A little like you escrita por Pear Phone


Capítulo 1
1.


Notas iniciais do capítulo

LEMBREM QUE DESCONSIDERA O iOMG E A SAGA SEDDIE E TUDO QUE OS ROTEIRISTAS ESTRAGARAM DEPOIS.

BOA LEITURA. TENTEI FAZER ALGO COM A MINHA CRIATIVIDADE TRISTE ENTÃO SE PRECISAR PEGUE UM LENCINHO.



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Eu tinha acabado de chegar em casa da Ridgeway. Carly me chamou antes pra almoçar com ela, Spencer e Freddwiche, como sempre, mas eu queria um tempo sozinha. Daria as caras no Bushwell no fim de tarde, quando costumávamos ensaiar pro programa; provavelmente poderia ficar por lá depois, jantar com eles e dormir fora. Abri a porta de casa mentalizando um bom lanche com bastante presunto e uma soneca relaxante na sequência, mas não contava que a desequilibrada da minha mãe estaria em casa...

— O que faz aqui?

— Na minha própria casa? - ela questionou irônica, com as mãos na cintura. Usava uma roupa cheia de estampas estranhas e cafonas, mas eu já tinha naturalizado aquilo a níveis que perguntar sequer fazia sentido. - O mesmo que você, Samantha.

Já pela entonação dela, eu sentia. A mulher não estava num bom dia, e iria acabar sobrando pra mim.

— Como conseguiu uma folga no meio da semana? - Era quarta-feira, e ela tinha arranjado um emprego numa loja de conveniências na semana anterior. Ou num sex shop, porque, conhecendo a peça, ela não admitiria com facilidade um emprego "duvidoso", e nunca dizia o nome do lugar.

— Não consegui. Fui demitida, mas talvez o Joseph possa ajudar de qualquer jeito.

Mudei minha feição, que surpreendentemente continuava relaxada ainda. Nós estávamos passando por dificuldades financeiras desde o mês anterior, abarrotadas de contas e dívidas, tudo isso por consequência da consumista surreal que ela vinha sendo. Aliás, esse tal de Joseph era um cliente pé-rapado qualquer que ela tinha conhecido na loja, quando começou o trabalho.

— Tá brincando, né? E vai ficar em casa, como se... como se...

— Como se fosse uma loira vagabunda? Ah, essa é você, querida filha - ela rebateu.

Nossa dinâmica era sempre uma troca de farpas inicial, que então evoluía pra uma troca de farpas agressiva, e depois podia terminar com objetos quebrados, portas batidas, sequências de palavrões intermináveis ou, até mesmo, tentativas de agressão e agressões de fato. O pivô? Minha mãe fugia sempre dos próprios problemas enquanto fazia de tudo pra ressaltar os meus, e isso me dava nos nervos. E mesmo Spencer, que não era nem de longe alguém super maduro, representava pra mim um adulto mil vezes mais responsável que ela.

— Não finge que gosta de trabalhar - Pam recomeçou, puxando a intriga. - Ah, esquece, nem deve ter tentado alguma vez... além daquela brincadeirinha que vocês crianças fazem...

— Mãe, eu juro que... - senti um ódio incontrolável subir pelas minhas veias.

Qualquer pessoa presenciando aquele momento (inclusive Carly e Freddie) acabaria pensando que, talvez, eu pegasse pesado demais com ela. Mas o meu ódio não vinha à tona cobrando uma perfeição da mulher que tinha o papel de me criar; eu não cobrava nada assim dela, nem mesmo que ela fosse uma mãe normal e certinha, porque isso me faria odiar ainda mais nossa relação. No fundo, só queria me sentir parte de algo às vezes, parte de uma família, e ter alguma noção se não morreríamos de fome no dia seguinte, ou mortas, porque Pam preferia se envolver com algum agiota ao invés de arrumar um emprego.

Respirei o mais fundo que podia, e a coisa mais lógica que pensei foi subir as escadas com pressa, correndo até meu quarto, pra bater a porta, ligar um som bem alto e fingir que ela não existia. Mas sempre restava uma forma bem melhor de esquecer que essa mulher era minha mãe: estar na mesma casa que ela não era a melhor das opções disponíveis. Por isso, voltei pela mesma porta que tinha acabado de entrar, sem dizer mais nada, ainda com a mochila nas costas, com o suor pingando na testa de nervosismo e um estômago que roncava. Além de tudo, sentia olheiras se formando no meu rosto... mas não olhei pra trás.

