A estrela e o morango escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 1
Capítulo único - A estrela e o morango


Notas iniciais do capítulo

IMPORTANTE: Encontrei ambas as fanart (da capa e do capítulo) no Pinterest. Não consegui descobrir quem é o autor da fanart do capítulo. Mas peço que se alguém souber, por favor, me informe pra que eu possa dar os créditos ao artista aqui. Quem fez a da capa foi Karol Ann.

Tentando ser bem direta e sem cerimônia, eu achei o final de Game of Thrones espetacular perto do horror sem precedentes que foi o de Bleach, tanto pelos ships assustadoramente inconcebíveis quanto por problemas muito sérios que envolviam a Soul Society desde sempre e que não foram resolvidos ou trabalhados nem no fim da história. Ichigo dirá quais. Faz muitos anos que eu não acompanhava mais Bleach como antes, então fui finalmente ler o fim do mangá e pesquisar pra saber como ficou a história pra poder fazer essa one-shot. E também percebi que muitas das antigas fanfics de Bleach que fiz não estão aqui no Nyah e no AO3, devem ter ficado só no orkut mesmo na época. Em breve irei procurá-los e adicioná-las aqui. Não são boas como as que eu escrevo hoje, mas foram algumas das primeiras que fiz, meu ponto de partida como escritora. ♥ E mesmo assim ainda é divertido lê-las. Boa leitura, e espero que gostem.

Ps.: Pra fãs MUITO fãs mesmo, essa one-shot tem pequenas e discretas referências ao musical "No Clouds in The Blue Heavens", do Burimyu/Rock Musical Bleach (que eu nem sabia que teve remake, mas fui assistir e continuo preferindo o original, onde a Rukia era Miki Sato), à canção "Glow", interpretada por Mazakasu Morita e Fumiko Orikasa, dubladores de Ichigo e Rukia, e a uma antiga fanfic minha que não tá aqui, mas vou colocar assim que achá-la.



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A estrela e o morango

                Shinigamis e aliados, antes considerados inimigos, respiraram fundo finalmente após tantos dias de guerra. Um silêncio mortal pesava sobre aqueles parados diante do cenário de destruição na Sereitei, aguardando que suas mentes assimilassem que tudo havia acabado, ou talvez velando seus mortos, ou absorvendo a percepção do quão injusta toda a sociedade das almas sempre foi. Um sentimento conflitante perturbava Ichigo. Yhwach não estava tão errado, o jovem entendeu o que ele queria, que não era muito diferente do que Aizen queria. O próprio Ichigo confrontara Rukia muitas vezes quando se conheceram sobre certos protocolos contraditórios da Soul Society, e ele queria que as coisas mudassem, mas nunca por uma guerra, perseguições e derramamento de sangue. Isso já tinha acontecido vezes demais. Os quincies, os vizards, os fullbringers, os shinigamis substitutos, e os próprios hollows e moradores que viviam fora da Sereitei. Todos que pareciam não se encaixar, se atreviam a ter ideias diferentes, ou mesmo eram vítimas de experimentos criminosos, como os vizards. Isso tinha se tornado um consenso comum, sustentado principalmente por Yamamoto. Com o capitão morto, o que mudaria agora? Quem seria o novo comandante das 13 divisões?

                Despertando ao ver alguns dos presentes começarem a se mover, caminhando pelo local da batalha, Ichigo conseguiu trazer de volta preocupações mais íntimas e olhou para Rukia ao seu lado, percebendo que ela já estava olhando para ele. Sem mesmo pensar, começou a mover os dedos para oferecer a mão a ela, mas a tenente sequer esperou que o movimento se completasse para segurar a mão dele. Os dedos se entrelaçaram, num aperto firme e confortante para o alívio triste que sentiam agora. Olharam novamente para o cenário em volta, entre escombros e sangue espalhados, e depois para seus amigos ao lado. Todos feridos e cansados, mas vivos e inteiros. Chad, Uryu e Orihime sorriram para os dois, que retribuíram prontamente.

