She Used To Love Me a Lot escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 8
I remember how good it was back then




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ATO XV

— Isso... - Ela soltou o ar e a tensão, que ainda segurava. – Nós dois... Aconteceu há muito tempo atrás.

— Eu sei. – Garantiu mais do que rápido, se inclinando na direção dela, como se o puxasse, o que não deixava de ser verdade considerando o histórico deles. – Eu sei. Mas não acha que podemos...? Eu não sei...

Atordoada, a mulher acompanhou com os olhos brilhantes seus dedos alcançarem o rosto, quente e macio. Não se importava com o que poderiam dizer, não depois de tanto tempo, apenas com a reposta e o que ela – ainda – o fazia sentir. Era como se tudo o que resolvera trancar bem fundo num local seguro dentro de si houvesse sido guardado para aquele momento, como se soubesse que ocorreria o momento onde sentiria que poderia escolher de verdade, sem os empecilhos de quem eram e do pós-guerra.

— Draco. – A mão dela cobriu a dele para continuar moldando o rosto bem delineado. Ao menos o contato não mexia apenas com ele. – Você falou que deveríamos seguir nossas vidas como se aquilo não houvesse existido.

Conseguiu enxergar a mágoa no momento em que ela disse, claramente ressentida da escolha que fizera, apesar de compreender. Sabia que essa sempre fora uma das maiores qualidades dela: estava sempre pronta a racionalmente entender o outro, embora não concordasse.

Anos atrás, ficara secretamente aliviado que a garota entendesse que aquele mundo que ela vinha construindo com seu nome e seus atos não era o mundo ideal para Draco naquele momento. Aquele “novo” mundo não o queria nele. Agora, porém, sabia que ‘compreendê-lo’ não mudava o fato de que a machucara.

— Nós iríamos para caminhos distintos. – Apontou o que ainda acreditava em tom baixo. – Querendo ou não.

— Isso é o que diz pra si mesmo para conseguir dormir.

A voz dela embargou e pôde enxergar apenas a realidade esmagadora dos olhos castanhos surpreendentemente expressivos acusando-o. Hermione abaixou a mão e se afastou do toque, escorando-se contra a cadeira enquanto olhava a rua mal iluminada pela janela de vidro parecendo tentar recobrar a postura, parecendo não ver realmente nada.

— Não, essa é a verdade. Precisávamos de coisas diferentes naquele momento. E você... – Teimou, rapidamente ganhando a atenção dela, o brilho diferente avisando-o para ter cuidado com o que diria, com o que revelaria sobre suas conclusões, sobre quem ele era naquela época. Se perguntou se isso realmente importava, considerando o que ou quem haviam se tornado depois de tudo, considerando que agora estavam ali, um de frente para o outro, e há muito não encontravam aquelas versões apaixonadas de si mesmos. – Você precisava de algo que eu não tinha.

Permanência. Certeza. Apoio. Draco não sentia possuir nada disso nem para si mesmo. Precisava se encontrar novamente, depois de tudo pelo o que passara junto à sua família. No início, o exílio não parecera um castigo, mas uma oportunidade. Então... Hermione Granger transpassou seus caminhos e seus planos, arrasando tudo sem muito esforço. Precisava mais dela do que ela dele, tinha consciência disso tanto quanto não queria ser esse cara para a garota que ela era.

A viu bufar e rapidamente secar uma lágrima teimosa que escapou no canto do olho, voltando a encarar a rua lá fora, o maxilar tenso e os lábios apertados em desgosto, embora o olhar fosse mais magoado do que qualquer outra coisa.

— Sabe, a ironia é... – Os dedos dela se apertarem contra si mesmos, enquanto mordia os lábios fortemente. – Você disse que passaria.

Draco engoliu em seco, consciente do quão egoísta era por aquela ser uma das poucas partes de sua vida que não gostaria de mudar. Não queria que fosse diferente, embora houvesse demorado para chegar à tal conclusão: não queria que o que sentisse passasse, pois era como a garantia de que havia sentido - e continuara “anestesicamente” sentindo com o passar dos anos.

