meus relacionamentos não deram certo, não seria agora que começariam a dar. Nós três continuamos a falar enquanto almoçávamos, conversando sobre coisas triviais da vida e do esporte. Mais ou menos uma hora depois, ainda estávamos lá conversando, foi quando uma parte da seleção feminina chegou. Eu estava estrategicamente sentado de frente para as portas de vidro do corredor que dava acesso ao alojamento, e ali eu vi as meninas passarem. Por último, a garota que prendeu meu olhar no dia da convocação. Ela passou, com uma mala e uma mochila nas costas. Ela olhou para fora e nos viu sentados ali, conversando. Seu olhar cruzou com o meu e, no mesmo instante, senti um arrepio correr da cabeça aos meus pés. 

 

No dia seguinte, acordamos às 7 da manhã para nosso primeiro treino em quadra. Saindo do meu quarto, encontrei alguns colegas de time e fomos tomar um café rápido. Algumas poucas garotas já estavam no refeitório. Pelo que eu ouvi comentarem, elas teriam treino na quadra de areia para começar. Suspirei aliviado, grato por não ser o time masculino, pois aquele treino era o mais pesado de todos. Eu não estava acostumado a jogar na areia, o que deixava tudo mais cansativo. O solo fofo fazia com que nós gastássemos mais energia do que em quadra. Além disso, o sol escaldante da Califórnia não ajudava muito. 

Fui até o buffet e peguei tudo o que minha nutricionista recomendou para a refeição. Enquanto colocava uma porção de ovos mexidos em meu prato, senti alguém se aproximar de mim. Olhei para o lado na mesma hora e meus olhos encontraram os olhos chocolate da garota líbero. Ela desviou o olhar para o café da manhã, e, logo atrás dela, notei Rosalie. 

— Bom dia, Ed. – Minha amiga disse. – Dormiu bem? – Ela falou e passou na frente da garota morena para me dar um abraço. 

— Bem, e você? Eu estava morto. – Ri. 

— Perfeitamente bem, sem o Emmett jogando as pernas dele em cima de mim. Dormi como uma princesa. – Rosalie falou, como sempre, muito bem humorada. 

— Eu imagino. E sem os roncos, né? – Eu disse, recordando-me dos roncos altos de Emmett, que já dividiu muitos quartos comigo em diversas concentrações. 

— Sim! – Ela exclamou. Depois, olhou em volta do salão. – Falando em Emmett, você já o viu hoje? 

— Não… Será que ele ainda está dormindo? – Perguntei, enquanto pegava um copo de suco de laranja. 

— Ah, é possível. Se eu não estiver ao seu lado para acordá-lo, ele hiberna. – Ela falou, seguindo para uma mesa. Fui atrás dela. Enquanto Rosalie se sentava, ela pegou o celular e começou a discar o número do marido. 

— Rose, Rose. – Apontei para as portas do refeitório. – Não vai ser preciso.  Olha ele vindo ali, com a cara toda amassada. 

— Parece que ele caiu da cama. – Rose gargalhou, e eu a acompanhei. 

— Bom dia. – Emmett chegou até nossa mesa, esfregando os olhos como uma criança. Ele deu um beijo rápido na esposa e entrou na fila do buffet, que tinha crescido rapidamente. 

De longe, eu conseguia ver a menina de cabelos e olhos chocolate conversando animadamente com uma outra garota morena, que se chamava Leah. Rosalie acompanhou meu olhar. 

— Quem é essa, Rosalie? Eu nunca a vi. – Perguntei. 

— Ah, essa é a Bella. Nossa nova líbero. É a primeira Olimpíada dela, uma revelação. Ótima jogadora, super gente boa também. Adoro ela. – Rosalie explicou, partindo o pedaço de pão. – Ela jogava em um time pequeno, antes de ir pro Los Angeles Volley na temporada passada. Foi lá que o Phil a viu. 

— Entendi. Deve ser por isso que eu não a conhecia. Eu não acompanhei muito bem a liga feminina na última temporada, meus treinos eram mais pesados que o normal. – Dei de ombros. 

— Entendo. Se quiser, depois eu te apresento a ela. – Ela piscou o olho para mim. 

— Ah, Rose, não é isso. – Eu tentei disfarçar. – Só estava curioso pois não a conhecia. 

— Aham. Ed, pra cima de mim? – Rosalie indagou, levantando uma de suas sobrancelhas perfeitamente desenhadas. 

— Ok, ela é bonita. Mas é só curiosidade. Nada de mais. – Eu disse, tentando desconversar. 

— Edward, eu nunca vi você com essa curiosidade pra cima de alguém. – Ela disse. – Meu Deus, será que seu coração está amolecendo? – Rose começou a rir. 

— Rose, não viaja. – Eu dei um sorriso amarelo. Aquilo não seria possível de acontecer. Era mais uma ideia doida da esposa do meu amigo. 

— Ai, Edward. Só você. – Ela balançou a cabeça em negativa. 

— O que ele fez dessa vez? – Emmett chegou à mesa perguntando. 

— Nada. – Respondi rapidamente, querendo trocar de assunto o mais rápido o possível. – Preparada para torrar no sol, Rosalie? 

— Eu passei um quilo de protetor solar fator 90. – Ela riu. – Portanto, estou. E olha, vai se preparando, viu. – Ela apontou para mim. – Amanhã é a vez de vocês, meninos. – Rosalie falou e piscou o olho. 

 

No fim da tarde, fui o último a deixar o treino. Era sempre assim. Eu era um dos primeiros a chegar e o último a sair. Fiquei treinando levantamentos e saques um pouco para aperfeiçoar a técnica, e saí da quadra conversando com Marcus, o auxiliar técnico de Aro, quando chutei algo e vi uma chave no chão. Me abaixei para pegá-la quando Marcus disse, apalpando os bolsos da calça: 

— Acho que eu esqueci meu celular na quadra. Vou voltar. Nos falamos depois, Edward? 

— Claro. Até mais. – Falei, olhando para a chave perdida. Não havia ninguém ali por perto, mas, observando o número que estava gravado nela, era da ala feminina, pois havia um "F" logo depois do número 202. 

Coloquei a mão no bolso da bermuda involuntariamente, até lembrar que meu celular estava em meu quarto. Eu tinha em mente a intenção de perguntar a Rosalie quem era a dona da chave 202F quando uma garota surgiu pelas enormes portas de vidro que davam para o jardim. Me aproximei dela, enquanto ela olhava o chão atentamente, e só quando cheguei mais perto, notei que era a garota líbero dos olhos castanhos. 

— Ei! Você achou essa chave no chão? – Ela perguntou quando viu a chave em minha mão e parou bem na minha frente. Ela era bem mais baixa que eu, pelo menos uns vinte centímetros, mas nada que atrapalhasse sua performance em quadra. Geralmente, os líberos eram os mais baixos dos times. 

— Olá, tudo bem? Sim, achei bem aqui. Eu estava saindo das quadras quando a chutei sem querer. – Expliquei. 

— Ah, céus. Me desculpe. Meu nome é Isabella, Bella. – Ela riu. – Essa chave é minha. Eu estava saindo do treino nas quadras de areia quando as peguei, mas lá dentro já não achei dentro dos meus bolsos mais. 

— Muito prazer Bella. – Dei um sorriso de lado. Ela combinava com o nome. – Eu sou Edward. 

— Eu sei. Todo mundo sabe quem é você. – Ela riu. 

Eu apenas dei de ombros e entreguei a chaves para a garota. 

— Te poupei de dormir no lobby essa noite, hein, Bella. 

— Deus me livre. – Ela riu, baixinho. – Eu já estava surtando com medo de tê-la perdido. 

— Bem, para sua sorte, eu achei. Está sã e salva. E com uma cama para dormir. – Eu sorri para a menina, que abriu um belo sorriso. Ela era ainda mais bonita do que na televisão. 

