Injustiça escrita por Pharah


Capítulo 2
Childe


Notas iniciais do capítulo

deixando claro que postei também no spirit como Oceannn



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Childe

 

Eu nunca planejei ter me apaixonado por Lumine. Acima de tudo, jamais planejaria amar alguém daquela forma que não fizesse parte da minha família. Quando a conheci, percebi de primeira que ela não era uma cidadã de Liyue. Seus cabelos loiros, seu corte de cabelo, principalmente o seu jeito de falar e sua postura. Não tinha nada a ver com a cidade rígida como pedra que Liyue era. Ela parecia alguém livre, leve e solta. Como uma cidadã de Mondstadt. E cada vez que eu conversava mais com ela, eu percebia as semelhanças. O sotaque, as histórias contadas pela metade, a posição que ela fazia quando brandia sua espada. Eu queria captar algum segredo de seu país, qualquer coisa que pudesse beneficiar Snezhnaya. Então eu me aproximei. Mas meu erro fatal foi ter se aproximado demais.

As nossas brincadeiras vistas de longe pareciam inocentes, mas mais a fundo tão impuras por serem mescladas com flertes e olhares furtivos foram ficando cada vez mais frequentes. As conversas francas, sem mencionar qualquer país, qualquer guerra, apenas proseando sobre as nossas próprias personalidades, como um escape da ansiedade e tristeza que a guerra pode causar a uma pessoa eram mais profundas. E tudo isso foi apenas uma porta aberta para começarmos a nos aventurar com beijos e toques profanos.

Eu sabia que deveria parar com isso. Eu tinha que parar com isso. Mas como algo tão errado podia ser tão bom? Como algo ilegal, uma forma de traição, poderia parecer tão certo aos nossos corações. A minha risada sempre ecoava em minha mente quando eu pensava na minha situação. Acho que os meus pais estavam certos quando mencionaram o quão masoquista eu sou, a ponto de me entregar à loucura para ao menos ter a chance de ter uma vida diferente do normal.

Percebi que estava em uma enrascada em uma noite de lua minguante, com as estrelas tão claras e límpidas no céu que decidimos observá-las com algumas garrafas de saquê. Uma, duas, três, quatro. Perdi a noção do quanto bebemos, do quanto rimos, do quanto fez bem mais uma escapada da nossa trágica realidade. Mas mesmo nós dois, após um tempo, o silêncio ainda reinava. E apenas com a lua e as estrelas como testemunhas, retiramos as nossas roupas e nos unimos como um só pela primeira vez. A pele de Lumine era tão clara que brilhava com o brilho da lua. Seu rosto, sempre calmo e sorridente, tinha ficado avermelhado devido ao calor que a sensação gostosa que a transa nos dava, unida com as expressões magníficas de êxtase que ela me proporcionou. Seus gemidos, seus toques, suas carícias, tudo alinhava para que o desastre acontecesse. E aconteceu.

— Eu amo você. — ela disse assim que eu me derramei dentro dela.

Eu sabia que eu não poderia responder. Eu tinha que fugir, me livrar disso. Mas a sensação que uma simples frase, que nunca tive interesse em ouvir, fez em mim era a maior prova de que eu estava perdido. Não conseguiria ir embora sem que ela pedisse desejando isso realmente. E ela nunca pediu dessa forma.

Então, ao invés de nos separarmos e cada um ir para o respectivo país e nunca mais nos vermos, marcávamos pontos de encontro em regiões neutras, com ainda mais carícias, juras de amor e muita provocação. Só que um dia isso teve que acabar.

— Tartaglia, como o décimo segundo Harbinger, você terá uma missão vinda direto da nossa Senhora Tsaritsa. — eu ouvia de um dos mensageiros da própria Tsaritsa.

— E irei completá-la com orgulho.

