Dear Grandchildren escrita por Lady Anna


Capítulo 1
Sobre sentimentos e cartas...


Notas iniciais do capítulo

Oláááááá! A última fic do Maio Weasley! É uma honra finalizar esse projeto tão maravilhoso♥ temos aqui uma história beeem triste, mas acho que combina com esse mês, não é?
Agradecimentos a Dorinda e a Morgan que leram antes e me deixaram confiante com a história, obrigada amigas!!!
Enfim, espero que gostem e nos vemos nas notas finais!!



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Ela não queria esquecer. Molly Weasley não queria se esquecer de seus netos – de sua família! – de todo o amor compartilhado e dos momentos especiais que passara com cada um deles, entretanto o tempo se mostrava cruel com ela. Diariamente percebia os sinais que não queria aceitar: o fogão esquecido ligado, a porta sem fechar, o nome de alguém trocado, o esquecimento completo de um acontecimento recente e a perda constante da noção do tempo, além dos erros incomuns na hora de cozinhar. Molly sabia antes de qualquer um o que estava acontecendo: ela teria Alzheimer e nenhuma magia a curaria.

Era irônico como nesse momento, sentada a velha mesa da cozinha, ela não se lembrasse de como contou aos filhos o que estava acontecendo – ou eles teriam descoberto por si mesmos? – Deveria ter sido um momento marcante, provavelmente houve muita tristeza e até mesmo algumas lágrimas. Era melhor não se lembrar, Molly decidiu, afinal não gostava de ver ninguém de sua família descontente. Sim, era melhor assim. Entretanto, os momentos felizes ela não queria se esquecer – não podia se esquecer – eram esses momentos a luz de seus dias, a sua felicidade. Se ela se esquecesse deles e de seus integrantes, o que restaria de si mesma? O que restaria de sua família? Não, esses momentos tinham que ficar.

Mais cedo do que gostaria, Molly percebeu que começara a se esquecer de eventos de alguns anos atrás, principalmente relacionados aos seus netos. Não conseguia mantê-los consigo em sua memória, o que a deixou muito irritadiça. Ora, ela queria se lembrar, era pedir muito? Aparentemente era, o que a fez ficar abatida por dias. Até ter aquela ideia genial, a qual fora previamente anotada em um pergaminho para que não se esquecesse. Escreveria uma carta para cada um de seus netos, lembrando-os que ainda se lembrava deles, daqueles momentos marcantes. Porque ela poderia se esquecer daqueles acontecimentos, mas não queria que eles se esquecessem. Deveria ter sido tão importante para eles quanto para ela, não?

Organizando os pergaminhos amarelados ao lado da tinta sobre a mesa, Molly abriu um sorriso triste ao lembrar do dia em que fora comprá-los. Às vezes, achava que o tempo era mais cruel por fazê-la se lembrar daquele dia do que por fazê-la se esquecer dos demais. Sempre havia algum filho ou neto em sua casa – hoje era o dia de Hugo – e nesse dia não foi diferente: Ginny estava lá, distraída cozinhando algo. Ela não pensou que teria algum problema ir até a Floreio e Borrões para comprar alguns pergaminhos novos; era algo simples, afinal. Não tinha se perdido e conseguira comprar certo o que queria, voltando poucos minutos depois para casa, ou pelo menos era o que achava.

Quando retornou à Toca, sua casa estava uma confusão, com alguns de seus netos e filhos gritando seu nome pelo terreno, enquanto outros sobrevoavam com vassouras. O que estava acontecendo? Ao se aproximar da casa, ouviu o choro baixo de Ginny, o que a fez se aproximar mais rapidamente, mas foi interceptada por uma das netas.

“Vó? Oh, graças a Merlin! Onde a senhora estava?”

Molly não se lembrava mais qual neta que a perguntara e sequer o que respondera. Apenas se lembrava de chegar até Ginny, a qual chorava copiosamente no ombro de Harry, e receber um abraço sufocante da filha.

“Ah, mãe! Fiquei tão preocupada com a senhora! Onde você estava?”

“Eu só fui até a Floreio e Borrões comprar...” lembrava-se de parar de falar assim que percebeu que não havia nenhum pacote em suas mãos. Ela esquecera os pergaminhos? “Não, não é possível! Eu tenho certeza que comprei e peguei os...Ginny...você tem que acreditar que eu...não...”

“Está tudo bem, mãe. Fique calma, ok? Harry, pegue um copo de água para ela, por favor. Ela está um pouco...agitada.”