— Obrigada, Edward. Fico te devendo uma. – Ela falou. – Eu vou indo. Foi um prazer. – Ela acenou e saiu, rápido.

Sim, Bella, foi um prazer. 

 

No começo da noite, estava na sala de jogos, jogando algum jogo aleatório no Playstation 5, mas eu perdia feio para James. 

— Edward, você é muito ruim! – Laurent, um colega de time, caçoou. 

— Gente, acho que jogo para mim são só os de vôlei. – Eu entrei na brincadeira. – Toma. – Entreguei o controle para Laurent, que logo sentou-se com James para continuar a missão do jogo. 

Chequei meu celular. Eu não falava com Edythe há um dia. Estava com saudades da minha irmã. Fui para meu quarto e decidi ligar para ela. No quarto toque, ela atendeu. 

— Agora você lembrou que tem uma irmã? – Edy falou. 

— Oi, Edythe. Tudo bom? Você tá ótima pelo visto, eu vou bem, obrigado por perguntar. – Falei, rindo da reação dela. 

— Ridículo. – Ela disse, e começou a rir. – Eu estou com saudades de você. Essa casa não é a mesma coisa sem você enchendo o meu saco. 

— Ah, que gracinha. Ela tem sentimentos. – Ri. 

— Eu tenho, diferente de você, que nem nos avisou que chegou bem, e que nós, sua família, só ficamos sabendo que você ainda estava vivo pelos stories do Instagram. – Ela exclamou. 

— Desculpe. Eu esqueci de avisar. É que aconteceram tantas coisas… Nós estamos dividindo o CT com a seleção feminina. – Contei. 

— E você deve estar adorando né? – Ela perguntou. 

— Edythe, é essa a imagem que você tem de mim? – Perguntei.

— Edward, eu te conheço desde que nós éramos um zigoto na barriga da mamãe, então não vem com essa. – Minha gêmea disse. 

— Nossa, credo. Pro seu governo, eu estou totalmente focado na minha preparação. – Eu disse. 

— Sei. Depois você me conta. – Ela disse, e eu podia apostar que ela estava revirando os olhos como ela sempre fazia. – Ed, falando em Instagram e redes sociais… Eu necessito que você seja mais ativo. Daqui a pouco, os patrocinadores vão começar a cobrar. E aliás, vai ser bom. 

— Edy, eu não tenho paciência pra isso. – Falei, lembrando das centenas de directs que eu não tinha respondido desde o dia da minha convocação. 

— Eu sei, mas você tem fãs, sabia? Ed, não custa nada você abrir uma caixinha de perguntas e responder algumas. Com um vídeo, de preferência. – Ela quase exigiu. – Aproveita que você não está fazendo nada agora. 

— Quem disse que eu não estou fazendo nada? 

— Eu estou dizendo. E pra você me ligar uma hora dessas né… Enfim. Preciso que você faça isso. Eu sei que tem milhares de mensagens no seu Instagram. Vou responder as questões de trabalho e os emails. Agora, se vire com as mulheres loucas atrás de você. 

— Sim senhora. Mais alguma coisa, sargento Edythe? – Caçoei. 

— Sim. – Ela respondeu. Meu Deus, ela vai arrancar meu couro. – Amanhã a patrocinadora de tênis vai mandar os novos pares para você. Preciso de stories de todos. Preciso de fotos também, vou postar no feed. 

— Você sabe que eu tenho que treinar, né? Eu não sou blogueiro. Eu sou um atleta. – Falei. 

— Cala a boca, garoto. – Ela riu. – Ed, você é uma pessoa pública, lide com seus um milhão de seguidores. 

— Eu sei. – Suspirei. Às vezes a fama era pesada de aguentar. 

— Ah, antes que eu me esqueça! – Ela exclamou. 

— Meu Deus do céu, Edythe! 

— A Time quer fazer um especial para o caderno de esportes, eles querem uma entrevista com você. Eu preciso de um aval seu. Você topa? – Ela perguntou. 

— Topo. Pode acertar tudo com eles. 

— Ok. Vou responder o email deles agora. – Ela começou a digitar freneticamente e alto, pelo que eu podia escutar. 

— Agora me fala que acabou e que eu posso ir jantar? – Pedi a ela. 

— Acabou, maninho. Era só isso. – Ela falou. 

— Só. – Eu ri. – Imagine quando não for “só”. 

— Ah, Ed. Só você. Pode ir jantar. Ah, eu não esqueci da caixinha de perguntas. Eu vou abrir ela para você, e daí o seu trabalho vai ser só responder as perguntas, tá bom? 

— Tá bom, Edy. Vou respondê-las depois do jantar, ok? 

— Tudo bem. – Ela disse. – Ei, Ed. 

— Oi? 

— Eu te amo. Estou com saudades. Alice também. Ela pediu para mandar um beijo. – Minha irmã disse e eu sorri. 

— Eu amo vocês. Estou com saudades também. Vou jantar. Nos falamos depois? – Perguntei. 

— Claro, quando quiser. Bom jantar. 

— Obrigado. Até mais. 

— Até, Ed. 

 

Depois de jantar, estava conversando com James na beira da piscina, iluminada apenas por algumas luzes do jardim e a iluminação de led interna. Do outro lado, algumas meninas do time saíam da água. Haviam três conversando do lado de fora da piscina, e as outras duas se juntaram à elas.  

— Temos um amistoso difícil vindo aí. O time do Brasil não é brinquedo. – Ele balançou a cabeça. 

— Eles são bons. Aliás, foram perfeitos, já que conseguiram o ouro em 2016. Mas nosso time está bom. Acho que estamos no mesmo nível. – Falei. 

— Bom saber que você está confiante. – James falou, passando a mão pelos cabelos loiros. 

— Eu tenho que estar. É meu papel motivar vocês, ora! – Eu ri. Sempre levei muito a sério o papel de capitão do time. Eu estava ali por eles. 

— E faz isso muito bem. – James disse. O celular dele começou a vibrar, e instantaneamente olhei para o aparelho, repousado em cima de uma das cadeiras da piscina. – Victoria. – Ele sorriu. Pude ver, mesmo na sombra, que seus olhos brilhavam quando ele falava o nome dela. Isso era estar apaixonado, então? – Eu vou indo. Nos falamos amanhã, Ed? 

— Claro. Boa noite. 

— Boa noite, irmão. – Ele disse e deu um tapinha nas minhas costas. 

Agora era meu celular que não parava de vibrar. Olhei a barra de notificações, e vi o resultado do trabalho de Edythe. Várias perguntas para responder no Instagram. Suspirei e abri o aplicativo. Entre brincadeiras dos meus colegas de time e perguntas de algumas garotas que eu saíra no passado, do tipo “não vai me responder mais?”, algumas eram bem interessantes. Respondi várias. Algumas perguntavam as melhores partidas que eu já jogara, o meu time favorito de futebol, minha maior conquista, fotos com minhas irmãs e meus pais, comida favorita… Mas, sempre no meio tinha a fatídica pergunta: "Namora?" Por que as pessoas tinham tanta curiosidade sobre a vida amorosa alheia? Ignorei, como sempre. E continuaria a ignorá-la. 

Continuei a responder algumas perguntas interessantes, e até me diverti com algumas. Quando dei por mim, todas as meninas já tinham ido embora. Todas, menos uma. Levantei-me para ir para o alojamento, e, quando me aproximando melhor, reconheci a menina dos cabelos castanhos. Bella. 

— Que droga! – Ela olhava para todos os lados, com o celular em uma mão e um livro em outra. – Não é possível que eu tenha perdido essa merda de chave de novo! A segunda vez no dia, Isabella! 

— Precisando de ajuda? – Perguntei à mulher, que levantou-se da cadeira, ficando de frente para mim. 

