Catarse escrita por ReHatake


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá gente, tudo bom?

Essa história está participando do concurso A Vontade do Fogo: Hatake do @Projeto_Hatake e da @EditoraNeverland



Espero que gostem e nos vemos nas notas finais!



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Após a quarta guerra ninja, Konoha enfim vivia seus dias de paz. Kakashi, mesmo a contragosto, assumiu sua função como Hokage, e em meio aos afazeres administrativos, havia algo que ele não deixava vir a público: sua intimidade e a forma como se portava fora da sala Kage.

Aquela manhã não poderia ser tão diferente das outras se não fosse pela curiosidade inesperada da dona da floricultura.

— Para quem são essas flores, afinal, Kakashi-sensei? — Ino perguntou com uma sobrancelha levantada enquanto terminava de fazer o laço vermelho ao redor do enorme buquê das flores rosas de Ume.

Uma vez por semana, o prateado visitava a loja da família Yamanaka e escolhia um arranjo diferente, variando entre as espécies das flores de acordo com o seu significado, sempre muito atento às cores das pétalas em questão.

— Para ninguém em especial. — O Hatake disse tranquilo enquanto pagava pelo arranjo.

— Sei não, hein! — A loira recomeçou — Isso me parece mais uma namorada.

— Você questiona todos os seus clientes, Ino? — Kakashi tentou desvencilhar das perguntas feitas pela Yamanaka.

— Só aqueles que me interessam na verdade. — Ela retrucou.

— E por qual motivo a vida pessoal do Hokage é tão interessante? — O prateado rebateu.

— Acho que é porque o atual líder da folha é misterioso ao ponto de não deixar ninguém ver o rosto dele. — A loira respondeu sentando-se sobre a cadeira de madeira, atrás da mesa que ela havia utilizado para manipular as flores minutos atrás. — Imagina se eu descobrisse para quem essas flores eram entregues toda semana? Ia ser o assunto do ano!

Kakashi beliscou o nariz enquanto bufava diante da postura da Yamanaka.

— Por isso eu prefiro manter em segredo. — Ele deu de ombros indo rumo à porta. — Não quero ser alvo de um bando de fofoqueiros!

— Ah, mas eu vou descobrir! — Ela disse baixinho, esperando que o ouvido afiado do ninja não fosse bom o bastante para que pudesse ouvi-la já de longe.

— Quero só ver! — Ele respondeu olhando para trás dando uma piscada antes de continuar seus passos já do lado de fora da loja.

Kakashi sorriu por baixo do tecido negro da máscara, divertindo-se com a situação. Ele não sabia que o simples ato de comprar flores pudesse levantar qualquer suspeita sobre sua vida, e agora que Ino havia desafiado-o, seria divertido vê-la tentar descobrir alguma coisa, pois se existia algo em que ele era realmente bom, era em ser discreto, exatamente como pede o padrão shinobi. Ele jamais seria pego!

O aroma das flores era bastante agradável, o olfato apurado de Kakashi trazia à sua mente belas lembranças daqueles últimos dias. Por muitos anos seu coração calejado não permitiu que os doces sentimentos da vida preenchessem sua alma sofrida, e agora, ele enfim havia encontrado um bom motivo para alegrar-se.

O reencontro com seu antigo companheiro de equipe, Uchiha Obito — mesmo que em uma situação bastante difícil — fez com que o agora Rokudaime Hokage, sentisse seu coração aquecido. Por anos, sua família resumiu-se apenas ao seu querido e falecido pai, e o time Minato trouxe-lhe uma fagulha de esperança. Rin e Obito, além de colegas de equipe, acenderam no Hatake a chama do mais puro e casto sentimento: o amor. E agora, anos depois, Kakashi foi agraciado com a possibilidade de seu coração bater em compasso daquele sentimento.

 — Kakashi-sensei! — Sakura, sua ex e estimada aluna, quebrou sua reflexão solitária, fazendo com que seu corpo desse um pulo em resposta ao susto que ele levou. “Patético”, ele pensou. Andava tão distraído que o grande Kakashi Hatake não conseguiu perceber o chakra tão familiar da rosada?

