Conectados escrita por Dara Romana


Capítulo 1
Temos todo tempo do mundo


Notas iniciais do capítulo

Olá!! o primeiro recadinho que quero deixar para vocês é: Todos os capítulos serão nomeados com nomes ou trechos de alguma música, escutá-las antes/depois da leitura dos capítulos, deixará a experiência mais completa!

A música desse capítulo é: Tempo perdido - legião urbana.

Espero que tenham uma boa leitura! Beijinhos.



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janeiro, 2018. 

É verão em Santa Mônica. A cidade em que o tempo escuro e chuvoso predomina, finalmente, está brilhando. As inúmeras árvores muito bem distribuídas por toda parte conseguem amenizar o calor sufocante, mas não inteiramente. E é exatamente por causa desse calor não habitual que todos acordam com as cobertas ao chão; não é diferente com Dora.

Ao sair da cama em uma manhã calorosa, logo nota seu cobertor favorito espalhado pelo piso de porcelanato, trata de recolhê-lo com rapidez e corre para o banheiro, por conta da pressa em se trocar e se juntar as colegas de casa na cozinha, mal percebe a perda de peso claramente refletida no espelho, um dos primeiros sintomas que estariam por vir. 

Na cozinha, América e Capitu conversam descontraidamente enquanto organizam a mesa de café da manhã. A primeira, como de costume, falando bem mais que a segunda. O humor matinal de Capitu não é dos melhores, pensa frequentemente no quanto seria bom se todos fossem adeptos ao silêncio matinal — uma ideologia própria que consiste em permanecer em completo silêncio das 6 às 11 da manhã. Ora, o ser humano só é capaz de raciocinar em pleno silêncio. Por que é que ninguém em seu ciclo social, principalmente América, que, neste momento, fala com bastante ênfase e entusiasmo sobre suas últimas aulas da faculdade, pensa como ela? 

— Eu achava que Direito Penal seria uma das melhores matérias de todo o meu curso. Sonhava com as aulas desde a época em que estava no cursinho. Agora, só consigo ter ódio! O professor é um palerma! Sinto como se eu precisasse fazer todo o trabalho dele — América reclama, depositando o saco de pães com certo fervor sobre a mesa. Sempre foi muito expressiva em relação a todos os seus sentimentos. Sua expressão corporal é extremamente clara e direta. Os olhos negros e o corpo robusto dela nunca mentem.

— Bem vinda à universidade federal — o comentário de Capitu chega a seco; a amiga revira os olhos.

— Não generalize! Tenho ótimos professores. O problema é especialmente com um. Ele acabou com o meu sonho de amar essa disciplina — retruca enquanto senta à mesa. 

— O velho dilema da expectativa versus a realidade — Capitu comenta enquanto senta à frente de América, após encher de café a caneca que carrega entre as mãos. — Você deveria fazer como eu: — mira seus grandes olhos verdes como esmeraldas nos negros de América — não criar expectativas.

A garota de pele preta torce os lábios antes de responder:

— Que vida horrível você deve levar.

Quando Dora chega à cozinha usando um de seus vestidos preferidos — de alcinha e cheio de girassóis — América solta um elogio. Capitu se contém apenas em sorrir para a irmã, seu jeito particular de dizer "bom dia". Elas também não notam o pequeno sintoma que já começava a se apossar do corpo de Dora.

— Estou tão animada! Espero que as garotas gostem do apartamento — um sorriso sincero estampava o rosto de feições delicadas.

— Não tenho dúvidas de que vão gostar, Dorinha — América diz enquanto enche o copo da amiga de infância com chá — A que horas elas chegam?

— Vou buscá-las em trinta minutos. Me ofereci. Quero que se sintam acolhidas desde que chegarem — beberica um gole do chá. — Uma delas está grávida!

— Coitada — Capitu solta em seu tom mais sincero. Dora lhe dá um olhar desaprovador como resposta. Ao contrário da irmã gêmea, ama crianças.

Um estranho nunca reconheceria Capitu e Dora como irmãs, muito menos gêmeas. A diferença física entre elas é gritante. Os olhos verdes, intensos, a boca carnuda e amendoada, junto dos cabelos negros, dão a Capitu uma aparência mais forte, séria. O corpo bem desenvolvido e curvilíneo a torna sexy, enigmática. Por outro lado, o corpo de Dora é magro e pequeno, o que lhe proporciona um quê de delicadeza, algo que seus olhos castanho-claros e feições leves evidenciam ainda mais. Uma é o pai, a outra, a mãe.

