Mulher-Maravilha: Guerra e Paz escrita por Max Lake


Capítulo 10
Epílogo 2


Notas iniciais do capítulo

Agora sim, o final da 'primeira parte' desta fic.

Eu gosto de fazer finais assim, sem pensar em sequência mesmo que haja sinais para uma.



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Muitos dias depois, já com condições climáticas favoráveis, a princesa Diana fazia os preparativos para mais uma saída de Themyscira. Seu jato aquecia os motores na areia que ainda cheirava a terra molhada. Seu instinto ainda lhe dizia para interrogar o Minotauro, arrancar dele quem é o novo regente de Eeia. Mas não queria desobedecer a rainha.

—Princesa - gritou uma voz.

Diana olhou para a mulher que lhe chamou. Antíope usava uma tipoia improvisada no braço, tinha os ferimentos cobertos por um gel de plantas regenerativas. A princesa sorriu e se distanciou do jato para se encontrar com a mentora.

—General Antíope. Fico feliz que esteja bem.

—Obrigada.

—E desculpa por deixá-la assim.

—Não precisa se desculpar, Diana. Nós temos uma dívida com você. Mas Circe nos deve explicações.

—Minha mãe falou que ela foi destituída de Eeia.

—Já fui informada disso. Vai investigar sobre isso?

Diana negou.

—Então aonde pensa que vai com seu jato?

—Não sei quais os planos de Circe, mas se tiver algo envolvendo o mundo dos homens, eu quero estar lá para impedi-la.

—E quanto ao nosso mundo, princesa? Perdemos um considerável número de guerreiras, nossa ilha jamais esteve tão desestabilizada e mesmo assim vai nos deixar novamente?

—Perdemos muitas irmãs, general. - falou Diana com tristeza. - E eu jamais deixarei Themyscira. Estarei aqui no primeiro sinal de perigo. Eu prometo em nome das deusas que nos guiam. Mas, de novo, eu quero impedir Circe de qualquer plano futuro.

—Isso me soa como uma tentativa de revanche, princesa.

—Não desejo uma revanche. Desejo justiça por todas as irmãs que perdemos. E não estarei satisfeita enquanto não tiver Circe envolvida em meu laço e sendo julgada por seus crimes.

Antíope não falou nada. Liberou um sorriso de concordância. Então, abraçou a princesa, depois fez continência. Diana repetiu o gesto.

—Estou orgulhosa de você. Tem meu apoio, Diana, para resolver os problemas de Themyscira no mundo dos homens, mas quero que cumpra sua promessa. Venha no primeiro sinal de perigo.

—Estarei aqui, general. Até logo.

Despediram-se com um aceno formal. Diana voltou para seu jato. Entrou, posicionou seus itens no banco de trás e fechou o vidro. Pôs o cinto e deu uma última olhada para Antíope. Levantou voo e seguiu para o céu límpido e azul.

...

Sob a névoa roxa de seu feitiço de teleporte, Circe ressurgiu no solo arenoso de Eeia. Sorria à toa com a derrota da princesa amazona, mas era só uma vitória para esconder seu descontentamento com outro fracasso. O plano de escravizar todas as amazonas e recuperar sua ilha não deu certo - a tentação de se divertir com a dor, a morte e o sofrimento das guerreiras foi bem maior.

Era hora do plano B, o que se tornava um problema. Se o plano A era atacar com um exército de amazonas possuídas por sua magia, o plano B se resume a uma ameaça improvisada e a torcida pela nova regente de Eeia se intimidar. “Nada poderia piorar”, acreditava.

Alguns Bestamorfos a encaravam com bastante desgosto. “Ingratos”, pensou ela. Tanto tempo servindo a feiticeira na ilha, recebendo um lar, uma rainha presente e viajantes perdidos como alimento e é assim que lhe retribuem: conspirando para sua queda e a ascensão de uma estrangeira.

Não tão surpreendente assim foi o ataque de um Bestamorfo alado, usando suas patas afiadas para tentar agarrar os ombros de Circe. Num estalar de dedos, sua forma humana virou fumaça roxa enquanto a criatura voava para longe.