—Ah, oi Edward. – Ela deu um sorriso. –  Acredita que eu perdi minhas chaves de novo? – Ela olhou os bolsos. Passei o olho pelo chão e vi um pequeno brilho atrás da perna da cadeira. Agachei-me e peguei a chave. 

— Olha, Bella… Ela estava bem na sua cara. – Eu disse, ainda com a chave na mão. Balancei o chaveiro em frente ao seu rosto. Ela corou. 

— Eu tenho um sério problema. – Ela riu. 

— Segunda vez que eu salvo você de dormir no corredor. – Falei, sorrindo. Não consegui me conter, e percorri todo seu corpo com o olhar. Ela claramente percebeu, mas apenas estendeu a mão para pegar a chave. Agarrei o pedaço de metal mais forte, enquanto ela pegava-o de minha mão. 

— Eu duvido que você me deixaria dormir no corredor. – Ela deu um sorriso malandro, mordiscando o lábio inferior. Sua mão ainda estava junto à minha. Soltei a chave. 

— Não ia. Lógico que não. – Eu ri. –  Eu te levaria para o meu próprio quarto. – Completei. 

— Então da próxima vez, eu vou perdê-la de verdade. – Ela piscou para mim, pegou seu livro da cadeira e foi em direção ao seu alojamento. 

Nunca torci tanto para que uma chave fosse perdida. 

 

Na manhã seguinte, eu ainda pensava na conversa que tive com Isabella na beira da piscina na noite anterior. Eu não sabia o que me atraia tanto naquela mulher, afinal as únicas informações que eu tinha sobre ela eram seu nome, a posição em que ela jogava e o número do seu quarto. Não que eu pensasse em ir até lá. 

Meu celular vibrava em cima da mesa de cabeceira com as notificações. Várias mensagens seguidas. Olhei para o aparelho, vendo as mensagens de minha irmã. Apenas coisas sobre trabalho. Perguntei rapidamente como estavam nossos pais e Alice, quando uma notificação surgiu: “@isabellaswan começou a te seguir.”

 Meu coração bateu um pouco descompassado. Abri a notificação tão rápido que fiquei surpreso. O instagram dela era bem parecido com o meu. Ela escancarava sua paixão pelo vôlei. Um ponto em comum. Abri uma foto dela na praia, recém postada, em que a localização estava em Los Angeles. Fiquei um tempo olhando, ainda meio boquiaberto. Ela era linda. Eu já sabia disso, mas aquela foto só serviu para reafirmar. Curti a foto, sem pensar muito. Só não planejei as outras cinco curtidas nas outras fotos. 

Mais uma mensagem surgiu na minha tela, mas dessa vez, era Emmett, questionando-me se eu não iria tomar café da manhã. Saí praticamente correndo do quarto e larguei o celular em cima da cama. Não iria precisar dele mesmo. Quando cheguei ao refeitório, ele estava lotado. Peguei meu prato e vi Emmett acenando para mim. Ele e Rosalie estavam sentados à mesa. Servi-me de algumas frutas, e, quando fui pegar a jarra de suco de laranja, uma pequena e delicada mão passou na minha frente, em direção ao suco. Olhei para a sua dona, e nem me espantei quando vi Isabella, que apenas piscou para mim, encheu seu copo e saiu do meu caminho. Meu corpo inteiro queimou, apenas com uma piscada. O que diabos estava acontecendo comigo? 

Servi-me do suco e fui até a mesa dos meus amigos. 

— Bom dia. – Eu disse, e Rosalie respondeu com outro bom dia. 

— Bom dia. Dormiu mais que a cama hoje, Ed? – Emmett perguntou, rindo.

— Eu estava ocupado. – Eu disse, e Emm me olhou de forma estranha. – Estava falando com a Edy. – Expliquei. 

— Ah. Entendi. – Ele apenas disse, e Rose se levantou. 

— Preciso ir treinar. Boa sorte na areia hoje. – Ela deu um beijo no marido e passou a mão por meus ombros. 

— Ocupado falando com a Edythe? Conta outra. – Meu amigo falou. 

— Eu estava no Instagram. – Falei.

— Que milagre. Você nem entrava direito. 

— Pois é. Emmett… – Comecei a querer perguntar algo que se passou pela minha cabeça do nada. 

— O que? 

— Depois que a nossa comissão mudou e tal… Você acha que é proibido irmos para o quarto de outra pessoa? 

— Depende. Acho que você pode ir sim. Não vejo problema. 

— Eu não estou falando só de ir de passagem, Emm. – Falei. 

— Ah. – Ele abriu a boca, e logo depois deu um sorriso malicioso. – Entendi. Olha… Considerando que eu e a Rosalie somos casados e estamos dormindo em quartos diferentes… Acho que deve ser proibido. Na verdade, se não me engano, sempre deve ter sido, mas é a primeira vez que nós estamos dividindo o CT com as meninas, então é uma situação nova. 

— Aham. – Concordei. 

— Você não está ficando com ninguém do time feminino, né Edward? – Ele disse. 

— Não. Foi só uma coisa que me passou pela cabeça. – Eu ri. – Você sabe que eu sempre entro no modo foco quando estamos concentrados. 

— Sei. Mas eu tenho a impressão que eu vi o "modo foco" correndo ali fora, olha. – Ele apontou para o jardim, dando risada. 

— Você é ridículo, Emmett. – Eu ri da brincadeira besta do meu amigo. 

— Quem é? – Ele perguntou. 

— Quem é o que? – Perguntei de volta.

— Não me enrola. A garota que você está de olho. 

— Ah. – Eu olhei ao redor, procurando Bella. Ela olhava para mim do outro lado do salão. Vi Emmett acompanhando meu olhar. Ela desviou o olhar para a garota que conversava com ela do outro lado da mesa. 

— Já sei. A novata. – Emm disse. 

— É. Ela mesma. – Disse, debruçando-me um pouco sobre a mesa. 

— Ela parece ser legal. A Rose gosta bastante dela. – Emmett disse, e não consegui evitar olhar pra ela novamente. – E parece que tem alguém bem interessada também, já que ela não para de olhar para você. – Meu amigo disse, e eu olhei para ele espantado. 

— Você acha? 

— Claro. Foi assim com a Rose. – Ele deu um sorriso de orelha a orelha e esvaziou o copo de suco. – Mas isso aí não dá medalha de ouro no peito. – Disse enquanto se levantava. – Treino. – Ele bateu no pulso, como se mostrasse um relógio. 

— Vamos. – Levantei-me e suspirei, pronto para encarar a quadra com a areia quente e o sol ardente. 

 

Dois dias depois, eu e Isabella ainda trocávamos olhares, mas não tínhamos tido mais nenhuma oportunidade de conversar. Nossos treinos estavam puxados. Quando eu estava livre, ela treinava, e vice-versa. Só nos víamos no café da manhã e às vezes no jantar, mas nunca mais falamos nada. Eu via todos os seus stories e, sempre que dava, comentava em alguma foto. Ela já deve ter percebido meu interesse, que eu sabia que era recíproco, caso contrário, ela não teria brincado sobre a chave na piscina. Nós só precisaríamos de uma oportunidade. E ela parecia bater à minha porta. 

No fim da tarde daquele sábado, a Califórnia tinha belos tons de rosa e laranja iluminando o céu. Eu não tinha nada para fazer, e nossos treinos tinham sido todos pela manhã e início da tarde. Fiquei lendo um pouco em meu quarto e falei com minha mãe pelo telefone, mas decidi andar um pouco pelo enorme jardim. 

Nas quadras de areia, à distância, vi duas garotas jogando uma partida. Comecei a me aproximar, quando uma delas caiu na areia fofa, mas soltou um grito de dor. Corri até lá, e notei que a garota que tinha caído era Isabella. Meu coração acelerou. Rosalie, com quem ela estava jogando, estava ao seu lado, avaliando seu pé. 

