TAO

Chanyeol não mentiu ao descrever esse labirinto novo, ele realmente me deixa desconfortável, quase com medo de lugares apertados. Ele mantém sua mão direita elevada no ar como lanterna iluminando o caminho, enquanto eu e Chen estamos atentos para qualquer possível problema.

— Como Suho e Xiumin estão se saindo sem uma luz? – Chen pergunta.

— Eles são quase imbatíveis, luz é luxo para os dois. – Respondo.

Logo a nossa frente aparece a parede que Chanyeol encontrou que serve como um refletor de ataques. Paramos em frente a ela e observamos nossos reflexos na superfície espelhada.

— Não toca nela! – Chen me puxa quando me aproximo.

— Relaxa, não vou. – Puxo meu braço de volta.

Olho a superfície de perto ignorando meu reflexo que faz o mesmo do outro lado. Como esse espelho iria ondular e devolver uma bola de fogo? Um movimento e a luz das chamas de Chanyeol batem diretamente na superfície e eu vejo algo estranho. Faço o mesmo movimento e lá está de novo. Repito o movimento algumas vezes jogando minha cabeça para lá e para cá, mas continuo sem entender o que vejo.

— Já acabou com o número de dança? – Chen pergunta com uma risadinha.

— Eu vi alguma coisa aqui. – Não desvio o olhar para ele. – Tem alguma coisa...embaixo dele, ou algo assim, não sei explicar o ao certo.

— Do que você está falando? – Chen se aproxima e tenta ver o mesmo que eu. – Não estou vendo nada.

— A luz tem que bater direto no espelho, aí você consegue ver.

Ele me imita e solta uma exclamação – O que é isso?

— Eu também queria saber. – Respondo. – É como se tivessem vários pedaços pequenos de alguma coisa embaixo do espelho. Pode ser isso que o faz refletir o ataque do Chan.

— Eu quero testar. – Chen se afasta e já ascende as mãos preparando para jogar um raio.

— Não faz nada! – Chanyeol segura seu braço. – Você ouviu o Suho, apenas sentir com o que estamos lidando. Já sabemos que isso reflete os ataques.

— Vamos em frente, temos que tentar cobrir o máximo de área no tempo que temos. – Olho para um lado e para o outro – Direita, ou esquerda?

— Direita. – Chen toma a frente com as mãos também acesas, já preparado para atirar caso seja necessário. – Estamos procurando por alguma coisa em específico?

— Qualquer coisa nova, que valha ser relatada. – Respondo.

Andamos por alguns minutos, tomando cuidado para decorar o caminho, porém nada interessante aparece no nosso caminho, com exceção de uma lâmpada apagada em uma das paredes do labirinto em um corredor que pegamos, nada anormal.

— Belo toque. – Chen ri ao olhar para a lâmpada.

— Já acha que devemos voltar? – Chanyeol pergunta.

— Acho que mais alguns minutos e já podemos. – Respondo pegando um corredor a direita que acaba sendo sem saída. – Vamos para a esquerda.

Quando nos viramos para pegar o outro corredor a lâmpada que antes estava apagada se acende de repente e somos pegos de surpresa por uma sombra que pula de uma parede para o chão. Chanyeol a ilumina e todos seguramos o ar por um momento.

Eu sei que nunca vi essa criatura dando um passeio por aqui antes. Está sobre quatro patas também, não possui olhos na cabeça grande e ovalada, apenas uma boca rasgada em uma carne que parece podre, muitos dentes grandes e afiados. O corpo é pequeno, a carne de todo o corpo é lisa e podre, as patas não têm garras, tocam o chão apenas o necessário para se manter em pé, está pronto para o pulo em cima de qualquer um. Não é grande, não parece ser perigosa. Quase como se tivesse ouvido minha mente, ele recua o corpo e o projeta para frente cuspindo uma gosma verde.

Por pouco não pega em Chen, ele se abaixou na hora certa e a gosma acertou a parede atrás de nós. No mesmo instante a pedra pareceu começar a ferver e se derreter e um grande buraco se formou em menos de um segundo.

Chanyeol se colocou na nossa frente e uma grande chama voou em direção ao animal estranho e o teria acertado, se ele não tivesse se esgueirado. O problema foi a forma como ele se esgueirou. Ele pareceu não ser formado de carne sólida e sim de algum líquido. Seu corpo se afastou para a direita apenas onde ele seria atingido pela chama, mas ele em si, não saiu do lugar, como se fosse um elástico ou uma borracha.

— Isso é novidade. – Chanyeol se espanta.

Ele lança mais chamas em direção a criatura, mas nenhuma o acerta, seu corpo se deforma e se dobra ao se esquivar e nenhuma chama acerta sua carne que parece podre.

Chen projeta vários raios também, mas nenhum atinge a criatura, que parece se cansar de esquivar e decide pular para as paredes e fica de uma para a outra tentando nos cercar enquanto apenas observamos ela pular de um lado para a o outro e Chanyeol tentando acompanhar com a luz de suas chamas. Eu não vejo, mas eu ouço o barulho que ele fez ao jogar sua gosma mais uma vez.

