For All Oasis Girls escrita por mary Moon Rabit


Capítulo 3
III - Do I wanna Know?


Notas iniciais do capítulo

Oie. Minha mãe quebrou o pé, ficou difícil escrever a média de palavras e tambem fazer a revisão em tempo hábil enquanto eu cuidava dela. Desculpem por isso de qualquer forma.
Amo vocês.
Abraços, Marie.



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For All Oasis Girls

III- Do I wanna know?

 

Uma segunda feira gelada de um novembro típico. O céu encoberto por nuvens e sem brechas para luz do sol. Os alunos andavam carrancudos e mal-humorados, embalando contra o peito copos de café extra-grandes como se esses fossem seus bens mais preciosos.

Ela devia estar contente.

O rapaz colocou as mãos frias nos bolsos do sobretudo escuro e repetiu com os dedos o toque da música fantasma que tocava incessantemente em sua cabeça enquanto acompanhava com olhos felinos a movimentação do pontinho saltitante que vagava pelo campus.

“Have you no idea that you're in deep? 

I've dreamt about you nearly every night this week”

— O que você está murmurando, Draco? - perguntou Pansy enquanto se juntava aos meninos apoiados no capo do carro de Draco. 

“How many secrets can you keep?”

“Cause there's this tune I found. That makes me think of you somehow and I play it on repeat”

— Draco? Ei, para onde você está olhando? - perguntou Harry ao seu lado, estalando os dedos para chamar a atenção. 

“Until I fall asleep, spillin' drinks on my settee”

— Do I Wanna Know? - murmurou baixinho. As palavras escapando de sua boca com uma nuvem branca de vapor. Suspirou e fechou os punhos dentro dos bolsos do sobretudo ainda ignorando as perguntas que lhe eram feitas e sem perder de vista seu objeto de estudo. A situação o incomodava, é claro. Havia mais no que pensar; seu pai o pressionando para fazer algo a respeito das coisas na editora, Narcissa que enviava mensagens a cada meia hora pedindo ajuda para organizar um jantar de recepção, os teste de fim de semestre e, é óbvio, o problema maior: 

Ela.

Draco tinha preocupações muito maiores do que o cabelo fofo que ela havia prendido com uma fita azul que era absolutamente antiquado e que teria parecido terrivelmente bobo em qualquer outra pessoa. E com certeza ele não deveria estar tão focado em descobrir o que ela estava ouvindo nos fones de ouvido - apesar de ter quase certeza de reconhecer a música apenas pelo ritmo no qual ela balançava os quadris- quando havia tantas matérias para revisar. E Draco estava ainda mais certo de que pouco deveria se importar com o fato de que a bolsa carteiro que ela carregava no ombro direito parecia estar muito pesada.

Mas era horrivelmente tentador.

Fazia anos desde que conversaram da maneira como conversaram apenas duas noites atrás. Anos desde que não trocavam mais do que algumas frases educadas quando ocasionalmente se batiam pelos corredores. E foi… ah

A sensação era de ser entendido, de ser ouvido e compreendido. A maneira como os olhos dela brilhavam quando ele falava fazia parecer que cada palavra que saia da boca dele estava sendo abraçada.

Não houve desvios de respostas ou hesitação. Ela não parecia incomodada com o sarcasmo e fazia questão de respondê-lo da mesma maneira. Em poucos minutos de conversa houveram mais citações de pensadores clássicos do que nas aulas de de filosofia e mais informações sobre Bossa nova e compositores alemães que morreram no século retrasado do que em meses de suas aulas de piano. 

Foi fascinante e assustador em proporções que ele nunca poderia dimensionar. 

E Deus. Draco não tinha ideia de que um dia se sentiria bem na companhia da ratinha de biblioteca que ele conhecia desde a infância e só se deu conta de que ela fez falta quando passou uma madrugada na presença de sua versão adulta. 

