A biblioteca da escola pegou fogo!, foi o que me disseram.

Eu pensei: só acredito vendo. Quando vi, não acreditei.

Porque não foi simplesmente a biblioteca da escola pegou fogo. A biblioteca da escola pegou fogo ontem à noite, depois da quermesse de São João, aproximadamente duas horas depois que eu entrei lá pra me declarar pra menina que eu gosto.

Ou seja, hoje de manhã (um sábado!), minha mãe recebeu um telefonema urgente dizendo que eu precisava ir à escola imediatamente. Nada mais precisava ser dito, eu sabia que era suspeita.

Sim. A biblioteca da escola pegou fogo e eu sou suspeita.

Mas eu não botei fogo na biblioteca. Não fui eu. Se eu tenho como provar? Não. Mas é que eu estava muito ocupada chorando e afogando minhas mágoas após levar um grandíssimo fora. E, sim, eu tenho um álibi. Não que adiantasse muita coisa já que ele também é suspeito.

O que é ridículo. Eu sei que também não foi ele. Justamente porque ele estava comigo, pagando pela minha comida e me vendo definhar em um monólogo deprimente.

E ainda assim, nós dois fomos chamados em pleno sábado de manhã pra ouvir uma palestra do diretor Paiva sobre honestidade, segurança, suspensão e uma possível expulsão. O que, pra mim, já é um absurdo.

Em vez de incriminarem dois estudantes inocentes, eles deviam se preocupar mais em achar os culpados.

Eu acabei dizendo isso. Quase tomei uma semana de suspensão.

Dennis, por outro lado, era o principal suspeito. A reputação dele na escola (e na cidade) não era lá a das melhores. Então, assim que saímos de lá, ele com duas semanas de suspensão e eu fadada a suportar os olhares acusatórios, (ambos de castigo!), sabíamos que a justiça teria que ser feita por nossa conta.

Foi assim que descobrimos que não fomos os únicos na biblioteca naquela noite. Gabriel, o meio irmão de Dennis também esteve por lá (o que fazia sentido, já que ele é presidente do grêmio e responsável pela burocracia envolvida na quermesse), e é interessante pontuar isso porque os dois vivem em pé de guerra.

Outra pessoa que esteve lá, Giselle, a menina mais bonita do colégio, sem exageros. Mas ela é tesoureira do grêmio, e basicamente tudo era resolvido na biblioteca.

E, por último, Emily. Melhor amiga de Giselle (que seria o único motivo pra ela estar na biblioteca durante a quermesse já que ela não tem função nenhuma no grêmio).

Ou seja, teríamos que investigar tudo por nossa conta pra limpar a nossa barra por completo!

Eu sei que essa história toda precisa de um contexto, eu ainda vou chegar lá! Tudo começou quando meu colega de sala esquisito surgiu com uma proposta igualmente esquisita e eu aceitei...

Na verdade, não. Tudo começou quando eu fui atropelada no primeiro dia de aula na escola nova. Ou foi quando eu me mudei?

Não se sabe quando foi que tudo começou, talvez tenha sido obra do destino ou apenas coincidência. Mas conhecer Dennis Flores foi uma das melhores piores coisas que já me aconteceu.

E mesmo eu não sendo a pessoa mais otimista do mundo, eu também nunca achei que seria arrastada por uma maré de azar tão grande como essa.