Corte de Estrelas e Tormento escrita por Black Sweet Heart


Capítulo 3
Capítulo Dois


Notas iniciais do capítulo

Olá
Desculpa a demora. Espero que gostem ♥



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Aquele animal estava brincando com a vida dela.

Depois que deixou o animal desaparecer, por culpa da Morrigan, seguiu seu cheiro até a campina na ala oeste do castelo, onde havia uma plantação de pêssegos. E claro, Syrax estava devorando todos.

Rhaella sabia o porquê aquele monstrinho a fez segui–lo. Ele queria pêssegos para mais tarde, enquanto Rhaella estava no baile. Syrax era tão caprichoso quanto os lordes em sua corte.

Como sabia o gosto de seu animal, Rhaella sempre deixava uma cesta grande escondida entre a plantação para recolher as frutas e levar ao bicho.

Mas se ele queria pêssegos teria que ajuda–la.

—Mais rápido, Syrax, não posso me atrasar! –mandou enquanto enchia os braços com a fruta.

Syrax obedecia com animação, teria fruta para dois dias, se Rhaella não comesse muito. A menina gostava tanto quanto ele. Em uma bocada recolhia três pêssegos e depois os soltava no cesto.

—Não as enfie toda na boca! –Rhaella ralhou ao perceber que as frutas que ele recolheu estavam molhadas –Não quero comer pêssegos babados.

Depois de mais algumas o cesto ficou cheio. E mesmo com a força feérica, Rhaella sabia que iria soar para leva–los para cima. Sua mãe ralharia por um longo tempo.

—Acho que é o suficiente. Não é? –Rhaella se ajoelhou na frente dele e bagunçou seus pelos. – Seu gato bobo!

O felino lembeu seu nariz. Agradecido por ela ter feito sua vontade mesmo que significasse se atrasar.

—Eu nunca vi alguém ficar tão perto desses e não ser devorada no segundo depois –A voz grossa de alguém fez Rhaella cambalear pra trás.

A primeira coisa que notou foi assas. E não só um par, dois pares. Dois machos.

O primeiro, que estava mais próximo, tinha cabelo longo e um corpo musculoso, que mesmo sob o couro negro marcava cada musculo de seu braço, até mesmo o tanquinho se sobressaia. E sifões vermelhos brilhantes. Rhaella não conseguiu desviar os olhos das pedras brilhantes, maiores do que as usadas pelas sarcedotisas. E não só duas, como era costume dos illyrianos.

Mas sete. Sete!

—Você é um... –Balbuciou Rhaella –Um...

—Macho incrivelmente lindo? –sugeriu lhe dando um sorriso charmoso.

—Um morcego gigante e convencido –Rhaella levantou, mesmo que sua altura sequer chegasse ao peito dele não queria apresentar ser inferior.

Mesmo que o macho a fizesse suas pernas tremerem.

—Eu não conseguiria descrevê–lo melhor –O macho que estava mais afastado deu uma risada fraca.

O outro, também moreno, era um pouco menor do que seu parceiro. Os cabelos negros curtos e mesmo que fosse magro ainda possua músculos definidos. E sifões azuis. Sete.

Mas neste o que assustou Rhaella foi a sombra que tinha em seu pescoço. Uma fumaça densa que se mexia em direção a sua orelha.

—Nunca te vi na corte –disse o do sifões vermelhos. Olhando Rhaella de cima a baixo. –E olha que você não seria uma presença a ser ignorada.

—É Rhaella –respondeu o outro macho –A irmã mais nova de Mor.

A menina engoliu seco. Finalmente o reconhecimento chegando em sua mente. Illyrianos não apreciam na corte, exceto dois. Os amigos do Grão–Senhor. Tentou lembrar seus nomes... Cassian e o mestre das sombras – droga, seu pai vivia xingando ambos –Edriel, Samuel...

—Nossa, e eu pensava que Morrigan era a fêmea mais bonita que existia em Prythian! –Cassian soltou um assobio. –Deve ser por isso que ela nunca te apresentou pra gente.

Rhaella iria responder que era ela que não queria conhece–los quando escutou um rosnado alto em seus pés. Syrax olhava para os machos com uma fúria predatória que estremeceu Rhaella.

Talvez ele tenha sentido suas pernas tremulas e tenha identificado que os dois machos eram uma ameaça.

E eram, pelas histórias que o pai contou e pelo que ela mesmo leu dos illyrianos.