— Rose, está doendo muito. Eu não consigo andar. – Ela disse, e se deitou na areia fofa, levantando grãos consigo. 

— Eu vou chamar o Caius. Fique aí! – A loira gritou. – Edward, não deixe ela sair! – Ela gritou para mim, e saiu correndo em busca do médico do time. 

— Como se eu fosse sair correndo! – Bella gritou, deitada no chão. Quase ri da cena. Me sentei ao seu lado. 

— Como você conseguiu cair e se machucar na areia? – Eu disse, olhando o pé dela. 

— Eu sou desastrada. Pisei em falso e virei meu pé. – Ela disse, impaciente. Não a culpava, pois ela provavelmente sofria com a dor. Olhei de perto seu pé, e vi que ele estava começando a inchar. 

— Bella. – Chamei-a. Ela olhou direto para mim com seus lindos olhos castanhos-chocolate. – Eu acho melhor tirar seus tênis. – Apontei para seu pé. – Ele está ficando inchado. 

— Só tome cuidado, por favor. Está doendo demais. – Ela pediu, baixinho, quase choramingando. 

— Tudo bem. – Eu saí da minha posição e me agachei aos seus pés. Tirei primeiro o tênis do pé bom. Ela respirou fundo quando toquei no seu pé descalço. Ela tinha pés bonitos. Desamarrei o outro sapato e afrouxei-o até que saísse do pé machucado com facilidade. – Pronto. Bem melhor, não? 

— Sim. Obrigada, Edward. – Ela sentou-se, ficando de frente para mim. Já estava quase escurecendo. 

— Bella, posso te chamar assim? – Perguntei. 

— Claro. Prefiro Bella à Isabella. – Ela sorriu, mas logo fechou a cara com uma pontada de dor. 

— Está escurecendo. O Caius vai ter dificuldade de examinar você aqui. Quer ir para a enfermaria? – Perguntei. 

— Eu até iria, mas eu não consigo colocar o pé no chão. E ainda não sei voar, querido. – Ela riu. 

— Não seja por isso. – Eu me levantei. – Você confia em mim? 

— Não sei porquê vou dizer isso, mas eu confio. – Ela fitou-me, e eu a peguei no colo, saindo da quadra com Bella, que era mais leve do que eu pensava. Ela estava agarrada a mim e sentir suas mãos no meu pescoço me fez ter alguns pensamentos impróprios. Eu fitava seus olhos, mesmo sem perceber. 

— O que foi? – Ela perguntou e sorriu. 

— Nada. – Balancei a cabeça. – Eu só estava pensando em como você é bonita. – Ela abriu o sorriso ao ouvir minhas palavras. 

— Assim eu fico sem graça. – Ela abaixou a cabeça, mas logo tornou a levantá-la. 

— Não foi a intenção. – Falei, e chegamos ao ambulatório, que estava vazio. Com toda certeza, Caius e Rosalie nos desencontraram. O que aconteceu foi muito rápido. Enquanto a colocava na maca, eu a olhava. Quando dei por mim, minha boca já estava colada na dela. Eu só sentia ela me puxando para mais perto. Minha mão corria por suas costas, a colando ainda mais em meu corpo. Ela, mesmo com o pé machucado, entrelaçou-o por trás de mim. 

O beijo era devagar, mas com urgência. Só quando eu estava beijando-a que percebi o quanto esperava por aquilo. Mas, infelizmente, não durou muito, e nos separamos ao ouvir a voz de Caius e Rosalie entrando na ante sala. 

— Olha a fugitiva ai! – Caius brincou. 

— Ah. O Edward me ajudou. – Ela olhou para mim com uma expressão travessa. 

— Vamos ver o que a senhorita aprontou? – O médico disse,  começando a examinar o pé de Bella. Rosalie trocava olhares comigo e ria. Ela parecia saber o que estava acontecendo ali. 

Depois de alguns exames, Bella se juntou a nós na ante sala. Caius chegou com o resultado da radiografia. 

— Isabella, foi apenas uma entorse.  Você precisa colocar gelo durante essa noite, e amanhã, nada de treino nem de academia. Quero ver você amanhã de novo para ver se o inchaço melhorou. – Caius disse. 

— Mas Dr… Isso não vai atrapalhar meu desempenho nos jogos, vai? – Ela perguntou, preocupada. 

— Não, de forma alguma. Nós temos algum tempo ainda. Você vai estar perfeitamente bem até lá. Na verdade, você ter caído na areia foi uma sorte, pois amenizou o impacto, em comparação com a quadra normal. – Ele explicou. 

— Não sei se isso pode ser chamado de sorte, Dr. – Ela sorriu e tentou se levantar. – Mas obrigada. Amanhã voltarei aqui. 

— Estou à disposição. – Ele assentiu e voltou para sua sala. 

Bella suspirou alto. 

— Quer ajuda, Bella? Eu não aguento te carregar, mas… – Rosalie ia falando, quando eu intervi. 

— Eu a levo, Rose. Obrigado pela ajuda. – A loira olhou para a amiga, como se buscasse a confirmação. Bella balançou a cabeça em positivo e sorriu. 

— Ok, então. Eu vou indo… – Rose disse. – Juízo, vocês dois. – Ela piscou e saiu do ambulatório. Peguei Bella novamente no colo. 

— Eu não posso começar a me acostumar com isso. – Ela riu. 

— Não vou reclamar se você quiser. – Respondi a ela, já entrando na ala feminina. 

— Meu quarto é o 202. – Ela disse. 

— Eu sei. – Sorri. – Não ia esquecer essa informação tão valiosa. Suas chaves? 

— Ah, aqui no bolso. – Ela tirou a chave e enfiou-a na porta, abrindo-a. Entrei em seu quarto meticulosamente organizado e fechei a porta. Nada estava fora do lugar. Coloquei-a em cima da enorme cama. 

— Vou pegar gelo. – Disse, e abri a pequena geladeira que estava abaixo da tv. Tirei de lá algumas formas com gelo e coloquei as pedras em uma toalha. 

— Obrigada. – Ela pegou a toalha da minha mão e colocou no pé machucado. Nossas mãos se tocaram rapidamente, mas senti um arrepio. 

— Você precisa de mais alguma coisa? – Eu disse, aproximando-me dela. 

— Talvez eu precise de ajuda para tomar banho. – Ela deu uma risada estrondosa. – Brincadeira. Eu estou bem. 

— Poxa. Eu estava pronto para te ajudar nessa tarefa. – Eu disse, com um sorriso de canto no rosto. 

— Quando quiser. Você já sabe o caminho. – Ela piscou para mim, e envolveu meu pescoço com os braços, me puxando para ela e encostando sua boca na minha. Ela me puxava cada vez mais para perto, e acabei caindo em cima dela na cama. Eu não queria soltá-la, mas precisava. 

— Preciso ir. – Eu disse, totalmente contra a minha vontade, e contra a vontade dela também. – Eu volto. – Pisquei o olho para ela, que apenas sorriu. 

— Tudo bem. Boa noite, Edward. – Ela disse. Peguei seu celular e digitei meu número. 

— Para caso você precise de alguma ajuda, se é que você me entende. – Eu disse, sorrindo. 

— Eu vou precisar, pode ter certeza. – Bella disse, com um sorriso travesso nos lábios. 

— Eu sei. – Falei, e fui até a porta. – Boa noite, Bella. 

— Boa noite. – Ela disse, e quando eu abria a porta, ela me chamou. – Edward! – Olhei para ela. – Obrigada. 

— Por nada. – Sorri e fechei a porta atrás de mim. 

 

Assim que cheguei em meu quarto, uma mensagem brilhou na tela do meu celular. 