Depois de tantos anos, ouvir Hermione Granger chamá-lo de “réprobo soez” quando no meio do show ele sem querer pisou no pé dela, o fez sentir coisas estranhas na boca do estômago. 


 

E o silêncio deles. O silêncio do fim, o vazio de palavras desnecessárias, a calmaria abreviada pelas respirações tensas quando se encontraram jogados no chão, um ao lado do outro. Se se esforçasse, ainda poderia replicar a memória da pressão do toque dos ombros e joelhos dela contra si.

Foi um silêncio lindo. Do tipo que Draco nunca tinha escutado.


 

Draco tinha certeza de que nunca tinha se apaixonado antes. Claro, sentiu atração por dezenas de mulheres durante a vida, a menina do caixa do mercado, sua tutora de francês, a garota ruiva do segundo ano, Pansy no ensino médio.

Mas nada como isso. Nada como o frio na espinha que sentia quando ouvia a voz dela pelos corredores. Ou a ansiedade incomoda de quando sabia que tinham aulas juntos. Nada como o calor desconfortável de quando ela usava bermudas justas no verão.

Se sentia patético.


 

Theodore, que se ocupou em seguir o olhar do rapaz, sabia exatamente qual o objeto de tanta atenção.

Seu amigo estava um trapo. Não no sentido de que estava acabado depois de uma madrugada passada no estacionamento de uma casa de shows. Draco estava um trapo porque o que quer que estivesse dando nós na cabecinha loira tinha nome, cabelos bagunçados e estava indo em direção à fila da cafeteria em um par de Mary Janes de fivelas brilhantes. 

Theodore poderia ter rido. Rido até que não houvesse mais ar para as risadas. Era engraçado porque todos sabiam. Todos viam a maneira como ele olhava para ela, todos percebiam a maneira pouco casual como Draco sem querer vivia citando “A Granger" no meio das conversas e qualquer um perceberia a maneira quase rude como ele deixaria de prestar atenção em qualquer conversa se a visse passar por perto.

 

Como Harry dizia, a garota era “ A maldita Kryptonita”.


 

— Pansy - chamou. Bom, o destino havia dado seu empurrãozinho e agora era a vez de Theo ajudar - Ele ainda está meio devagar por causa da falta de sono. Fique aqui com Harry enquanto eu e Malfoy vamos buscar uns cafés. Tudo bem? 

Draco se virou quando ouviu seu nome ser chamado e rapidamente assumiu a postura de sempre - ombros para trás, nariz empinado, cara de bravo-  quando se afastou de Harry que ainda tentava chamar sua atenção. Para seu crédito ele quase não parecia nervoso. 

— Tudo bem, mas não precisa trazer para mim - respondeu Pansy quando Theodore se aproximou para lhe dar um beijo na bochecha- Aproveitem e procurem Blaise por aí. Ele deve estar atracado com Lovegood em algum lugar.


 

Draco se afastou do grupo de amigos sem se importar se Theodore o estava seguindo. Esgueirou-se por entre os alunos que se amontoavam na longa fila da cafeteria e correu os olhos até que encontrasse o rosto que procurava.

Ela quase desaparecia no meio de tanta gente que parecia tão maior do que ela. Ele se aproximou sorrateiramente, propositalmente ignorando os resmungos das pessoas em quem esbarrava até que se encontrasse ombro a ombro com a garota. 

Hermione parecia quase alegre e de tão entretida com o que quer que estivesse tocando em seus fones de ouvido, levou algum tempo para perceber que ele estava lá.

— Oh! - exclamou baixinho quando notou a figura consideravelmente maior que si parada ao seu lado - Não pode furar a fila, Draco. Isso não é nada educado - resmungou o olhando de esguelha enquanto esticava a mão para dentro do bolso da saia para diminuir o volume da música. Mas ela não tirou os fones. 

O rapaz a encarou divertido, a sombra de um sorriso cruzando seu rosto pela primeira vez naquela manhã gelada. 