Mas não deixaria que seu animal fosse morto por atacar os amigos do Grão–Senhor. E duvidou que Cassian não pudesse enfrenta–lo com todos aqueles músculos.

—Syrax –Rhaella tocou no dorso do animal, o acariciando. –Está tudo bem. Eles não vão me machucar.

Sentiu o felino acamar–se aos poucos com seu toque, ainda sim não retirou os olhos dos machos. Quando Syrax escondeu os dentes, Rhaella suspirou aliviada que ele tenha escolhido acreditar nela. Rhaella ergueu os olhos aos illyrianos. Cassian não se mexeu nenhum centímetro, mas o outro que ela não conseguia lembrar o nome se aproximou deles, com os olhos focados no animal.

—Ele só quer me defender – justiçou a garota, pra que eles não corressem até Rhysand e contassem o que Syrax fez.

—É um animal exótico pra uma lady –comentou o do sifões azuis.

—E perigoso –Cassian olhou para Rhaella com preocupação. –Animais como esse não são fáceis de domesticar.

—E machos como você deveriam se meter com o que é da sua conta –Rhaella se posicionou a frente de Syrax. –Não pode vir a minha casa e falar mal do meu amigo!

—Amigo? –falou o sem nome.

—Sim –Rhaella insistiu. –Ele é educado e dócil. Ao contrário de illyrianos que dão palpites sem sequer dizer quem são.

—Sou Cassian – O mais alto apontou para o outro. –E este é Azriel.

Hum, ela sabia que terminava com "el". Em resposta Rhaella fez uma pequena mensura.

—O Grão–Senhor encontra–se dentro do castelo –Ela explicou apontando para o grotesco edifício negro. –Agora batam suas assas até lá e nos deixe em paz.

—Vemos Rhys a todo momento, já você é uma novidade –O sorriso de Cassian foi de pura arrogância.

Rhaella fechou os punhos. Não tinha nenhuma força contra ele, mas não conseguia evitar querer tirar seus dentes da frente com um soco.

—Vamos, Cassian –Azriel falou calmamente. –A menina estava em paz antes da nossa chegada.

—Que tal Rhaella nos levar até Rhys? –Cassian sugeriu ao companheiro. –Nós nunca sabemos como é andar pelo castelo.

Azriel bufou. Sabendo que não adiantava sugerir outra coisa, quando Cassian insistia em um assunto não havia nada que o fizesse mudar de ideia.

E Rhaella não poderia negar o pedido. Eram amigos de Rhysand e ela filha de Keir. Ele comandava a cidade escadala, era imediado de Rhysand. Não gostaria de saber que Rhaella foi malcriada com um dos convidados, mesmo que estivesse sob ordem de nunca se aproximar deles...

Ponderou por um momento até finalmente dizer:

—Sigam–me.

Rhaella passou a andar na frente, sem conferir se a seguiam não. Mas pode escutar o farfalhar das asas e suas sombras aladas a assustavam enquanto se dirigiam para o castelo. Syrax ia ao seu lado, silencioso e atento. O mínimo de passo em falso e a pantera enfiaria seus dentes sem piedade.

Estava um pouco mais lerda por causa do cesto. Quase tropeçou em uma pedra e derrubou as frutas. No segundo depois estava o encantador de sombras ao seu lado, recolhendo o cesto de suas mãos com apenas uma mão e a outra a ajudando se estabilizar.

Rhaella olhou naqueles olhos avelãs. Ele era um macho bonito. Uma agitação ocorreu no estomago de Rhaella.

Que logo foi tirada do topor quando Syrax rosnou para Azriel.

—Syrax, ele não vai roubar nossos pêssegos!

O animal rosnou pra ela.

—Tudo bem, seus pêssegos –Ela ergueu a mão, rendida. –Mas da próxima vez irá pega–los sozinho já que é tão egoísta.

—Sua alimentação é a base de frutas? –Azriel questionou. Pegando um pêssego do cesto e oferendo ao animal.

Syrax aceitou, e pela atitude do macho ficou menos defensivo quando voltou a andar.

—Ele come carne –Rhaella justificou, os três voltaram a andar. –Mas no jantar.

—Pense no que pode fazer se sentir fome em outro horário –Cassian sussurrou encarando a pantera.

—Ele não é um selvagem! –Rhaella defendeu. –Pare de sugerir que Syrax é perigoso.