Tal esforço, no entanto, fez Circe sentir as pernas tremerem e uma estranha dor no lado do corpo. “Malditas regras de Eeia”, criticou ela. Enquanto Circe pisasse em Eeia e uma nova regente estivesse no trono, seus poderes seriam drenados lentamente - porém, o dreno aceleraria assim que os usasse, mesmo para um ato fútil como o teleporte. No entanto, de repente se viu cercada por mais Bestamorfos. Todos grandes, brutos, raivosos e animalescos.

—Venha conosco, bruxa. Pacificamente - falou o porco humanoide.

—A rainha exige sua presença - completou um leão humanoide.

—E se eu recusar?

—Vimos seu esforço patético de desviar da Harpia. Ou vem conosco pacificamente ou lute conosco e perca vergonhosamente sua magia.

—Tenho uma contraproposta. Aliem-se novamente a mim, façam com que eu recupere meu trono e minha ilha. Em troca, destransformarei todos vocês, tirarei suas maldições. Poderão ser humanos mais uma vez e estarão livres. 

A proposta de Circe foi recebida com gargalhadas. A ação precisaria de um estalar de dedos e todos os Bestamorfos por perto. Nas atuais condições, talvez Circe morresse.

—É tarde demais para isso. Eeia está melhor sem você. E não queremos nossa forma humana fraca de volta. Somos os melhores em nossa forma atual e não precisamos de você.

—É sua última chance, Circe.

O porco humanoide a pegou pelo braço e a conduziu. Lanças, espadas e flechas se erguiam mirando o corpo da bruxa. Era irônico como a situação se modificara em tão pouco tempo - sabia exatamente o que Diana sentiu quando chegou a Themyscira.

Circe via as ruínas de Eeia em reconstrução. Casas eram erguidas por Bestamorfos solitários, mas fizeram questão de parar o trabalho para vislumbrar a chegada - e humilhação - da antiga rainha. No céu, os Bestamorfos alados sobrevoavam e ansiavam pelo momento de atacá-la. Estava escurecendo.

Finalmente chegou à sala do trono, um lugar bem diferente do que tivera temporariamente em Themyscira. Não havia presente dos deuses, nem qualquer troféu para lhe lembrar das antigas vitórias. Já o trono, acima de todos os presentes na sala, estava de costas para os súditos. Girou vagarosamente até revelar a nova regente. Era loira, trajada com partes de armaduras greco-romanas, um chicote sombrio descansava sobre sua cintura. A antiga coroa de Circe cobria a testa de Aresia, a regente de Eeia e filha de Ares, o deus da guerra. Todos os Bestamorfos se ajoelharam em respeito à sua pessoa. Circe ficou de pé com os braços cruzados, desdenhando de sua falsa autoridade.

—Olá, Circe.

—Aresia.

—Se veio negociar sua volta ao trono, devo informá-la que está perdendo seu tempo.

—Eu também acho que negociação é perda de tempo.

—Veio para uma luta, então?

Circe negou com a cabeça. Aresia se levantou, desceu as escadas e se aproximou da feiticeira. Tinham praticamente a mesma altura, com poucos centímetros de diferença que faziam de Circe mais alta. Essa superioridade se devia à postura mais ereta da feiticeira.

—Então o que veio fazer aqui?

—Vim dar um aviso. Você não é uma deusa, não é páreo para o que está por vir. Eu vou te derrubar e você vai pagar pelo que fez a mim e a minha ilha.

Circe mantinha a voz firme e raivosa, queria ver o medo no olhar de Aresia com aquela promessa. No entanto, a atual regente de Eeia não tremeu. Seu rosto permanecia impassível, o olhar gélido encarava uma firme, porém desesperada Circe. “Provavelmente ela acha que meras palavras vão assustar a filha de Ares”, pensou Aresia, logo sorrindo. “Patética”.

Aresia deu as costas e voltou ao trono, se sentando e cruzando as pernas. Entrelaçou os dedos na altura do peito. Continuava encarando Circe, os Bestamorfos aguardavam ansiosamente pela resposta da rainha. Aresia via que até a feiticeira aguardava pela resposta. Sorriu mais uma vez e começou a falar.

—Pois bem. Acompanhei o que fez em Themyscira nos últimos dias. Preferiu manipular todas as amazonas só por diversão ao invés de hipnotizá-las e trazê-las para um combate até a morte pelo meu trono. - Aresia riu. - Isso foi tão… Patético, tão risível, Circe. Combina perfeitamente com sua condição atual. Orgulhosa, mas fraca. Se considera uma deusa, se considera acima de mim, de Hipólita, de Diana, dos meus Bestamorfos. Acima de todos.

