Passei a manhã toda conversando com Joshua. Ele é legal, mas às vezes parece que está mentindo, ou então sendo sincero demais. Não o entendo muito bem.

Depois de ter lavado as roupas de Oliver, fui ao antigo dormitório, na esperança de que ele estivesse lá. Quando cheguei, ouvi uma voz masculina, e garanto que não era a de Oliver. Encostei na parede e ouvi um pouco da conversa. É horrível ouvir a conversa alheia, eu sei! Mas, mas, mas... Foi mais forte que eu!

—Ontem você deveria ter ido à empresa. – disse a voz estranha.

—Tive alguns contratempos e não pude ir.

—Achei que você já era grandinho o suficiente para saber de suas responsabilidades.

—Eu só tive alguns problemas! Mas que droga! Agora vocês querem controlar minha vida também?

—Só vim garantir que você se lembre do trabalho. Não há lugar para crianças por aqui. Siga o exemplo de Lilith, ela sempre se supera nos trabalhos que faz.

—Ela foi tomada pela loucura, não sou e nem serei como ela!

—Louca ou não, ela faz o trabalho dela. Não suma!

O homem estava pronto para sair. Corri para a parede ao lado, onde ele não me veria. Esperei alguns minutos e escutei passos, provavelmente do homem, saindo do prédio e indo para longe. Sentei no chão aliviada e suspirei.

—Gostou da conversa? – olhei para o lado e vi um Oliver com uma expressão neutra, com braços cruzados e encostado na parede. Gelei.

—Não, é que... Eu não queria... Eu só... – fiquei sem saber o que dizer, meu rosto, com a pele normalmente bem clarinha, deve ter ficado vermelho na hora, pois o senti queimando.

—Tudo bem, ele é um porre mesmo. Se tivesse te visto... As coisas ficariam feias. – Oliver sentou no chão ao meu lado e fitou o nada. – Não quero que ouça minhas conversas novamente, elas não lhe dizem respeito. – Esta última frase foi dita num tom sério e com uma pontada de raiva.

—Tá, me desculpa.

—Quando te vi de manhã, você estava tossindo. – Ele falou, olhando para baixo. – Deve ser por causa de ontem, né?

—Uhum...

—Está melhor? – dessa vez ele me olhou diretamente nos olhos e não desviou o olhar enquanto eu não respondi, talvez estivesse preocupado?

—Acho que sim... – Parando agora para pensar, eu não tossi nos últimos trinta minutos. Isso é um bom sinal!

—E o que veio fazer aqui? – ele perguntou, seco. Okay, esquece o que eu disse sobre ele estar preocupado. Acho que eu me enganei bastante.

—Vim lhe devolver isto. – virei para a minha direita para pegar o pacote com as roupas, depois me virei novamente para a esquerda. Oliver me observava com uma expressão indecifrável. – O que foi?

Oliver fixou seus olhos nos meus e foi se aproximando, até ficar apenas a alguns centímetros de meu rosto. Eu sentia sua respiração quente se misturando com a minha, seu hálito refrescante e gelado, sua pele perfeita. Seus olhos... Ele usava lentes de contato! Será que eram de grau? Um momento como este e eu pensando se as lentes dele são de grau! Enfim... Deduzi que tudo isso era um passo para um beijo, então fui me aproximando também.

—Obrigado. – Ele pegou o pacote da minha mão e se afastou, não antes de eu lhe tascar um selinho. – Mas o que...?! –Quando percebi que ele só se aproximou para pegar o pacote, foi tarde demais. Eu tinha dado um selinho nele e ele me olhou como se eu fosse a menina mais estranha desse mundo!! Ai caramba, o que eu fui fazer??

Minhas bochechas coraram e eu não achei nenhum lugar perto pra enfiar a cara.

—Alex, o que você... – não esperei ele terminar, levantei e saí andando sem nem olhar para trás. Também não escutei passos, ou seja, ele nem se preocupou em vir atrás de mim.

Fui andando direto para o dormitório, que agora eu sabia exatamente onde era.

—Hey, Alex, a gente está indo almoçar. Quer vir também? – Olhei para o lado e vi Lu e toda a turma.

—Pode ser. – Dei um sorriso e me juntei a turma.

—Tá melhor? – Seth perguntou. – A Mel falou que ontem você pegou chuva.

