Lucy foi a última neta de Arthur e apenas depois de anos ele começou a se sentir mal por se lembrar de todas as primeiras vezes, mas nunca das últimas. O passar dos anos foi cruel, ele sempre dizia, porque lhe concedeu coisas que ficariam para sempre em seu coração, mas desapareceriam do seu alcance conforme sua velhice se aproximasse. Foi cruel não poder se demorar um pouco mais no aniversário de cinco anos da neta, no último jantar que deu um purê de batatas numa colher de ursinho, na última sessão de cócegas. Arthur pôde perceber, quando viu Lucy se casar com Lorcan Scamander, que todos os seus netos tinham crescido. 

— Como se sente? — ela perguntou numa noite de terça-feira, dia seguinte ao seu retorno da lua de mel. 

— Realizado. As vezes pensei que não viveria o suficiente para ver a minha filha caçula se casar, quem dirá a última neta. Me sinto realizado. Feliz. Todos vocês são grandes, já me deram bisnetos, me sinto realizado. 

Arthur gostaria de viver outra vez o período entre os olhos azuis de Victoire e as bochechas rosadas de Lucy. Algo lhe apertava o peito quando pensava que não poderia prolongar seus dias, ficar para sempre com sua família dando broncas em James, cuidando do jardim de Rose, se refugiando na casinha de madeira que fizera para Lily. Será que Roxanne conseguiria prever qual seria a última vez de tudo aquilo?

Sorriu consigo mesmo, fitando Lucy com ternura. Assim como no dia que pegou ela no colo ainda bebê, nas vezes em que lhe abraçou após semanas longe, brincou de bonecas, deu papá, contou histórias suas, levou para comer algodão doce em Londres, lhe buscou na estação King’s Cross e em cada conversa que tinham, as bochechas de Lucy estavam coradas e os olhos castanhos brilhavam por algum motivo que ia além da compreensão de Arthur. 

— Por que está sorrindo?

— Passei muito tempo pensando em como saber identificar a última vez, e acho que descobri. Ela se parece muito com a primeira. 

O que fazer na última vez também era uma pergunta recorrente, embora a resposta estivesse clara àquela altura: deveria ser feito o mesmo que faria na primeira vez, e nas diversas outras. 

— O vovô ama você.