—Só temo por você, Rhaella – a voz de Cassian era mansa. –O que faria se ele ficasse com fome e decidisse te tornar o almoço?

—Bem... –Rhaella pensou na resposta. Claro que não teria força física para enfrenta Syrax. O animal era pesado, mal conseguia sustenta-lo sob duas patas quando se recusava a sair de cima de seus sapatos. E seus dentes causavam vermelhidão em sua pele quando brincavam de morder. Se ele decidisse ataca-la seria inútil até mesmo correr. –Eu acho que viraria seu almoço.

Os machos riram atrás dela e ela acabou rindo também. Era um fim hipotético e Syrax nunca faria tal coisa.

—Por que nunca a vi em um baile? –questionou Cassian atravessando o portão do leste.

—Não gosto de bailes.

—É mentira –Rhaella olhou em direção a Azriel. –Minhas sombras detectam mentiras.

—Eu não... –Rhaella pensou melhor no que iria dizer. Se o que Azriel disse era verdade não adiantaria inventar desculpas. –Eu sou proibida de comparecer quando há visitantes.

—Keir quer te manter distante de nós? –Cassian exibiu uma fileira de dentes brancos.

Rhaella não podia mentir e dizer a verdade talvez os insultaria. Preferiu caminhar quieta.

—Aquele merda realmente te proibiu de falar com a gente? – insistiu Cassian alterado.

—Não fale assim – pediu Azriel tocando no ombro de Cassian. –É pai dela.

—É um verme que já passou muito tempo nessa terra –Cassian rebateu. –Depois do que ele fez com Mor, Rhys deveria pulveriza–lo.

Rhaella estremeceu. Não morria de amores pelo pai, mas ele era sua família. Pelo que Keir contava Cassian era o responsável pela queda de Morrigan e sua irmã mais velha era responsável pela vida de prisioneira que Rhaella levava. Rhaella não sabia qual lado estava certo, só sabia que ela sofria há dezoito anos por erros que não cometeu.

—Cassian – o tom de Azriel ficou mais grutal e perigoso, Rhaella deu uma espiada por cima dos ombros. –Tenha respeito. Guarde suas opiniões para si quando faz questão que Rhaella seja educada o suficiente para nos guiar.

Azriel percebeu o olhar de Rhaella grato de Rhaella. Ele retribuiu com um sorriso discreto.

Voltaram a andar em silencio até que um grito ecoou pelo castelo. Quando Rhaella virou–se viu que Syrax passou entre as pernas de Cassian. O susto do homem foi tão grande que se desiquilibrou e caiu diretamente de bunda no chão.

Azriel poderia ter ajudado, mas preferiu ver o irmão cair com medo do felino.

Rhaella tentou prender a risada nos lábios para não ofender o macho. Sabia que a espécie illyriana era orgulhosa demais para permitir ser motivo de chacota.

—Relaxe, ele é só um gatinho –Rhaella abaixou na frente do animal e acariciou sua garganta.

—Uma mordida desse monstro é capaz de arrancar um pedaço das minhas asas – ralhou Cassian.

—Talvez... –Rhaella deu um sorriso macabro. –Quer descobrir?

—Isso seria interessante – comentou Azriel olhando para os dentes do felino quando Syrax bocejou.

Já era crepúsculo, significava que o felino estava na hora de sua soneca. E agora que Syrax fizera Cassian tremer certamente tentaria a gracinha de novo.

—Vá, Syrax –Rhaella colocou dois pêssegos na boca do felino. –Levo os pêssegos pra você daqui a pouco.

O animal olhou para os machos, e trocou um longo olhar com Cassian, depois olhou pra ela.

—Eu ficarei bem –Rhaella falou entre dentes. As vezes era como se Syrax a mandasse, não o contrario–Eles não vão me machucar.

Syrax ficou dividido por um tempo, até que bocejou de novo e decidiu que era melhor ter seu descanso.

—Há quanto tempo o tem? –Azriel questionou.

—Desde os cinco anos –Rhaella achou interessante que Azriel tenha se interessado por isso. –Por que a pergunta?

—Apesar de ser um animal conhecido por ser solitário seu "Syrax" tem uma afeição forte por você.

—Como disse, ele é meu amigo –Rhaella deu ombros. –E somos solitários juntos aqui.

A última parte era pessoal demais. Rhaella arrependeu–se do que no mesmo instante. Arrumou sua postura e prosseguiu com a caminhada. Faltava alguns passos para chegarem a câmara de reuniões.