                À distância, Byakuya observava o casal, pensando que teriam tempo para conversar depois, e simultaneamente revisitando memórias antigas, distantes e doces, quando ainda não tinha Rukia em sua vida, e pensando no quanto teria sido gratificante conviver com as duas ao mesmo tempo. Nesse momento, a mesma gratidão que o inundou no dia que Ichigo impediu a execução de Rukia, voltou a toma-lo com ainda mais força. Olhou para Renji ao seu lado, também olhando na direção de Ichigo e Rukia com uma expressão que Byakuya não conseguiu decifrar, embora pudesse imaginar o que se passava na cabeça de seu tenente. No entanto, para sua surpresa, Renji sorriu, um sorriso de verdade, e caminhou na direção dos dois, colocando uma mão sobre o ombro de Ichigo, que o olhou e o cumprimentou de volta, também com um sorriso.

Anos atrás Buakuya mandara Renji à Karakura para acabar com aquilo, mas agora ele era parte daquele grupo, e parecia tão certo, como se sempre tivessem sido os melhores amigos. E por isso, o nobre respirou em paz. O vazio e todos os fragmentos quebrados do coração de Rukia e Renji no dia em que ela foi adotada estavam consertados, mas uma reflexão maior sobre suas questões pessoais também ficaria para mais tarde. Olhou em volta e viu Hitsugaya, preso num abraço com as tenentes Hinamori e Matsumoto, que não hesitava em brincar com a altura e a aparência infantil fofa do capitão, enquanto Momo permanecia em silêncio, ao ser abraçada de volta. O garoto prodígio lançou um olhar para Byakuya e o cumprimentou com um aceno da mão. Estavam vivos, era até difícil acreditar, mas estavam. Acenou de volta e caminhou na direção da irmã, esperando que ela mesma percebesse sua presença.

— Nii-sama... – ela arregalou os olhos e suspirou, parecendo surpresa e aliviada ao mesmo tempo, e virou-se para vê-lo, sem soltar a mão de Ichigo.

O ruivo sorriu para ele, o que muitas vezes antes poderia não passar de uma provocação, mas agora havia apenas alívio e boas sensações naquele sorriso. Byakuya conseguiu lhe dar um pequeno sorriso de volta, e não fez objeções quando Rukia o abraçou. Agindo como deveria ter agido por toda a vida dela, fechou os olhos e acolheu a irmã, finalmente sentindo que a guerra realmente havia acabado, e sentindo uma vontade repentina de presenteá-la com um daqueles coelhos de pelúcia esquisitos que ela tanto amava. Ele faria isso depois, quando as coisas se acalmassem.

— Cara... Quem diria... Não é que o seu capitão tem sentimentos? – Ichigo sussurrou para Renji, que apenas riu baixinho, enquanto Byakuya preferiu ignorar.

— O Bya-kun tem que manter sua pose de durão pra ser um bom capitão, mas no fundo ele sempre teve sentimentos.

Ainda no abraço, Rukia riu ao ouvir a provocação de Urahara e a respiração irritada do irmão, e finalmente se afastou dele para olhar os que começavam a chegar de outros pontos de batalha da Sereitei.

— Yoruichi sempre me diz “O Bya-bo não é mau como parece” – Urahara continuou a brincar com seu sorriso irônico inabalável, agora fazendo Ichigo e Renji rirem alto, até receberem um olhar de Byakuya e se calarem.

— É bom saber que você continua vivo, Kisuke – o nobre disse simplesmente a Urahara.

— Felizmente, Bya-kun – falou com a mesma alegria.

De repente todos se alarmaram ao som de algo ou alguém correndo e passos fortes pisando no chão. E só tiveram tempo de ver um borrão colorido antes de Ichigo ser atirado ao chão.

— ICHIGOOOOOOO!!!!!!!!

— AAAAAAIII!!!

Quando a poeira baixou, todos puderam ver Nelliel em cima do ruivo, o abraçando como se não o visse há mil anos.

— Nell, eu tô todo quebrado, pelo menos avisa quando for fazer isso!