Naquele dia, apesar de toda a sua família passar a noite unida na Toca, Molly não conseguiu tirar o gosto amargo da boca. Porque aquela frase de Ginny, tão conciliadora e amorosa, jogara a realidade como um banho de água frio nela: ela tinha Alzheimer e se esquecia das coisas com facilidade. Nunca mais seria a mesma pessoa e, aos poucos, se esqueceria de tudo e todos. Se esqueceria de si mesma. Se esqueceria de Arthur. Se esqueceria de Charlie, Bill, Percy, Fred, George, Rony e Ginny. E também se esqueceria – e já estava se esquecendo – de Victoire, Dominique e Louis; de Molly II e Lucy; de Fred II e Roxanne; de Rose e Hugo; de Lily Luna, Albus Severus e James Sirius. Tudo e todos que realmente importavam para ela. E, no fim, só sobrariam frases pedindo que ela se acalmasse porque estava “agitada” demais.

Limpou as lágrimas que caíram de seu rosto com a lembrança, cruelmente nítida em sua mente. Não queria pensar nisso agora, queria pensar nos momentos felizes que ainda se lembrava e escrevê-los no papel. Sorriu ao pensar nos netos. Eles ficariam felizes, não? Seria tão bom enviar aquelas cartas!

— Está tudo bem, vó? – Perguntou Hugo, entrando na cozinha.

A pergunta assustou Molly, que estrava concentrada dentro de si mesma. Olhou para o neto com os olhos confusos por alguns segundos antes de abrir um sorriso grande. Hugo era um neto maravilhoso, atencioso demais.

— Claro, meu bem.

— A senhora estava chorando. – Ele limpou uma lágrima que ainda estava na face dela, que Molly provavelmente esquecera-se de limpar. – Tem alguma coisa acontecendo? Quer que eu chame alguém?

Ela quis chorar com a atenção. Eles sempre estavam lhe perguntando se queria alguém, se precisava de alguém. Ora, ela ainda conseguia se cuidar! Percebendo a irritação descabida que apossava seu corpo, Molly suavizou as feições e sorriu novamente.

— Não quero que chame ninguém e está tudo realmente bem. Só quero um pouco de chá, você faz para mim?

— Claro, vó.

Com um beijo em sua testa, Hugo foi preparar o chá, deixando-a sozinha novamente. Já havia percebido que a melhor forma de fazer seus filhos e netos a deixarem sozinha era lhes pedindo alguma coisa. Além disso, estava mesmo com um pouco de sede.

Rapidamente, pegou a pena e a molhou na tinta para escrever, mas parou-a no meio do caminho com uma dúvida cruel: para quem escreveria primeiro? Teria de seguir uma ordem para não se confundir, então decidiu que escreveria dos mais velhos para os mais novos. Sim, era um bom jeito de começar, entretanto...quem era o mais velho mesmo? Victoire ou Fred II? Poderia ser James Sirius também...não, não, ele era mais novo que Victoire, tinha certeza. Fred II seria um ano mais velho e mais novo que Victoire? Frustrou-se por não ter certeza qual era seu neto mais velho – e esse pensamento a fez se lembrar que também esquecera qual era o neto mais novo – e decidiu que começaria por Victoire. Tinha certeza que ela era a mais velha dentre as garotas, pelo menos isso sabia.

Olhou para a folha do papel, mas viu um grande borrão de tinta nela. Aparentemente, ficara com a pena no ar tempo o suficiente para que a tinta escorresse e borrasse, no mínimo, dois pergaminhos. Entristeceu-se com isso, afinal nem todas as cartas ficaram bonitas desse jeito e seus netos mereciam mais. Poderia comprar pergaminhos novos, mas não queria incomodar nenhum dos filhos ou netos com isso, eles já se preocupavam demais com ela, e eles não a deixariam sair sozinha; então apenas secou o borrão da melhor forma que conseguiu e começou a escrever.

Com um sorriso no rosto, pensou em cada frase que escreveria para cada um deles, cada lembrança que colocaria no papel para cada um, mas se distraiu com um passarinho na janela e, um minuto depois, já não se lembrava o que estava pensando. Ah sim, estava escrevendo cartas para os netos, mas...por quem começaria? Ah, claro, deveria começar pelo mais velho entre todos os netos! Seria...Victoire, óbvio, seu nome não vinha do sentimento de vitória após vencer aquele guerra horrenda? A guerra que levara seu Fred! Como ela sentia falta de seu garoto, nunca seria capaz de esquecê-lo – pelo menos era o que Molly desejava todos os dias: não esquecer.

Então, escreveu. Às vezes riscando palavras repetidas, às vezes as esquecendo ou às vezes simplesmente deixando manchas arredondadas no papel por deixar a pena parada por muito tempo. Escreveu sobre como Victoire fora um sopro de esperança e a luz de um novo mundo após tantos dias de tristeza e caos; sobre como Fred II aplacou um pouco da dor de perder um dos gêmeos – não o substituindo, afinal isso seria impossível, mas mostrando a todos eles que seria possível seguir em frente. Escreveu sobre como James Sirius e Albus Severus a faziam se lembrar de seus irmãos, afinal, mesmo não sendo gêmeos e tendo uma diferença significativa nas idades, compartilhavam da mesma cumplicidade, implicância e amor que Fabian e Gideon um dia, há muitos anos atrás, tiveram.