Bella: Obrigada pela ajuda. 

Edward: Não foi nada. Faria tudo novamente se fosse preciso. 

Bella: Tudo? 

Edward: Claro. A única coisa que eu faria diferente é que eu não sairia do seu quarto nas próximas horas. 

Bella: Bom saber. Da próxima vez, eu jogo a chave pela janela. 

Edward: Boa ideia ;) 

Depois daquela breve troca de mensagens, ela ficou offline e não respondeu mais até o dia seguinte. Fiquei um pouco preocupado, e por isso, antes do café da manhã, fiz uma rápida visita. 

— Bom dia. – Eu disse, encostando-me no batente da porta. Ela tinha acabado de acordar, pelo visto. Vestia uma camisola de seda preta, com algumas partes rendadas. Confesso que eu estava louco para tirar aquela peça, mas mantive minhas mãos longe do corpo dela, que estava equilibrado no pé bom. 

— Bom dia. – Ela sorriu. – A que devo a visita matinal? 

— Só queria saber se você estava bem. Seu pé e tal. – Falei, mas na verdade eu queria mesmo era vê-la. 

— Ah, estou ótima. A dor diminuiu, tomei um analgésico. E o inchaço também aparenta ter diminuído. – Bella disse. 

— Que bom. Quer tomar café? – Perguntei, a fim de prolongar ainda mais meus momentos com ela. 

— Claro. – Ela disse, animada. – Me espere no refeitório? Vou tomar um banho e trocar de roupa. 

— Se você quiser, eu posso te esperar. – Falei, e dei um sorriso travesso. 

— Não precisa. – Ela sorriu para mim. – Por mais que não seja má ideia, as pessoas achariam estranho ver você aqui. Pode ir, eu consigo chegar lá. 

— Tudo bem então. Qualquer coisa, estou com o celular. – Pisquei para ela e saí em direção ao refeitório, dando a sorte de não cruzar com ninguém. 

 

No refeitório lotado, sentei-me na mesa com Emmett e Rosalie, enquanto esperava Bella. A esposa do meu colega quebrou o silêncio. 

— E você Edward, ajudando a Bella ontem… – Ela disse, levantando as sobrancelhas. 

— O que aconteceu? Você não me conta mais nada, Rose! Nem você, seu palhaço! Rolou? – Emmett perguntou, curioso como sempre. 

— Como assim rolou? Vocês dois… Eu desconfiava, mas não sabia de nada. Edward… – Rosalie disse. 

— Não é nada disso. Quer dizer, é, mas não dessa forma. – Falei, meio atrapalhado. – Eu nem esperava encontrar vocês, só estava andando quando tudo aconteceu. Eu só ajudei porque eu gosto dela. 

— Gosta, é? – Rose perguntou. – Só isso?

— Não desse jeito. Você sabe que eu sou complicado, Rose. Eu acho ela agradável. – Expliquei. 

— Agradável… Sei. Eu também achava a Rosalie agradável quando eu a conheci. E olha agora… Casados com uma filha. – Emmett disse. 

— Emmett? Calma aí, o que rola entre a gente não é nada de mais. Eu inclusive preciso falar com ela sobre isso. Não quero que ela ache que eu estou apaixonado, nem nada. É só atração. – Falei. 

— Sei. – Rosalie apenas disse. – Acho bom colocar as cartas na mesa mesmo. – Ela disse, enquanto esfarelava o pãozinho. Ela olhou para as portas do salão, e acompanhei seu olhar. Avistei Bella, indo em direção ao buffet com certa dificuldade. – Acho melhor eu ajudá-la. – Rosalie se levantou e foi ao encontro da amiga. As duas partiram para a escolha da comida, enquanto Emmett olhava para minha cara, rindo. 

— O que foi? – Perguntei. 

— Nada. Eu só me pergunto se essa vez vai ser diferente. – Ele disse. 

— Não, Emm. Não vai. Estou calejado já. Não se preocupe. O tio favorito da Lily vai continuar solteiro. – Eu sorri e tomei meu suco. 

— Vamos ver até quando. – Meu amigo disse, e logo em seguida Bella e Rose chegaram e se juntaram à nós. 

 

Três dias depois, eu continuava a ver Bella apenas no café da manhã e almoço. Meus treinos começaram a ficar mais intensos, e ela fazia um tratamento ativo para voltar a treinar, que aparentemente estava dando certo, pois, naquela manhã, ela já não mancava mais nem reclamava de dor. Quem estava mal era eu. Não tinha dormido nada durante a noite e já sabia que uma enxaqueca forte iria me atacar no dia. Tentei treinar o máximo que pude pela manhã, mas, perto da hora do almoço, quando eu pousava no chão depois de um salto, minha cabeça parecia pesar uma tonelada. No meio do treino, fui até Aro. 

— Aro. Eu estou mal. Realmente não estou aguentando me manter em pé. – Eu disse, sentando-me ao seu lado e pegando uma garrafinha de isotônico. 

— Eu estou percebendo. Você não rendeu nada hoje, Edward. O que aconteceu? – Aro disse. – Está tudo bem? 

— Está sim. Mas eu não dormi bem. E minha cabeça… Está explodindo. – Eu disse, com a cabeça entre as mãos. A luz da quadra me incomodava e me tirava de órbita. 

— Enxaqueca? Se for, é melhor você procurar o Caius. Ele vai saber o que fazer. – Ele disse, dando um tapinha nas minhas costas. – Vá lá. Procure por ele, vá dormir. Preciso de você bem. 

— Obrigado. – Eu disse e me levantei. No momento em que eu ia saindo da quadra, vi Bella e o time feminino chegando para treinar na quadra ao lado. Ao ver minha expressão, ela sibilou um “Está tudo bem?”, provavelmente estranhando o fato de eu estar indo em direção à enfermaria, e eu só balancei a cabeça em negativa, mas fiz um gesto que não era para ela se preocupar. Com isso, ela entrou na quadra acompanhando seu time. 

Depois de ver Caius, ele sugeriu que eu tomasse um analgésico e ficasse longe da luz. Fui direto para meu quarto, e caí na cama. Só acordei quando ouvi batidas insistentes do lado de fora da porta. 

— Bella? – Eu falei, abrindo a porta, completamente sonolento. Na verdade, meus olhos estavam tão embaçados que eu não via apenas uma Bella, mas duas. Pelo menos minha dor de cabeça tinha passado. 

— Oi. Eu vim saber se você está bem. – Ela perguntou, olhando para os lados. 

— Entra. – Eu abri caminho para ela. – Não quero te meter em confusão sendo vista aqui na ala masculina. 

— Então. Você não respondeu minha pergunta. Você está bem? O que aconteceu? – Ela disse, se sentando na beirada da minha cama. Eu ainda estava meio tonto e demorei uns cinco segundos para raciocinar sobre o que ela estava perguntando. 

— Ah. Eu estava morrendo de dor de cabeça. Não estava aguentando treinar. Passei na enfermaria, o Caius me deu um remédio e eu apaguei. – Falei, sentando-me ao lado dela. Eu passava a mão em meus olhos, ainda meio embaçados. – Ah, Bella. Você se importa de esperar uns minutos? Preciso tomar um banho. Eu acabei de acordar, e nem tirei o uniforme. – Falei, olhando-me no espelho em frente a cama. Eu estava num estado deplorável, todo amassado. 

— Claro. Eu espero. – Ela disse, deu um sorriso travesso e deitou na minha cama. Se estivéssemos em uma situação diferente, eu com certeza não a deixaria naquele estado. Entrei no banheiro e abri o chuveiro. A água quente ajudava a relaxar meu corpo e, contrariando a muitos, espantava meu sono. Eu tirava o shampoo do cabelo, de olhos fechados, quando senti alguém atrás de mim. Bella. 

