The Revolution escrita por lipemorais


Capítulo 49
Capítulo 49




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XIUMIN

 

Mesmo com pouca luz eu consigo ver que o chão é cinza, parece ser de uma pedra polida, as paredes também são da mesma cor, mas são um pouco mais grossas de uma pedra mais rústica, algo nelas me lembra os corredores do labirinto, aqui e ali lâmpadas começam a piscar e acender quando Chen passa por elas.

Ouço apenas os ecos dos meus passos e nossas respirações ofegantes, o lugar em si não é muito grande, na verdade, me atrevo a dizer que tinha muito mais espaço nos corredores do labirinto.

Chen está na frente do grupo e quase esbarro nele quando ele para abruptamente – Não é por ali que temos que ir. – Ele aponta para frente e quando consigo formar a palavra escada em minha mente eu sinto um alívio.

Corremos em linha reta e demos de cara com outra escada, raios de Sol invadindo o local banhando os degraus com luz – Luhan disse para andarmos por túneis subterrâneos, temos que descer. – Suho fala já se afastando da escada em busca de algum caminho que tenhamos deixado passar.

— Eu não sabia que eu podia fazer isso. – Chen sussurra maravilhado com as luzes que se acenderam por influência dele.

— Meu irmão disse que talvez nossos poderes pudessem se comportar de maneira estranha. – Sehun resmunga tão baixo que quase não consigo ouvir, ele fita o chão, seu maxilar está tenso e mordendo o lábio inferior, não conseguiu ter um tempo para chorar ainda.

Agora todo o corredor está iluminado e ao correr uma coisa me chama atenção.

Um objeto de metal, retangular, um pouco mais alto que eu, sua frente é transparente, uma lâmpada pisca indecisa se fica acesa ou se apaga de vez iluminando vários pacotes coloridos.

Ao mesmo tempo que aquilo me parece estranho, sinto uma familiaridade incomum, como se eu conhecesse aquilo muito bem, figuras que eu não entendo o que sejam, mas fazem meu corpo reagir, sinto meu estomago doer de fome, seja lá o que for isso, meu corpo parece conhecer bem o que pode ser.

— O que você está fazendo? – Suho me traz de volta ao mundo, nem mesmo me dei conta de estava parado em frente aquele objeto encostado na parte transparente, estou com água na boca e morrendo de fome, de repente – Anda, tem uma descida aqui!

Volto a correr, mas uma parte de mim fica em frente aquele objeto com tantos pacotes coloridos.

Novamente, conforme corremos, as luzes se acendem ao nosso redor, estamos descendo outra escada, essa muito maior, tão inclinada que está quase em pé, os degraus parecem ser feitos de metal também, com...com...buracos? Não, não parece certo.

Minha cabeça está tão cheia com tanta coisa que paro de tentar pensar e apenas sigo o caminho.

Ao final da escada estamos em um pedaço de chão, aqui ele tem um tom mais claro, um túnel de cada lado.

O local está mal iluminado, mas assim que Chen coloca os pés no pedaço de chão, tudo se ilumina instantaneamente revelando muita sujeira e coisas quebradas, vendo esse lugar eu sinto minha cabeça doer, preciso parar de andar por um momento, até mesmo me abaixo um pouco.

Me sinto eufórico, nomes, cores, penso em tanta coisa ao mesmo tempo, nem mesmo consigo entender tudo o que estou pensando, meu cérebro só as registra.

— Não podemos parar, Xiumin. – Sehun me ajuda a levantar – O que você tem? – Ele pergunta ao olhar para meu rosto, que julgando pela expressão dele, não deve estar nada calmo.

— Vocês...vocês não estão...não estão pensando em várias coisas...como se...se...sua cabeça estivesse a ponto de explodir? – Eu pergunto voltando a andar ainda sentindo meu peito acelerado.

— Não nesse nível, - Kai murmura – mas estou pensando em algumas coisas.

— Por onde vamos? – Suho pergunta olhando de um lado para o outro.

— Nós só precisamos fugir. – Chen responde.

— Mas e depois? Estamos totalmente perdidos aqui fora, - Kai olha de um lado para o outro – não temos comida, não temos onde descansar, não temos para onde ir.

— Vamos nos preocupar com uma coisa de cada vez, - Suho tenta acalmá-lo – parece que nossas memórias estão começando a voltar, devagar, mas estão, isso é um ponto positivo.

— Porque diz isso? – Kai pergunta apreensivo.

— Porque eu estou lembrado que esse lugar se chama estação... – ele fala devagar coçando a testa como se estivesse se concentrando – e...os metrôs eles...eles andam por esses caminhos – ele aponta para um dos túneis fazendo careta exibindo dentes sujos de sangue – e param nas estações...vamos andar para longe daqui, descansar um pouco, esperar que nossas memórias voltem, pelo menos um pouco... quem sabe que informações podemos conseguir com isso. Vamos.

Ele pula no túnel que está a nossa direita e começa a seguir em frente dando uma cuspida de sangue.