Só que a missão era de assassinar ninguém menos que Lumine. A garota que havia conseguido informações demais de Liyue. Se eu tivesse roubado as informações sem que ela ficasse com algumas provas… Se eu não a amasse tanto, nada seria tão doloroso quanto isso. Meus olhos, desde esse dia, ficaram vazios e opacos, como um azul de uma pedra oca qualquer. Meu sorriso era sempre falso, minhas risadas secas e sem humor algum. E o dia de assassinar Lumine chegava cada vez mais perto.

— É a primeira vez que nos encontramos no campo de batalha, Ojou-chan. — eu disse aquela vez assim que dei um jeito de emboscá-la em uma parte desértica de Inazuma.

Seu sorriso era calmo, mas eu podia ver muito mais naquele olhar dourado. Surpresa, decepção, um pouco de esperança? Não importa o que fosse, fazia o meu coração sangrar como nunca.

— Olá Ajax. — ela disse em um tom ameno. — Veio me matar?

Eu não conseguiria respondê-la, mesmo que ela já soubesse o que eu tinha de fazer. E não tinha como ignorar uma ordem direta da rainha, ou meus irmãos e pais sofreriam as consequências. Mas, se matasse Lumine, eu ficaria quebrado pelo resto de minha vida, sentindo uma dor e arrependimento por ter matado o amor da minha vida por uma guerra que apenas influencia de forma benéfica aos mais influentes mercadores.

— Vá em frente. — ela disse, vendo que eu não responderia. — Eu não vou me defender. Eu não poderia.

Lumine sabia que eu tinha mais a perder do que ela. Seus pais já foram assassinados, seu irmão estava desaparecido há anos. E quanto a mim, ainda tinha todos parentes consanguíneos próximos vivos e bem. Mas isso não muda nada quanto ao fato de que se eu colocasse um dedo nela minha vida acabaria também.

— Sabe, quando eu era pequeno, o meu sonho sempre foi ser um viajante aventureiro. — eu a contei.

Lumine apenas me observava com um sorriso derrotado, como se apenas esperasse a sua morte. Ela se sentou na grama e ficava a me observar, com a sua espada fincada no chão. Uma clara demonstração de rendimento. 

— Por que não fazemos isso? — eu a perguntei.

— Se fugirmos, sua família sofrerá as consequências. — ela me lembrou. — Está tudo bem, Ajax. Eu já aceitei a minha morte. Por você.

— Não. — eu neguei.

Seus olhos dourados brilhavam por curiosidade. Assim como eu não abdicaria de Lumine, eu jamais iria matar minha própria família. Mas ela não entendia ainda o que eu desejava fazer. Era loucura, poderíamos ser capturados em um futuro. Mas mesmo assim, um plano maluco e questionável era bem melhor que qualquer tipo de conflito entre nós dois.

— Ninguém morre. Ninguém, além de nós. — ela ergueu uma sobrancelha, intrigada. — Vamos forjar a nossa morte.

E a segunda coisa mais enlouquecedora que eu havia feito. Pegamos dois corpos anatomicamente do mesmo formato que o nosso e fizemos ambos pegarem fogo usando nossas roupas e nossos equipamentos, com o auxílio do poder anemo de Lumine. Já carbonizados, seria impossível que alguém descobrisse a mentira. Tartaglia, o décimo primeiro Harbinger de Snezhnaya morre aqui. E sobra apenas Ajax, um rapaz brincalhão e desengonçado com um arco e flecha, a única arma que conseguiu surrupiar após o forjamento da própria morte e Lumine. Eu estava bem. Nunca me foi um problema ter uma vida sem expectativas, é algo emocionante e nada monótono. Vagando sem rumo, sem casa e sem família, sem saber quando seríamos encontrados e mortos. Mas livres da tortura que uma guerra proporciona. E juntos.

E isso era o suficiente.


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Notas finais do capítulo

eu não consigo fazer um final trágico, eu tentei e simplesmente sou uma falha nisso, I am sorry

espero que tenham gostado, é curtinha mas amei escrevê-la ;)



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