Golden Years escrita por condekilmartin


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oieee!
Mais um capítulo para vocês.
Aproveitem ♥



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Era um ensolarado dia de janeiro, o vento brincava com os poucos fios que escapavam da trança elaborada que emoldurava o cabelo de Cecília, enquanto também brincava com os cabelos de Rômulo, que estavam cuidadosamente penteados num topete que combinava com ele mais do que qualquer outra coisa.

Os dois seguiam numa caminhada tranquila para o café, acompanhados de Mariana e Jane, que faziam a gentileza de andar alguns passos atrás, para dar uma certa privacidade para o casal, sem deixá-los perder a respeitabilidade que a sociedade obrigava que todos os jovens casais, especialmente as mulheres, deveriam manter.

Eles haviam sentado em quatro mesas de distância do jukebox, que tinha alguma música animada de Elvis Presley ou alguma novidade da tal chamada Bossa Nova tocando ao fundo, fazendo com que Cecília tamborilasse um pouco os dedos enluvados no tecido grosso da calça que usava. Rômulo lhe lançou um daqueles seus sorrisos charmosos e eles conversavam sobre tudo.

Era fácil e leve estar junto dele, partilhar momentos como aquele, onde dividiam um sorvete e comentavam sobre o último capítulo da radionovela, que havia deixado a mãe de Cecília quase morrendo de curiosidade, e que arrancara uma risada gostosa de Rômulo ao imaginar a reação da futura sogra.

Mariana e Jane observavam os dois a uma certa distância:

— Acha que ele vai pedir a mão de Cecília? — Jane questionava para a irmã mais velha.

— Do jeito que esses dois se olham, Jane, acho impossível Rômulo não fazer o pedido. — Mariana respondeu, empolgada com a perspectiva de felicidade que a irmã tinha.

— Eles parecem estar tão apaixonados. — Jane disse soltando um suspiro.

Cecília, que estava sentada de costas para as irmãs, não deixou escapar uma gargalhada quando Rômulo falou que Mariana e Jane não paravam de encará-los.

— Tem certeza de que suas irmãs gostam de mim, não é? — Ele olhou para Cecília desconfiado. — Estão olhando tanto para nós que estou ficando desconfiado.

— Minha família o adora. — Ela respondeu, sincera. — Acharia bem difícil se alguma de minhas irmãs não gostasse de você, Rômulo, não nos deixariam em paz, como agora.

— Estamos sendo privilegiados, então? — O olhar dos dois se encontraram e o jovem deu um sorriso de lado que fez o coração da moça derreter.

— Muito. — Ela respondeu, deixando um sorriso escapar e sentindo o rosto esquentar.

Rômulo estendeu a mão e pegou a de Cecília, retirando as luvas verde-menta, guardando-as no bolso.

— O que está fazendo?

— Guardando uma lembrança. — Ele respondeu, dando de ombros.

— Rômulo! — Ela sorriu, fingindo indignação.

— Sem direito à devolução. — O jovem soltou uma piscadela para a moça.

Seus olhares se cruzaram e ela não conseguiu impedir seu rosto de enrubescer, do mesmo jeito que ele não conseguia tirar o sorriso bobo da face. Se sentindo ousada o suficiente para fazer algo do tipo em público, e aproveitando que já estava mesmo sem luvas, Cecília entrelaçou os dedos nos dele, sentindo aquela mão forte e grande quase esconder a sua e aquecê-la num toque que a fazia sentir como se milhões de pequenas luzinhas estivessem acendendo dentro de seu corpo, indicando o lugar certo.

***

Cecília acordou num sobressalto, assustada com a lembrança. Pelo visto, não estava segura nem em seus sonhos. Ela se sentou na cama, abraçando suas pernas e apoiando a cabeça nos joelhos, recordando os detalhes daquele dia, que fora tão querido para ela.

Rômulo havia deixado as irmãs Benedito em casa depois do café e, por um milagre, conseguira escapar rapidamente das garras de dona Ofélia, que insistira que ele ficasse para um lanche sempre que aparecia por ali. Ele e Cecília trocaram olhares rápidos e sopravam beijos distantes, quando ele seguia seu caminho e virava para trás para admirá-la mais um pouco. Ela entrara em casa suspirando e praticamente rodopiando de felicidade, fazendo Mariana e Jane sorrirem e implicarem carinhosamente com a irmã e deixando uma Lídia curiosa sobre o que tinha acontecido.

Cecília sentia uma saudade dolorosa daquele pedaço da sua vida, não só por estar vivendo na sua pequena bolha de felicidade com Rômulo, mas também porque tinha todas as suas irmãs por perto, lhe servindo de poço de segurança, diferente de agora.

Hoje, a mais velha das irmãs Benedito, Elisabeta, havia se casado há quase um ano com um empresário inglês, Darcy, e se mudado para a Inglaterra há cerca de três meses. Mariana estava de casamento marcado com o coronel Brandão e Jane estava enamorada de Camilo, o herdeiro da poderosa Julieta Bittencourt, que tomava conta das fazendas e da produção de café da família no interior. Lídia continuava ainda mais espevitada e disposta a partir alguns corações, visto que nunca tinha conhecido algo parecido com o amor, e Cecília... tinha um coração partido, supôs.

Não conseguia conversar com ninguém sobre o que aconteceu entre ela e Rômulo e aquilo fazia com que uma das suas luzinhas se apagasse a cada dia que passava.

Ninguém entenderia.

Estava sozinha.

Estava sufocando.

