Corte de Estrelas e Tormento escrita por Black Sweet Heart


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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—Por favor – pediu a Mãe, ao Cadeirão. A alguma força maior que a escutasse. A alguém –Tire-os de mim. Eu não posso ter esses poderes. Eu nunca quis... –Uma lagrima fria escorreu por sua bochecha. –O que meu pai fará se descobrir que eu os tenho...

Tremor percorreu por seu corpo.

Quando se jogou naquele poço estava pronta para encarar o caminho da morte. Preparara a si mesma para dor, para a loucura de se afogar. Por isso uma pedra pesada estava no pescoço. Por mais que o corpo quisesse lutar para respirar, ela sabia que depois da luta sentiria o alivio de partir.

Então não hesitou em jogar a pedra, não lutou quando seu corpo foi lançado nas profundezas. E assim que sentiu a necessidade de respirar lutou contra ela o máximo que pode. Depois de alguns minutos, que para ela foram horas de tortura, sentiu sua força esvaindo e o descanso... Sua mente até mesmo parecia descansar enquanto seu corpo era tomado pela agua.

Até que começou a brilhar. E erguendo a mão percebeu que não era agua que a invadia.

Brilhava, seus dedos brilhavam. E o brilho de alastrou pelo braço, pelos ombros, o tronco. Ela toda. E o fogo invadiu-a por completo. Rhaella encolheu-se, a dor em todo lugar, muito pior do que enfrentava quando a água invadia seus pulmões. Seu coração era apertado pela força invasora, e o movimento de seu corpo era tomado. Ela não tinha controle. Ela só sentia a dor e gritava em sua mente.

A corda que a deixava no fundo arrebentou, a luz passou por seus olhos.  Não sabia onde estava. Não sabia quem era.

De repente tudo passou a mudar, o corpo levitava entre a agua. Depois sobre ela. E assim para fora do posso. Quando alcançou o ar era como se o sol iluminasse a clareira.

O sol era ela. O brilho...

Antes de Rhaella dizer qualquer coisa ela desabou, rolando através das silenes campenses.  

Só parou quando o brilho apagou por completo. Rhaella deitou virada para o céu. Olhando para as estrelas, suas amigas e cúmplices. Aquelas a quem sempre pedia e nunca tivera um retorno.

Uma ventania forte beijou seu rosto. Ela sabia que não era natural, que era uma mensagem. Sua salvação fora uma mensagem.

A Mãe. A Mãe não a deixou morrer.

E quando Rhaella olhou para as mãos novamente. Sentindo os olhos cheios de lagrimas ao perceber que tinha controle sobre o corpo de novo, avistou uma bola de energia brilhante. O qual ela podia jurar que se parecia com as pequenas bolas no céu.

Em um ato impensável ela bateu com a mão no chão, para apagar o que quer que fosse aquilo.

A bola pareceu correr pela terra, iluminando o caminho até chegar no poço. A estrutura ao redor, mais velha que os pais dela, deu uma estremecida e uma rachadura

A Mãe não só lhe devolveu a vida como também lhe deu poderes.

E ela não sentia-se grata por receber nenhum dos dois.

—Por favor –Choramingou mais uma vez. –Por favor me leve até me você.

Rhaella não encontraria felicidade naquele mundo. Era a verdade antes mesmo de nascer. Uma mulher, nascida de Keir e Athemaris, criada na Cidade Escavada e vinda depois do “crime de Morrigan”. Ela não teria nenhuma chance contra o destino que o pai a impôs desde de seu primeiro sopro fora da barriga da mãe.

Por isso não queria mais viver aquela vida. Não tinha forças para enfrentar o pai. E se dando esses poderes a Mãe pensou que inspiraria a viver, uma chance de lutar contra Keir e seu secto, a deusa daquele mundo estava terrivelmente enganada.

Ter aquela energia nas veias só causava-lhe um desespero tão grande que se encontrasse qualquer faca enterraria em seu coração.