Fez uma pausa para respirar e colocar seus sentimentos em ordem, percebendo que Hugo trazia seu chá junto com alguns biscoitos. Molly sorriu para o neto, sempre gostava de estar na companhia de alguém de sua enorme família; o que não gostava nem um pouco era da sensação que estavam lá apenas para vigiá-la. Ela balançou a cabeça, dissipando esses pensando e agradecendo ao garoto que a lembrava tanto de Ronald quando mais novo.

— Obrigada, Ron...Hugo! Hugo. Obrigada, Hugo.

Ele lhe deu um pequeno sorriso, talvez um pouco triste e se sentou em uma cadeira na outra ponta da sala, digitando em um aparelho estranho. Provavelmente estava fazendo algum trabalho da...como se chamava mesmo? Ela tinha certeza que o neto estava estudando algo trouxa, mas não sabia ao certo o que era. Talvez lhe perguntasse depois, agora iria se concentrar nas cartas. Escolheu escrever para Hugo em seguida, já que a recente interação despertara tantos sentimentos nela. Escreveu sobre como o neto era tão parecido com Arthur quando mais jovem, a mesma curiosidade e paixão com o mundo trouxa, a mesma bondade e atenção. Sim, Hugo era especial.

Molly II foi a próxima agraciada com as palavras da avó. Sempre tão vivaz e interessada em qualquer coisa que a mais velha poderia lhe dizer. Parecia que o fato de possuírem o mesmo nome as aproximara mais ainda e a matriarca se sentiu muito feliz escrevendo sobre tudo que compartilhara com a neta, ou pelo menos, tudo que ainda se lembrava. Não poderia se esquecer de Lucy, tão racional e decidida quanto o pai. Ela fora difícil por algum tempo, entretanto, Molly se lembrava como se fosse ontem de como fora bom conseguir o afeto daquela criança em especial e que ouvir o primeiro “eu te amo” sussurrado dela lhe trouxera lágrimas aos olhos. Escreveu sobre tudo isso, talvez trocando algumas palavras e confundindo algumas coisas e acontecimentos, porém, não importava. Tudo que importava era conseguir colocar aquilo tudo no papel, eternizado.

Escreveu sobre a agitada Roxanne, sobre os incontáveis dias que passara correndo com ela nos jardins da Toca e sobre os costumeiros machucados que ela costumava exibir quando criança. Sempre os curava com beijos, o que fazia as lágrimas desaparecem rapidamente daqueles enormes olhos infantis. Escreveu sobre Rose e Lily Luna que poderiam muito bem ser versões mais jovens de Hermione e Ginny. Tão corajosa, decididas e fortes...Molly gostava de pensar que tivera alguma parte na personalidade incrível das netas, que as tivesse inspirados nem que seja um pouco. Porque sentia muito orgulho delas e fez questão de escrever isso.

Também escreveu para Dominique, o furacão que transformara a Toca quando Molly nem mesmo imaginava que precisava disso. Domi amava cozinhar, mesmo sendo um pouco desastrada para a atividade. Não que a avó se importasse, afinal as lembranças ensinando a loira a cozinhar eram preciosidades para a matriarca. Por fim, escreveu para o doce Louis, o caçula da família e a última criança que ela ninara na vida. Ele sempre teria um lugar especial em seu coração por ser sua última experiência como avó.

Todas as cartas estavam escritas, então. Deveriam ser entregues para os netos, para que eles soubessem o quanto significavam para Molly. Entretanto, ela estava cansada, afinal não estava acostumada a se esforçar tanto assim e foram tantas cartas...sim, ela as entregaria depois. Depois...talvez outro dia, outra semana, outro mês, outro ano...

No fim, acabaria se esquecendo delas como de tudo e as palavras tão belas, as quais foram eternizadas no papel, seriam deixadas em um canto sem ninguém jamais lê-las. Talvez alguém curioso espiasse e as encontrasse, entregando-as aos seus destinatários e realizando, mesmo sem saber, um dos últimos desejos de Molly. Mas o mais provável era que fossem jogadas fora como se fossem papel velho, os quais ninguém sabia que guardava um tesouro imenso em recordações. Queimadas em alguma faxina por alguém apressado, transformadas em cinzas e carregadas pelo vento. Porque era isso que o depois significava para Molly: cinzas.

E depois...


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Notas finais do capítulo

Choraram? Sentiram o angst? haha deixem comentários e me digam o que acharam :)
Aqui finalizamos esse mês maravilhoso e quero agradecer a todos que participaram lendo e escrevendo e dizer que ano que vem tem mais! Até logo♥



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