O caminho que Rhaella fazia era pelas rampas de carga. Como andava com dois illyrianos e as escadas eram estreitas, preferiu ir pelo caminho que os distanciavam.

Uma parte dela teve vontade de pedir que simplesmente voassem com ela até em cima. Seria maravilhoso sentir a brisa em seus rostos.

—Rhaella! – animou–se Verum. –É sempre uma maravilha ver você.

O macho a segurou pelos ombros, e depositou um beijo de cada lado em suas bochechas.

Verum, um dos amigos do pai. Quase tão velho quanto Keir e igualmente temido. Pertencia a terceira família poderosa da cidade escavada... E gostava muito de tocar em Rhaella.

Rhaella respirou fundo. Precisava ser educada.

—Lorde Verum –Rhaella fez uma rápida mesura. –Ira ao baile de Amarantha hoje?

—Claro que sim, querida, deve ser o evento do ano –Verum passou seus dedos no braço de Rhaella.

A menina se encolheu e apertou mais os lábios.

—Seu pai espera que encontre um marido neste baile –Verum lembeu os lábios, como se estivesse se preparando para uma deliciosa refeição. –Torço que não. Quem sabe depois de ver os patéticos Grão–Senhores não se decepcione e procura algo mais interessante na corte noturna.

Rhaella não soube o que responder. Não poderia ser rude, e não poderia concordar. Todos naquela corte adorariam espalhas fofocas sobre a filha mais nova de Keir. E Mor já criara um caso suficiente para família.

—Será uma pena perder um rosto tão belo –Verum ergueu o rosto dela com as pontas dos dedos –Mesmo que seja apenas para vê–lo.

Rhaella só pode sorrir tão falsamente que suas bochechas doeram. Suas mãos apertaram seu vestido para conter a fúria e empurrar o macho pra longe.

Infelizmente não podia e tolerou até que o macho se entediasse com seu silencio e a deixasse com os illyrianos.

Quando olhou para Cassian e Azriel percebeu que ambos não respiravam direito. Rhaella tinha quase certeza que se não fosse por Verum pertencer a uma das famílias mais ricas da Cidade Escavada certamente não teriam permitido que o macho fosse embora ileso.

E aquilo lhe causou espanto. Pensou que illyrianos se comportassem tão mal quanto os membros de sua corte.

—Como permite que ele o toque assim? –Cassian disparou, seus olhos brilhando de fúria.

—Eu... –Rhaella estranhou a reação. –Os machos tendem a me tocar deste jeito.

—E você permite todas vezes? –Azriel ergueu uma sobrancelha.

—Claro que não! –Rhaella ficou vermelha. Ele pensava que ela era promiscua?

—Então porquê...

—É amigo da família –justificou. –E papai me disse que não devo levantar a voz para machos da Cidade Escavada.

Cassian e Azriel seguraram suas respirações. Rhaella não compreendeu o espanto. As outras recebiam um tratamento ainda pior do que o dela. Ninguém no lugar forçou algo mais do que toques pois todos sabiam que ela estava guardada pra algo maior. As outras garotas não tinham tais obstinações.

—Seu pai...

—Está errado –Azriel interrompeu antes que Cassian soltasse sua chuva de palavrões. –Você não tem que aceitar essas situações. Se não quiser ser tocada, precisa lutar contra isso. Pode contar a Rhys...

—Não posso –Rhaella negou. –Por favor mantenha este assunto longe do Grão–Senhor. Meu pai ficaria furioso.

E me tranca na torre por um mês quando faço algo errado, acrescentou mentalmente.

Os machos não concordaram com ela, os olhares diziam isso. Mas Rhaella ignorou a censura e continuou a leva–los.

Suspirou aliviada quando finalmente passaram pela porta da sala de reunião.

E todo seu alivio foi apagado quando encontrou seu pai conversando com Rhysand.

—Rhaella –O pai foi tão frio que Rhaella parecia ser a pessoa que Keir mais odeia no mundo, até mesmo acima de Rhysand.

Bem no momento ela era merecedora desse ódio já que estava ali com o par de illyrianos que esteve a vida toda proibida de conhecer.

—Papai. –Rhaella abaixou a cabeça e falou mais baixo –Grão–Senhor, eu encontrei com seus amigos. Me pediram para trazer até o senhor.

—Apavoramos a garota –Azriel explicou, percebendo o embaraço da garota –Ela foi gentil demais em não recusar perder tempo com a gente.