—Tenha piedade –Rhaella praticamente deitou no chão, apoiando a testa no mármore gelado. –Não me condene a uma vida de pesadelos.

Pois já não aguentava naquele mundo que sobrevivia. A Corte de Pesadelos.

Ela nunca consideraria a Corte dos Pesadelos como sua casa. Mesmo que tenha nascido ali, mesmo que seja o único lugar que um dia conheceu, ela não pertencia aquele lugar. Era a certeza que guardava em seu coração; o segredo que não tinha coragem de sussurrar em voz alta, nem mesmo ali. 

Afinal era filha de Keir, o administrador do Grão Mestre na Cidade Escavada. E com a ausência do Grão mestre a Corte Noturna passava a ser comandada por seu pai. 

E ele a criou como a princesa daquele lugar. 

Desde nova Rhaella sabia o que esperavam dela, qual era seu dever. Sua missão. O pai exigia que ela sobressaísse a qualquer outra criança nascida de seu tempo. Deveria ser melhor em música, melhor em dança, melhor em caça e principalmente, como arma mais importante, Rhaella precisava ser bela. A beleza era o motivo de sua existência. Se não fosse bela o pai teria a jogado no mar logo em seus primeiros anos de nascimento. 

Então pela graça da Mãe, Rhaella nascera com o rosto que muitos diziam pertencer a uma deusa da beleza esquecida. Uma vez, em suas raras visitas a corte, o Grão Senhor Rhysand elogiou-a quando Keir a apresentou pela primeira vez. 

E de conhecimento que Rhysand era o homem mais bonito que já vira o elogio significou muito a Rhaella. 

Significou a aprovação total de Keir a menina. 

E a grande benção de Rhaella era ter o mais belo rosto da Corte Noturna sua maldição era não ter nenhum poder. Quase como uma humana patética, caçoada Keir nos jantares.

Apesar de no fundo saber que o pai era grato por ela não possuir nenhum. Se não fosse assim ela teria se rebelado como Mor e Keir não superava a vergonha que a filha dela mesmo depois de anos. Se falhasse com duas seria terrível ao homem.

Por isso tratou Rhaella melhor do que a irmã mais velha. A mimava com ricos vestidos e joias. Qualquer pedido, dentro do aceitável, era executado na mesma hora.

Aos olhos de todos Rhaella era a menininha do papai.

Até que sangrasse e torna-se mulher.

Esse fato Rhaella remediou até onde pode. Como sempre fora uma presença constante no templo a menina conhecia muitos das sacerdotisas. Quando sentiu o corpo mudar aos dezessete anos, o corpo anunciando que se preparava para carregar alguém, Rhaella procurou a Grã-Sacerdotisa do templo e implorou de joelhos por ajuda.

Todos sabiam o que significaria quando sangrasse. Principalmente para a filha de Keir.

Levou algumas semanas até a Grã-Sacerdotisa conseguir uma poção que adiasse seu ciclo. E cada dia que não tinha a resposta sobre ele Rhaella sentia que enlouqueceria.

Depois de toma-lo Rhaella deu sua coroa favorita ao templo. Para que a Mãe compreendesse o tamanho de sua gratidão. Para que a Deusa sentisse que Rhaella a amava profundamente por cuidar dela naquele lugar putrificado por leis que quebravam qualquer uma que tivesse azar de ser fêmea.  

Tinha outras meninas na Cidade Escavada, meninas que Rhaella nunca fora autorizada a conversar, mas que entre os olhares que podiam dar uma as outras sabiam dos terrores que passavam. Uma cumplicidade no sofrimento era o que compartilhavam.

Quando estava pronta para implorar mais uma vez Rhaella sentiu dedos ossudos em seu ombro direito, a puxando para cima.

—Garotinha tola! –ralhou Padma, chacoalhando Rhaella. –Chega destas tolices. Precisamos voltar.

Padma, a governanta da Cidade Escavada, delegada para cuidar da educação de Rhaella. Ou melhor, para vigiar seus passos.