— Um ótimo dia para a senhorita. Teve uma boa noite de sono? Seu humor não combina com seu rosto feliz-  respondeu sem se abalar- E eu não estou furando a fila. Minha colega Hermione estava guardando um lugar para mim. 


 

Hermione suspirou, quase aborrecida, mas resolveu entrar no jogo. Estava com sono, com frio, e ainda não tinha um pingo de cafeína no sistema, mas o dia tinha amanhecido com um lindo céu nublado e seu padrinho tinha tentado compensar o fato de que havia esquecido de comprar café com uma pilha de panquecas quentinhas. Então, se Draco estava tentando, ela também poderia fazer um esforço. 

— Mcgonagall marcou um debate para hoje. Algo sobre Dickens vs Tolstoy. E eu passei a madrugada pesquisando bobagens sobre os dois - reclamou- Sabia que Tolstoy aparentemente tinha um retrato de Dickens em cima da mesa em que ele trabalhava?

— Não, eu não sabia, mas tenho a impressão de que já vi isso em algum lugar - Draco respondeu lentamente. Então lembrou-se de algo e virou-se para encará-la com os olhos azuis faiscando em diversão - Você realmente passou a madrugada pesquisando ou passou a madrugada assistindo Tom Hiddleston ler bobagens sobre autores clássicos em voz alta no youtube? 

A garota o olhou com os olhos arregalados em indignação e só o respondeu  depois que arrastou os pés até a atendente do café que a estava esperando para anotar o pedido.

— Não eram bobagens, e eu me recuso a responder a essa pergunta já que você obviamente sabe a resposta para ela.

Ouviu Draco engasgar com uma risada e um sorriso involuntário vir aos lábios.

— Um puro, 300 ml. Sem açúcar, por favor - o ouviu pedir - E você, Hermione, o que vai querer?

Ele a olhou nos olhos, aqueles lindos olhos estranhamente profundos e que nunca pareciam ter o tom correto de azul. Sempre envoltos em nuvens cinzentas que nublavam qualquer sinal de bondade que Draco pudesse ter dentro de si. Carregavam a pergunta real de maneira implícita. A incitando a responder na mesma moeda.

Draco Malfoy. Era correto, mas com certeza não era bom.

Se era assim, Hermione não decepcionaria.

— O mesmo que você. Mas eu gostaria de um pouco de açúcar, se você puder. Da última vez estava amargo demais e me arrependi.

 

Então, de maneira quase imperceptível, ela viu o sorriso dele mudar. A curva das sobrancelhas relaxar. O repuxar de lábios sarcástico lentamente ficar gentil, suave. Ou pelo menos tão gentil quanto Draco Malfoy poderia ser. Até porque, ele entendeu. Hermione não tinha ideia de como isso acontecia. Em um instante debatiam amenidades como teriam feito com qualquer outro, e no outro, tudo e qualquer coisa que saísse de sua boca seria lida além do planejado e ele teria arrancado de si mais uma camada. 

Era assustador, mas parecia tão certo.


 

Ele assentiu com a cabeça, sem permitir que o sorriso tranquilo deixasse seus lábios, e se virou para a atendente.

— O mesmo para a senhorita, mas pode colocar açúcar nos dois.

Pouco importava que ela já tivesse pausado a música e arrancado os fones dos ouvidos.

 

*

 

 

— Como vai Lyra?

Estavam caminhando em direção a biblioteca do campus para buscar um livro que Hermione precisava antes de Draco precisar ir para aula. Copos de café em mãos, passos lentos e palavras fáceis ao vento.  Draco tinha dificuldade para pôr em palavras o tipo de sentimentos que sentia. Havia a calma, havia expectativa e também hesitação.  

Como isso funcionava? Ele não estava sentindo muito depois de tão pouco tempo com ela? Não seria prudente dar um passo para trás e estudar a situação como um todo primeiro?