Algumas pétalas do gracioso ramalhete caíram no chão, quando foram sacudidas sem intenção pelas mãos tensas do Hatake.

— Sakura... — Ele tentou respondê-la, ainda com sua mente presa àqueles devaneios. — Não esperava vê-la tão cedo!

— Bem, é que eu pensei em passar no hospital antes de ver o Naruto. — Ela respondeu tímida, os braços cruzados para trás sobre os quadris. — Você sabe...

— Entendo. — Ele apertou a sobrancelha fitando a figura feminina diante de si.

A Haruno foi unanimemente escolhida para gerenciar o Hospital Geral de Konoha, além do Hospital Mental Infantil em que ela planejou com tanta dedicação, e para Kakashi, não existia ninguém melhor para estar ao seu lado neste momento tão especial.

—  Naruto chegou de viagem pela madrugada, então pensei que… — A Haruno tentava explicar. — Porém, acho que está um pouco cedo Kakashi-sensei.

— Sabe que não existem mais motivos para me chamar assim, hum! — O prateado advertiu apertando os olhos, claramente em uma reação de seu sorriso coberto.

— Acho que nunca vou me acostumar. — Ela corou fitando os orbes ônix do homem imóvel à sua frente.

— Pois deveria, soa melhor ouvi-la dizendo apenas meu nome. — Kakashi estendeu a mão fazendo com que Sakura admirasse surpresa o buquê à sua frente. — Ainda mais depois de tudo...

— Kakashi-sen... digo. Kakashi! — Sakura  passou os dedos sobre as delicadas pétalas rosas e sentiu seu coração disparar ao receber as flores. — São para mim?

— Para quem mais seriam? — Ele respondeu piscando para ela. — Bom, tenho que ir, espero que seu dia seja tão agradável quanto o aroma dessas flores. — Saiu de sua presença, deixando-a para trás sem tempo para que ela respondesse sua despedida curta.

A verdade era que o Hokage ainda tinha muitos afazeres pela manhã, e não queria que seu conselheiro lhe chamasse a atenção. Shikamaru podia ser bem irritante quando queria, sem contar que o Nara já andava perguntando demais sobre o motivo do Hokage se interessar tanto pelos doces da nova confeitaria da vila.

— Rokudaime-sama? ­— O conselheiro entrou na sala Kage chamando a atenção do prateado que mal havia sentado-se em sua cadeira.

— Caiu da cama, Shikamaru? — Kakashi perguntou tentando entender o motivo dele vir trabalhar mais cedo que o habitual.

— Na verdade, eu precisei. — O moreno disse enquanto bocejava. — Temari voltou para Suna pela manhã, tive que acompanhá-la até o portão da vila.

— E quando sai esse casamento? — O Hatake tentou perguntar, afinal o Nara e a Sabaku há tempos namoravam, e nada de sair algum pedido oficial ao Kazekage. — Não quero problemas com Suna, hum!

— Eu não vim falar da minha vida pessoal, Kakashi. — O moreno disfarçou. — Sabe que a Temari estava na vila apenas para resolver os assuntos relacionados ao exame chunnin, não é?

— Sim, vou fingir que foi apenas este o motivo de você ter acordado cedo!

— Aliás, recordei que tenho um recado para você! — O Nara levou a mão ao bolso, desembrulhando um pequeno papel enquanto lia em voz alta. — “Preciso falar com você ainda pela manhã, venha rápido!”

Kakashi pegou o bilhete das mãos de Shikamaru e o guardou rapidamente em seu coldre. O Hokage sentiu seu coração disparar com aquela mensagem. Afinal, o que seria tão urgente para que ela não pudesse esperar?

— É curioso que quem me entregou este recado foi uma das enfermeiras do hospital. — O Nara disse rindo, enquanto sentava-se frente à mesa do Hokage.

— Agradeço ter preocupado-se em me entregar o bilhete, Shikamaru. — Kakashi tentava disfarçar. — Pode ir agora!

— Não vai me dizer que é ‘ela’? ­— O moreno questionou fazendo um sinal com os dedos, dando ênfase na palavra ela. — É para ela que você vem mandando flores e doces?

— Quem te falou sobre as flores? — O prateado estava completamente corado. Afinal, como Shikamaru ficou sabendo que ele sempre mandava presentes para alguém do hospital? — Quer saber, não importa!

