P.O.V. Sophie

Aaron e eu fomos feitos de reféns, mas isso não é completamente ruim porque só assim nós tivemos uma oportunidade de falar com Cyndie. Depois que o grupo do Reino foi aniquilado nós iríamos precisar de apoio. Não havia nenhuma garantia de que depois do que fizemos os Salvadores iriam se render, então Aaron e eu resolvemos tentar um plano B.

Nós nos aproximamos o máximo que podíamos de Oceanside até que elas nos encontraram, mas a líder delas, Natania, estava prestes a atirar em Aaron então eu atirei primeiro. Depois do que aconteceu com o Eric, eu não perco mais. Isso significa que eu não me arrependo do que fiz, Natania causou sua própria morte e eu teria atirado em qualquer um que estivesse colocando a vida de Aaron em risco.

Então, depois disso, elas nos levaram como reféns, mas Cyndie, a neta de Natania e agora a líder de Oceanside, decidiu poupar a nossa vida mesmo depois do que eu fiz com a condição de que não voltássemos mais. Aaron tenta convencê-la, mas eu acho que agora que eu matei sua líder vai ser difícil fazer com que se juntem à nossa causa.

—E agora? -pergunto a Aaron depois que elas nos deixam sozinhos na floresta.

—Plano C.

—Nós ficamos? -pergunto, afinal nós viemos aqui com um propósito.

—Nós ficamos. -confirma ele. -Eu ainda não estou pronto para desistir de Oceanside.

Apesar de estar preocupada com o que possa estar acontecendo em casa eu não estou disposta a voltar com as mãos abanando. Além disso, é bom poder estar envolvida em fazer alguma coisa junto a Aaron depois do que aconteceu com o Eric. Vai ser bom para ele ter algo em que trabalhar.

O que nós não sabíamos é que isso significaria ficar dias na mata debaixo de sol e chuva. Mas nós aguentamos. Por dois longos dias nós caçamos nossa comida e dormimos na mata, algumas vezes alguém de Oceanside nos vigiava de longe, mas elas nunca se aproximavam.

—Isso não te lembra dos velhos tempos? -pergunta ele depois que começa a chover outra vez.

—Eu nunca passei por tanta dificuldade recrutando.

—Mentirosa. -diz ele e eu gosto de como Aaron parece relaxado agora, mesmo com tudo que está acontecendo. -Você dormiu no esgoto por dois dias.

—Eu estava fugindo de uma horda. -me defendo. -E não foi pior do que quando eu quebrei o braço.

—Eu me lembro disso, foi na segunda vez que saiu sozinha. Depois disso eu torci tanto para você desistir dessa história de ir sozinha.

—Eu não desisto fácil.

—Eu sei muito bem disso agora, por isso eu soube que Daryl seria uma boa ideia.

—O que isso quer dizer?

—Eric e eu estávamos preocupados em ver você saindo sozinha e sempre acabando quase morta, quando nós conhecemos Daryl nós sabíamos que ele ia querer passar tanto tempo aqui fora quanto fosse possível, mas você sabe melhor que eu o quanto Daryl é uma pessoa difícil. -explica Aaron. -Nós achamos que se falássemos com você, você não desistiria dele.

—Parece que vocês estavam certos. -admito. -Acho que nós dois precisávamos disso. 

—Nós três, eu também fiquei mais em paz por você não ter mais que fazer isso sozinha.

—Eu nunca estive de fato sozinha, eu sempre tive você e o Eric, e você sempre vai ter a mim.

—Eu sei bem disso. -diz ele me olhando nos olhos. -Nós somos família, mas e você?  Não está preocupada com o que pode estar acontecendo em casa?

—Eu estou tentando a todo custo não pensar nisso, você acha que eles estão bem?

—Foi um bom plano, mesmo que nem tudo tenha sido como o planejado, nós só estamos aqui para garantir que eles não vão ter outra chance de nos explorarem.

—Se eu soubesse que nossos últimos dias de paz eram nossos últimos dias de paz, eu teria aproveitado muito mais. À essa altura do apocalipse a gente já deveria saber que cada minuto pode ser o último, mas mesmo assim ainda é difícil fazer as coisas com tanto desprendimento.

—O que você queria ter feito? -pergunta Aaron.