— Crescendo rápido - respondeu com um riso anasalado- Ela fez oito anos em março e agora quer ser, pasme, “A rainha suprema do universo” quando crescer. Bom, imagino que seja melhor do que “Ditadora sanguinária" como na semana passada. Pelo menos como rainha ela não estipulou um dia anual para decapitações em praça pública.

Primeiro houve silêncio, e então Hermione começou a rir histericamente a ponto de precisar apoiar as mãos nos joelhos e fazer uma pausa para respirar.  

— A garota tem futuro. Um dia ela vai dominar o mundo, eu te garanto.

— Por favor, sem mais ideias sobre dominar o mundo - Draco riu e mexeu o resto do café para dissolver o açúcar do fundo do copo e tomou o restante. Não era tão ruim quanto esperava -Ela me lembra você as vezes, sabia? -comentou- Lyra vive usando umas palavras difíceis tipo "idiossincrasia" e "espúria" em qualquer conversa. E, falando nisso, eu ainda não sei o que “réprobo soez de meia pataca” deveria significar -confessou.

— Oh, meu deus, depois de tantos anos você se lembra disso e nunca teve a curiosidade de pesquisar? Quer saber, esqueça, é realmente melhor que não saiba.

— Uma garota inteligente e que usa palavras difíceis para me difamar. Onde fui me meter - Draco riu e diminuiu o passo. Trocou o peso do corpo de um pé para o outro, pensando se deveria ou não mudar de assunto e fazer a pergunta -Minha mãe comentou um tempo atrás que você estava morando com Remus. Por que não com o seu pai? 

Hermione hesitou. Não é como se ela evitasse o assunto, ela só evitava pensar  no pai de qualquer forma. Por um momento pensou em ignorar a pergunta e fingir que não tinha escutado, mas percebeu que simplesmente não fazia diferença. O pai era um babaca, mas não poderia ter poder para deixá-la desconfortável daquela forma.


 

Draco ainda estava em silêncio, esperando por uma resposta, e não parecia particularmente incomodado por ter feito uma pergunta que parecia muito invasiva. Hermione gostava disso nele.

Esperou até que estivessem parados na porta da biblioteca para responder. Draco com o copo de café vazio na mão esquerda, apoiado no batente de madeira da porta olhando para ela com interesse.

— Não é como se fossemos muito próximos, meu pai  e eu - Começou. Passou as mãos pelo cabelo e xingou baixinho quando os dedos enroscaram na fita azul que tinha usado para prender os fios mais cedo -  Mesmo antes, sabe? Ele era tipo... o Papai Noel, eu acho. Ele aparecia nos feriados com um presente e fazia os depósitos todo o mês.  Daí mamãe ficou doente e ele parecia mais do que satisfeito em se abster das visitas e só mandar o dinheiro. Não que fizesse muita diferença no fim das contas. Eu ainda era muito nova e sentia aquele tipo de raiva infantil por pensar que ele tinha abandonado a gente - Draco ainda a encarava, impassível - Então ela faleceu e Sr.Lupin estava lá. De começo eu achei que era algum ex-namorado dela que estava atrás de dinheiro ou coisa do tipo, mas ele me contou sobre como os dois eram próximos e que se correspondiam com frequência. Ele era muito gentil e me ajudou a conversar com os advogados. Ele foi meu padrinho de batismo, pode acreditar?  

— Sua família não era judia? - perguntou ele com o cenho franzido.

Hermione deu de ombros antes de responder.

 - Meus avós. Mas não importa. Falamos com os advogados enquanto minha guarda ainda estava em pauta e Remus se ofereceu para ficar comigo. No fim meu pai ficou aliviado de não precisar, você sabe, ser um pai, e eu tinha uma casa. Todos saíram felizes, ou o mais felizes possível, no fim das contas.