— Posso curar você com...

— Não! Não precisa! – Ele disse imediatamente, não querendo ser coberto de baba de novo, por mais que a saliva de Nell tivesse propriedades curativas.

— Ichigo!!! Achei que eu fosse morrer sem nunca mais ver você! É tudo que eu pensei na hora! – A jovem arrancar dramatizou, embora ele soubesse que ela era sincera.

— Eu imagino – ele disse sorrindo e a abraçando de volta – Também senti sua falta. Agora me deixa levantar porque minhas costas tão me matando.

Nelliel riu e a pura alegria se espalhou no brilho de seus olhos avelã quando ela saiu de cima dele e o ajudou a levantar, em seguida olhando para Rukia e também indo abraça-la. Ichigo observou com alegria. Apesar do quão apegada Nell tinha ficado a ele, ela e Rukia também tinham se tornado boas amigas depois dos episódios de ciúmes da arrancar tempos atrás.

— Bem... Acho que é melhor nos reagruparmos e limparmos essa bagunça antes do jantar – Kyouraku apareceu de repente, seguido por Nanao – Precisamos cuidar de nossas perdas, cruzar informações e tomar algumas decisões, inclusive quem irá nos guiar a partir de agora.

— Capitão... – Ichigo falou se aproximando e sendo observado pelos amigos, os quais já estavam cientes de suas intenções – Sei que não somos muito próximos e eu não sou nada na Soul Society perto de vocês, mas se me permite dizer, na minha opinião, essa guerra e todas as outras que enfrentamos vieram todas do mesmo problema, que pelo que sei se arrasta há milênios.

— E qual seria esse problema, Kurosaki-san?

— Sendo bem direto e sem enrolação, a Soul Society, a qual falamos pra todas as almas na hora do cônsul, que é um lugar melhor e tranquilo, é exatamente o oposto. É excludente ao extremo. Todos foram afastados, perseguidos ou exterminados por divergências de ideias que todos se recusaram a discutir de maneira civilizada. Os quincies, os hollows, os arrancars, as almas modificadas, os fullbringers, os vizards que foram vítimas de um crime, e até as almas lá fora... Todos exilados e jogados à própria sorte enquanto todos desse lado estão bem, ainda que lutem 24 horas pra proteger a todos. Rukia e Renji são duas das almas que poderiam estar enterradas lá fora agora. Em dez anos perderam todos os seus amigos, quanto tempo mais seria pra eles os seguirem se não tivessem se tornado shinigamis? Onde está o lugar melhor que prometemos pra todas as almas que enviamos pra cá?

Um silêncio pesado se abateu sobre todos que estavam conversando uns com os outros até Ichigo começar a falar novamente. Até mesmo Grimmjow e Ginjou estavam ali, ouvindo atentos e com olhares surpresos.

— Aizen e Yhwach tinham razão numa coisa. Essa exclusão causou todas essas guerras e problemas, inclusive as que eles iniciaram. Eles dois eram psicopatas querendo fazer uma coisa boa do jeito mais errado possível. Mas eu acho que todos nós aqui já temos maturidade suficiente pra conversarmos de maneira civilizada sobre o que podemos fazer. Eu sei que provavelmente os hollows sem consciência e com muitas mágoas serão os mais difíceis de lidar e que não podemos lhes dar livre acesso e arriscar a segurança de todo mundo, mas talvez um trabalho maior possa ser feito com eles, e um dos nossos possa ser resgatado.

— Um dos nossos – Kyouraku vasculhou sua memória – Fala do shinigami que ajudou Rukia naquela época? Lá no Hueco Mundo?