—Ah, estou bem melhor sim. Sou tipo vaso ruim, sabe? Não quebra fácil nem nada. – Seth riu de leve do que falei e ficou me encarando por alguns minutos.

—Você me lembra alguém...

—Quem?

—Não sei... Mas sei que lembra. – Ele ficou pensativo e não falou mais nada. Eu, hein...

—De manhã, depois que desci, fui ver aqueles quadros de aviso no dormitório e tinha o cronograma dessa semana. No sábado vai ter o baile de boas vindas! – A Lu estava toda empolgada falando

—Como assim?

—É um baile que tem todo começo de ano, para que os alunos se sintam mais a vontade ou sei lá. O motivo não me importa, mas é um baile!!! Okay, já tenho tudo planejado! Na quinta vamos para Londres comprar nossos vestidos...

—Mas e aquela mala gigante de roupas sua? Não tem vestido? – Melina perguntou, meio perplexa.

—Claro que não! Já usei aqueles vestidos em outros bailes.

—Isso que é uma compradora compulsiva. –Seth falou balançando a cabeça.

—E qual é o tema desse ano? – Luca se meteu na conversa.

—Carnaval de Veneza.

—Hein? – será que ela quis dizer com aqueles vestidos e máscaras e coisa e tal?

—É uma festa com aqueles vestidos e máscaras e coisa e tal. – É, ela quis dizer isso. – Você vai adorar!!!

E assim foi o resto da semana. Lu não parava de falar do baile, e, como dito antes, fomos para Londres comprar vestidos [Phil vai me matar quando descobrir o quanto paguei no meu vestido, >< mas isso a gente releva, né?] e máscaras! Não vi mais Oliver e nem Josh por aí...

Finalmente chegou sábado. Hey, meu primeiro baile de máscaras! Eu to ansiosa, tá? O baile era só a noite, mas desde o almoço começamos a nos arrumar. Sabe como são mulheres, né?

Às 7h da noite eu já estava pronta! Optei por um vestido não muito chamativo*, todo preto e com cordõezinhos dos lados. Nós pés, sapatos vermelhos. Meu cabelo estava metade preso e a outra metade solta, com alguns cachinhos, os que ficaram, né, porque esse cabelo liso... Ai ai, não segura nada! A Lu e a Mel também ficaram prontas na hora. Agora era só esperar os meninos ligarem para a gente descer.

—Tá animada? – Mel perguntou enquanto pegava sua máscara.

—Estou nervosa, isso sim.

—Não sei porquê! Você vai arrasar! Está linda! – Lu disse sorrindo para mim.

—Mas... – fui interrompida pelo telefone tocando. Luise atendeu e logo desligou.

—Nossos garotos estão lá embaixo nos esperando. É a nossa hora.

Pegamos nossas máscaras e colocamos. A minha tinha umas penas em volta, mas arranquei tudo. Não quero chamar atenção, sabe?! Só quero aproveitar e fim!

No baile temos de ir acompanhados. Ou ao menos deveríamos. Se alguém não tem um par, bela ocasião para arranjar um. Então Luca se ofereceu para ir comigo, e eu aceitei. Seth foi com a Lu e o Justin conseguiu fazer com que a Mel aceitasse ir com ele, depois de nos acordar noites seguidas ligando enchendo o saco. Vai entender...

Descemos as escadas e encontramos com os meninos que nos olharam de um jeito...

—Okay, estou babando. – Justin grudou os olhos na Melina e não tirou mais. – Mel!!! Você está simplesmente... Perfeita! – Mel ficou corada e abaixou a cabeça. – Hey, não fica assim, é sério!

—É verdade, Mel! Tá muito linda. – Luca falou medindo a Mel dos pés a cabeça, com um olhar meio... safado, sabe?

—Ei, pode tirar o olho! Essa aqui é minha. – Melina foi protestar quando ele completou – Minha... Acompanhante.

Mel estava realmente linda, com um vestido de um ombro só lilás**, sandálias com brilhantes e uma máscara delicada e que destacou os cabelos cacheados e seus olhos cinzas.

—Ué, Lu, pensei que você usaria um daqueles vestidos gigantes tipo carnaval de Veneza mesmo. – Seth falou para a Lu, admirando ela.