— Ela é do interior, acho que vai acabar gostando muito daqui — a de cabelos curtos e castanhos conclui o pensamento.

— Santa Mônica, a cidade do futuro. Como alguém poderia não se apaixonar? — América anuncia, com um tom de locutor e uma pitada de sarcasmo, o slogan que está presente por toda a cidade.

— Espero que ela não aproveite a cidade do futuro fazendo outra criança.

— Capitu!? — Dora a repreende com o olhar, mas sem conseguir esconder o sorriso dos lábios. A irmã apenas arqueia a sobrancelha em resposta, como se dissesse "o que eu falei demais?" — Não diga nada desse gênero a ela, por favor. Não quero que nenhuma das garotas que vão passar vários anos conosco te odeie logo de cara.

— Pois isso é extremamente fácil — América complementa, bebericando o próprio chá — Você facilita muito.

— Gosto de como prezamos pela franqueza nesta casa — Capitu diz, depois de finalizar o café e colocar a caneca na pia — Fique tranquila — ela se volta para a irmã. — Sua simpatia em excesso compensará a falta da minha. Sempre compensou.

É verdade, Dora sabe. Por isso, solta um sorriso para Capitu em forma de resposta e compreensão. Dora sente um orgulho imenso pela relação de confiança e afeto que construiu não só com a irmã, mas também com América. As três se conhecem desde a infância, graças à amizade que os pais delas possuíam. A partir do momento em que foram apresentadas, não se desgrudaram mais. As personalidades únicas e totalmente distintas contribuíram fortemente para a relação de fraternidade e franqueza que formaram. Frequentemente, cada uma delas, em seu íntimo, sente como se fosse incompleta. Como se uma parte de si mesma estivesse perdida, faltando. Mas juntas... juntas sentem-se inteiras. Uma completando a outra em um eterno ciclo. Uma sensação verdadeira como essa é difícil de se encontrar e as três sabem muito bem disso. Não há nada no mundo que elas prezem mais do que essa relação.

¥

A primeira coisa que Dora nota ao pousar os olhos sobre a pequena mulher a sua frente não é a barriga já avantajada, anunciando os 5 meses de gravidez, mas, sim, os olhos castanhos, inchados e vermelhos, de Manuela. Olhos de quem, claramente, havia chorado demasiadamente. Por isso, após uma breve apresentação, Dora passa os braços em volta da recém-chegada, acolhendo-a em um abraço reconfortante e carinhoso. E, ali, nos braços de uma completa estranha, que não sabe nada de sua vida, muito menos de seus problemas e de como ela havia saído de casa sem receber, sequer, um adeus dos pais, Manuela sente algo que não sentia há meses: compaixão. Ela retribui o abraço com firmeza e toda a gratidão que consegue reunir.

Realmente havia chorado durante todo o voo. Filha de um grande fazendeiro, Manuela cresceu em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. Teve a infância regada de bastante afeto familiar, morando perto de tios e primos, além de várias tardes ensolaradas em que corria pelo campo e vivia como se a infância nunca fosse chegar ao fim. Mas chegou. Cedo demais.

A descoberta da gravidez só não foi mais difícil de encarar do que o desgosto que estampou os olhos de seu pai assim que Manuela contou a notícia. Mesmo após cinco meses, o olhar de arrependimento, raiva e nojo que recebeu do pai continua assombrando suas memórias e sonhos, num eterno julgamento; julgamento que a fez ser expulsa de casa. A mudança para Santa Mônica, uma cidade grande e bem longe da sua terra natal, é uma tentativa de deixar para trás o olhar julgador do pai, a desilusão amorosa e o silêncio submisso da mãe. Manuela está procurando um novo começo. Ela precisa de um recomeço. E é exatamente isso que ela enxerga nos olhos simpáticos e castanhos de Dora.

A garota de feições leves e cabelos curtos não demora a ajudar a mineira com as malas, e, juntas, caminham para o estacionamento do aeroporto em meio a conversas sobre a viagem, o clima, a gravidez, a distância e outras frivolidades. Dora consegue deixar Manuela muito à vontade. Sua energia sempre acalma quem está ao seu redor, o jeito cuidadoso e prestativo é uma de suas melhores qualidades, facilmente notada por todos. A recém-chegada não demora a perceber isso, e, antes mesmo de cair em si, já está conversando com Dora sobre sua terra natal e as peripécias que aprontava quando era criança. A primeira ouve tudo com muita atenção e, vez ou outra, solta uma gargalhada que aquece o coração de Manuela, fazendo com que, por alguns segundos, todo o medo, a saudade e a apreensão diminuam no íntimo da mineira.