— Sim, Ashido Kano. Ele reside lá até hoje. Ficou preso realizando sua missão, e depois ficou preso de novo pra garantir que Rukia escapasse. Acreditamos que ele continua vivo naquela floresta, exorcizando todos os hollows que pode. Se encontrarmos um jeito de ajuda-los, talvez ele possa finalmente voltar pra casa. Ele é muito forte e habilidoso mesmo sem ativar shikai ou bankai, além de ter um grande conhecimento sobre o Hueco Mundo e sobre hollows que pode nos ajudar. Eu sou grato a ele pelo que fez por Rukia, e gostaria que pudéssemos retribuir, inclusive pelos hollows que deixaram de vir pra cá ou pra o mundo humano. Acho que todos nós já crescemos o suficiente pra lidarmos com tudo isso com menos arrogância. Creio que essas questões deveriam ser levadas a Yamamoto, mas...

Kyouraku repousou uma mão no ombro do jovem e sorriu.

— Suas ideias são nobres, Ichigo. E por mais que seja difícil admitir, tudo que você disse faz sentido e merece atenção. Como você mesmo disse, são questões muito grandes e difíceis de resolver, mas ninguém nunca tentou realmente resolvê-las pra saber se podem dar certo. Ainda não sabemos quem ocupará o lugar do nosso comandante, mas você tem minha palavra de que suas sugestões serão discutidas entre nós, e de que você e todos os seus amigos também estarão lá quando isso acontecer.

— Obrigado, capitão – Ichigo conseguiu dizer após alguns instantes de surpresa, nunca imaginou que alguém mais lhe daria ouvidos, e sorriu.

— Agora... Acho que seria melhor cuidarmos de nossos ferimentos, arrumarmos essa bagunça, recuperar as forças e nos reunirmos com nossos amigos e familiares que ainda estão aqui.

— Ele tem razão. Eu também gostei das suas ideias – Hitsugaya falou ao se aproximar de Ichigo, cumprimentando-o rapidamente – E o capitão está certo, isso seria bom. Mesmo porque eu creio que você e Bya-kun tem muitas coisas a conversar agora, não é? – Falou, acenando em despedida e se afastando antes que Byakuya tivesse tempo de responder.

— Muito obrigado, Urahara – Byakuya falou sem demonstrar emoção enquanto ouvia risadas de alguns em volta.

— Não há de que, Bya-kun!

— Shiro-chan, por que fez isso?

                - Eu não podia deixar ele sair impune depois de passar a batalha inteira fazendo piada com minha altura – o baixinho respondeu, ouvindo Matsumoto rir.

                Enquanto todos se misturavam, se reencontravam e conversavam, Ichigo voltou para o lado de Rukia, novamente tomando sua mão na dela e acariciando sua pele abaixo do olho direito. Sabendo exatamente do que ele estava se lembrando, Rukia sorriu e encolheu os ombros, sentindo-se tão feliz quanto ele pelo ferimento que sofrera ali no início da guerra estar devidamente recuperado. Juntos, observaram mais uma vez os resquícios da batalha.

                - Eu precinto... Que não teremos mais guerras por um bom tempo – ela disse – E obrigada por pedir ajuda por Ashido, eu prometi que voltaria pra buscá-lo ou enviaria ajuda, e nunca pude fazer isso.

                Ichigo sorriu, como em todas as vezes que se contagiava com o enorme coração de Rukia.

                - Vamos encontrar um jeito de cumprir essa promessa.

                - O que você vai fazer agora?

                - Pelo menos por um tempo, eu vou ficar aqui. Todos nós vamos.

                - E sua vida...?

                - Eu já terminei a escola. Mas ainda não decidi o que fazer em seguida.

                - Certamente você deve ter algum talento além de deixar as pessoas espantadas com seu cabelo – ela brincou divertida.

                Ichigo riu.

                - Eu não tenho muita certeza do que vou fazer com minha vida agora, Rukia. A vida inteira a única certeza que tive é que eu via fantasmas e me sentia bem por ajuda-los. Acho que agora posso pensar nisso e no que fazer agora. Mas tem algo que já decidi. Não sei como conciliar, ou se seu irmão vai ficar feliz com isso... Provavelmente não... Mas eu decidi e vou encontrar um jeito.

                - Um jeito pra que?

                Ichigo a encarou com o mesmo olhar sério, profundo e cheio de preocupação e carinho que ela vira tantas vezes quando estavam em momentos difíceis.