Preciso agir.

Me coloco em uma zona temporal diferente de todos, mais rápido. Chanyeol se move em câmera lenta ao tentar observar a criatura de novo, e Chen está mais para trás ainda. A gosma ácida vem bem na direção da cabeça de Chanyeol, vai pegá-lo pela direita. Inclino seu corpo e o de Chen, para que a gosma atinja a parede. Olho em volta e acho a criatura no meio de um salto de uma parede para a outra. Não vou conseguir pegá-la agora.

Desativo minha zona temporal própria e tudo volta ao normal. Vejo a criatura pular de uma parede para a outra e lá ficar. Ela parece ter percebido o que eu fiz. Chanyeol e Chen perdem o equilíbrio por um segundo.

— Ali. – Aponto para o animal que observa da parede – Ele sabe que eu parei o tempo e que ela não acertou vocês por minha culpa.

— Do que você está falando? Nunca perceberam que você manipula o tempo, só percebiam quando era tarde demais. – Chen aponta a mão para iluminar também. A boca rasgada exibe os dentes em um sorriso estranho.

— Nunca fui observado igual estou sendo agora. – Finjo me mover para a esquerda, e a cabeça oval me segue, direita e o mesmo resultado.

— Você o tocou? – Chanyeol pergunta.

— Não.

— Tenta. – Chen me dá uma leve cotovelada – Quando ele fizer aquilo de se dobrar todo, faz a dobra ficar na linha de fogo.

— Ele precisa vir para o chão para eu poder fazer isso. – Não tiro o olho do bicho estranho.

— Não seja por isso. – Chen sorri ao começar a jogar raio atrás de raio na criatura.

Chanyeol o acompanha e logo apenas se dobrar e esgueirar, não é viável e a criatura começa a descer e se prepara para dar o bote em nós três. Pego a mão de Chen e crio outro bolso temporal, de forma que abranja nós dois. Chanyeol ainda está olhando para o topo da parede onde a criatura estava, enquanto ela já deu o bote com sua boca rasgada sorrindo de maneira macabra.

Puxo Chen para uma boa posição, tenho de ser rápido, manipular o tempo com mais alguém, além de ser perigoso, é mais difícil. – Joga um raio aqui que ela não foge, mas coloca bem perto, para não dar tempo.

— Pode deixar. – Ele aponta a mão e a deixa praticamente colada no peito da criatura, quando o tempo voltar ao normal ela não terá como fugir. – Posso soltar?

— Pode.

O raio sai da mão dele e eu o paraliso no ar na mesma velocidade do resto do mundo fora do meu bolso temporal. Tudo que não estiver me tocando e que eu queira que fique dentro desse bolso, fica na velocidade reduzida. Eu poderia matar esse bicho agora e ele já cairia morto sem entender o que houve, entretanto, é uma criatura nova, eu quero ver como ela reage e se tem mais alguma surpresa.

Desativo o bolso temporal e o raio acerta a criatura bem no meio do peito, dessa vez, ela não conseguiu se dobrar e cai no chão estrebuchando, chiando alto e fino como se estivesse chorando. Chanyeol abre suas asas de fogo e as bate uma vez, fazendo uma chuva de penas de fogo se fincarem no corpo que agora se retrai como uma aranha conforme pega fogo.

— Trabalharam bem. – Chanyeol levanta o polegar. – Vamos, temos que informar o que vimos aqui

SUHO

Eu e Xiumin já estamos andando há alguns minutos e nada novo, alguns corredores sem saída, bifurcações, mas nada demais, só estamos tendo cuidado e andando devagar devido a pouca visão que temos aqui.

— Devíamos ter trago o Chen junto. – Comento com Xiumin – Ele seria útil com essa escuridão.

— Com toda certeza...está sentindo alguma coisa? – Ele pergunta preocupado.

— O que eu deveria estar sentindo? – Não compreendo a pergunta.

— Alguma presença...sei lá...alguma coisa...

— Não, não estou, Umin. – Rio com sua pergunta.

— Tive uma ideia.

Ele para por um segundo, junta as palmas das mãos, fecha os olhos e então os abre novamente, apoia um joelho no chão e abre os braços em um gesto largo e uma leve camada de gelo cobre as paredes do labirinto. Ele tem uma expressão de concentração profunda, e seus olhos tem um leve brilho azulado. Finalmente ele se levanta depois do que me pareceu tempo demais.

— Eu usei um método de localização, se tivesse alguma criatura eu teria sentido ser pego pelo gelo, mas não senti nada, apenas corredores mesmo. Estranho, não? Nenhuma criatura.

— Sim, bastante. – Continuo andando.

Já que nenhuma criatura vai nos atacar de surpresa tão cedo eu começo a prestar atenção em qualquer possível detalhe que possa existir nessas pedras ásperas e novas, mas nada parece saltar a vista, principalmente pela falta de luz aqui. Até que uma coisa chama.

— Olha isso aqui. – Puxo Xiumin pelo braço – O que isso pode ser?