— Complicado. — O Nara riu enquanto via o Hokage juntar alguns papéis e guardá-los dentro da gaveta da mesa de madeira. — Acho que teremos mais um casamento em Konoha.

— Não fale bobagens.

— Quem é ela? — Shikamaru continuou. — Ela é médica? Enfermeira?

— Shikamaru, o que te faz pensar que seja uma mulher?

— Não vai me dizer que o ex copy-nin gosta de homens? Se bem que Iruka-sensei não sai da sua cola...

— Gosto, afinal grande parte do meu convívio é composto pelo sexo masculino.

— Sabe que não é disso que eu estou falando. — O moreno disse em tom de deboche. — Eu quero saber de namoradas! Ou namorados, quem sabe...

— Shikamaru! — O Hokage ralhou, ficando cada vez mais envergonhado com o assunto. 

O Nara era bastante perceptivo, e não demorou para continuar provocando o Hokage enquanto notava o crescente rubor sobre o pouco pedaço de pele que aparecia do rosto de Kakashi.

— É que você está sempre para baixo e para cima com esse seu livrinho pervertido e nunca te vi com ninguém. — O Nara continuou. — Ou você não faz nada, ou faz muito bem escondido.

— Eu não preciso anunciar para ninguém o que faço fora desta sala!

— Eu não quis dizer isso, é que bate uma curiosidade, sabe… — O conselheiro tentava explicar-se. — Você é um homem jovem ainda, sempre muito dedicado ao trabalho shinobi, o clã Hatake vai acabar em você?

Por um momento o Hokage deixou sua mente refletir sobre aquilo que o amigo havia dito. Kakashi nunca havia pensado naquele assunto daquela forma, apenas quando ainda criança; Rin havia dito que ele precisaria de uma esposa, num flerte inocente, para que seus filhos pudessem receber o nome de seu clã, porém o assunto nunca mais havia sido abordado por ninguém.

— A propósito, deixaram um pacote ontem a tarde quando você saiu. — Shikamaru quebrou o silêncio em que o prateado permanecia.

Kakashi permaneceu mudo, enquanto o conselheiro terminava de falar.

— Belo cachecol! — O moreno concluiu. — A assistente da costureira disse que foi difícil fazer o tom rosa combinar com a esmeralda verde que você exigiu.

Kakashi não conseguia mais argumentar qualquer coisa que Shikamaru dizia. Existia apenas uma pessoa que o superava em inteligência, e era exatamente o conselheiro sentado à sua frente. O Hokage deveria encerrar logo aquele assunto.

— Você não tem serviço? — O Hatake pigarreou fingindo que o assunto não o constrangia.

— Meu expediente começa oficialmente em cinco minutos. — O Nara respondeu olhando para o pequeno relógio na parede ao lado. — Até lá, eu ainda tenho tempo para descobrir quem é essa pessoa aí do hospital que combina bem com este cachecol.

Kakashi jamais diria para quem ele havia mandado fazer aquela peça. Ele havia prometido, não era um segredo apenas seu. Dizer quem era a pessoa  que ele vinha visitando e presenteando com frequência significava ter que explicar-se onde aquela história toda havia começado, e talvez abrir mão de um sentimento que lhe fazia tão bem e que há tempos julgava-se incapaz de sentir. Sem contar que ele seria cruelmente julgado pelo que vinha fazendo.

— Acho que você passou tempo demais com a Yamanaka. — O prateado bufou enquanto atropelava as palavras. — Está ficando fofoqueiro igual a ela.

Shikamaru riu e continuou encarando a reação do Hokage.

— Eu não estou fofocando, estou perguntando para você. — O Nara defendeu-se. — Mas tudo bem, se vai fazer disso um jogo, eu topo!

— Não tem ninguém jogando aqui.

— Até por que eu te venceria. — Shikamaru desafiou.

— Se estiver falando do Shogi, eu até concordo. — Kakashi levantou-se apoiando as duas mãos sobre a mesa enquanto encarava o moreno que mantinha sua postura completamente relaxada sobre a cadeira.

— Falo desse seu romancezinho secreto aí...