— Você estava demorando. Achei que pudesse precisar de ajuda. E ah, eu vim direto do treino. 

Quando dei por mim, ela já estava totalmente nua, agarrada a mim, debaixo do chuveiro. 

Nosso beijo já começou urgente. Eu sentia a necessidade de ter Bella perto de mim, quanto mais perto melhor. Suas mãos passeavam por minhas costas e meu cabelo enquanto eu beijava seu pescoço. Ela soltava suspiros baixinhos, que me deixavam mais louco para tê-la. Minhas mãos percorriam toda a extensão de seu corpo perfeitamente delineado. 

Prensei-a na parede, enquanto prendia suas pernas em torno do meu quadril. Eu apertava meu corpo contra o dela. Queria estar perto, mas aquilo não parecia o suficiente. Sem parar de beijá-la nem soltá-la, bati a mão no registro e fechei a água. Ela beijava meu pescoço e mordia minha orelha, me proporcionando arrepios da cabeça aos pés. Levei-a até minha cama, joguei-a lá e parei um segundo para admirá-la. Ela era perfeita. 

Voltei a beijá-la como se minha vida dependesse daquilo. Minha mão passeava por sua intimidade, fazendo-a arfar. 

— Você é linda. – Eu falei, e a levantei, colocando-a de costas para mim. Eu queria que ela visse o quanto ela era perfeita. De frente para o espelho, eu e ela nos olhávamos, enquanto eu continuava a masturbá-la. Ela murmurava meu nome baixinho e aquilo me deixava completamente maluco. Deslizei um dedo para dentro dela, o que a fez soltar um grito fino. Com a outra mão, eu massageava seu seio. Coloquei mais um dedo, e ela gemeu. 

Virei-a para mim novamente, e a deitei no colchão. Eu estava extasiado com sua voz chamando por mim. Aquilo era música para os meus ouvidos. Equilibrei-me e finalmente entrei em Bella, que gemia cada vez mais alto, sem se preocupar em sermos ouvidos ou não. Eu não sabia, mas tinha esperado demais por aquilo, por aquela sensação de finalmente poder tê-la para mim. A cada vez que eu entrava mais fundo, mais alto ela  gritava. 

— Edward! Ai meu Deus. – Ela arfou, no momento em que, numa força extraordinária, ela jogou-me na cama e sentou por cima de mim. Agora ela me enlouqueceria mesmo. Ela passava as unhas pelas minhas costas e beijava meu pescoço, e eu só pensava em como não parar aquilo nunca. Eu não queria que aquilo acabasse mais. Eu precisava de Bella cem por cento do tempo comigo, daquele jeito, completamente conectados. 

Chegamos ao ápice juntos, e, sem dúvidas, aquele foi o melhor da minha vida. Nunca senti nada parecido. Era como se tudo fizesse sentido. 

Bella suspirava ao meu lado, com um sorriso nos lábios. 

— Nós precisamos fazer isso de novo. 

— Quando quiser. Você já sabe o caminho. – Eu disse, arfando. 

— Sei. Muito bem, inclusive. – Ela riu e pegou o celular que estava jogado na cabeceira da cama. – Meu Deus, quase nove da noite. Eu preciso ir. – Ela disse, me deu um beijo rápido e levantou para se vestir. Acompanhei-a até a porta, mas antes colei minha boca na dela mais uma vez naquela noite, como um ritual de despedida. Abri a porta e verifiquei se não havia ninguém no corredor e ela saiu do quarto em direção à ala feminina. 

 

Na manhã seguinte, eu, Rosalie e Emmett tomamos café da manhã juntos. Eu esperava ver Bella, mas só a notei quando ela estava sentada do outro lado do salão, junto com Leah. Elas conversavam animadamente, mas ela sequer olhara em minha direção. 

— Ih… A animação que ele tava se esvaiu toda tadinho. – Rose disse. 

— A gata te deu um toco, Edward? – Emmett perguntou. 

— Não. – Respondi e levei a xícara de café à boca. Continuei a olhar Bella de longe, quando ela finalmente olhou em minha direção. Ela deu um sorriso leve e acenou. Suspirei aliviado. 

— Parece que tá tudo bem. – Rosalie riu. – Já que você não conta, eu vou ter que descobrir por ela o que está rolando entre vocês. 

— Nem inventa, Rose. – Eu disse, amassando o pãozinho. Minha amiga apenas riu. Bella se levantou com o copo na mão, e fui atrás dela. 

— Oi. 

— Oi, Edward. Dormiu bem? – Ela perguntou com aquele sorriso cínico nos lábios. Ela sabia que a noite tinha sido ótima. Mas eu tinha coisas muito mais importantes para conversar com ela. 

— Claro. – Eu ri. – Mas nós precisamos conversar. 

— Claro. Vem aqui. – Ela falou e fomos para uma área um pouco mais reservada do refeitório, onde as várias cadeiras estavam vazias. Ali, ninguém nos ouviria e, mesmo que tenhamos sido vistos juntos, não causaríamos suspeitas. – Pode dizer. – Ela disse e tomou um pouco do suco de laranja. 

— Então… Sobre ontem. – Eu tentei começar. 

— Você se arrepende? 

— Não, de forma alguma. Fiz e faria tudo de novo. – Eu sorri. – Mas nós temos que ter cuidado. Não podemos dar bola. As pessoas podem desconfiar. A Rosalie e o Emmett principalmente. 

— Relaxa. A Rose não arranca nada de mim. No sigilo é mais gostoso. – Ela piscou e sorriu. 

— Ótimo. – Eu disse. Agora seria a parte mais difícil. – Bella… Outra coisa. 

— Pode falar, Edward. – Ela disse, parecendo muito tranquila. 

— Você sabe da minha fama, sim? Sabe que eu não namoro, nem nada disso. Eu não me apaixono. Eu nunca me senti na obrigação de dizer isso, mas sei lá… Quero ser franco. Não quero que você espere algo que eu não possa te dar. 

— Mas quem falou em se apaixonar? Edward, a gente só transou. Calma aí. – Ela riu. – Mas se você tem medo que eu me apaixone por você, eu vou te contar um segredo: nós dois somos bem parecidos. – Ela piscou o olho e saiu, mas não consegui suspirar aliviado. 

Naquele dia, meu time e o de Bella dividiram a quadra principal do CT, e não consegui não desviar minha atenção do meu treino para ela. Bella era simplesmente incrível em quadra. As garotas fizeram um jogo treino e nós assistimos um pouco, e nada passava por Bella. Ela era realmente uma arma forte. Bella se jogava no chão atrás da bola como se dependesse da vida dela. A seleção feminina estava muito bem servida com sua presença. 

— Meu Deus. Eu nunca vi uma líbero jogar assim. Essa garota é foda! – James disse ao meu lado. 

— É. Ela é foda. – Falei, com uma pontinha de orgulho na minha voz. 

Ao fim do treino, meus companheiros sugeriram uma resenha. A maioria deles foi, mas eu tinha outros planos. Passei no restaurante e peguei uma garrafa de vinho e duas taças. Ninguém iria dar falta. 

Rezei para todos os deuses quando passei pelo andar da ala feminina, e aparentemente deu certo. Ninguém pelo caminho. Fui rapidamente até o quarto 202, e, na primeira batida, a porta já estava aberta. Bella estava de camisola, com uma toalha enrolada na cabeça. Uma bela visão. 

— Era disso que eu estava precisando. – Seus olhos brilharam. 

— De mim? – Perguntei. 

— De vinho. – Ela riu. – De você… Talvez. 

— Nossa. – Falei, meio decepcionado. Não entendi muito bem aquele sentimento que se apossou de mim. 

— Estou brincando. – Ela falou, pegou a garrafa da minha mão e a abriu. – Senta aí. 