O gelo de Xiumin já se derreteu das paredes, mas há um pequeno pedaço em que ainda há gelo. Um hexágono cheio de reentrâncias está desenhado na parede de pedra. Olhando de perto as reentrâncias lembram muito um...

— Labirinto? – Xiumin indaga ao analisar a gravura na parede.

— Será que é um...

— Mapa? – Xiumin pergunta esperançoso. – Será?

— Não sei...talvez? Faça sua técnica de localização de novo, veja se vai de acordo com o que está aqui nessa parede.

Ele o faz, se concentra, fica em posição e abre os braços de maneira ampla liberando o gelo e ficando com os olhos brilhando azul. – Não...tem muito mais entradas e saídas do que o que está aí. – Ele responde desanimado. – O que pode ser isso então?

— Não faço ideia. Vamos, temos que continuar andando.

Eu tenho que admitir que esse labirinto é bem mais tortuoso que o outro e bem mais fácil de se perder, me concentro muito para gravar o caminho de volta e faço questão de pedir para Xiumin me lembrar de nunca deixar ninguém andar aqui sozinho, pode ser muito perigoso. Ao pegarmos o caminho da direita, quando tivemos a opção de irmos por outro dois, e depois virarmos a direita novamente, nós dois paramos no lugar, espantados.

Um corredor iluminado.

Eu e Xiumin nos olhamos por um momento sem saber se devemos seguir em frente ou não, resolvemos dar uma espiada para tentar ver de onde vem o brilho. Colocamos as cabeças no corredor e vemos que a luz vem de uma lâmpada na parede.

— Acha que devemos ir em frente? – Xiumin me pergunta.

— Não. Mas não acho que deveríamos voltar também. Nós viemos aqui tentar descobrir o que pode ter aqui e é isso que vamos fazer. Pronto?

— Pronto.

Andamos em direção ao corredor juntos, a luz banha o corredor com um brilho alaranjado que me deixa tenso e com os pelos da nuca arrepiados. Porque uma lâmpada em uma parede de um labirinto de pouca luminosidade?

— Faça a técnica de localização de novo.

Xiumin me obedece e libera sua nuvem de gelo pelo ar. Ela flutua por alguns metros...

— Mas o que...? – Xiumin se levanta espantado.

Sua nuvem de gelo ficou parada no meio do ar e se condensou fazendo um grande aglomerado de pontas de gelo em uma parede invisível a um metro do chão.

— Suho....

— Eu vi...

— Acha que é aquela parede que o Chanyeol falou que reflete os ataques? – Ele pergunta encarando o gelo na parede invisível.

— Não. Aquela era um espelho e ele disse que engoliu o ataque, se ondulou e então cuspiu o ataque de volta. O seu gelo só parou no meio do ar. Eu vou dar uma olhada mais de perto.

Me aproximo devagar da parede invisível cheia de gelo. Ao se aglomerar o gelo formou uma estrutura bem pontiaguda, seria até perigosa. Olho atrás dela, mas não vejo nada, apenas as paredes e a escuridão a frente. Mas está aqui, eu toco e sinto que há uma parede.

— Suho!

Me viro e vejo que Xiumin ergueu uma parede de gelo atrás de mim.

— O que, que foi, o que aconteceu?

Saio de trás da parede de gelo e vejo que estamos com algumas criaturas nos rodeando. Não são nada parecidas com as que já conhecemos. Nunca vi nada parecido aqui, na verdade.

O corpo é coberto de escamas brancas, diria que têm um metro ou um pouco mais de cumprimento, é magro, porém parece forte, o pescoço é fino e acaba em uma cabeça com orelhas pontiagudas, o focinho é curto com uma boca sem dentes, as patas traseiras são curtas com grandes garras e as dianteiras têm grandes dedos finos com quatro garras finas e também longas, os oito olhos são de aspecto leitoso, mas parecem processar cada movimento nosso enquanto a calda grossa balança de um lado para o outro.

Eu conto sete se batendo para encarar as presas, que somos nós.

— Precisamos sair daqui! – Xiumin grita do outro lado do que me parece uma multidão de criaturas – Não temos como dar conta deles todos!

Como que para demonstrar isso, um pula na direção de Xiumin e ele ergue uma parede de gelo, mas as garras finas e afiadas da pata dianteira atacam a atacam com ferocidade. Só depois dele projetar uma estaca de gelo e acertar o animal bem na cabeça o fazendo cair débil no chão, é que ele se vê livre.

— Me ajuda!

Disparo um jato de água concentrado na cabeça de um animal próximo de mim e a abro em dois. Xiumin levanta um bloco de gelo e o projeta para a frente me levando para o lado dele. Antes que eu chegue ele começa a correr e eu corro junto com ele. Precisamos sair daqui, precisamos de mais espaço para...

— Só pode ser brincadeira! – Xiumin cai sentado. – Outra parede invisível?!

Não, não, não, não.

Realmente há outra parede invisível aqui. Soco-a em vão.

Estamos presos aqui.