Qualquer pessoa, no meu lugar, procuraria ajuda instantaneamente, tipo algum ombro pra chorar, né? Carly costumava recorrer a mim quando queria desabafar sobre suas dores. Mas Sam Puckett nunca pede ajuda, apenas aparece e finge que está acostumada com o que vive. Fingi tantas vezes que muito provavelmente, naquela altura, não era mais fingimento. Eventos como esse me faziam surgir inesperadamente no 8c, abrindo logo a geladeira da minha melhor amiga e companheira de webshow, sem aviso prévio. Eles não entendiam o motivo, mas me recebiam.

Mas naquele dia, o destino parecia querer outra coisa, e não foi exatamente assim.

— Sam? - Carly me encontrou no térreo, com uma expressão ligeiramente estranha. - Você não ia vir mais tarde?

— Ia sim, mas sabe, eu mudei de ideia... vou ficar por aqui mesmo, até chegar o horário que ensaiamos.

— Hm, você não leu as mensagens do Freddie? Hoje não tem ensaio. Na verdade, eu tô de saída, amiga. O Spencer me ligou super desesperado...

Carly me explicou que o irmão tinha ido até a casa do avô, em Yakima, porque precisaria passar a noite lá finalizando uma escultura pra um colega de infância, cliente local. De alguma forma, ele tinha se enfiado numa tal reunião especial de família e precisava que Carly aparecesse pra resgatá-lo.

— Mas e aí, quer que eu vá com você? - sugeri, afinal toda melhor amiga se oferece pra ajudar nos melhores e piores momentos.

— Tem certeza? - ela fez uma expressão como quem já sabia a resposta.

— Claro que não, essa reunião vai ser um saco... - finalizei. - Mas te espero aqui.

— Ok. Chaves? - ela correu pra fora do prédio mas, antes de sair, fez menção de jogá-las.

— Relaxa. Não preciso delas - respondi, certa do que falava. Não queria atrasar nenhum plano. Entrei no elevador e preparei o meu grampo emergencial.

No final das contas, eu tinha conseguido o que queria: lanches e tranquilidade pra uma boa soneca. Mas, percebi que, na maioria dos dias, o destino me levava ao contrário quando se tratava da solidão: eu buscava me isolar pra lidar com os meus problemas e sempre acabava rodeada de pessoas, desde que conheci Carly. Nunca gostei muito de procurar por ninguém: cruzavam, de certa forma, com o meu caminho. E eu aceitava, contrariada pelo destino.

Dessa vez, lá estava eu, realmente sozinha, sem ninguém pra me distrair de mim mesma. Reparei que aquilo não era realmente o suficiente. Depois de uma crise de raiva, talvez a ex Samantha Puckett, no auge dos seus dezesseis anos de idade, precisasse de certa ajuda. Mas tinha um orgulho muito forte, de qualquer jeito, então deitei no sofá e fechei os olhos, esperando a boa soneca me levar a um universo sem acasos delirantes.

O que ouvi, assim que já ia pegando no sono, foram gritos histéricos da mãe estúpida do nerd tão estúpido quanto ela e uns barulhos de vidro quebrando. Fiquei inicialmente puta de precisar levantar e poderia dar um soco nos dois sem pena, mas acabei decidindo só espiar a confusão pelo olho mágico.

— Mãe, você não entende como isso é importante pra mim? Minha privacidade é importante! Não tenho cinco anos!

— Freddie, já conversamos sobre isso. A inspeção no banho vai continuar enquanto você aparecer com essas manchas no corpo, queira você ou não!

— Não são manchas, eu só derramei ketchup sem querer e...

— Onde você come essas porcarias? É mais um motivo pra eu te inspecionar! - Marisa foi firme nas palavras.

É óbvio que eu ri daquela cena de me revirar, mesmo silenciosamente, porque não queria que os dois me percebessem ali. Ela era insana e engraçada demais. Mas, por algum motivo, vendo o semblante triste do nerd no final de tudo, senti um choque estranho. Um choque que eu nunca tinha percebido antes, porque talvez Carly e Spencer rindo comigo não iriam me deixar refletir...

Eu o entendia. Eu entendia tudo que zoava nele. Entendia como era viver uma vida infernal e brigar com a pessoa que eu deveria sentir conforto junto, não por um motivo especial, mas por qualquer coisa besta do cotidiano. Carly sempre perguntava se algo muito diferente tinha acontecido que levasse a MAIS uma briga, e Freddie também, mas nele morava a mesma expressão que a minha: a de procurar apontar algo pior, um conforto que trouxesse o pensamento "ah, então a minha mãe e a minha vida não são tão ruins assim".