—E ameaçou ordenar aquele felino diabólico arrancar um pedaço de nossas assas caso conversasse com ela –Cassian sorriu para Rhys.

O Grão–Senhor não riu, mas seus olhos brilharam em diversão.

Era o que ela deveria ter feito, pensava o pai dela.

—Deve se orgulhar de sua filha ser tão educada, Keir –Rhysand deu um sorriso falso ao pai da menina.

—Claro –Keir retribuiu o sorriso. –Ela está sendo destinada a ser uma Senhora.

Senhora, o grande posto cobiçado. A esposa de um Grão-Senhor. 

Que mérito ser reconhecida por pertencer a alguém, pensou Rhaella. 

—Papai – sussurrou ao homem ansiosa –Peço permissão para ir me arrumar.

—Vá –Keir sacudiu as mãos. –Precisa ficar divina para esta noite.

—Irei espera–la no salão –Rhysand anunciou antes que ela saísse. –As onze está bom pra você?

—Sim, Grão–Senhor –Rhaella fez uma mesura. –Adeus, Cassian e Azriel.

Cassian balançou as mãos no ar enquanto Azriel acenou com a cabeça. Rhaella lamentou um pouco quando os olhos. Não teria outra oportunidade de ver os illyrianos caso Rhysand decidisse puni–la pelo que fez a Padma, ou se algo ainda pior acontecesse: se ele a perdoasse e ela fosse obrigada a encontrar um Grão–Senhor para casar.

Sua lamentação era que os machos foram mais gentis que qualquer membro de sua corte.

E queria provocar Cassian com Syrax mais uma vez.

Mas não. Aquela noite definiria o resto de sua vida imortal, e tinha completa certeza que os illyrianos não estariam nela.

(...)

Rhaella olhava através da janela de seu quarto o lugar que deveria considerar sua casa. O sol já havia desaparecido e a vida começava a aparecer na cidade escavada. Tudo ali era tratado a noite, as festas, as conversas, até mesmo as feiras. Qualquer membro da cidade escavada era encantado pela escuridão daquele lugar.

Exceto Rhaella.

Ali na janela, recebeu alguns olhares curiosos. E outros... Ela estremeceu levemente.

Rhaella sabia que eles a odiavam. Tanto quanto odiavam Rhysand.

No caso do primo sua descendência metade illyriana era culpada pelo preconceito que o povo da Cidades Escavada erraizava no coração. Em um todo Rhysand não era um Grão-Senhor ruim. A cidade escavada andava sozinha, sem grande interferências. Nos livros sobre as cortes percebeu que Rhys não alterou as leis antigas, e nem parecia se importar com isso. Rhaella desejava que ele ao.menos tivesse se importado em retirar o direito doa pais de escolherem os maridos para as filhas. Uma lei que em cinco minutos ele poderia ter decretado, e que mudaria a vida toda de Rhaella.

Era essa o ódio que sentia pelo primo. Todo as bobagens preconceituosas que a cidade escavada podia murmurar não a importavam.

Agora o motivo de ódio a Rhaella era a mais jocosa inveja. De sua vida privilegiada, de se manter tão distante do resto deles. Pensavam que ela se considerava melhor.

Quando a verdade era todo oposto.

Ela não pertencia aquele lugar. Odiava a escuridão, odiava dormir durante o dia para aproveitar só a noite. Odiava os bailes e principalmente ter que parecer limpa, bela e pura o tempo todo.

Tudo que queria era um casebre em uma floresta, com um campo de pêssegos para Syrax se esbaldar. Talvez perto de um templo onde conseguisse rezar a Mãe... Uma vida simples.

A vida que eles tinham.

Não ser tratada como uma égua premiada pela própria família.

—Essa pode ser a última vez que admira sua corte –Athenais tocou no ombro da filha e inspirou o ar noturno -Com sorte, um Grão-Senhor ficará arrebatado por você e não a deixará sequer voltar.

Claro. Toda a vida de Rhaella se resumia a isso.

—Isso é tudo que eu mais quero – mentiu para agradar a mãe.

—Minha bela menina –Athenais acariciou as madeixas da filha -Quando nasceu seu pai lamentou tanto. Não desejamos outra menina. Mas o Caldeirão traça o nosso destino de forma inesperada. Será você quem trata orgulho a nossa vida. Que será a estrela mais brilhante que pisou nessa corte.