                - Pra nunca mais ficar longe de você.

                Rukia inspirou fundo e não conseguiu dizer nada, sentindo o coração pular de surpresa e acelerar de emoção. Sentiu seu rosto aquecer, mas não se importou, só queria que Ichigo continuasse a falar, uma vez que aparentemente ela tinha perdido essa capacidade no momento. Diante de seu silêncio, ele continuou.

                - Pra mim já deu, baixinha. Alguém começa uma guerra, nos envolve, quase morremos e no fim acaba com você aqui ou comigo lá, nunca no mesmo lugar. Eu odeio não encontrar mais você em casa, e não ter mais sua companhia todos os dias. Eu não falei pro capitão, mas acho que também podemos intensificar e aprimorar o trabalho no mundo dos humanos. E você já é uma expert nisso. Nós viríamos aqui regularmente, claro... Nossa... – ele levou uma mão ao cabelo, como se tivesse esquecido algo – Estou pulando algumas etapas importantes disso.

                - Ichigo... Como assim? – Rukia começou, sem ideia de como continuar.

                - Eu sei que nosso trabalho como shinigami é vital e importante pra todos aqui e lá, e que temos que continuar nos dedicando e melhorando sempre, mas acho que nós também somos importantes. Eu não consigo ficar longe você. Toda vez que nos separamos, eu me pergunto se o que eu sinto é a mesma coisa que os hollows sentem quando aquele buraco se abre no peito. Então sendo direto mais uma vez, Rukia, você também quer ficar comigo pra sempre?

                Por um momento a tenente ficou muda, e respirou fundo. Ela sempre desejou ouvir aquilo dele, mas nunca esperou que realmente acontecesse.

                - Vai ser complicado, mas vamos encontrar um jeito. Se você quiser também.

                A Kuchiki riu ao sentir aos olhos umedecerem e os secou tentando conter a emoção.

                - Você esperou todo esse tempo pra me dizer isso, seu idiota?! Já resolvemos questões que pareciam muito mais difíceis e impossíveis. Essa é nossa, e vamos achar uma solução pra ela juntos. Eu quero ficar com você até a última vez que eu respirar, Ichigo – ela sussurrou essa última parte, ficando satisfeita ao finalmente ver a tensão no rosto de Ichigo se transformar num sorriso.

                A atenção dos que estavam perto se voltou para o casal quando Ichigo sussurrou algo no ouvido da tenente, ao que ela respondeu com apenas “eu também” antes de se unirem num forte abraço e em seguida conectarem seus lábios sem nenhuma cerimônia, mesmo estando na frente de todos das 13 divisões e seus aliados.

                - Rukia... – foi tudo que Byakuya conseguiu dizer enquanto observava.

                Ele mataria o garoto tempos atrás, mas como Ichigo dissera, todos eles haviam crescido. Olhou para Renji ao seu lado, que tinha um sorriso sincero observando o casal. Apesar de nunca terem falado a respeito, sabia dos sentimentos dele por sua irmã.

                - Eu estou bem, capitão. Todo mundo sempre soube que acabaria assim mesmo. Ichigo faz muito bem pra ela, e eu sei que Rukia se sente feliz e segura com ele. Eu estou satisfeito e feliz por nossa amizade ter voltado a ser como quando éramos crianças.

                Com esse comentário, o Kuchiki sentiu o coração ficar mais leve.

******

                Ichigo sorriu com os raios quentes de sol que atingiam seu rosto. Olhando para o lado viu Rukia sorrir de volta para ele enquanto caminhavam de mãos dadas de volta para casa. Ambos usando roupas parecidas em tons de branco, bege e salmão. O silêncio entre eles era agradável e dispensava totalmente a necessidade de palavras, continuavam muito bons em conversar pelo olhar e por telepatia quando queriam. Parando repentinamente de caminhar pelo parque que ficava a caminho de casa, Ichigo puxou a esposa para perto dele e a beijou. Eles poderiam falar o que estavam pensando quando se afastaram e mergulharam no olhar um do outro, mas novamente não era necessário, e o sorriso que trocaram dizia tudo.