—Hello-o, tenho uma reputação, sabe? Aqueles vestidos não combinam nada nada comigo, eu fico bem melhor assim, não acha? – Lu deu uma voltinha. Ela estava com um vestido*** preto e azul, uma sandália preta e uma máscara simples azul. Ela deixou os cabelos negros com ondas e prendeu os lados atrás, deixando todo o resto solto.

—Até eu tenho que admitir que está linda de morrer! Até eu te pegaria.

—Eu sei. – Lu deu uma piscadinha para Seth. – Vamos logo? Estamos atrasados.

—Cadê as máscaras de vocês? – perguntei. Os meninos estavam usando smoking e logo colocaram suas máscaras. Seth estava com uma daquelas brancas que cobrem todo o rosto, e os irmãos usavam uma máscara que cobria só os olhos, ambas pretas.

—Vamos agora, senhorita pura sedução? – Luca falou me dando o braço, e eu apenas olhei para ele espantada. – Brincadeira. – Todos começaram a rir. – Mas você tá linda sim.

—Obrigada.

Fomos todos em direção ao salão de eventos da escola. Todas as luzes dos outros prédios estavam apagadas deixando iluminado com velas o caminho para o salão. Do lado de fora do salão tinha um jardim incrível! Todo iluminado com algumas luzes e velas. Antes do salão tinha um grande corredor, que me lembrou aqueles corredores de filme, sabe? Iluminado com castiçais presos às paredes. Caminhávamos pelo tapete vermelho que nos guiava, dos lados tinha algumas pessoas vestidas com aquelas roupas de Carnaval de Veneza, sabe? Com máscaras brancas no rosto todo, algumas desenhadas, outras não, e suas roupas eram aquelas grandes, sabe? Vestidos e roupas antigas, com plumas e chapéus****. Simplesmente sensacional!!! *----*

Eles iam ao encontro de quem chegava, guiava e tudo, mas não falavam. Me senti na própria Itália. Quando entrei encontrei um salão todo enfeitado com máscaras, tecidos vermelhos e velas penduradas e nas mesas. Cada vez chegavam mais e mais alunos. E os garçons, todos vestidos como aquelas pessoas que encontramos no corredor. No meio do salão, um grande espaço para dançar e dos lados as mesas, todas em vermelho.

—Caramba! As festas são sempre assim?? – Eu estava impressionada com o tamanho e beleza de tudo aquilo.

—São sempre luxuosas, mas esse ano se superou! – Lu estava tão boquiaberta quanto eu.

Pegamos logo a nossa mesa e comemos um pouco.

Quando foi umas 22h os garçons começaram a dançar e fazer pirofagia. Era uma coisa meio Cirque Du Soleil. Algumas pessoas faziam uma dança com acrobacias, e mais pareciam bonecos de borracha sem ossos do que pessoas! Enquanto isso outras pessoas mexiam com fogo, ora assopravam ora giravam pinos com fogo. Tinha até uma Arlequina, tipo aquela do Batman, sabe? Que usa vermelho e preto e tal. Foi simplesmente lindo *----* Só estando lá para saber mesmo. Depois de quase uma hora de apresentação a balada começou. Luca logo me puxou para dançar. Estava tocando Last Friday Night da Katy Perry. Logo depois os outros vieram e começaram a dançar também.

—Alex, vou ali pegar um pouco de bebida, tudo bem? Quer um pouco? – Luca falou para mim, com aquele sorriso encantador.

— Tá, enquanto isso vou ao banheiro.

— Quer que a gente vá com você? – Lu ofereceu, ainda dançando que nem doida.

—Não, pode ficar.

Saí da pista de dança e fui ao banheiro, que ficava do lado do corredor pelo qual eu entrei. Depois que saí do banheiro fui tomar no jardim. Sentei em um banco e fiquei observando a lua e as estrelas. Bateu uma saudadezinha de casa...

—Vem dançar comigo? – olhei para o lado e vi uma menina loira usando um vestido vermelho e uma máscara toda brilhante***** falando com um menino que usava uma máscara branca que cobria só meio rosto, ao estilo de O Fantasma da Ópera, sabe?

—Está bem, Lilith, mas só um pouco. – Essa voz... Nunca confundiria a voz do Oliver!

