Morria ali o que há muito me destruía. escrita por Nil Trevezanuto


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Se você ler isso, é a última vez que tento lhe pedir perdão.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/801398/chapter/1

Brasil, 2023. Finalmente saímos da pandemia infernal, fora necessário eleger alguém competente para que pessoas parassem de morrer. Era um pouco difícil de acreditar que o antigo normal se tornara novo novamente e que tudo aquilo que fizemos, vivemos por três anos finalmente tinha acabado e poderíamos ser nós mesmos novamente, voltar às aulas, bares, aos abraços e beijos sem o medo de morrer. Finalmente as promessas de anos atrás poderiam ser cumpridas, os compromissos, os afazeres.

Há dois anos havia prometido tentar vê-la novamente, dizer aquilo que ainda enroscava na garganta, talvez fosse em vão, mas pelo menos eu estaria em paz finalmente.

Parti com meu marido para Curitiba, ele sabia dos acontecimentos e de toda a ideia maluca e apoiava, sabia que aquilo ajudaria no meu longo processo de cura e de perdão a mim mesma.

O ar curitibano me dava nostalgia de tempos que sonhava viver, de momentos que jamais aconteceram, mas que pude ser feliz por ao menos imagina-los. A emoção estava a mil, a ansiedade não me deixava dormir, mas sabia que depois de tudo as coisas mudariam.

No dia seguinte o destino era a Universidade Federal do Paraná, as aulas presenciais tinham finalmente voltado e seria fácil encontra-la. Informei-me na secretaria acadêmica e segui para as salas, curso de Odontologia. Me pergunto se ela é feliz com a escolha que fez, eu sempre aconselhei que escolhesse o que a fizesse feliz e não os que os demais dizem que é o melhor para ela...

Cheguei à porta da sala, estava nervosa, as pernas e as mãos tremiam, o coração parecia estar na garganta, porém tirei a última coragem do bolso e bati:
— Com licença, professor. Posso trocar uma palavra com o senhor? – Disse-lhe apenas que precisava dar um recado à uma aluna, porém fiz questão de não aparecer na porta, pois saberia de sua situação. Ele concedeu.

— Boa noite, pessoal! Não quero tomar muito o tempo de vocês, mas eu precisava fazer isso, eu prometi. Eu só tenho um breve recado a uma aluna. Bom – resolvi não revelar o nome, mas já tinha a encontrado entre as diversas pessoas na sala, conhecia aquele olhar – dessa vez eu juro que é a última vez que eu tento falar com você, eu já prometi a mim mesma umas mil vezes que iria te deixar em paz, mas dessa vez é para valer. Dessa vez quis honrar alguém que eu deixei de ser há muitos anos. Eu sei o seu sentimento por mim, e o entendo completamente, sinceramente eu não mereço sequer o seu desprezo, mas eu só queria lhe dizer que não, o sentimento que eu tinha por você naquela época não era só de amizade, eu te queria para mim, eu queria ser sua para sempre. Eu te amava e ainda devo amar, algumas pessoas são insuperáveis e você é uma delas. Eu devia ter te beijado sim naquela época e ter mandado todos ao inferno. Eu devia ter lutado por você. Eu queria dizer que você foi a melhor pessoa que já passou pela minha vida e te agradecer por ter feito parte da minha história. Obrigada por me manter viva naquela época e ter me dado esperanças por todos esses anos de que o mundo pode ser bom por ter você habitando nele. – As lagrimas já escorriam – Que você seja feliz, é isso que você merece, momentos lindos na vida. Eu te amo, eu sempre vou amar. Obrigada. Obrigada, professor, boa aula, pessoal!

Assim como em um filme, saí da sala e segui caminhando, mas sei que ela jamais viria atrás de mim. Encontrei meu marido ao final da escada e assim que o abracei acho que um choque de realidade bateu em mim e eu só sabia chorar, queria gritar, bater em alguém, mas me sentia sem forças. Sem forças, porém com o sentimento de dever cumprido. Morria ali o que há muito me destruía e com esse texto o meu último perdão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que um dia você leia.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Morria ali o que há muito me destruía." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.