O clima reconfortante que Dora proporciona a Manuela aumenta ainda mais quando as duas estacionam na rodoviária de Santa Mônica e conhecem as futuras colegas de apartamento da mineira. A primeira abraça-as com entusiasmo, falando rápido sobre como está feliz em, finalmente, conhecer a melhor cidade universitária do Brasil. É muito bonita. Esbanja um corpo alto, magro e com um belo par de bustos. Os olhos azuis realçam a pele branca, e o sorriso grande e sagaz combina muito com os lábios finos pintados em um tom de vermelho. A segunda, mais contida, mas não menos animada, também é alta, dois palmos a mais que a primeira. No entanto, ao contrário da palidez da amiga, sua pele morena jambo brilha sob o sol matinal. O rosto, livre de maquiagem, deixa os olhos verdes em mais evidência e, junto da boca carnuda e marrom, a essência natural arde em suas feições.

A apresentação das novas recém-chegadas ocorre entre conversas sobre assuntos paralelos e risadas. Branca e Maitê afirmam ser melhores amigas desde que se entendem por gente. Se conheceram quando ainda eram bebês, graças ao trabalho da mãe da morena, que faz faxinas e ajuda nos afazeres domésticos dos pais de Branca, pois são pastores e dificilmente param em casa. Devido a isso, Branca foi criada e educada, principalmente, por Alana, mãe de Maitê.

A conversa durante o trajeto se mantém animada e receptiva. Branca fala muito sobre si própria e sobre Maitê, que, vez ou outra, concorda com a amiga, usando um aceno de cabeça ou um sorriso. Dora se esforça para incluir todas na conversa e para manter o clima amigável. Quer muito que elas sintam-se em casa e confortáveis. Manuela se afeiçoa às futuras colegas de apartamento de cara e dá boas risadas durante o caminho. Dora toma o cuidado de mostrar, apontar e comentar sobre todos os pontos turísticos de Santa Mônica. As garotas ficam encantadas, principalmente Maitê, que é uma amante sem igual de parques, bosques e tudo ligado à natureza.

— Essa cidade é incrível! É tão... fresca! Parece um grande bosque — ela comenta sorrindo enquanto olha pela janela.

— Espere só até você conhecer a faculdade! Por ser reserva, é extremamente bem preservada. Eu sempre morei aqui, mas ainda consigo me encantar diariamente.

— E eu mal cheguei e já estou encantada! — Maitê continua sorrindo. — Estou ansiosa para conhecer a faculdade. Sempre foi meu sonho cursar biologia em Santa Mônica, exatamente por causa da reserva.

— Tenho certeza de que não vai se decepcionar — Dora sorri pelo retrovisor.

¥

As três se apaixonam pelo apartamento assim que passam pela porta de entrada. — É perfeito! — Maitê diz, após caminhar até o meio da sala e dar uma volta para observar tudo. As paredes do ambiente inteiro possuem um tom de azul bem claro, quase chegando ao branco. Os móveis são de madeira aparente e estilo rústico.

Dora explica que pensou em se livrar dos móveis, já que não estão mais tão novos assim, mas, no fim, acabou optando por deixá-los. Não queria que os futuros moradores arcassem com mais um gasto.

— Ainda bem que não se livrou deles — é a vez de Manuela falar. — Eu adorei! — Sorri, sincera. Os objetos fazem-na lembrar-se de casa. Isso é o suficiente para fazer seu coração esquentar. O apartamento é bem melhor do que achava que seria. E, olhando-o com cuidado, percebe que ele possui tudo o que é preciso para se tornar um lar.

A apresentação das novas moradoras do apartamento em frente ao que Dora, Capitu e América moram acontece entre sorrisos e o cheiro do almoço preparado por América.

¥

A ruiva sai de casa às pressas, tanto que mal escuta o "adeus" da mãe. Corre para o ponto de ônibus na maior rapidez que consegue, levando, entre os braços, uma pasta excessivamente cheia: papéis tentam fugir dela por todos os lados, como se quisessem ser salvos da confusão interior de onde estão. A garota se desequilibra quando entra no ônibus, graças à mochila pesada que carrega em um dos ombros, mas solta uma risada enquanto cumprimenta o motorista. Já se considera íntima dele.