Caralho, Freddie! Eu te entendia mesmo. Por que eu nunca senti essa energia como sinto com você? O Spencer não é um pai ou uma mãe... Ele é um irmão anormal, mas é um irmão acima de tudo. Carly não conhecia essa "nossa" dor, apesar de conhecer muito bem a dor de uma ausência.

Mesmo sem ter tanta percepção da vida, mesmo convencendo a mim mesma que só não tava a fim de esperar a Carly sozinha, muito provavelmente foi por causa dessa empatia que eu espiei o olho mágico por mais um tempo: vi a senhora Benson saindo do 8d, avisando que tinha uma emergência no trabalho, e fui até você. Meu grampo emergencial funcionou a todo vapor.

— Freddie? - te chamei. Você obviamente não ouviu, porque deveria estar no quarto com alguma música alta ligada, fingindo que a Marisa não era sua mãe, né? Eu conseguia ouvir os acordes de alguma banda de Rock genérica. Muito ruim, por sinal. Não pude deixar de te criticar mesmo enquanto tentava nutrir empatia.

Meu grampo especial não funcionaria no seu quarto. Você tinha aquela geringonça na porta, e eu não tava com a mínima vontade de lidar com aquela merda. Então eu peguei o celular e te liguei, claro. Mas você, otário, não atendeu. E eu, vergonhosamente, te conhecia. Sabia que esse tipo de escapismo não seria eterno, e sabia onde você gostava de ir quando queria esquecer das coisas.

Ah, a saída de incêndio... Foi lá que você me encontrou, cerca de uns trinta minutos depois, com uma camisa azul escura. Sem nunca ficar sabendo que eu entrei no seu apartamento, procurando por você.

Assim era melhor. Samantha Puckett nunca procurava por pessoas, ela só cruzava com elas... por causa do inevitável destino. Não é mesmo?

— Ah, oi, Sam. Achei que você estivesse em casa.

— Talvez eu esteja, Frednerd - respondi. - Às vezes, qualquer lugar parece mais com uma "casa" do que... lá.

Você não disse nada exatamente, ainda devia estar processando a briga. Por mais recorrentes que elas fossem, a exaustão psicológica não deixava de mexer com a gente e nos afundar. Mas eu sabia que você entendia, pela expressão cabisbaixa. Você tinha baixado a guarda, deixado o orgulho de lado, como se nada tivesse significado suficiente... atitude de quem carrega uma dor. Por isso, hoje, eu ainda tenho essa imagem clara na memória.

— Eu não aguento mais, Sam - você levou as mãos ao cabelo. Nunca te vi daquele jeito antes, nem quando... aquilo aconteceu, e acabamos nos beijando. - Viver com ela é como sempre estar preso ao-

— Ao passado?

— Sim - você levantou a cabeça e me olhou nos olhos, pela primeira vez, naquele momento.

— E é como se ela fosse um obstáculo em tudo que você gostaria de viver?

— Exatamente.

— E às vezes você se pergunta como Carly consegue ser tão feliz sem ter uma mãe? E se sente egoísta porque, apesar de ter uma, não se sente nem um pouco feliz como ela?

Você demorou a responder essa, porque eu sou e fui objetiva na minha fala. Não existem rodeios, a inveja aparecia em relação à Carly, quase como se nada pudesse impedir. De início, eu me arrependi de ter te contado.

— Sam... nós não temos casas muito legais, né? - eu neguei com a cabeça. - Mas lá...

— É um refúgio... eu entendo. Estar com a Carly é a única coisa que me traz segurança - admiti.

Você suspirou, passando as mãos pelo cabelo de novo, e desviou o corpo, não apenas o olhar. Olhou pros pássaros que voavam, pro lugar esquisito que nós estávamos, e depois pareceu viajar completamente.

Eu pensava sobre o ponto de fragilidade que tinha alcançado com você, e me corroía a cada segundo. Tudo tinha fluído muito naturalmente mas, não importava o quão natural fosse, eu preferia morrer do que me abrir com alguém, ou te demonstrar fragilidade. A saída de incêndio, por outro lado... abria portas pra uma dinâmica diferente. Ali, nós compartilhávamos desgraças em comum.