Abrimos a garrafa e, algumas taças depois, estávamos um pouco mais alegres, o que me fez perder um certo pudor que eu tinha de querer conhecer mais sobre a garota. 

— Você começou a jogar com quantos anos? – Perguntei. 

— Dez. E você? – Ela respondeu. 

— Eu também. 

— Interessante. 

— Você vem de onde mesmo? A Rose me disse, mas eu esqueci. – Ri, meio sem graça. Mancada, Edward. 

— Eu sou de Forks. Uma cidadezinha que vive debaixo de uma incessante camada de nuvens de chuva no estado de Washington. Perto de Seattle e Port Angeles. Mas agora eu moro aqui em LA. 

— Bella, eu moro em Seattle. Que coincidência. 

— Sim! Meu Deus, que mundo pequeno. – Ela riu. Seu sorriso era lindo. 

— Por que escolheu o vôlei? 

— Desde pequena eu via as jogadoras na tv, e minha mãe sempre foi apaixonada. Cresci indo a jogos junto com ela, e, quando surgiu a oportunidade, comecei a treinar. Com você foi parecido, né? 

— Foi. 

— Engraçado. Nós dois somos mais parecidos do que eu pensava. 

— Você tem irmãos? 

— Não. Você tem? – Ela devolveu a pergunta. 

— Tenho duas. Uma é minha gêmea. A outra tem dez anos de idade. Eu mostraria uma foto, mas meu celular descarregou. 

— Acho que eu já vi sua gêmea. Ela é sua cara. Mas a pequena... 

— A Edythe é mais parecida, mas a Ali é muito pequena, prefiro deixar ela fora desse mundo. 

— Entendo. Às vezes eu me arrependo de ser uma pessoa pública. É meio complicado. – Ela riu. 

— Eu te entendo. – Eu disse. – Minha irmã me enche sempre com esses compromissos de redes sociais. – Eu ri. 

— Minha agente também. 

— Qual a coisa que você mais gosta em mim? – Perguntei, do nada. Ela me fitou com um olhar estranho. 

— Que pergunta é essa? 

— É só curiosidade. 

— Gosto da sua franqueza. Do seu beijo também. E claro, de outras coisas que você faz. – Ela riu e deixou a taça de lado, se agarrando a mim. Depois daquilo, a noite ainda durou muito. 

 

Durante aquele mês, nós fugíamos um para o quarto do outro todas as noites. Aquele foi o período mais insano da minha vida, e aquela manhã do dia 20 de junho – meu aniversário – a mais louca de toda a minha existência. Bella estava esparramada ao meu lado na cama, enrolada nos lençóis. Acordei assustado, com batidas fortes do outro lado da porta. Levantei num salto, e abri a porta, encontrando meu técnico com cara de poucos amigos do outro lado. 

— Aro? 

— Eu posso saber por que você ainda não está treinando? – Ele perguntou. 

— Perdi a hora. – Menti. 

— Eu sei o porquê. – Ele saiu entrando no quarto, e apontou para Isabella. – Há quanto tempo isso vem acontecendo, Edward? – Aro perguntou, com os braços cruzados. Bella olhava para mim assustada. 

— Aro, é totalmente minha culpa. Se for pra punir alguém, espero que seja eu. Não dá para negar o que está acontecendo, mas não é culpa da Bella.  – Falei. 

— Vocês jovens não têm um pingo de juízo. A Isabella é nova, entrou nesse mundo agora, dá pra dar um desconto, mas você, Edward? Está aqui há quantos anos?! – Ele disse, parecendo decepcionado. 

— Desculpe. Eu realmente não sei o que deu em mim. Eu não me arrependo, mas acho que devia ter feito de outras formas. Desculpe Aro. 

— Eu entendo que estar apaixonado é uma coisa boa, mas tudo tem o seu momento. Vocês têm que aproveitar, sim, mas não aqui. Vocês estão aqui para trabalhar. – Aro disse. 

— Mas nós não estamos… – Eu ia falando, com a intenção de elucidar que eu e Bella não estávamos apaixonados um pelo outro, mas o técnico me interrompeu. 

— Você. – Ele apontou para Bella. – O Phil está enlouquecido atrás de você. Acho melhor se vestir e aparecer com uma boa desculpa, se bem que agora todo mundo já deve saber… E você Edward… Eu só não te suspendo porque você é o meu melhor jogador e em respeito aos anos de nossa amizade. Mas eu espero que isso não se repita. Pelo menos não aqui no CT. Estamos entendidos? 

— Sim, Aro. – Eu e Bella respondemos em uníssono, como duas crianças levando bronca do professor na escola.

O técnico saiu e fechou a porta atrás de si. Eu só conseguia olhar para Bella sem proferir nenhuma palavra, meio sem reação. 

— Isso não podia ter acontecido. – Ela quebrou o silêncio. 

— Não. Mas quero deixar claro que eu não me arrependo do que estamos fazendo. 

— Eu também não, Edward, mas temos que ter cuidado! Não podemos colocar nossas carreiras em risco por causa de um casinho! – Ela exclamou, nervosa. 

Um casinho? Aquilo mexeu comigo mais do que eu achei que fosse possível. 

— É. Não podemos. – Disse, engolindo em seco. Tentei pensar em uma saída. Não queria que acabasse. – Nós podemos sair. Pelo menos uma vez por semana, não sei. Podemos ir à praia, ir jantar, o que acha? Hoje mesmo, vamos comemorar meu aniversário. – Me animei. 

— Tudo bem, mas achei que você fosse querer comemorar com seus amigos de time. 

— Não. Quero comemorar com você. Não posso? 

— Pode. Claro. – Ela riu, sem graça. – É melhor eu ir. Preciso arrumar uma desculpa para o Phil, mas ele não é tão mais fácil de dobrar do que o Aro…Passo aqui às seis para irmos, tudo bem? –  Balancei a cabeça que sim. Ela suspirou, se levantou e começou a vestir sua roupa. Ao sair, me deu um beijo rápido. 

— Feliz aniversário, capitão. Um belo presente você ganhou. – Ela disse e saiu do quarto dando sua risada estrondosa. 

 

Cheguei no treino e todos me olharam com uma cara de “eu sei o que você estava fazendo”, mas não liguei. Eu não estava fazendo nada de errado. Tudo bem, era errado naquela circunstância, mas não deu pra controlar. Eu esperava que Bella não tivesse passado pela mesma coisa. Comecei a treinar, mas minha cabeça não saía dela. Queria vê-la, saber como ela estava depois daquilo, saber como tinha sido seu treino e a reação de Phil, pois ele com certeza já sabia de toda a verdade. 

— Acorda, Edward! – Emmett falou quando uma bola passou voando a centímetros da minha cabeça. 

— Meu Deus. O que está acontecendo? – Eu falei, baixinho, mas meu amigo com certeza ouviu. 

— Você quer que eu te fale o que acho ou o que você quer ouvir? – Emm disse. 

— Acho melhor você não falar nada. – Eu falei, desviando do olhar severo de Aro. 

— Menos conversa e mais bloqueios! Não quero que nada passe por vocês! – Aro gritou do outro lado da quadra. Emmett fez o que ele pediu, enquanto eu treinava mais levantamentos com James. 

Ao fim do treino, fui até o alojamento pensando em como queria ter minha irmã por perto. Ela saberia o que fazer naquela situação. Eu me sentia… estranho. Eu pensava demais em Isabella e me importava muito com ela, apesar de não saber o que aquilo significava. Entrei em meu quarto e tomei um banho. Assim que saí do chuveiro, vi que o telefone brilhava com o nome de Edythe na tela. 

— Ed, tá tudo bem? – Ela perguntou assim que atendi. 

— Ainda bem que você ligou. Estava precisando conversar. – Eu disse. 

— Eu estava me sentindo estranha. Decidi ligar para você, sei lá. Só para saber se você estava bem. 