— Eu esperava que passasse. – Acompanhou o foco dela do lado de fora e suspirou. – Seria menos complicado e não estaríamos aqui agora, teria apenas... Acabado, como outras coisas acabaram depois daquilo.

— Acha que não acabou? – Ela murmurou, tão cética quanto conseguia ser.

— Ainda estamos aqui, não é?

Murmurou de volta, tentando encontrar em toda ela algo que denunciasse estar tocando-a. Antes, costumava ser melhor para desvendar esse tipo de coisa nela e meneando a cabeça, se perguntou se era porquê Hermione costumava amá-lo muito e agora... Talvez não, não daquela forma.   

ATO XVI

Estacou assim que colocou os olhos na figura cacheada, muitos metros à frente, debruçada sobre o guarda-corpo da extensa ponte de pedra que levaria a uma das saídas da escola. Distraidamente floreava a varinha no ar, provavelmente tentando memorizar feitiços.

O perturbava um pouco que tivesse passado a conhecer aquele tipo de detalhe sobre a grifinória. Incomodava mais nas madrugadas frias nas masmorras da Sonserina, quando não conseguia ouvir nada além dos próprios pensamentos gritando quão errados eram. Não era um empecilho, porém, nos momentos em que estava com ela, em silêncio ou discordando sobre qualquer assunto possível, a beijando ou sentindo o aroma daquele lugar específico da nuca dela.

Nesses momentos, as dúvidas se desvaneciam.

A presença dela nos últimos dois meses parecia ter sedado algumas culpas enquanto despertava todas as outras coisas. Nunca ficara por tanto tempo com uma só garota, nunca imaginou que essa garota seria Granger e, sem muita resistência, se vira a incluindo em seus dias, silenciosamente preenchendo-os, pois o que tinham não fora nominado – e não os via fazendo-o.

Com um suspiro, ignorou a dubiedade e enfiou as mãos nos bolsos do comprido casaco preto se dirigindo a ela. A temperatura do fim do inverno ainda era muito fria, mas mesmo sob o céu nublado da manhã, já era possível ver a paisagem de Hogwarts deixando a paleta cinzenta. E, da mesma forma que a primavera mudaria tudo ao redor, também não demoraria muito mais para que as coisas entre eles mudassem, definitivamente.

— Ei. – O mesmo sorriso contido sempre alcançava os olhos castanhos assim que o via, assim como o fazia internamente vacilar todas as malditas vezes. Draco nunca sorria como ela, pensava, por isso apenas apoiou os cotovelos sobre o guarda-corpo, seu ombro junto ao dela sentindo o olhar analisador muito próximo. – Não parece ter dormido bem.

— Perdi o sono.

Estreitou os olhos contra a claridade da manhã, pois detestava acordar tão cedo, mas era dia de visita a Hogsmeade e Granger teria que monitorar os estudantes mais jovens. Como das outras vezes, não participaria. Simplesmente não tinha paciência para dispender alguma energia para parecer que tudo estava bem e isso incluía seus amigos e companheiros de casa.

— Não pode continuar evitando procurar ajuda profissional, eu te disse.

O tom dela foi de reprimenda, o que o fez encará-la enquanto tentava afastar do rosto os fios esvoaçantes pela brisa surpreendentemente insistente àquela hora. Nesses momentos, entendia porquê as incertezas nunca vingavam. Ela estava se tornando uma mulher bonita demais para elas.

— Eu sei, mãe. – Granger revirou os olhos e, embora não quisesse, hesitou. – Eu estava pensando... No que vai acontecer depois.

Ela imediatamente olhou para baixo, os dedos brincando com a varinha de uma madeira especial. Sabia muito bem que se referia a como eles ficaram depois da formatura, pois o resto inevitavelmente se ajeitaria.  