— Não vou te beijar de novo - brinquei, reforçando a proximidade e a distância ao mesmo tempo. Nunca conseguia abrir mão de uma delas.

— Acha que isso resolveria o nosso problema? - você riu, irônico. - Quem dera ainda fossem os mesmos.

— Naquela época a senhora Benson era gente? - levantei as sobrancelhas.

— Não, não... mas tinha algo diferente, sabe? Esperança de criança - assenti, concordando. Você tinha uma certa razão.

— Reformatório - completei.

— É... - foi tudo que te ouvi dizer, antes de mais um silêncio constrangedor.

Senti o segundo choque do dia, olhando pra baixo e vendo que nossos mindinhos tinham se encontrado e você parecia querer sobrepor a sua mão na minha. Deixei que aquilo acontecesse, meio desnorteada.

— Desculpa, não sei o que dizer. Você sofreu muito, Sam.

Confesso: eu segurei muito a pequena lagriminha "ignorável" naquele instante, você não. Lembrando que a Samantha Puckett de dezesseis anos não se abria com ninguém, não pedia ajuda a ninguém, evitava demonstrar fragilidades. Mas você não me perguntou se eu sofria; você reconheceu e validou o meu sofrimento, como se tivesse toda a certeza dele sem precisar que eu te explicasse e justificasse. Porque sabia, de um jeito meio torto, quais eram as minhas manias e maneiras de expressar.

Freddie, você me entendia tanto quanto eu te entendia. E é possível que todas as minhas reflexões matutadas de hoje já eram a sua realidade naquela época.

Eu sei que hoje você diria algo do tipo "Ah, alguns problemas da vida são mais constantes. Então o objetivo não é que eles sumam, mas que sejam compartilhados, pra então podermos lidar com eles e curar as feridas com o tempo que elas necessitam ser curadas...". Mas, porra, nós não tínhamos noção disso, e te ver chorar na minha frente foi meio... difícil de reagir. Qualquer dor que não viesse da minha implicância não fazia tanto sentido assim.

Então eu virei o seu rosto - meio inchado e molhado de lágrimas - até meio violentamente, não com a delicadeza completa que você merecia. Depois, me aproximei e te beijei com todo o sentimento que eu tinha no peito. Não queria sugar a tristeza de você e nem te transferir a minha, não queria me juntar a você... mas meio que, de certa forma, fui capaz de fazer aquela carga enérgica abundante se transformar em algo além de dor. Pra te provar que nós podíamos ser mais do que a nossa dor.

Você fez o mesmo em questão de segundos, e o beijo foi se adensando e adensando, muito diferente do primeiro. Era intenso, e trazia todo o impacto que o tempo nos causou: de amigos-inimigos que se expressavam terrivelmente a amigos-inimigos (bem mais amigos agora) que aprendiam aos poucos a se expressar.

— Eu... - tentei dizer, quando você se afastou de repente.

— Não quero me aproveitar da sua fragilidade, Sam.

— Tá brincando, né? Você que tava chorando agora. Não tem motivo pra achar isso.

— Em que outro dia normal você viria aqui e me beijaria, Sam?

Desviei o olhar e fechei os olhos, inspirando e suspirando fundo.

— Você quer isso, Sam? Realmente?

"Mais do que você pensa. Mais do que eu penso" foi o que veio na minha cabeça, e obviamente não o que eu disse.

— Se não quisesse, teria ido embora - falei finalmente.

E voltei a te beijar. Eu odiava a felicidade que aquilo me trazia, porque morria de medo que ela não fosse duradoura, que fosse um momento qualquer. Ao mesmo tempo, morria de medo que ela continuasse, porque isso significaria lidar com tudo aquilo que nós estávamos sempre fugindo de lidar. Voltando à parte boa, seus beijos eram como finalmente sentir o calor que eu precisei durante tanto tempo. A violência que eu via todos os dias, e tinha aprendido a naturalizar, se desmanchava em um carinho e proximidade que talvez eu ainda não estivesse pronta pra receber.

Mas, no fundo, você era como eu, Freddie. E isso inclui o seu cabelo bem cortado, suas roupas cheirosas, lavadas e passadas, sua organização e lógica. Cada parte sua que remetia à perfeição e eu tanto abominava não te resumia. E eu, no fundo, carregava uma parte cuidadosa e sistemática comigo o tempo todo, em algum canto da minha mente que procurava explicações.

Porque ninguém poderia viver como nós sem procurar explicar a vida.


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado :((



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