— Bem eu estou. Quer dizer… Eu não sei. – Falei e expliquei tudo o que tinha acontecido comigo e com Bella, desde o dia que nos conhecemos. 

— E você me conta isso só agora Edward Anthony? – Edythe fala. 

— Edythe, me entenda. Até então era só um casinho, como ela mesma definiu. 

— Edward, como você se sente em relação a ela? – Minha irmã perguntou. 

— Eu não sei. Nunca senti isso antes. Eu me preocupo com ela mais do que eu me preocupava com as outras, quero estar perto dela sempre, fico procurando por ela quando ela não está… 

— Edward, eu sinto em te informar, mas você está apaixonado. 

— O que? 

— Não se faça de desentendido. 

— Edythe, não. Isso não é possível. Eu saberia se estivesse apaixonado. 

— Edward, me escuta. Você nunca se apaixonou antes para saber como é. Eu sei como é, e é exatamente assim. Você fica com essa marra toda de “eu não me apaixono” mas é porque você tem medo de se apaixonar. 

— Você acha? 

— Garoto, eu te conheço desde que nós dividimos a barriga da mamãe. É óbvio que é isso. Mas não precisa ter medo. Você só tem que deixar as coisas fluírem. Seria uma boa você falar sobre isso com a Bella. Você precisa colocar isso pra fora. 

— Eu tenho medo de não conseguir. 

— Mas você vai. Eu sei que vai. Só vai com calma. Ela vai entender. Ninguém resiste aos encantos do meu irmãozinho. – Ela gargalhou, mas logo parou. – Ei, o que foi? – Ela falou para alguém fora da ligação. Ouvi Alice chorando. 

— Ed, a Alice chegou chorando do vôlei. Eu vou ver o que é. 

— Não! Deixa eu falar com ela. 

— Ali, o Ed quer falar com você. Ei pequena, para de chorar. Vem cá. – Minha irmã mais velha falou e passou o telefone para a mais nova. 

— Oi, Ed. – Ela fungou. 

— Oi, meu amor. O que aconteceu? 

— Foi a Jessica. Ela disse que eu não vou pra Tokyo com você porque vocês não são minha família de verdade. – Meu coração gelou na hora. Alice era adotada, mas meus pais ainda não haviam contado para ela, pois acreditavam que ela era muito nova. Eles resolveram adotá-la quando eu e Edythe tínhamos 21 anos, logo quando ela entrou na faculdade e eu fui jogar na Itália. Minha mãe se sentia muito sozinha e não podia mais engravidar, por isso, ela e meu pai decidiram partir para a adoção. Alice chegou em nossas vidas apenas para alegrá-la. 

— Mas é óbvio que você é da nossa família. Que história é essa? – Tentei contornar a situação. 

— Ela disse que eu sou… dopada… não. Qual é a palavra, Edy? – A pequena perguntou. 

— Adotada? 

— Isso. Eu sou adotada, não é? O papai e a mamãe não são meus pais de verdade? 

— Não é porque você é adotada que eles não são seus pais. Eu e a Edythe somos seus irmãos de verdade. 

— A Jéssica disse que vocês não me amam. Isso não é verdade, não é? – Ela começou a chorar de novo. Edythe tentava acalmá-la quando ouvi a porta do meu quarto se abrir. 

— Alice, eu amo você. Você é a pessoa mais importante da minha vida. Eu não sei o que seria da minha vida sem você, que me alegra todos os dias, mesmo estando longe. – Eu disse e olhei para trás. Bella, que tinha entrado no quarto, saiu depressa. Meu Deus. Eu precisava ir atrás dela, pois não sabia o quanto ela tinha ouvido da minha conversa com Alice. E se ela entendesse tudo errado?

— Alice, o mano precisa desligar. Eu te ligo daqui a pouco, tudo bem? 

— Tudo. 

— Eu te amo. 

— Eu também. 

— Agora vá ficar com a Edy. Só vou resolver uma coisinha. – Eu disse e corri para a porta com o celular na mão. Ao chegar no corredor, notei que estava só de toalha. Corri mesmo assim, agarrando a toalha. Fui até o quarto de Bella, que, por sorte, estava destrancado. Ela estava na cama, tirando os sapatos. 

— Bella, o que você ouviu… eu posso explicar. – Eu disse. 

— Edward, você não tem que me explicar nada. Fique tranquilo. Nós não temos nada. – Ela riu. – Eu só voltei porque vi que você não estava pronto ainda. E pelo visto ainda não está. – Ela abriu o armário e pegou uma bermuda que eu tinha largado aqui da última vez que tinha vindo.  

— Não, mas eu quero me explicar. Bella, você não sabe como eu me sinto. Eu… nem sei por onde começar, na verdade. – Suspirei. 

— Pelo começo? – Ela falou, rindo. 

— O começo? Bem, eu disse que eu não me apaixonaria. Que eu não me apaixono nunca. Isso era uma mentira, pelo visto. – Eu disse. 

— Ah. E você está apaixonado por essa Alice? – Ela perguntou, mas não num tom ciumento, mas sim curioso. 

— O que? Não! Que absurdo! Alice é minha irmãzinha. – Eu falei. – Eu te disse naquela noite que eu tinha uma irmã que se chamava Alice. 

— Edward, eu estava bêbada. Eu não iria lembrar nem se o Papa me pedisse. – Ela falou, eu expliquei a história toda e mostrei uma foto para ela.

— Que garotinha filha da puta essa Jessica. – Bella disse, e não pude deixar de rir e concordar. – Mas então, a história da paixão… Se não é pela Alice, por quem é? 

— Você jura que não sabe? 

— Ah não. 

— Bella. Eu sei que você também é meio como eu, mas eu realmente estou gostando de você. Não sei se é recíproco, mas se for… – Falei, mas não consegui terminar a frase, pois ela já tinha colado seus lábios nos meus. Entendi aquilo como um sim. 

 

Expliquei toda a história à mulher. Claro, com algumas ressalvas e edições. Ela não precisava saber o que eu e Bella fazíamos debaixo do chuveiro, mas contei as coisas mais importantes. 

— Edward, calma aí. – Ela riu. – Você realmente está falando da sua vida pessoal para a gente? 

— Sim. É estranho, mas estou. – Eu ri. – Todo mundo sempre me perguntou sobre relacionamentos e o escambau, e acho que agora está na hora de responder essa fatídica pergunta. 

— E qual é a resposta? 

— Eu estou apaixonado. Como nunca estive na minha vida. 

— Isso é ótimo. Fico feliz por você. E como se sente, agora, apaixonado e com uma medalha de prata na estante? 

— Muito bem. Melhor do que eu imaginava estar a três meses atrás. – Eu disse e sorri para Bella, do outro lado da sala. – É engraçado. Eu tive uma conversa muito séria com ela no dia da final. Foi no dia que nós começamos a namorar. Eu estava muito nervoso. Estávamos enfrentando o Brasil, e todos nós sabemos que eles são um time muito forte. Eu realmente estava com medo, mas ela me acalmou da melhor forma possível. Ela disse tudo o que eu precisava ouvir, mas o mais importante foi o apoio que ela demonstrou durante todo o tempo. Ela me coloca pra cima, sempre, esteja eu ganhando ou perdendo. Eu jamais poderia deixar uma mulher dessa passar. – Eu olhei para ela, que estava com seus lindos olhos castanhos-chocolate marejados. – Foi ali que eu vi que não conseguiria mais viver sem ela. Logo eu, que achava que nunca me apaixonaria por ninguém. Ela nem faz ideia do quanto me faz feliz, e eu não fazia ideia do quanto estava errado. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá! Gostaria de agradecer a vocês que leram essa história até aqui. Obrigada pelo apoio. Espero que tenham gostado de conhecer nosso Edward atleta. Beijos. ♥