— Você vai embora, é o que vai acontecer depois.  

Concordou com o tom resignado engolindo em seco, mais uma vez notando como aprendera, com o tempo, a detestar quando ela não o olhava direito, pois assim não podia tentar compreender o que se passava com ela. Ficava pior quando a chateação parecia exalar em cada poro da garota que, esperando-o, aparentava apenas tranquilidade.

Passou o braço pela cintura bem delineada a juntando contra si em meio a um suspiro pesado. Estava cansado, pela noite mal dormida, pelo caminho que percorrera e ainda teria que percorrer em nome de suas escolhas. Apesar da má vontade, a castanha não apresentou resistência, apenas se mantendo junto dele, pensativa.

— Vai ser melhor assim. – Murmurou, tentando ajeitar a bagunça de cachos sobre os ombros dela.

— Pra quem?

Ela sempre o encarava com um tipo de exigência que não via em mais ninguém, demandando coisas que Draco nunca estava disposto a ceder. Apenas meneou a cabeça, molhando os lábios, concentrado na bonita curva que o pescoço comprido fazia, dando espaço para a nuca perfumada. Seu devaneio se interrompeu no instante em que ela soltou um riso amargo e voltou a encarar a paisagem pela falta de resposta.

— Isso... Vai passar. – Tentava se convencer. – Depois de um tempo vai ser como se nós dois nunca tivéssemos existido.

Não iriam além de uma aventura que, dali a muitos anos, lembrariam apenas como um delírio nostálgico, porquê... Aquilo, que parecia preencher seu interior de forma tempestuosa, mas ainda assim bem vinda, especialmente quando capturava o olhar dela ou simplesmente a tinha contra si daquela forma? Bem... Aquilo passaria, tinha que passar.

— É assim que prefere? – Ele sorriu brevemente, serpenteando os dedos frios ao contornar o pescoço apenas para vê-la se arrepiar, como sabia que ia.

— As coisas não são como eu prefiro. – Declarou se inclinando para beijar o canto dos lábios macios. Quando esse tipo de intimidade havia se tornado tão permissível entre eles? – E você não costuma ser ingênua.

Hermione virou o rosto para encará-lo, lutando para não deixar o brilho magoado tomar conta dos olhos castanhos, a respiração quente embaralhada a dele. Sentia que poderia ficar assim pelo tempo que fosse, caso não sentisse a pressão por sua omissa falta de escolha. Mas seria melhor assim, tentava se convencer. Para ele, para ela e para as possibilidades distintas de futuro que tinham pela frente.

— Você sempre faz isso. – Concordou já sentindo o nariz dela contra o seu; gelado, mas não um incômodo. Porém, a castanha ainda o encarava. – Sempre joga essa realidade sobre mim, quando acha que estamos indo longe demais.

Ela não estava errada, especialmente por que não era ingênua e saberia reconhecer um padrão. Não tinha coragem de afastá-la enquanto a podia ter ali, ao alcance de uma coruja e de seus olhos, todas as manhãs quando se sentava à mesa de sua Casa.

Porém, inevitavelmente, de tempos em tempos, quando notava que estava se habituando à presença da grifinória todos os dias – fosse no silêncio da biblioteca ou discutindo um assunto qualquer pelos corredores da escola – tentava colocar os pés no chão novamente, afinal Hogwarts e Granger eram sua realidade mais temporária.

— Bem... – Seus dedos rodearam a mandíbula bem desenhada, aprumando-a para si. – Fomos longe demais desde o começo.

Ela apenas franziu o cenho, examinando-o por um instante, perdida em suas próprias convicções e sentimentos sobre o que eram, até que, finalmente, colou os lábios nos dele de maneira firme. 


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Notas finais do capítulo

Ei!
Me deixem saber se gostaram dessa parte, porque estamos cada vez mais próximos do fim ;)

Até breve ♥



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