                Quando finalmente chegaram em frente à casa, puderam ouvir as vozes alegres de seus velhos amigos. Alguém jogando vídeo game na sala, Tatsuki brigando com Keigo por alguma de suas criancices e Mizuiro tirando sarro do amigo, Chad rindo junto com as crianças e Chappy conversando sobre alguma coisa com Kon.

                - Nossa... – Ichigo começou – Como conseguem ser tão barulhentos? Ainda bem que não moramos num apartamento ou condomínio. Íamos receber visita do síndico todo fim de semana.

                Rukia riu.

                - São crianças. É da natureza delas serem barulhentas.

                Ichigo riu e observou os longos cabelos negros da shinigami esvoaçarem com a brisa enquanto ela destrancava a porta. Imediatamente as vozes dentro da casa diminuíram e um casal de crianças ruivas com lindíssimos olhos azul violeta surgiu na porta, saltando para os braços dos pais.

                - Mamãe! – Yuki pulou para o colo de Rukia.

                - Papai! – Hoshi pulou para os braços de Ichigo.

                Yuki era a cópia de seu pai, assim como Hoshi era de sua mãe, a não ser pelas cores de olhos e cabelos diferentes. E ao mesmo tempo pareciam muito um com o outro ao ponto de os próprios Ichigo e Rukia confundirem os dois quando eram muito pequenos e tinham cabelos do mesmo comprimento.

                - Vocês finalmente chegaram – Chad apareceu na porta – Conseguiram aproveitar bem o passeio?

                - Sim, foi maravilhoso – Rukia lhe disse.

                - Mãe! O tio Chad nos contou umas histórias incríveis da família dele – Yuki lhe disse.

                - Ele tem muitas! – Hoshi falou com alegria.

                - Obrigado, Chad – Ichigo lhe disse com um sorriso.

                - É o mínimo que eu podia fazer pra ajudar. Fico feliz por conseguir entretê-los.

                - Os outros já chegaram? – Ichigo perguntou.

                - Ainda não – Chad disse quando já estavam dentro de casa.

                - Ah, vocês chegaram – Tatsuki os cumprimentou.

                - Ichigo! Você tem que ver esse jogo! – Keigo se atirou na direção de Ichigo, sendo bloqueado pelo pé do ruivo, que o acertou no estômago, e caindo no chão em seguida.

                 - Deixa de ser tonto, Keigo. Vamos continuar jogando – Mizuiro o chamou.

                - Então gostaram das histórias do tio Chad? – Rukia perguntou às crianças, beijando a bochecha de cada um dos gêmeos quando os colocaram no chão.

                A campainha tocou, mal dando tempo a eles de conversarem mais, e Ichigo abriu a porta vendo Renji, e Uryu e Orihime junto com o pequeno Daichi, que tinha a mesma idade de Yuki e Hoshi, sentado nos ombros de Renji. Seus cabelos eram negros como os do pai, e seus olhos cinzentos com os da mãe, e bem branquinho como Uryu.

                - E aí?! – Renji cumprimentou o amigo – Vim inspecionar pra saber se você tá cuidando bem da Rukia.

                Ichigo riu.

                - Desiste, Renji. Eu sempre vou passar nas suas inspeções. E não faz nem um mês que nos vimos pela última vez.

                - Tio Ichigo! – Daichi desceu das costas de Renji sem nenhuma dificuldade e pulou para os braços de Ichigo, segurando-o pelo pescoço.

                O ruivo riu e retribuiu.

                - Se você continuar crescendo assim não vou conseguir mais segurar no colo.

                O garoto riu e pulou para o chão, indo brincar com os gêmeos e com Kon e Chappy.

                - Como vocês estão?

                - Bem, Ichigo – Uryu sorriu – Agradeço pelo convite.

                - Sim, faz tempo que não almoçamos todos juntos – Orihime disse.

                - É sempre um prazer ter todos vocês aqui.