— Quando foi que você se tornou uma velha faladeira, hein Shikamaru? — Kakashi interrompeu, antes que ele falasse demais.

— Desde que você resolveu esconder o que quer que esteja fazendo.

Kakashi revirou os olhos e andou até o conselheiro.

— Onde está minha encomenda? — Ele perguntou por fim.

— Em cima da mesa. — O Nara respondeu apontando com o rosto um embrulho amarrado com uma pequena fita, em um canto da sala.

— Agora preciso ir. — Kakashi dispensou o moreno enquanto ia rumo à porta.

— O dia mal começou e o Hokage já vai abandonar o posto? — Shikamaru continuou. — Konoha está perdida com um líder assim.

— Não demorarei, só preciso resolver um assunto no hosp... — O Hokage interrompeu-se antes que falasse algo que pudesse comprometê-lo ainda mais.

— Acho que até sei para quem é este embrulho.

Kakashi ajeitou o pacote embaixo de seu colete ninja enquanto dava de ombros para o Nara, que permaneceu sorrindo com a saia justa em que havia deixado o prateado.

 — Não sei do que você está falando. — Kakashi disse alto já no corredor, e Shikamaru levantou-se para organizar alguns documentos na ausência do líder da Folha.

O Hokage não esperava ter que ir tão cedo ao Hospital, o que preocupava-o era o fato de alguém ter mandado o bilhete, o que significava apenas uma coisa: ela estaria sozinha, o que seria algo muito bom para que ele pudesse vê-la sem qualquer restrição ou olhares julgadores, ou na pior das hipóteses…

— Rokudaime-sama! — Uma enfermeira cumprimentou o prateado assim que ele entrou pelo hall do hospital.

Kakashi andava tão apreensivo que mal olhou para a mulher que havia dirigido-se a ele. Apenas balançou a cabeça retribuindo com educação a saudação.

O percurso entre o hospital e seu escritório não era longo, mas, o Hokage perdido em seus pensamentos não saberia explicar como ele havia chegado tão rápido ao local. Talvez ansiedade? 

Cada visita que o Hatake fazia a ela era única e especial. Kakashi se sentia importante, amado! Ele tinha certeza de que todo aquele risco que corria valeria a pena no final. Ele teria provado uma vez mais das belezas de ter alguém ao seu lado, que não fosse apenas pelas tarefas ninjas, ou que lhe cobrassem assuntos relacionados aos seus feitos. Afinal, ele era muito mais que isso; Kakashi era — acima de tudo — um homem, e tal como um, totalmente exposto às emoções e prazeres humanos.

O corredor estreito levava até uma pequena porta. Kakashi conseguiria chegar ao local até de olhos fechados, afinal, era ali que ela estaria esperando por ele. Como combinado, o Hokage sentou-se em uma das cadeiras e despretensiosamente abriu seu livro em uma página qualquer, fingindo prestar atenção na história que ele sabia de cor, porém seus sentidos estavam totalmente atentos ao seu redor, ele precisava apenas certificar-se que mais ninguém o veria entrando naquele quarto.

Kakashi levantou-se e ainda prestando atenção à sua volta, caminhou até a entrada do quarto. Os nós nos dedos bateram na porta de madeira três vezes, em um código combinado, apenas uma pessoa saberia que era ele ali do lado de fora, aguardando uma permissão para que pudesse entrar.

— Atchim! — Um espirro baixo pode ser ouvido do lado de dentro.

O Hokage bateu mais uma vez, e novamente a voz do lado de dentro voltou a espirrar. 

Era o ‘código’ inventado por eles, para que soubessem quem era do outro lado, tanto de fora quanto de dentro do quarto. Nem mesmo se alguém tentasse moldar seu chakra para fazer parecer pertencer ao outro, conseguiria descobrir quem estaria de fato ali.

Kakashi ouviu alguns barulhos na maçaneta, e lentamente a porta foi aberta. Ele olhou mais uma vez à sua volta antes de adentrar o lugar.

O local estava absurdamente iluminado, e sobre uma mesa ao canto, o gracioso buquê das flores de Ume que ele havia comprado mais cedo. Atrás da porta, um rosto bastante familiar encarava-o com o olhar triste, e Kakashi entendeu no mesmo instante a situação.