— Se Lupin não tivesse aparecido e seu pai não te quisesse, não teria mais ninguém na sua família para ficar com você? O que teria acontecido? Não teria ido para uma “casa de acolhimento”, teria? - Draco parecia genuinamente preocupado com isso e Hermione quase riu.

— Muito provavelmente, na verdade. Sem tios, tias, avós falecidos e tudo o mais. Hey, você não tem uma aula agora? Não deveria estar aqui falando comigo - comentou ela enquanto checava o horário no celular.

Draco suspirou cansado antes de concordar. Ele queria ouvir mais, saber mais, saber tudo. Queria ver os olhos cor de café torrado agitados enquanto ela se perdia em memórias, decorar os tiques nervosos como quando ela fechou os punhos enquanto lembrava do pai.

Queria muito.

Se desencostou do batente da porta e deu um passo em sua direção enquanto puxava o próprio celular do bolso, desbloqueava e o estendia na direção da garota.

Hermione hesitou por um instante antes de alcançar o aparelho, como se não tivesse entendido o que ele queria, e salvar seu número. Entregou-o de volta com um sorriso contido. Agora era com ele. Um passo de cada vez.

— Te vejo amanhã? - arriscou perguntar. Cruzou os braços na frente dos seios e levantou os olhos para encará-lo.

— Não tenho aulas amanhã -Draco respondeu hesitante- mas tenho três períodos na quarta- concluiu como se pedisse desculpas.

Quase desapontada, Hermione assentiu e foi se afastando em direção a biblioteca quase vazia - Tá tudo bem, até mais, Malfoy.

— Até mais - disse Draco em um suspiro. Deu as costas e quando estava quase do outro lado do corredor, em um último vislumbre de coragem, quase por completo esmaecido, virou-se e chamou - Hermione? 

A garota se virou devagar, tentando não demonstrar ansiedade - Sim, Draco?

— Qual era a música? Aquela que você estava ouvindo hoje mais cedo. 

A garota piscou surpresa e estava prestes a se virar e ignorar a pergunta idiota quando seus olhos encontraram o rosto dele. Bochechas coradas, as sobrancelhas louras que se destacavam na pele vermelha, um sorriso forçado quase suprimido por medo, e Hermione percebeu que ele realmente estava se esforçando. Ele nunca tinha feito aquilo. Não era natural. Mas lá estava ele, interessado, fazendo a sua maneira, disposto a tentar. Por ela.

Então Hermione lhe sorriu, o sorriso mais bonito que lhe pode arranjar. O sorriso que não pode lhe oferecer na noite do show no estacionamento.

— Me ligue mais tarde e quem sabe eu te conte.

Draco assentiu e parecia aliviado, vazio de hesitações, e lhe sorriu de volta enquanto finalmente se afastava.

— Até mais tarde, Hermione Granger.

 

*


 

— Que droga. Olha ali como já estão todos sorrisos. Eles são tão fofos- Murmurou Harry.

— O que estava esperando? Uma queda de braço? - perguntou Pansy com um pedaço de pizza na boca.

Estavam sentados no gramado do campus almoçando enquanto esperavam por Blaise e Luna que faziam uma prova quando avistaram Draco e Hermione vagando pelos corredores conversando sorridentes.

— Não, claro que não. Mas achei que Hermione pelo menos resistiria um pouco mais. Não sei, pelo menos questionasse as verdadeiras intenções dele, ou qualquer droga desse tipo.

— Não é uma novela, Harry. São nossos amigos. 

Harry a olhou de esguelha.

— Qual a vantagem nisso se eu não posso nem me divertir com um pouco de drama adolescente?

Pansy fungou e parou de mastigar o pedaço de pizza parcialmente comido.

— Não sei não, Harry. Acho que isso é dor de cor- o resto da frase foi engolido com a rodela de pepperoni que Harry enfiou dentro de sua boca.

— Sugiro que fique calada, Pansy querida. Calada.