—E eu só consigo ser assim através do casamento? –Rhaella olhou pra mãe com atenção.

—O que quer dizer com isso?

—Houveram outras fêmeas, mamães –Rhaella queria que ela entendesse que sua salvação não estava em um casamento. Havia fêmeas de mulheres incríveis que Rhaella achava terrível que suas historias não fosse espalhada pra todos. -Tão magníficas! Valquírias, e Myrian...

—Pare –A mãe agarrou seus ombros. Os olhos castanhos a encarou com seriedade -Não vai nos decepcionar como sua irmã, certo?

Um tremor percorreu por seu corpo. A falha de Mor,tudo que ela não pode ser.

—Não, mamãe. Nunca –Garantiu, engolindo toda empolgação e esperança de que a mãe poderia compreender.

—Boa menina –Athenais beijou sua testa -Sempre uma boa menina.

(...)

—Ainda não gosto que vá sozinho – insistiu Cassian.

Cassian, Azriel e Mor tentavam convencer Rhys a não ir para o baile de Amarantha, ou se fosse, levasse um dos três. Amarantha poderia ter convencido a todos em Prythian que era uma Grã–Feérica buscando por amizade naquela Terra, disposta a ignorar que 500 anos atrás lutaram de lado opostos em uma guerra.

Nem por um segundo o Círculo interno confiou que ela estava disposta a tal mudança. Um plano sombrio estava sendo tramado e precisavam saber qual.

Por isso Rhys se arriscava muito indo sozinho ao baile daquela noite.

—Não gosto quando invade minhas adegas e acaba com meu vindo, ainda sim o faz irmão –Rhys sorriu para o illyriano.

—Não haverá aliados lá –lembrou Mor –Só membros da corte noturna e das outras cortes. Entendo que não possa levar ninguém de –Como estavam proibidos de falarem daquele lugar Mor não o nomeou –Mas deveria levar alguns illyrianos. Soldados que possam te proteger caso alguma coisa dê errada.

—O que é bem possível já que todos os Grão–Senhores estarão juntos – complementou Azriel com seu humor sombrio.

—Estão me subestimando –Rhys revirou os olhos. –Não parece que sou um Grão-feérico há quinhentos anos, e sim uma princesa virginal que mal pode se proteger.

—Falando em princesa virginal, se puder, fique de olho em Rhaella está bem? – pediu Mor mordendo o lábio inferior.

—Ainda a acho muito jovem para lidar com esse tipo de situação –Azriel comentou.

—Ela deixou escapar que Keir a proibiu de falar conosco –Cassian contou.

—E só o Caldeirão sabe as histórias mentirosas que Keir colocou na cabeça da menina –Rhys lamentou. –Cuidarei dela, Mor. Dou a minha palavra que nada ruim acontecerá com a sua irmã.

—Queria ter um tempo com ela –Mor abaixou a cabeça. –Explicar que uma fêmea não é só um meio de reprodução, que devemos ser ouvidas... Duvido que meu pai tenha dado qualquer escolha sobre hoje.

—Terão essa oportunidade –Rhys tocou no ombro da prima. –Talvez conhecendo os Grão–Senhores fique tão decepcionada que mude o pensamento por ela mesma. Conheço três ou quatro que são tão enfadonhos que nenhuma femea se interessaria.

—Está incluído nessa lista, Rhysinho? –provocou Cassian.

—Sabe muito bem que de todos os Grãos-Senhores devo ser o único interessante o suficiente para conhecer –Rhys sorriu arrogantemente ao amigo. –A começar pelas companhias que escolho.

—Talvez você devesse casar com Rhaella – sugeriu Azriel vagamente. –Certamente o herdeiro seria um deus.

—Nunca pensarei em Rhaella dessa forma –Rhys estremeceu. –Ela é uma criança, pelo Caldeirão!

—Mor tinha a idade dela quando nós...

—Cassian, não termine isso –pediu Mor erguendo as mãos. –Lembre-se Rhys, não deixe ela próxima de Helion. Duvido que aquele ali perca tempo pensando em se casar.

—Então as opções ficaram ainda mais limitadas –Rhys respondeu.

Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa uma presença foi sentida por todos. E um brilho iluminado acendeu no salão da corte noturna.

Destoando de todo o resto, Rhaella estava tão brilhante quanto uma estrela. O vestido branco destacava algumas partes sedutoras de seu corpo, como as pernas e os bustos, mas escondia todo o resto. A cintura bem marcada razia um cinto com o estigma de sua família e sapatos de salto médio a deixavam quase tão alta quanto Mor.