                - Orihime! Uryu! Finalmente – Tatsuki falou com Daichi no colo quando o menino correu para abraça-la.

                - E aí? – Chad ergueu a mão para o casal, que seguiu para falar com ele.

                Rukia ria enquanto Renji se recusava a libertá-la de um abraço.

                - Sou casada! Me solta! – Ela dizia enquanto os dois morriam de rir.

                Ichigo sorriu. Às vezes parecia um sonho. Fazia dez anos que nada grave acontecia, dez anos sem nenhuma guerra, dez anos que Kyouraku se tornara o novo comandante da Sereitei e decidira acatar suas sugestões para ajudar as outras espécies de seres que conviviam com a Soul Society. Muitas dificuldades tinham surgido inicialmente, como esperado, mas vinham conseguindo contornar cada uma delas. Ashido estava de volta à Sereitei, trabalhando no 5° esquadrão com Hiraku e Momo, e também os visitava de vez em quando, embora sempre se vissem quando a família Kurosaki ia à Soul Society, onde agora também havia crianças novas aprendendo sobre o ofício de shinigami e outras coisas, como Yuki, Hoshi e Daichi.

                - ICHIGOOOOOOOO!!!!!!!!! NEEEEE-SAN!!!!!!!!! SOCORRO!!!!!!!!!!! – Kon gritava de outro local na sala, surgindo vestido com peruca e roupinha de boneca.

                As crianças e Chappy morriam de rir.

                - Ei! Não é legal fazer isso com uma alma modificada – Renji falou, chamando finalmente a atenção dos gêmeos.

                - Tio Renji!!

                Os dois correram na direção dele, fazendo-o soltar Rukia para ser derrubado no chão pelas duas crianças. Ichigo e Rukia riram enquanto os gêmeos abraçavam o tenente, e observaram a cena. Seus amigos juntos e felizes, suas crianças crescendo, aprendendo e convivendo juntas, Kon e Chappy para ajuda-los a alegrar ainda mais a casa, suas famílias bem e os visitando regularmente, sem guerras, sem protocolos para mantê-los separados, sem tanta dor ou lembranças ruins. A chuva havia parado para Ichigo, e o coração de Rukia estava calmo.

                Os dois se afastaram um pouco dos demais, indo até a cozinha para verificar o que haviam preparado para o almoço em família, ouvindo as conversas e risadas na sala como se fossem música para seus ouvidos.

                - Vamos contar a eles hoje? – Ichigo perguntou.

                Rukia sorriu.

                - Por que não? Já estamos quase em três meses. E vai alegrar ainda mais o dia de todos.

                - Espero que as crianças não fiquem ciumentas.

                - Eles não vão. Nós os ensinamos bem sobre isso, vão ficar felizes em cuidar do irmão ou irmã quando nascer.

                - Vamos mesmo deixar eles escolherem o nome?

                - Vamos – ela falou enquanto refletia – Eu gostei das últimas sugestões que eles deram quando tocamos no assunto fingindo ser algo hipotético.

                - Estou ansioso pra saber o que vão escolher.

                - Eu também. Mas também temos nosso direito de aprovar, não se esqueça disso.

                -  Às vezes ainda acho que estou sonhando... Nós, aqui, sem guerras e despedidas.

                Rukia sorriu e largou os pratos que estava segurando em cima da mesa, indo até o shinigami e puxando-o para baixo a fim de deixar suas alturas mais próximas, e o beijando demoradamente com todo amor que era capaz de expressar. Ichigo suspirou e beijou a testa da capitã, acariciando sua barriga e mantendo suas testas unidas em seguida, encarando-a com aquele olhar que transbordava amor por ela.

                - Eu te amo, Ichigo.

                - Também te amo, Rukia. Mais do que posso dizer.

                Ela acariciou seu rosto e lhe deu um selinho antes de voltarem a organizar a cozinha.


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Notas finais do capítulo

Na fanart da capa vocês podem ter uma ideia de como eu imagino que seria o terceiro filho deles. ♥ (Encontrei essa informação no facebook do Bleach Brasil).



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