Cecília precisava sair dali, não importava que fosse o meio da noite, ela não conseguia ficar dentro daquele quarto, não conseguia ficar ali, onde sua mente funcionava no meio de um turbilhão de sentimentos e sensações dolorosas. Simplesmente não conseguia. Sentia o ar deixando seus pulmões, fazendo-a arfar em busca de oxigênio para suprir toda aquela agonia.

Aproveitou que todos dormiam e saiu pela janela, indo para aquele lugar que sempre lhe foi seu cantinho de paz.

A casa na árvore havia sido construída por seu pai, Felisberto, quando Elisabeta e Mariana tinham acabado de completar 4 e 3 anos, respectivamente, e a bebê Jane ainda não tinha idade suficiente para brincar com as mais velhas, e ficava há uma distância segura o suficiente da casa da família. Cecília havia reclamado aquele lugar como seu assim que completara 10 anos e passara a se interessar pela leitura e escrita de seus pensamentos ao invés de brincadeiras consideradas de menino.

Fora ali, na casa da árvore, que a moça havia feito o seu mundinho particular. A família inteira sabia que aquele lugar era importante para ela e a outra única pessoa que sabia disso era...

— Rômulo. — Cecília murmurou, observando o invasor que estava ali, tentando controlar sua pequena crise de pânico para que ele não percebesse. — O que está fazendo aqui?

— Oi, Cecília. — Ele estava sentado um dos cantos da parede, agarrado em um dos cobertores que sempre ficavam ali. — Desculpe aparecer assim.

— No meio da noite? Ou na cidade? — Perguntou ela, com a voz seca. — Por que veio? Voltou?

— Pelo visto, continua fazendo muitas perguntas. — O médico deixou escapar um sorriso leve, que não alcançou seus olhos. — Estava na hora de voltar.

— Não foi o que me disse quando deixou este lugar. — A moça sentia seus olhos enchendo de lágrimas novamente, mas não o presentearia com o luxo de vê-la chorar.

— As coisas mudam. — Ele deu de ombros. — Desculpe ter aparecido aqui no meio da noite, achei que você não viria e eu só... precisava vir aqui.

— Para quê, Rômulo? Me atormentar? — Seus olhares se encontraram e ele pôde ver quão furiosa ela estava, o suficiente para suas mãos estarem tremendo e sentir seu coração acelerado. Ela nunca fora muito boa de esconder suas emoções, ao menos não para ele.

— Cecília, você precisa saber que eu nunca quis atormentá-la.

— Mas é só isso o que você sabe fazer. — Ela explodiu, guardava aquelas palavras há muitos anos. — Sempre que você se aproxima de mim, Rômulo, você me atormenta e me destrói. Chega.

— Cecília... — Ele tentou falar, tentou não fingir surpresa com a reação dela, mas aquilo o atingiu como um soco no estômago.

— Vá embora, por favor. — Cecília respirou fundo e se afastou da porta. — Não quero vê-lo hoje, nem nunca mais. Você não tem mais direito de vir à minha casa da árvore ou à minha casa, perdeu esse direito há muito tempo.

Rômulo chamou seu nome outra vez, mas ela o ignorou. Seus olhares não se encontravam mais, pois, enquanto ele olhava para ela, ela olhava para o chão. Não tinha coragem de encará-lo naquele momento ou iria desmoronar e não queria que ele estivesse ali para vê-la daquele jeito.

Sentiu aquele homenzarrão se aproximando dela, sentia seu calor se espalhando onde ele se aproximava e sentiu que ele estava perto demais. Foi necessário buscar toda a sua força para não levantar o olhar e encará-lo, mas ele segurou seu queixo com firmeza o suficiente para seus olhos se encontrarem:

— Me desculpe. — A voz rouca de Rômulo saiu trêmula. — Me desculpe por tudo, Cecília.

Ele deu uma mais uma olhada para aquele rosto que tanto o fascinara, redecorando cada detalhe dela, e saiu dali, deixando uma Cecília sem fôlego algum e com o coração ainda mais destruído do que já estava. Ela puxou uma centelha de ar e, antes que ele pudesse estar distante o suficiente, perguntou:

— Por quê? — Sua voz saiu em um murmuro, mas ele ouviu mesmo assim.

— Depois, meu anjo. — Ele virou novamente, soltando uma piscadinha e ela o odiou por usar o apelido que um dia lhe foi tão querido.

Rômulo partiu sem olhar para trás e Cecília se permitiu desabar.

O cheiro dele dominava aquele lugar inteiro, o lugar que ela tinha ido procurar para encontrar paz e acalmar o coração. Não surtira efeito algum, pelo visto. Ela agarrou o cobertor que ele estava usando e ficou ali, esperando que seu corpo parasse de tremer e seu coração desacelerasse.

Me desculpe, foi o que ele disse. Mas por quê? Por que voltar agora e se desculpar? Pelo que realmente estava se desculpando? Por ter partido seu coração? Ela ainda não sabia se tinha forças o bastante para perdoá-lo. Guardava aquela mágoa dentro dela há tanto tempo que não sabia se um dia seria capaz de viver sem aquilo ali.

Mas prometera a si mesma que iria tentar. E iria, iria sim.

Ela se enrolou ao cobertor, inebriando quando seu cheiro se misturou ao dele e acabou pegando no sono, sem se importar de voltar para casa ou para o conforto de seu quarto.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Não esqueçam de comentar e recomendar a história, por favorzinho!
Até a próxima att, xero!



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