Quando emergimos do refúgio subterrâneo de Wichita, o mundo acima parecia um quadro renascentista, pintado com pinceladas de desolação e esperança. Eu, Jacob, junto com Seth, Collin, Brad, Leah, Howard e o restante da nossa equipe de resgate, respiramos fundo, enchendo nossos pulmões com o ar fresco da liberdade e da incerteza.

Nossa jornada nos levou primeiro a North Newton, uma cidade que uma vez simbolizou a tranquilidade suburbana. Agora, as ruas estavam silenciosas, com exceção do som dos nossos passos cautelosos. As casas, que antes abrigavam famílias e risadas, estavam vazias, mas ainda de pé, como monumentos à vida que continuava apesar de tudo.

Continuamos para Hesston, onde os campos de trigo, dourados e vastos, balançavam ao vento como um mar calmo. Era um lembrete da resiliência da natureza, que persistia mesmo quando a humanidade parecia vacilar. Nós nos movíamos com propósito, cada um de nós carregando o peso da responsabilidade e a chama da esperança.

A cada passo, eu registrava mentalmente os locais por onde passávamos, gravando-os em minha memória como um mapa para o futuro. Sabíamos que a estrada à frente seria longa e incerta, mas juntos, estávamos determinados a trilhar o caminho de volta à civilização, ou o que restava dela.

Enquanto caminhávamos, a imagem de Nessie invadia meus pensamentos com frequência. O imprinting não era apenas uma ligação, era uma âncora que me mantinha firme em meio ao caos. O amor que eu sentia por ela era uma chama inextinguível, iluminando os cantos mais escuros da minha mente. Nessie era a promessa de um amanhã melhor, e a saudade que eu sentia era um testemunho do poder desse vínculo.

Após 15 dias de uma jornada árdua, finalmente chegamos a Moundridge. O lugar deveria ser um ponto de encontro, um sinal de união e esperança. Mas algo estava errado. O silêncio era ensurdecedor, e a ausência de Sam e sua matilha era como um buraco negro, sugando a esperança que tínhamos. Eles deveriam ter chegado antes de nós, conforme o combinado, mas não havia sinal deles.

A preocupação se instalou rapidamente entre nós. Onde estariam eles? Teriam encontrado algum obstáculo insuperável ou, pior, teriam se deparado com algum destino trágico? Eu sabia que não podíamos simplesmente esperar. Precisávamos agir, buscar respostas. Mas, no fundo, eu também sabia que qualquer que fosse o próximo passo, a ausência de Nessie seria uma sombra constante em meu coração.

Leah olhou para o horizonte com uma expressão carregada de preocupação. - Não gosto disso- disse ela- Sam sempre foi pontual. Algo não está certo.

Desde o momento em que Leah e Howard se olharam, algo dentro dela mudou. Eu,testemunhei a transformação com meus próprios olhos. O imprinting, esse fenômeno misterioso e poderoso, havia tocado Leah de uma maneira que nenhum de nós esperava. Mesmo quase vinte anos após Leah ver Howard pela primeira vez, ainda era surpreendente vê-la citar Sam com uma serenidade, como se uma tempestade tivesse se acalmado dentro dela. O rancor e a tristeza que ela sentia por Sam.. Eles simplesmente desapareceram.

Eu assenti, compartilhando do mesmo pressentimento. - Eu sei, Leah. Eu sinto isso também. Sam não mudaria a rota se não fosse obrigado a fazer isso.

Brad cruzou os braços, a inquietação evidente em seu rosto. - Talvez eles tenham se atrasado, ou talvez. - Ele hesitou, não querendo verbalizar o pensamento que talvez todos compartilhavam.

Collin interrompeu, com uma determinação firme na voz. - Não podemos ficar aqui parados. Precisamos de respostas.

Olhei para os três e percebi que eles aguardavam minhas instruções- Brad, Collin, quero que vocês dois vão às cidades mais próximas. Procurem por qualquer sinal de Sam e sua matilha. Qualquer coisa que possa nos dizer o que aconteceu.

Brad acenou com a cabeça, pronto para a tarefa. - Entendido, Jacob. Vamos fazer uma varredura completa.