—Eu sou uma deusa!

—E assim como todos os deuses, perdeu o que mais te importava! - retrucou com o tom de voz elevado. - Ares perdeu as guerras, Zeus perdeu o Olimpo, Hades perdeu Hipólita. Sabe por que? Porque vocês querem se colocar acima e não olham para aqueles que os derrubaram! Nós! Mortais, semideuses, humanos! Quer recuperar o trono, Circe? Pode tentar, mas para isso precisará se rebaixar aos mortais que você tanto odeia! E tenho certeza que você não é capaz de fazer isso.

Antes que Circe pudesse falar novamente, Aresia gritou uma ordem aos súditos.

—Tirem ela daqui! Matem-na se for preciso.

Circe se debateu. Estava pronta para usar seus poderes e se libertar, porém um estranho cheiro de enxofre dominou a sala do trono. Assustados, os Bestamorfos se afastaram de Circe enquanto um círculo de fogo surgiu na cabeça da feiticeira e a atravessou. Num piscar de olhos, a sala de trono de Eeia foi substituída pelo calor do Reino de Hades e seu soberano de pé ao lado da feiticeira.

—Hades. Sua ajuda foi desnecessária e inoportuna. Eu poderia me livrar deles sozinha e facilmente.

Circe estava no chão, se sentindo humilhada pela forma como caiu aos pés de Hades. Levantou-se de imediato e limpou a fuligem do corpo. 

—Claro que sim - concordou o deus do submundo, mas com certo tom de ironia. Seu capacete estava ao seu lado, marcando lugar no braço do trono. - Ela tem razão.

—Se você me disser que eu tenho que me rebaixar ao nível dos porcos, nossa aliança termina aqui.

Hades olhou para ela com certa irritação, até fechou a mão direita, pronto para atacá-la caso tentasse alguma feitiçaria perversa. Limitou-se apenas a dizer o que os dois já sabiam.

—Nossa aliança termina quando eu disser que termina. - Cruzou os braços e começou a se explicar. - Aresia tem razão, nós não olhamos para quem nos derrubou. Essa foi a perdição de nós, os deuses. Então acredito que se olharmos para os mortais, podemos triunfar novamente.

—E o que pretende fazer, milorde? Escravizar os humanos? Transformá-los em porcos e usá-los como um exército para acabar com Aresia e retomar Eeia? Sinceramente eu ainda não entendi a parte onde você é beneficiado com meu acordo e o acordo com a filha de Hipólita.

—Minhas intenções só interessam a mim, bruxa.

Hades criou um portal entre os dois, Circe via um lugar ensolarado, arenoso, nada de pessoas ou animais andando.

—Este é seu refúgio temporário. Quando chegar a hora, buscarei você e nós três tiraremos Aresia de seu trono.

—Nós três?

—Não deseja que a Mulher-Maravilha seja sua marionete na reconquista de Eeia?

Circe riu com a hipótese.

—Eu a odeio, mas isso seria magnífico!

—Vá e não faça bruxaria. Ficarei de olho.

Circe atravessou e o portal se fechou. Hades aproveitou o barulho das chamas e o calor do Tártaro que aquecia sua solidão. Sentou-se em seu trono. Cérbero, num tamanho normal de cachorro, apareceu na sala e pulou em seu colo. As cabeças estavam se recuperando muito bem, logo ele estaria pronto para guardar os portões do Tártaro durante a ausência de seu dono. Hades acariciava o canino enquanto apreciava o próprio reflexo no capacete de chifres. Imaginava-se com Hipólita por perto mexendo em seu cabelo liso.

—Em breve, Hipólita - sussurrou e sorriu.

...

Diana olhou uma última vez para Themyscira antes das trevas e tempestades mágicas dominarem o ambiente. Era uma linda ilha e sentia saudades sempre que partia.

—Até logo, irmãs - disse com a mão sobre o vidro. A tempestade estava apenas começando.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!

Quero agradecer à Amanda Souza/Sorima por idealizar este desafio 10k, por ter lido e ter comentado na fic. Dá certo trabalho e é cansativo, mas é bem divertido e isso compensa XD



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