 — Kakashi-sen… — Sakura interrompeu o antigo tratamento apenas por lembrar-se de ter sido repreendida pelo Hatake mais cedo. O fato era que dada a ocasião, ele não se importaria tanto em ouvi-la chamando pelo seu antigo cargo. — Desculpe chamá-lo aqui com tanta urgência.

O Hokage corria seus olhos pelo rosto apreensivo da ex-aluna enquanto a esperava concluir sua fala.

— Sei que combinamos de ser discretos com o assunto, mas eu não poderia sair daqui, por isso pedi à enfermeira para entregar o recado ao Shikamaru.

— Não se preocupe, Shikamaru é de confiança! — O prateado tranquilizou-a. — Mesmo que suspeitasse de algo, ele jamais ousaria dizer alguma coisa.

— Então já que está aqui…

— Antes eu preciso que veja algo. — Kakashi interrompeu-a retirando o embrulho debaixo de suas vestes. 

A Haruno rasgou rapidamente o papel e arregalou os olhos quando viu do que se tratava.

— Kakashi, você conseguiu! — Ela disse retirando o cachecol de dentro da embalagem. — É tão lindo!

O Hokage sorriu enquanto a via admirar a peça que ele havia mandado fabricar.

— Acha que vai ficar bom? — A Haruno deslizou os dedos pelo linho até tocar a pequena esmeralda pendurada por uma fita em uma das extremidades.

— Vai ficar lindo! — O Hokage disse enquanto prestava atenção na rosada, extremamente admirada com a peça em mãos.

Sakura estava completamente hipnotizada com a beleza do cachecol. Os pontos entre os fios que foram utilizados para tecê-lo foram feitos com tanto capricho, que ela mal via onde começava um e terminava o outro. A pequena esmeralda reluzia contra os raios de sol que invadiam a janela formando prismas coloridos contra a parede branca. Alguns feixes luminosos logo alcançaram o rosto da Haruno deixando a pele alva totalmente colorida. O Hokage apertou os olhos enquanto admirava o rosto da ex-aluna. 

— Kakashi-kun? — Uma voz baixa vinda do canto do quarto interrompeu o olhar distraído do Hokage sobre a rosada.

O prateado girou seu corpo rumo a pessoa que o havia chamado. 

— É você, Kakashi-kun? — A voz fraca tornou a chamar sua atenção. — Rin esteve aqui mais cedo.

Sakura encarou o rosto do Hatake e viu suas sobrancelhas se juntarem, num claro sinal de confusão.

— Ela insiste em me comparar com a amiga de vocês. — Sakura explicou.

Kakashi conseguia entender perfeitamente o motivo da rosada ser comparada com sua antiga companheira de equipe. Rin sempre fora o elo que unia o time. Tantas vezes ele e seu estimado amigo Obito entraram em atrito, e partia da Nohara amenizar toda e qualquer situação, desde aquelas ‘‘sem importância’’ quanto algum tipo de disputa tola entre os ninjas, até situações em que ambos poderiam acabar colocando em risco alguma missão, tudo porque os dois não conseguiam trabalhar em equipe.

Sakura era exatamente igual. A rosada sempre foi a peça fundamental do novo time sete, afinal, era ela responsável por, diversas vezes, controlar situações em que os ânimos se exaltavam entre Naruto e Sasuke, lembrando-os que eles eram acima de tudo, uma família! Sem contar nos olhos calorosos e cheios de afeto, fazendo com que qualquer um se encantasse no mesmo instante por ela.

Ambas, com a postura inocente, possuidoras de um altruísmo incomparável, capazes de dar a própria vida por aqueles que amam, grandes kunoichis que curiosamente escolheram ser aquelas que se dedicariam ao cargo mais importante para as missões: médicas Ninjas!

— Oh! — A mulher exclamou assim que ouviu a voz da rosada. — Você ainda está aqui, meu bem?

Sakura sorriu e andou calma até a cama escorada em uma das paredes do quarto.

— Estou aqui. — A rosada respondeu sentando em uma cadeira de frente para a cama.

— Obito-kun vai demorar? — Ela perguntou confusa, correndo seus olhos de Sakura até Kakashi.