Depois de descer do ônibus, percorre o restante do caminho também correndo. Algumas pessoas na rua a encaram com estranheza, mas não o bastante para incomodá-la. Na verdade, a opinião alheia dificilmente consegue incomodá-la. Não é à toa que mantém um peso considerado "acima da média" por alguns, mesmo recebendo comentários diários de "como ela ficaria linda se perdesse alguns quilos". Ela sabe que não precisa perder alguns quilos para ficar linda. Ela é linda. Sabe muito bem disso e isso basta para deixá-la feliz.

A moça não desacelera o passo nem quando entra no imenso prédio onde trabalha. Cumprimenta todos com um sorriso rápido. É bem conhecida e amada por todos da empresa. Seu carisma a ajudou muito a conquistar uma vaga na equipe de marketing. Quando sai do elevador no andar em que sua sala fica, encara a fila de dez fotógrafos esperando para serem chamados e tem certeza que Federico, seu colega de equipe, está xingando-a mentalmente. Passa correndo pela fila e entra, finalmente, no estúdio. Federico a recebe com um semblante irritado:

— Você está 15 minutos atrasada, Zoé.

— Bom dia para você também, querido colega — a ruiva diz, enquanto solta a pasta em cima de sua mesa e larga a mochila em um canto vago do chão. Federico bufa revirando os olhos.

— Você está 15 minutos atrasada.

— Eu ouvi quando você disse pela primeira vez — retruca, prendendo os cabelos longos e cacheados em um coque — Já estou aqui. Problema resolvido! — Pisca para o rapaz.

— Sim, agora temos dez fotógrafos esperando para serem atendidos e mal vamos conseguir almoçar se as entrevistas demorarem. O que, com certeza, vai acontecer, já que Verônica fez questão de montar uma ficha gigantesca. Sinceramente, não sei como ela acha que conseguiremos fazer isso tudo em um mísero dia! E você, para ajudar, chega quinze minutos atrasada? — Federico fala sem pausas e encara a colega de trabalho que tenta organizar a própria mesa, que sempre está um caos. — Francamente, Zoé, você precisa gerir melhor o seu tempo.

— Federico! — Ela para o que está fazendo e caminha até ele, pousa as mãos nos dois braços do rapaz e pede para que ele respire. Federico tenta. — Relaxe! Nós temos todo o tempo do mundo — o sorriso que Zoé solta é sincero e incentivador.

— Como você consegue ser assim? — O garoto de cabelos negros e rebeldes arqueia a sobrancelha considerando-se vencido.

— Assim como? Bonita, competente e cativante?

— Despreocupada, desorganizada e atrasada.

A gargalhada solta por Zoé é alta e animada.

— Isso é uma questão de perspectiva — ela diz, ainda sorrindo. — Até porque, mesmo eu sendo tudo isso que você disse, continuo sendo a sua superior, não é mesmo?

O comentário faz surgir um vago sorriso no rosto de Federico. Apesar de ter muitas desavenças com a colega de trabalho, tem um carinho imenso e, até, admiração por ela. Claro que nunca deixará que ela saiba disso.

— Você realmente sabe ser uma megera às vezes.

A resposta da ruiva vem em forma de um riso sacana. Sim, ela sabe muito bem.

Do outro lado da porta, Rafael, o primeiro fotógrafo da fila, também consegue ouvir a risada da garota, e ela soa tão cativante que consegue acalmá-lo de certa maneira. Ele foi o primeiro a chegar, sabia que seria. Saiu de casa com boas horas de antecedência. Não costuma ser do tipo de pessoa ansiosa; pelo contrário, em vários outros aspectos de sua vida, é calmo e tranquilo. Mas não hoje; não no dia em que, finalmente, vai concorrer a uma vaga no emprego dos seus sonhos. Mal pode esperar para trabalhar com aquilo que ama, e, apesar de saber que esse trabalho é temporário, pelo menos enquanto estiver pagando a própria faculdade, não consegue deixar de ficar animado, e nervoso também. Não parou de balançar as pernas desde que chegou, e, agora, sabendo que em poucos minutos será chamado, sente que a ansiedade o domina completamente. Está tão transtornado que nota o próprio celular vibrando apenas depois de um tempo. Ele pega o aparelho e a última coisa que lê, antes de ser chamado, é uma mensagem de América:

"Bom-dia, Rafa! Respira fundo e fique confiante, vai dar tudo certo. Você é um fotógrafo INCRÍVEL e tenho certeza que já conquistou essa vaga. Eu amo você demais! Arrasa."