—Queria ter amarrado Daryl na cama no dia em que ele foi atrás do Dwight, eu queria ter gritado com Spencer e ter dito a ele o quanto ele estava sendo burro achando que poderia lidar com o Negan. Mas acho que uma das piores coisas que eu queria era ter feito algum mal a esposa do Dwight quando a deixei escapar do Santuário, eu queria que ele soubesse como é a sensação.

—Eu acho que ele sabe.

—Não o suficiente. A única razão pela qual eu não me importei com ela naquela hora é porque eu não sabia quem ela era, se eu soubesse, ela estaria trancada em um porão qualquer agora, passando pelo que Daryl passou e eu faria questão de que Dwight soubesse. -digo. -Acho que os Salvadores estão tirando o pior de mim, não é?

—É compreensível, acho que não importa o que você quis fazer, mas o que você fez e o que você fez naquele dia foi dar uma oportunidade a ela.

—Bom, eu não estou muito orgulhosa da pessoa que estou me tornando.

—Isso vai passar, a única razão pela qual você pensa nessas coisas é porque eles tem tirado tudo de nós, mas isso vai acabar, eu não aguento nem mais um segundo dessa história então nem que eu tenha que… -Aaron para de falar quando ouvimos algo se aproximar.

Aaron acerta o zumbi com a faca e então o som se intensifica. Há mais deles chegando e graças ao que Daryl me ensinou, mesmo com a chuva, eu sei que há mais deles do que nós podemos dar conta, mas não é como se Aaron e eu tivéssemos alguma alternativa que não fosse lutar.

Então é o que fazemos. Nós ficamos de costas um para o outro e Aaron acerta os mortos com sua faca enquanto eu atiro flechas. Quando elas acabam eu jogo o arco no chão e faço o mesmo que o Aaron, mas nós estamos ficando cansados e a chuva e a lama não estão nos ajudando muito.

Em algum momento Aaron perde sua faca e eu me atraco com um zumbi no chão. Outros continuam se aproximando então eu poderia facilmente dizer que é assim que acaba, mas nós somos salvos por Cyndie. Ela e outras pessoas da comunidade acabam com o resto da horda enquanto Aaron e eu cedemos ao cansaço.

—Olhe só para vocês, se escondendo e não confiando em ninguém. Foi assim que a Natania causou a própria morte, a culpa de vocês estarem feridas é deles, então a menos que vocês lutem, essa vai ser a vida de todas vocês. -diz Aaron num fôlego só.

E foi assim que Aaron conseguiu apoio.

[...]

Nós chegamos em Hilltop na hora certa. Os Salvadores estavam prestes a atacar o lugar, mas com a ajuda de Oceanside e de muitas bombas caseiras nós conseguimos derrubá-los antes que eles tenham a oportunidade de entender o que está acontecendo. 

No meio do ataque Tara sai da floresta e vem até nós, aparentemente todos sabiam que os Salvadores estavam chegando e então eles abandonaram a comunidade. Ela nos dá um breve resumo dos acontecimentos e pelo que parece Alexandria foi atacada, as pessoas fugiram para Hilltop e de lá foram atrás dos Salvadores.

—Eles saíram agora a pouco, vocês podem alcançá-los. -diz Tara e então olha para Cyndie. -Toda a ajuda é necessária.

O grupo estava a pé então nós corremos um pouco para poder ajudar. Daryl estava com eles então eu ando na frente apressada, ele não faz ideia de onde eu estive nos últimos dias e não deve ter ficado nada feliz em chegar em Hilltop e descobrir que eu simplesmente desapareci.

Depois de uma longa caminhada nós finalmente avistamos o grupo em descampado, os Salvadores também estavam lá e apenas alguns segundos depois de chegarmos eles atiram, mas por algum motivo as armas deles falham.

Nesse momento nós saímos da floresta e entramos em cena. Então Oceanside, Alexandria e Hilltop se juntam em um só grupo contra os Salvadores. Negan e Rick não estão em parte alguma, mas não demora muito até que eu encontre Daryl. Ele não me vê até que eu o alcanço.

—Você fica muito sexy combatendo os caras maus. -grito quando passo por ele.

—Mas que inferno garota. -grita ele de volta. É, acho que alguém está bravo com o meu sumiço.

Nós atiramos nos Salvadores que ainda resistiam em lutar contra nós, mas a essa altura eles já eram muito poucos, então eu acho que relaxo um pouco ao ver que as coisas estão dando certo. Nesse breve momento de descuido eu não percebo um homem escondido atrás de um carro.

O som do tiro é a última coisa da qual eu me lembro.