A fêmea já possuía cabelos brancos e pele enrugada, uma mensagem de que era mais velha do que os pais de Rhaella. A velha não a acompanhava há todo momento. Os pais de Rhaella confiavam que a boa educação que a deram afastasse a menina de qualquer problema. Também a ameaça que pairava caso saísse da linha.

Mas em muitos momentos lá estava Padma, com sua pele enrugada, cabeço raro e mãos que adoravam bater em Rhaella. Nos braços, nas costas, na nuca... Mas nunca no rosto.

O rosto era o lugar sagrado.

—Levante –A velha encarou-a com impaciência – Está quase na hora de seu sono. Deve manter-se intacta para o baile de amanhã.

Claro, o baile. Ninguém deixava esquecer deste evento. Fora treinada a vida toda para este momento. Quando o convite chegou Rhaella não estava cogitada para ir. Aos olhos do mundo ainda era uma criança, mesmo que aos dezoito anos seu sangue inexplicavelmente não tivesse chegado.

Sua mãe estava preocupada, depois do baile de Amarantha procurariam um curandeiro. Rhaella ficou aliviada pois mesmo que fosse obrigada a parar com a poção o baile já teria passado, sendo assim a caça de um marido também.

O que não contava era que Padma descobriria sua poção escondida dentro seu colchão. Ela jogou toda a poção na banheira, na frente de Rhaella.

Três dias depois o sangue veio, trazendo a dor insuportável em seu ventre e uma festa de seus pais fora de seu quarto. Enquanto ela chorava, musica animada soava dos salões.

Ela era uma mulher.

Uma mulher condenada.

Por isso a dois atrás tentou jogar-se no poço. E a mãe deu-lhe poderes no lugar, deixando-a ainda mais valiosa ao pai. Foi um castigo.

Sua vida era um castigo.

—Só mais um pouco – Pediu Rhaella juntando as mãos. O poder crepitava em sua pele como um arrepio. Nenhum terço dele tinha ido embora. –Por favor, só mais um pouco.

—Não seja tola –Padma a colocou de pé. Apesar de velha, a feérica não era nada frágil. –Não há mais nada para pedir ao Caldeirão. Possui tudo que qualquer fêmea pode querer. Possui beleza, dinheiro, uma posição que irá garantir um futuro ao lado de um Senhor grão feérico, ou algum de seus filhos.

Ela não tinha liberdade. Não tinha felicidade. Não tinha o direito de decidir quanto tempo poderia orar, dormir, comer ou viver. Era um pássaro enjaulado em uma gaiola de terror.

—Padma – choramingou.

—Vamos! –Padma, com sua paciência exaurida forçou o corpo da menina com sua mágica.

Ela saiu do templo, sabendo que Rhaella não conseguiria resistir ao encanto.

Rhaella seguiu, pois sabia que era doloroso lutar contra mágica. No entanto seu corpo quis resistir, era como se o poder que ganhou expulsasse a magia de Padma. Rhaella estava indo porque queria, agora se quisesse resistir conseguiria.

E assim ela o fez. Quando estava na entrada do templo Rhaella parou. Um sorriso surgiu em seus lábios. Ela conseguiu resistir!

—Padma, esqueci meu cristal. Me deixe... –Rhaella deu um passo para trás.

O cristal fora um presente que ganhou quando criança da Grã- Sacerdotisa. De todos da corte era Rhaella quem passava mais tempo ali, como sempre fora gentis com todas em um solstício, aos oito anos, Rhaella ganhou um cristal de oração das irmãs sacerdotisas. Ele avisava quando havia presença do mal. Foi o presente mais lindo que Rhaella ganhou.

Para sua infelicidade no castelo da Cidade Escavada aquele cristal brilhava o tempo todo.

—Menina tola, menina esquecida –Padma a olhou com raiva. Uma vara surgiu na mão na fêmea, e foi transgredida no braço de Rhaella. – Deixe-o lá. Irá perder para aprender a ser atenciosa. 