¥

Depois de passarem a tarde no apartamento das gêmeas, as três novas moradoras de Santa Mônica voltam para o seu mais novo apartamento e se ocupam em desfazer as malas e se habituar com o novo lar. Manuela opta pelo único quarto com uma cama de solteiro, já pensando no espaço vago para o berço de Maria Flor. Branca e Maitê nem precisam discutir para escolherem o quarto de cada uma: a primeira fica com o de maior guarda-roupa e a segunda, com o de sacada. Após organizarem tudo nos próprios quartos, elas se reúnem na sala e ficam conversando besteiras por algum tempo, tentando se conhecer melhor e compartilhar um pouco do medo e ansiedade da mudança.

— Vocês já sentiram como se o tempo estivesse escorrendo pelos seus dedos? — O questionamento vem de Manuela, depois de alguns minutos de pleno silêncio. A grávida está deitada em um dos sofás, Branca ocupa o outro e Maitê se encontra deitada no tapete felpudo no centro da sala. — Como se você quisesse fazer algo, tentar segurá-lo, mas conseguir, no máximo, observá-lo de longe, parada, apática.

— Sim!! — a resposta da loira chega com forte entonação. — Eu vivo ansiosa, achando que não estou aproveitando direito a vida — fica alguns segundos calada. — Nem sei se sei ou se consigo viver de outra maneira.

As três voltam a ficar caladas, cada uma refletindo sobre algo em sua própria mente; sobre os medos, as mudanças, as ansiedades; sobre o tempo. Maitê respira fundo antes de compartilhar seu pensamento:

— Tempo é uma questão de perspectiva — a voz sai baixa e calma. — Nós somos tão jovens... Gosto de pensar que ainda temos todo o tempo do mundo.

Manuela sorri com o comentário e acaricia a própria barriga.

¥

2028 

Abaixo a tela do meu notebook, satisfeita por, finalmente, ter finalizado o primeiro capítulo. Mal consigo segurar o sorriso quando me levanto de minha cama e corro pela casa, louca para dizer ao meu amor.

O rapaz de riso fácil que ganhou meu coração dez anos atrás, apesar do semblante mais sério e maduro, continua o mesmo. Sempre que interage com crianças — como está fazendo agora — mostrando explicitamente seu lado mais brincalhão e lúdico, recordo-me da época em que ele era apenas um garoto, aproveitando todos os momentos da vida como se não houvesse um amanhã. Sempre fui apaixonada por toda essa intensidade, apesar de ser bem diferente da minha. Talvez seja por isso que nos encaixamos tão bem.

— Eu acabei! — Anuncio, sorridente, depois de passar alguns segundos admirando-o brincar com Nicolas e Maria Flor.

— O livro todo? — a pergunta é carregada de entusiasmo e até mesmo seus olhos verdes sorriem para mim. Solto uma risada.

— Não, meu bem. Finalizei o primeiro capítulo.

— Isso é incrível, querida!!! Nós precisamos comemorar!! — As palavras saem rápidas dos lábios dele e, antes mesmo que eu note, estou sendo abraçada e beijada. Nicolas, que está em seu colo, também coloca os pequenos braços em volta do meu pescoço e me beija. Maria Flor levanta, animada, do tapete e corre ao meu encontro pronta para me abraçar enquanto pergunta o porquê de estarmos comemorando. É seu padrinho quem lhe explica a situação com puro entusiasmo:

— Sua madrinha acabou de finalizar o primeiro capítulo de um livro incrível que ela está escrevendo — explica, voltando a sentar-se no tapete que se encontra repleto de brinquedos, folhas e giz de cera.

Maria Flor coloca a mão nos lábios, chocada com a nova descoberta, e começa a fazer inúmeras perguntas sobre a história e os personagens. Solto uma risada com toda a curiosidade dela e tento responder tudo da melhor maneira que consigo. Amo esse pequeno serzinho com tudo que há em mim. Daria minha vida por Maria Flor e Nicolas. Amo-os tanto que quase chego a pensar que eles saíram de mim. Sei que meu marido também sente a mesma coisa. A maneira que ele se entrega para essas crianças é linda. Faz com que eu o ame ainda mais.

Gostaria de poder lhe dar filhos, um, dois, três, cinco. Quantos ele quisesse. Quantos eu fosse capaz, só para admirá-lo desse jeito. Só para sentir amor por algo que saiu de mim. Só para sentir que sou capaz de criar algo bom, de dar vida à luz.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e que continuem aqui para o próximo capítulo! Se quiserem deixar um comentário, a autora aqui ficará muito feliz!

beijos e até logo!



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