— Ele não vem hoje, obāsan. — O Hatake respondeu e olhou triste para Sakura.

Em uma resposta muda, a rosada abaixou sua cabeça e a balançou vagarosamente de um lado para o outro.

— Ah! Queria saber como foi o treino, ele estava tão tristinho, pobrezinho. — A mulher, deitada sobre a cama, lamentava. — Acho que é o sharingan, sabe... Ele não consegue despertar!

Kakashi sorriu fraco com a lembrança do amigo quando ele se gabava em fazer parte do grande clã Uchiha.

Obito era orgulhoso, amava gritar aos quatro cantos que fazia parte da linhagem Uchiha, e para ele, despertar o famoso kekkei genkai característico de seu clã, seria o maior feito de sua vida. O Hatake tocou  seu olho esquerdo lamentando a sina que partilhou com o amigo anos atrás. O Sharingan dividido entre os amigos, foi por muito tempo motivo de lamentações por parte do prateado, que por ter sido presenteado com o lendário olho carmesim, carregou também a culpa por ter matado acidentalmente o elo entre ele e o amigo.

Os olhos de Kakashi repousaram brevemente sobre Sakura que prestava atenção nas palavras calmas e confusas da mulher grisalha. Por um momento ele viu nela alguém que ele havia amado, o prateado viu… Rin!  

— Tenho certeza que ele está bem, afinal a senhora conhece seu neto. — O Hatake disse docemente puxando uma cadeira para sentar-se de frente para a mulher.

— Minha querida, vocês fazem um belo casal, sabia? — A mulher disse segurando a mão de Sakura que fitou de lado, completamente corada, a fisionomia de Kakashi. — Só não conta para ele, tá bom? Ele jamais me perdoaria se me ouvisse dizendo isso.

— Obāsan, a senhora está precisando de alguma coisa? — Kakashi interrompeu o devaneio da mulher.

— Ah, acho que aquele mochi não tinha um gosto muito legal. — A mulher disse fazendo bico. — Eu prefiro dangos.

— Olha o que o Kakashi trouxe para a senhora! — Sakura disse tentando livrar-se do constrangimento que havia sentido momentos atrás.

O cachecol rosa foi colocado sobre o colo da mulher que o pegou delicadamente, admirando-o com muita ternura.

— É muito lindo! — A mulher percorria os dedos pela peça. Seus olhos encheram-se de lágrimas e ela olhou com doçura para Sakura. — Eu gosto muito de verde e rosa. — Ela percorreu os dedos trêmulos pelas bochechas da Haruno.

Sakura não conteve o nó que formou-se em sua garganta, era difícil para ela saber que toda aquela história logo chegaria ao fim.

— Cuide dela, Kakashi-kun! — A mulher disse enrolando, com dificuldade, o cachecol em seu próprio pescoço. — Senão eu conto para o meu neto que eu estava errada em achar que você era melhor para ela! — E, rapidamente a grisalha adormeceu, permanecendo com os dedos agarrados ao cachecol.

O Hokage nem sabia o que dizer, ele apenas levantou-se e depositou um beijo sobre a testa enrugada da mulher, acariciando seu cabelo fino em seguida.

— Obrigado por tudo, obāsan! — O prateado disse num sussurro, mesmo sabendo que ela não podia ouvi-lo mais.

O Hatake permaneceu mudo enquanto fitava a mulher que descansava serenamente. Ele devia muito à ela, e mesmo que soubesse que o fim estava perto para aquela senhora, sentiu-se feliz em poder ter cumprido com a promessa que havia feito a Obito.

— Kakashi, infelizmente não existe mais nada a se fazer.— Sakura disse de repente. — A doença avançou muito, por isso mandei chamá-lo tão cedo aqui hoje, podemos perdê-la a qualquer momento.

O prateado sentou-se novamente enquanto apertava a mão da mulher adormecida à sua frente.

— Faz dois dias que ela não se alimenta e jura que não sente fome. — Sakura começou a explicar.

— Por isso a sonda?

— Foi necessário, ou perderíamos ela por inanição.

Kakashi apertou os olhos demonstrando não ter entendido o que a rosada havia dito.