 

*

 

— Está me dizendo que meu padrinho está se encontrando com o padrinho de Harry, e que o padrinho de Harry é primo de Narcissa o que, de alguma forma, também faz com que ele seja seu primo de...só um instante, 5* grau? É isso? 

Estavam conversando há muitas horas. O relógio digital na escrivaninha de madeira no canto do quarto marcava 11:48 da noite. Hermione chegou em casa perto das seis da tarde e, quase como se ele soubesse, quinze minutos depois, assim que saiu do chuveiro, Draco lhe ligou. 

De início ele lhe parecia quase tímido. A voz falha e longos silêncios envergonhados que ambos tinham dificuldades de preencher, mas assim que Hermione lhe perguntou sobre suas últimas leituras - uma grande bagunça de gibis, Jane Austen, um calhamaço de fatos sobre o Holocausto e uma versão antiga de Peter Pan- acabaram-se os silencios.

Ligaram as câmeras para fazer um trabalho de sociologia sobre o Tratado de Vestfália e jantaram juntos - Draco comeu três sanduíches e uma vitamina enquanto reclamava sobre o Bife Wellington e o chá de pacotinho de Hermione serem uma ofensa aos ingleses, jurando que um dia a levaria para tomar chá de verdade.

O rapaz, do outro lado da linha, suspirou profundamente.

“Colocando desse jeito você faz parecer um absurdo”

Hermione ajeitou o cobertor que lhe caía sobre os ombros e cuidou para não pender para o lado de fora no beiral da janela.

— Não, não realmente. Só não sabia que estavam todos tão intimamente interligados. Sequer sabia que Remus tinha uma vida sexual ativa e eu vivo com ele.

“Deuses, Hermione. Não faça comentários sobre a vida sexual dos velhos. E que grande bisbilhoteira você é. Jamais imaginaria que Hermione Granger gostasse de fofoca”

— Não é fofoca! São só... informações - o ouviu gargalhar- Ei! Não  se faça de pudico, Draco. Além do mais -provocou- Sirius ainda é bastante charmoso, mesmo na casa dos quarenta. 

“ Vou fingir que não te ouvi chamar meu primo grisalho de ‘charmoso’ e agradecer o elogio. É de família.”

— Você não é nada sutil, sabia disso? 

“ A intenção nunca é ser sutil, Hermione. Não com você ” 

A garota sufocou a risada e se viu involuntariamente levantando os olhos para o céu, a fim de encarar a constelação cujo nome piscava no seu receptor de chamadas.

— Draco - chamou- Nós sempre acabamos assim. Entendendo mais do que deveríamos.

A linha ficou muda por um instante. O silêncio do outro lado cortado apenas pelo som da respiração tranquila de Draco.

“Eu sei” ele fez uma pausa. Parecia ponderar. Hermione quase poderia imaginá-lo passar as mãos agitadas  pelo cabelo enquanto procurava palavras que não estavam realmente  "Acha que nós… Bom, se você quisesse, eu poderia te dar um espaço, não sei, voltarmos ao que éramos antes. Pelo menos por um tempo. Me afastaria, se isso, de qualquer forma, te incomodar, eu o faria. Sabe que eu o faria”

— Não seja tolo - interrompeu. A ideia era estúpida de tantas maneiras que nem poderia começar a enumerar-  Não tem por que se afastar. Não somos crianças, Draco. Isso é novo - confessou com um suspiro- mas eu gostaria de ter um tempo para descobrir se é bom ou não. 

“ Eu gostaria disso” Sua voz soou limpa. Quase aliviada “ você ainda me deve uma música, Hermione Granger” lembrou como se estivesse esperando a noite toda para tocar no assunto.

— Sabe o que eu estou fazendo agora? - perguntou brincalhona.

Eu sei exatamente o que está fazendo. Você está mudando de assunto. Me dê o nome da musica, Hermione”

— Estou na janela do meu quarto olhando para uma constelação. Tem alguma ideia de qual seja essa constelação?