Collin assentiu – Se não retornarmos até o anoitecer use o telefone sem fio.

Com um último olhar de entendimento mútuo, Brad e Collin partiram, olhei para Leah e a sua tensão com esse imprevisto era compartilhada por Howard e os demais homens que nos acompanhavam. Como não sabia o tempo que Collin e Brad demorariam para nos dar as primeiras notícias decidimos montar o acampamento e aproveitar a espera para descansar.

Sete horas se arrastaram desde que Collin e Brad partiram, cada minuto esticando-se como uma eternidade. A noite havia caído sobre nós, um manto de estrelas cintilando acima, indiferente à nossa angústia. Eu sentia a inquietação fervilhando dentro de mim, uma tempestade prestes a irromper.

Olhei para a posição da lua, provavelmente já haviam se passado as horas solicitadas por Collin. Com um suspiro que carregava o peso da minha humanidade, deixei-a de lado e abracei a forma do lobo. O mundo se transformou, os cheiros e sons se intensificando, e a ligação mental com Collin e Brad se tornou clara e forte.

Não demorou muito para que suas vozes ecoassem em minha mente. "Jacob, encontramos Sam e os outros," transmitiu Collin, sua voz mental tingida de alívio e urgência. "Tivemos que mudar nossa rota. Fomos descobertos."

A revelação caiu sobre mim como um golpe, pesado e inesperado. Como nosso plano havia sido descoberto, saber que eu havia colocado a vida de todos em riscos incluindo de meu pai foi como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés.

Brad continuou, "Estamos a caminho de Moundridge por um caminho alternativo. É mais seguro, mas vai levar mais tempo."

A notícia era um bálsamo para minha alma atormentada. Eles estavam vivos e a caminho. A preocupação deu lugar a uma determinação renovada. "Entendido," respondi mentalmente. "Vamos nos preparar para recebê-los. Mantenham-se seguros."

Com a comunicação estabelecida e a certeza de que todos estavam a salvo, retomei minha forma humana. A noite ainda era escura, mas agora havia uma faísca de esperança iluminando o caminho.

A aurora tingia o céu com matizes de esperança quando a silhueta de Sam e da matilha emergiu no horizonte. Eles não estavam sozinhos; os sobreviventes de La Push os acompanhavam, um grupo resiliente de rostos familiares e novos aliados. Meu coração, se é que posso chamá-lo assim, acelerou com a visão deles.

Mais de vinte anos haviam se passado desde que os vampiros foram revelados ao mundo, e cada dia sem ver meu pai parecia uma pequena eternidade. Mas ali estava ele, entre os sobreviventes, seu cabelo agora prateado pela sabedoria dos anos, mas seus olhos ainda tão penetrantes e cheios de vida quanto eu me lembrava.

A emoção era palpável, quase tangível no ar frio da noite. Eu, permaneci imóvel, observando a distância que se encurtava entre nós.

Quando meu pai apareceu à vista, liderando o grupo com Sam ao seu lado, senti um nó se formar em minha garganta. Vinte anos... Vinte anos desde que os vampiros se revelaram ao mundo e nos separaram. Vinte anos desde que eu olhei nos olhos do homem que me ensinou a ser quem eu sou.

Ele estava mais velho, é claro. As marcas do tempo desenhavam seu rosto, mas seus olhos... Ah, seus olhos ainda brilhavam com a mesma intensidade, a mesma paixão pela vida que eu sempre admirei. Eles encontraram os meus, e por um momento, nada mais importava. Não havia palavras, apenas um entendimento silencioso e profundo.

— Jacob- ele disse, sua voz embargada pela emoção. -Meu filho...

— Pai- Eu consegui dizer, antes que a emoção me superasse e as palavras falhassem.

Ele me abraçou, e eu senti a força de duas décadas de amor não dito nos seus braços. Era um reencontro de almas, um fechar de ciclos, um novo começo. E enquanto eu abraçava meu pai, sabendo que Sam e os outros estavam seguros, senti uma paz que há muito tempo não conhecia.

Ele me interrompeu com um abraço que falava mais do que palavras poderiam expressar. - Eu sempre soube que você me encontraria- Ele disse, e eu senti a força de sua crença em mim.