—Yupi!! – A menina deu saltinhos de alegria e, segurando a mão de Oliver, foi puxando ele para dentro.

Dei um suspiro alto, o que chamou a atenção do garoto que logo olhou para mim.

—Vem logo! – Lilith puxou ele e o levou embora antes mesmo de eu dizer um oi.

Okay, eu não nego! Eu pensei no Oliver a semana inteira, tá? Mas mas... Quem não vai pensar no menino que te ajudou a fugir da chuva, cuidou de você e tudo mais?? Ah.. Okay, acho que muita gente não pensaria. E ele é lindo! Aqueles olhos que dizem ‘me proteja’! Tá, eles não dizem isso, mas eu gostei. Não nego de novo que fiquei meio tristinha vendo ele com aquela garota. Namorada será? Que seja!

Resolvi entrar de novo e me acabar de dançar. Mentira! Não sou do tipo que dança muito, porque eu não sei dançar. Mas se eu soubesse, me acabaria na pista!

Cheguei e fiquei olhando para a multidão no meio do salão a procura de rostinhos conhecidos, o que foi muito difícil, já que estavam todos de máscaras! Procurei os vestidos das meninas e foi sem sucesso.

—Aham. – Um garoto parou do meu lado, usando uma máscara branca que cobria o rosto todo.

—Seth?? – o garoto assentiu com a cabeça. – Ah, eu estava procurando vocês, mas estava meio difícil de achar com todas essas máscaras.

Seth me ofereceu uma taça com alguma bebida vermelha. Vinho? Acho que a escola não serviria bebida alcoólica, serviria?

—Não, obrigada. – Ele insistiu e eu acabei aceitando. Ele me conduziu para o fundo da pista de dança e enquanto isso fomos tomando os drinques. Não vi nem sinal das meninas, devem estar lá dançando. – Esse drinque é de quê?? – Seth balançou a cabeça e levantou os ombros, mostrando que não sabia do que era. – É bom! – Tinha um gosto forte, mas era gostoso. Sentamos nem algumas cadeiras e ficamos lá observando tudo. Seth às vezes mantinha seu olhar em mim, mas quando eu olhava de volta ele desviava o olhar.

Depois de tomar a taça toda me senti meio tonta. Okay, acho que era sim bebida alcoólica. Comecei a rir sem motivos e me levantei. Peguei Seth pela mão e o puxei para a pista de dança.

—Seth, vamos dançar? – fiquei rindo boba.

Ele dançou comigo a música We R Who we R da Ke$ha . Depois de muito dançar, Seth me levou para a mesa de drinques e me deu mais uma taça.

—Não, obrigada. Sou meio fraca para bebidas. – E lá foi ele insistir novamente, e eu aceitei, claro. – Só esse então! – E então bebi mais umas duas taças. Fiquei cambaleando um pouco, mas bem pouco.

Seth pegou minha mão e me levou para o jardim. Tinha mais pessoas agora do que antes. Ele me levou para uma um banco que tinha um pouco longe dali e me abraçou, vendo que eu comecei a tremer um pouco ao bater um pouco o vento ali.

—O que foi?? – Falei, olhando fixamente para ele.

Ele pegou um bloquinho que tinha no bolso e escreveu na primeira página:

“Você está linda!”

—Obrigada. – corei.

“Obrigado por ter me feito sorrir essa noite.”

—Mas você sempre sorri!

“Nem sempre” ele ia virando as páginas conforme escrevia.

—Nunca te vi triste.

“Com você do meu lado é impossível ficar triste.”

—Como você é bobo.

“Posso fazer uma coisa?”

—O quê?

“Posso ou não?”

—Hum... Pode, vai.

“Fecha os olhos.” Obedeci ao comando. Passou alguns segundo e de repente senti algo nos meus lábios.

Era algo macio, doce... Senti uma respiração ofegante se misturando com a minha. Um beijo doce e delicado começou, mas tão rápido como começou se tornou algo urgente. Pera, Seth não era gay??

—Seth, o que... – tentei falar, mas o menino fez ‘shiiu’ e continuou com o beijo. Ele me envolveu com os braços e eu tentei me afastar em vão. – Para! Para com isso! – Enfim consegui me afastar do garoto, que estava com uma expressão mista de alegria e tristeza. – Você não é o Seth!!!