"Você é péssima” resmungou resignado. Hermione gargalhou alto e quase derrubou o pequeno girassol do vaso ao seu lado “ Não, querida Hermione. Não tenho ideia de qual seja essa constelação. Por favor, diga-me”

— Qual seria a graça em apenas te dizer o nome? - perguntou o ouvindo resmungar- Não, não. Eu vou te contar uma história sobre essa constelação e você vai tentar adivinhar.

“ O que é isso? Um teste de conhecimentos gerais?” 

— Vamos lá. Se esforce um pouco.

“ Por que não podemos pular para a parte em que você se diz completamente apaixonada e confessa que nunca me esqueceu desde aquele dia no bosque, para que eu possa sair de casa e ir te encontrar agora mesmo?”

Hermione procurou ignorar o rubor nos bochechas e se concentrar em não fazer papel de boba. 

— Por que está tarde e todo mundo sabe que Londres de madrugada é muito perigosa.

“Hm. Preocupada com a minha segurança, entendi” Hermione ouviu o farfalhar de tecidos, como se ele tivesse se deitado na cama “ Tudo bem, se é assim vá em frente, me conte as histórias para que eu possa te impressionar com minhas habilidades de adivinhação"

Hermione se afastou do beiral e deu uma última olhada para o céu estrelado antes de se deitar na cama, puxar as cobertas e começar.

— Era uma vez um grande dragão dourado que foi escolhido para guardar as maçãs de ouro do Jardim das Hespérides. Ele era grande e forte e nenhum herói jamais foi capaz de derrotá-lo. Mas um dia, um jovem chamado Hércules, apareceu dizendo que precisava das maçãs de ouro para completar um dos doze trabalhos que os grandes deuses deram para ele. Sabe o que aconteceu com o dragão?

“Ele devorou o herói tosco?”  

— Não. Hércules nocauteou o grande dragão, roubou as maçãs e então a deusa Hera condenou o dragão a ficar para sempre no céu. Imovel. Sem propósito. Fim.

“Hermione, você é uma péssima contadora de histórias. Onde está o final feliz? Quando eu era uma criança, todas as histórias que minha mãe contava terminavam com o Dragão sendo o herói”

— Narcissa te deixou mimado, Draco.

Meia noite

“ E você acabou de me dar a resposta. O que eu disse? Uma péssima contadora de histórias” Draco gargalhou do outro lado da linha e Hermione se viu na obrigação de afastar os cobertores para longe de seu corpo febril.

— Boa noite, Draco. Vai dormir - disse rindo.

"Já?” perguntou soando quase desapontado. “ Tudo bem, então. Aparentemente não há convites para visitas de madrugada. Londres perigosa e tudo o mais, você sabe. Tente não ficar muito desapontada” 

— Acho que vou ficar bem - afastou o aparelho da orelha e observou o nome gravado antes de o reaproximar e murmurar - Foi bom te conhecer de novo. Senti sua falta, Draco.

Do outro lado da linha, o rapaz se permitia um instante inteiro para saborear o som ritmado da respiração da menina que dormira quase dez minutos atrás e tentava se livrar o mais rápido possível da camiseta que grudava na pele.

Sentou-se no chão com as costas apoiadas no pé da cama e abraçou os joelhos.

Draco tinha chegado a uma conclusão. Ele gostava desse mundo. Um mundo que havia trazido Hermione Granger para perto dele novamente. Gostava desse mundo que permitia que ele pudesse passar a madrugada ouvindo sua respiração tranquila e dando risada dos barulhinhos bonitinhos que ela fazia com a boca.

Ele gostava muito.


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Notas finais do capítulo

esse é o vídeo do Tom Hiddleston "lendo bobagens de autores clássicos em voz alta" kkkkk que homem meu deus, que homem

https://youtu.be/gLXpYJDdEUI



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