A imagem de uma deusa. Todos na sala tinham a certeza que Rhaella era a fêmea mais bela de todo território feérico. 

—Perdão, não queria interromper –Rhaella olhou para todos com medo.

—Não está interrompendo –Rhys a acalmou com um sorriso –É a fêmea mais pontual que conheço.

—Ei! –Mor olhou feio para o primo –É você quem demora pra se arrumar, Sr. Perfeição.

—Está linda –Azriel sorriu contido para a garota.

—Obrigada –Rhaella corou levemente. Recebia muitos elogios pela corte, mas o de Azriel realmente a afetou.

—Prefiro sua versão de hoje à tarde –Cassian torceu o nariz –Está parecendo um presente embalado.

—Por que não as cores da Corte Noturna? –Mor achou curioso a escolha do vestido branco. A família delas sempre se vestia a caráter da corte noturna: vinho, cinza, e muito preto.

—Meu pai não quis... –Rhaella mordeu o lábio, procurando uma desculpa. Quando cruzou seu olhar com Azriel percebeu que o macho saberia caso mentisse. –Não quis que me associassem a companheira de Rhysand.

—Uma lontra ardilosa –Rhys assentiu lentamente. Claro que de todos os Grão-Senhores o único que Rhaella não podia se interessar era Rhys. Keir morreria se outra filha se aliasse ao que ele considera "bastardo illyriano" –Pronta?

Rhaella concordou com a cabeça e em passos elegantes foi até ele.

—Com quem seu animal vai ficar hoje? –Cassian provocou.

—Ele está solto. Tome cuidado com suas assas –Rhaella deu uma piscadela.

Rhys e Azriel riram baixinho enquanto Mor ficou de boca aberta. Mor nunca vira Rhaella parecer tão jovial, nem mesmo provocar alguém. A menina nunca saia de sua torre, não era próxima de ninguém na corte e a única companhia era a governanta rabugenta Padma ou sua pantera negra Syrax. Apesar de recente a interação de Rhaella e Cassian fez com que a menina sentisse a vontade com o macho.

Uma pontada de dor surgiu na grã–feérica. Ela queria que a irmã a tratasse desse jeito.

Rhys ofereceu seu braço e a garota segurou. Por não possuir poderes Rhaella não conseguiria atravessar até o local do baile. Sentiu–se desconfortável em ficar tão próxima a Rhys, mas disfarçou o máximo que pode.

—Tenha cuidado –Mor pediu olhando nos olhos de sua família –Os dois.

—É um baile, não uma guerra –Rhaella revirou os olhos, sabia que Mor era bem mais velha que ela, mas Rhaella não era exatamente uma criança.

Sua menarca já tinha vindo!

—Rhys, espere –Mor pediu pegando a mão de Rhaella e a arrastando para um canto da sala.

Sabia que os três machos enxeridos ouviriam tudo, mas queria ter ao menos a sensação de privacidade.

—O que foi? –Rhaella olhou desconfiada para irmã.

—Escute –Mor pediu apertando suas mãos –Sei que Keir proibiu nosso contato. Sinto muito por não ter insistido mais.

—Está tudo bem –Rhaella fingiu um sorriso.

—Preste atenção –Mor agarrou o rosto dela com duas mãos, obrigando–a olhar os olhos castanhos de Mor –Há mais opções do que se tornar esposa de alguém. Não apresse as coisas. Talvez queira esperar até a chance de encontrar um parceiro...

—O que? –Rhaella se afastou, ofendida. –Acha que eu tenho opção de falhar? Pelo que você fez não me resta escolha alguma a não ser me casar! Só posso escolher quem porque nasci insignificante demais pra ser considerada valiosa. Sou atormentada pelo seu erro! –A garota apontou para a loira –Não quero conselhos seus. Nem agora. Nem nunca.

Deu as costas a Mor e voltou ao lado de Rhysand. Gostaria de ter ido com alguém diferente, mas os membros da corte que compareceriam ao baile já estavam lá. Foi Rhysand que escolheu chegar tarde.

—Vamos –Rhaella apertou o braço do Grão–Senhor e fez questão de ignorar as outras pessoas que estavam presente.

Eles não importavam. Mor não importava. Aquela noite decidiria seu futuro, e era apenas nisso que iria se concentrar. 

 


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