—Mas Padma... –Rhaella segurou o braço, a ardência começando no local que a velha bateu. Raiva silenciosa nasceu em seu coração.

O problema que agora ela poderia revidar.

—Eu vou buscar o meu cristal  –Sua voz saiu firme, como nunca foi antes.

—Vou ensinar como falar com... –Padma avançou até ela, com a vara pronta para agredi-la.

E Rhaella ergueu sua mão. Com o brilho transgredindo seus dedos.

Padma parou por um momento.

Rhaella não.

Estava cansada. De ser mandada, agredida, humilhada.

Lembrou de cada agressão, cada xingamento, cada tortura que aquelas mãos velhas a fez passar. E o poder tomou conta. Revidaria.

—Você nunca mais vai tocar em mim – sibilou Rhaella lançando a bola de energia na direção de Padma.

A energia não a incendiou como Rhaella esperava. No entanto foi para dentro do corpo da fêmea, para seu coração. A fêmea berrou, com indignação, com dor. Rhaella não soube definir, apenas sentiu a pulsação em sua mão, como se o coração de Padma estivesse em sua mão.

E Rhaella decidiu aperta-lo. Com a mão esquerda, Rhaella ergueu o corpo da Grão-Feérica, vendo o brilho preencher o corpo da mulher. Espandi-lo. Tinha que parar, tinha que parar.

Porém não queria.

Padma abriu a boca, para implorar, para xingar, e Rhaella impediu o movimento. O tempo de Padma acabou. Um sorriso surgiu aos lábios de Rhaella. Orgulhosa de si mesma por dar aquele fim.

E o que era o corpo de uma das fêmeas mais velha da Corte dos Pesadelos passou a ser uma poeira de brilho estrelar.

Rhaella assistiu cada pedacinho caindo na grama verde, até o ultimo brilhinho reluzir em seu pé.

E deu conta do que fez.

—Rhaella – uma voz a chamou.

Quando virou-se encontrou a Grã-Sacerdotisa com a mão tapando a boca, olhando para Rhaella com horror.

—O que fez? –Sussurrou a mulher encapuzada.

—Não sei –Aos poucos a compreensão chegava a mente de Rhaella, e o poder resfriava em suas veias. –Eu não queria...

—Precisamos chamar o Grão-Senhor.

—Não! –Rhaella negou com ódio. Aquele Senhor, o que a fazia tremer quando aparecia no castelo.

Ela tinha mais medo dele do que de seu pai. Ao menos sabia até que ponto Keir poderia tortura-la.

—Ele vai ajudá-la, menina – insistiu a Grã-Sacerdotisa. –Ninguém saberá o que fazer com você, a não ser ele.

—Eu não tinha – Rhaella negou com a cabeça. –Não tinha esse poder. Não o quero!

E a Grã-Sarcedotisa sabia disso. Foi ela quem ajudou Rhaella a vida toda.

—Mas a Mãe quer que seja assim –A fêmea acariciou o rosto atordoado de Rhaella. –Aceite o presente que a Mãe lhe deu, criança. Ela confia que fará o bem com ele.

Bem? Rhaella quis berrar. Tinha acabado de matar alguém. Como poderia ser boa?

—Me deixe – Rhaella murmurou. Precisaria ganhar tempo. –Eu falo com Rhysand. Direi tudo, prometo pela Mãe.

Tinha matado Padma. Mesmo que a velha fosse uma miserável cruel ainda sim era uma morte. Como que a Mãe confiaria que agiria bem? Ela era a droga de uma nascida da Cidade Escavada.

Procuraria Rhysand. Contaria o que fez a ele e então o príncipe da escuridão diria se merecia a morte ou então a mostraria o proposito daqueles poderes.

Rhaella torceu que ele lhe desse uma morte rápida e sem dor.


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Notas finais do capítulo

O nome da mãe de Rhaella e Mor é fictício.

Obrigada por lerem.



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