Bonnie supervisionava cada gesto e respiração de Kate enquanto tentava ensiná-la a simples tarefa de tentar canalizar sua energia para acender uma vela que estava posicionada a poucos metros a frente. Mesmo sendo algo simples, os riscos de que ela canalizasse quantidade errada de energia e incendiasse a casa inteira eram grandes, por isso, estava preparada para reverter qualquer situação.

—Não está dando certo. - Kate relaxa o corpo, depois de passar horas tentando fazer alguma coisa acontecer.

—Você ainda não aceitou que é uma bruxa, está bloqueando seu poder. Aceite, mentalize e deixe fluir… - Bonnie diz com uma voz serena, para que continuasse com a concentração de antes.

Kate então foca seu olhar novamente no pavio cru e intocado da vela, repetindo para si mesma que era possível fazer aquilo e que era totalmente seguro. Ela sentia algo dentro de si que não era possível descrever, mas que fluía e queria sair. Porém, prestes a conseguir acender o pavio que já estava mostrando indícios de queimar, alguém entra pela porta da frente às pressas e sem avisar, desconcentrando-a. Com o susto, uma fagulha de fogo é lançada aos pés da garota loira na entrada da porta, mas logo é apagada por Bonnie que permanecia atenta.

—Oh, não… - Kate olha para Bonnie assustada - Me desculpa! Eu quase… Eu poderia… Era isso que eu temia.

—Calma Kate, está tudo bem. Não aconteceu nada, eu estou aqui pra isso.

—Não foi a recepção que eu esperava, mas olá! - Caroline dá um sorriso nervoso.

—Não… Eu temia que estivesse certa esse tempo todo. - Kate escurece sua expressão, passando a mão no cabelo, amedrontada - Não… não… 

—Kate…

Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, ela sai correndo pela porta a fora, ignorando completamente Caroline e tudo em volta. Ela corria, mesmo sem saber pra onde, apenas procurando algum lugar ao longe, silencioso o bastante pra passar o tempo e pensar. Sua mente só conseguia lembrar dos gritos, do calor, do medo e da rapidez com que tudo aconteceu. Era doloroso demais reviver tudo.

—O que houve com ela? - Caroline pergunta, perplexa por não ter entendido completamente nada - Ela é uma bruxa também?

—Ela tá aprendendo a controlar a magia… - Bonnie suspira cansada e um tanto preocupada - Eu sei como ela se sente, mas infelizmente ela precisa enfrentar a aceitação antes. Eu vou ligar para Stefan, talvez ele tenha alguma ideia de para onde ela pode ter ido.

—Não prefere que eu ligue? - Caroline pergunta, arrependendo-se da pergunta logo depois de fazer, ao ver a amiga com um olhar suspeito - Porque… ele sabe que você estava com ela, então pode ser que fique preocupado ao ver que está ligando pra ele.

—Tudo bem… - Bonnie responde mesmo estando desconfiada das intenções da amiga.

O bosque parecia longe o suficiente de tudo. Já estava entardecendo e o sol espiava por entre as folhas e galhos das árvores, fazendo com que apenas finos raios de sol iluminassem a área perto do lago, onde resolveu ficar. Seu peito parecia querer explodir e tentava aliviar tal pressão curvando-se pra frente com as mãos nos joelhos, tentando diminuir o ritmo da respiração aos poucos para controlar a ansiedade.

—Olha só, se não é a garota que incendeia as pessoas… - Um homem se aproxima pelo caminho que ela havia chego, aparentemente sozinho mas com intenções não muito favoráveis.

—Eu não quero machucar mais ninguém. - Ela recua alguns passos à medida que ele ia se aproximando. - Por favor, vá embora.

—Julian está de olho em você e eu só estou verificando o quão perigosa você é. - Ele sorri e num vulto, aparece atrás dela, fazendo com que ela se assuste ao sentir sua respiração mover seus cabelos. - Bu.

—Eu disse pra se afastar! - Ela o empurra, fazendo um gesto com as mãos para se afastar.

Mas então, um vento forte começa a balançar as árvores e fazer as folhas do chão se erguerem como num redemoinho gigante, envolvendo aquela parte do bosque inteiro num vendaval isolado. Algumas coisas passam voando e um poste de luz chega inclusive a pender para o lado ameaçando cair. O homem que antes a provocava, decide ir embora depois de perceber que aquilo estava fora de controle e a deixou sozinha finalmente. Mas tudo permaneceu fora de controle, mesmo Kate tentando fazer parar do mesmo jeito que imaginou que teria feito para iniciar tudo aquilo e nada resolvia. O medo tomava conta, juntamente com a raiva sobre si mesma e o esgotamento mental de ter que lidar com uma reviravolta tão grande na sua vida.

Ela se sentia perdida diante daquelas folhas que passam numa velocidade extrema diante de seus olhos e das ondas grandes que agitavam a água da lagoa, mas ela só queria que parasse. Decidiu gritar e liberar as lágrimas que estavam presas na garganta enquanto levava as mãos no rosto, quando ouviu a voz de alguém familiar.

—Kate?

Ela olha para Stefan se aproximando com a mão erguida para evitar que algo voasse em sua direção, então ela decide aproveitar a oportunidade de tentar se sentir mais segura. O vento começa a diminuir aos poucos, à medida que Kate vai desabando em lágrimas, desviando o foco da raiva. Ela então o abraça com força, agarrando-se a esperança de recarregar sua energia novamente para depois poder lidar com toda a continuação do seu processo.

—Vai ficar tudo bem. - Stefan sussurra, enquanto retribui o forte abraço.

—Eu matei todos eles. - Kate apenas diz em meio a lágrimas, sem se soltar do abraço.

Ela sabia que não conseguiria dizer isso a alguém olho no olho e por isso, aproveitou para dizer de uma vez enquanto ainda estavam abraçados. Não podia mais segurar aquele segredo e sentiu que precisava dividir isso com alguém ou pelo menos, dizer em voz alta para se livrar daquele peso. E Stefan ouve atento, compreendendo o que ela queria dizer e o que ele havia suspeitado, mas ainda assim, esperava que não fosse verdade. Ele conhecia aquela sensação e sabia que só o tempo seria capaz de curar aquela dor, infelizmente.