— Ela morreria de fome. — A Haruno explicou-se.

O Hokage pensou por um instante o que refletiria em sua vida quando aquilo acontecesse. A Vovó Uchiha tinha sido, no último ano — ao lado de Sakura — o que ele tinha de mais próximo de uma família, afinal, ele havia se dedicado a cuidar dela.

Obito, ao final na guerra, momentos antes de sua morte, pediu ao amigo que cuidasse de sua avó, surpreendendo-o totalmente ao dizer que ao lado de Sasuke, ela havia sido poupada do massacre que havia dizimado o clã Uchiha. Kakashi apenas recebeu a informação que ela havia sido escondida e que encontrava-se bastante enferma. Não demorou muito para que o prateado conseguisse localizá-la e trazê-la para a vila, onde poderia receber maiores cuidados médicos.

Porém, devido a má reputação do antigo companheiro de time, ninguém jamais poderia saber sua verdadeira identidade, mesmo que o Hatake agora fosse o Hokage, ele não conseguiria controlar a raiva dos habitantes ao saberem que um familiar do grande responsável pela última guerra ninja estava viva. Kakashi temia uma represália, e com a ajuda de Sakura, optou por mantê-la escondida, e proporcionar a ela uma boa qualidade de vida, mesmo sabendo da gravidade da doença que ela tinha.

— Kabuto tinha acesso aos mais refinados, embora questionáveis, métodos de tratamento — Sakura continuou — e nem mesmo ele conseguiu frear o avanço do Alzheimer, ela já encontra-se no estágio final.

Kakashi sentia seu coração entristecer com aquelas palavras. Mesmo sabendo que o momento em que ele teria ao lado da Vovó Uchiha seria curto, ele tinha esperanças que algum milagre acontecesse e ela fosse salva.

Era reconfortante sentir-se mimado por ela, como uma avó de verdade fazia com seu neto. Receber abraços e puxões de orelha também deixavam-no bastante feliz. Até mesmo quando ela cismava que Sakura era Rin, e que eles deveriam se casar, era divertido ver a rosada corada enquanto encarava o rosto de Kakashi igualmente constrangido com o assunto.

O prateado não estava pronto para aquele momento, mesmo sabendo que ele estava cada vez mais perto. Kakashi não queria perder mais ninguém que ele amava.

— Kakashi-kun? — A voz fraca da mulher ecoou de repente. — Me prometa uma coisa?

O Hokage olhou assustado para a grisalha e chegou o seu rosto perto dela para ouvi-la com mais clareza.

— A Sakura é uma boa moça. — Ela sussurrou com os olhos fechados alcançando as mãos de ambos, fazendo com que os dedos dos dois se tocassem. — Chama logo ela para sair. — E voltou a dormir, deixando que Kakashi e Sakura aproximassem por si só suas mãos.

O prateado não sabia o que responder, ele apenas coçou a nuca, retirando rapidamente sua mão do toque da Haruno, com as bochechas completamente coradas sem conseguir olhar para Sakura, que deixava cair algumas lágrimas enquanto afagava os cabelos finos da mulher.

— Como ela de repente lembrou seu nome? — Kakashi perguntou constrangido.

— É assim mesmo, existem lapsos de memórias. Por um instante ela lembrou que era eu aqui do lado dela.

O aperto crescia no peito do Hatake, ele não sabia mais como agir. Ele preferia que fosse um shinobi armado ali à sua frente ameaçando-o, do que uma doença tão cruel que ia aos poucos tirando o brilho dos olhos de alguém que ele amava tanto.

[***]

Os dias que se seguiram foram igualmente angustiantes. Kakashi revezava ao lado de Sakura a vigília sobre o leito da Uchiha que nunca mais havia acordado daquele sono. Até que em uma manhã chuvosa, ela não se movimentou mais.

Kakashi estava ao seu lado, e desesperou-se quando não conseguiu ouvir o coração fraco batendo em seu peito. Ele sabia, Kakashi sabia! Mas ele não estava pronto, ele nunca esteve.

Ela se foi, e a última lembrança de seu amigo e de sua infância havia ido junto à ela.

Sakura havia chegado no exato momento em que o prateado abraçava o corpo sem vida da mulher, e foi impossível não se aproximar, abraçando-os igualmente. As pesadas lágrimas que caíram do rosto da rosada molharam o cachecol rosa da Uchiha, e a Haruno entendeu o significado dela ter dito tanto que queria algo do tipo, a mulher mesmo que não conseguisse lembrar-se com lucidez de acontecimentos recentes, tinha total ciência de que algo com aquela combinação verde e rosa, estava ao seu lado durante todo aquele tempo, assim como Kakashi. E então Sakura sorriu, percorrendo sua mão sobre o rosto do ex-sensei, tentando consolá-lo de que ela tinha ido em paz e feliz.

[***]

Alguns meses haviam se passado, e graças à ajuda da Diretora do Hospital de Konoha — Haruno Sakura — a vovó Uchiha havia sido apenas mais uma paciente sem identificação, que havia falecido. Assim como Obito havia desejado, ninguém jamais saberia de sua existência.

Kakashi há tempos refletia sobre seus sentimentos, ele sempre seria grato ao amigo por ter lhe permitido a capacidade de amar novamente, por ter alguém ao seu lado, mesmo que em uma situação tão delicada quanto aquela, e foi graças a senhora Uchiha que ele conseguiu, por fim, quebrar a casca que seu coração havia criado; ele estava livre, totalmente liberto de seus fantasmas do passado, ansioso como um adolescente pela ideia da felicidade e até mesmo de um romance.

— Rokudaime-sama! — Shikamaru interrompeu seus pensamentos ao entrar de uma vez na sala do Hokage.

— Era você mesmo quem eu queria ver. — Kakashi disse alegre.

— Ih, vou nem perguntar o que está acontecendo, porque já sei que vai sobrar para mim. Complicado!

— Larga de ser bobo, só quero saber se minha encomenda chegou.

— O da costureira? — O conselheiro perguntou interessado. — Está dando mancada em repetir o presente, hein? Acho que a médica lá, não vai gostar.

Kakashi sorriu ao ver o embrulho no mesmo canto em que o antigo esteve há alguns meses.

O Hokage sentia seu coração acelerar, ele estava bastante nervoso. Kakashi jamais havia feito o que ele estava prestes a fazer, e eufórico, analisava todas as possibilidades. O plano era simples: ele novamente iria à floricultura e escolheria — claro, com os pitacos da dona do lugar — o mais belo buquê, de preferência rosa, para combinar com o cachecol, e compraria dangos, depois a convidaria para tomar chá, afinal, seria uma ótima oportunidade de cumprir a promessa que havia feito a Vovó.

— Não vai mesmo me dizer quem é? — O Nara questionou numa voz de piedade que fez o prateado refletir.

Dessa vez, talvez só dessa vez, o Hokage pensou em responder de fato quem ele iria presentear, mas era muito mais divertido deixar o conselheiro na dúvida e vê-lo xeretar sua vida, se o Nara realmente fosse inteligente...

E, o Hokage sabia que ele era, então ele apenas deu de costas, deixando um Shikamaru de bico, enquanto saia em busca dos sentimentos que ele recentemente tomou conhecimento. Kakashi nunca mais deixaria aquilo escapar...

— Obrigado, obāsan!


 


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Podem ser sinceros!

Como mencionado lá em cima, estou participando do concurso A Vontade do Fogo: Hatake do @Projeto_Hatake e da @EditoraNeverland , e essa história está concorrendo à uma publicação impressa pela editora. Depois de muito pensar e com o apoio das melhores amigas que eu poderia pedir, resolvi tentar, e... quem sabe...

Gostaria de agradecer imensamente a betagem maravilhosa da musa @cap1tu e à @Xxafrodite por essa perfeição de capa. À @Deidarete pelo plot maravilhoso (e por aguentar meus surtos, além de me apoiar no que eu precisei), e ao apoio das lindas @Jhatakeumino, @d-uzumaki! e @CardcaptorMoon
Amo muito vocês !

Agradeço quem vem acompanhando minhas histórias, e dizer que o apoio de vocês tem sido fundamental pra criação de cada uma que já escrevi!

Logo eu volto, sigam-me os bons: https://www.instagram.com/re.hatake/



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