— Eu estou preocupado com a comida. – Eu exaspero sentindo meu estomago se remoer de fome lembrando dos pacotes que eu vi no retângulo de metal.

— É, eu não vou negar que isso me preocupa também. – Suho admite. – Se eu conseguir me concentrar, acho que consigo fazer água para bebermos, pelo menos.

— Não seria nada mal se o tal Clan X nos encontrasse e nos ajudasse. – Kai choraminga.

Mais uma vez, as luzes se acendem conforme Chen passa por debaixo delas, fico olhando constantemente por cima dos ombros tanto para ver a distância que as luzes começam a se apagar, quanto por medo de estarmos sendo seguidos.

Eu já estava acostumado com os sons que ouvia no labirinto então sabia identificar algo novo ou que não deveria estar acontecendo, mas o silêncio constante aqui, apenas os ecos dos nossos passos parecem estar me dando a ilusão de ouvir passos a mais.

Eu não sei quanto tempo andamos, meus pés já estão doendo, passamos por quatro estações, como Suho as chama, eu lembrei que estamos andando por cima dos trilhos do metrô, mas não lembro como é o metrô em si, meu estomago dói de fome e estou exausto de andar.

— Acho que podemos parar aqui, pelo menos para descansar um pouco, tentar nos lembrar de mais coisas. – Suho considera quando chegamos a quinta estação.

Eu não espero uma resposta do restante e apenas subo na estação e me sento perto de alguma parede para me encostar, o chão é frio e duro, um cheiro de sujeira irrita meu nariz e faz minha garganta coçar, minhas roupas estão grudando em meu corpo de tão suado que estou, o tempo abafado só me deixa mais cansado.

A essa altura, Kai já está com a mesma expressão que eu devia estar algum tempo atrás, ofegante, olha para todos os lados como se procurasse por algo avidamente e muito confuso, ele se senta um pouco mais longe de mim e são Sehun, Suho e Chen que checam a área, só não sei do que eles poderiam estar em busca.

Em algum momento, minha mente começou a se acalmar e eu consegui interpretar e entender o fluxo de pensamentos, mas ainda é tudo tão novo e tanta coisa que não sei se entendi de fato.

— Acho que já está anoitecendo – Chen afirma descendo uma escada a minha esquerda – Está tudo escuro lá em cima.

— Falando em luz ou falta dela, você está proibido de subir ou procurar algo lá em cima, - Suho o adverte passando a mão pelo cabelo e limpando o suor da testa – do jeito que você está acendendo tudo ao seu redor, as chances de alguém ver são bem grandes. – Ele tenta mexer a boca apenas o necessário e mesmo assim, o faz com dificuldade.

Chen apenas assente, não há o que dizer quanto a isso.

— A área parece bem vazia. – Sehun observa depois de revistar a estação – Não se ouve nada.

— Espero que continue assim por um tempo. – Suho se senta ao meu lado, tira os tênis e começa a massagear os pés devagar, faz uma careta, mas se arrepende quando os cantos de sua boca se abrem demais.

Ficamos parados por alguns instantes, sem falar nada, não sei o que eles podem estar pensando ou sentindo, mas o que eu sinto nesse momento é um medo crescente e incontrolável, meu coração martela apertado no meu peito.

Nós sempre buscamos e procuramos a saída do labirinto...mas nunca nos ocorreu o que ocorreria depois que saíssemos...bem...não fazíamos ideia do que nos esperava.

Tanta coisa aconteceu hoje, tantas imagens rodam minha mente...Kris...ele chegou tão perto, a liberdade esteve tão próxima dele, é tão injusto pensar que ele lutou tanto para no final morrer daquele jeito.

Embora, eu não sei se estamos muito melhores do que ele, ou se iremos durar muito mais que ele, talvez ele tenha sido poupado disso tudo, de estar livre e ainda assim estar mais amedrontado do que nunca.

Mas quem sabe se ele ainda estivesse vivo nós não teríamos sido divididos, o que eu estava pensando? Simplesmente aceitar que os outros ficassem para trás para que eu sobrevivesse, eu não quero nem imaginar o que pode ter acontecido com eles.

— Sinto muito pelo Luhan, Sehun. No final das contas foi ele que nos guiou para fora do labirinto. Ele não merecia...esse final. – Chen fala cuidadoso.

Estava tão absorto em pensamentos que nem me dei conta de que Sehun estava praticamente a minha frente, ele finalmente parece estar sentindo o peso dos fatos de hoje, está sentado largado de qualquer jeito no chão, pernas tortas, braços mortos, cabeça baixa, olhar fixo no chão, só o que se ouve no silêncio da estação abandonada é seu choro.

— Perdemos gente demais hoje. – Kai se lamenta.

— Eu só espero que os rapazes estejam bem... que estejam vivos. – Chen complementa. – Se eu conseguisse me controlar bem o suficiente para lutar, as coisas teriam sido bem diferentes.

— Como? – Kai pergunta sem olhar para ele, apenas mexendo em seu pé.

— Não teríamos nos separado, para início de conversa, estaríamos juntos, todos juntos. – Chen afirma – Mas eu não consigo nem fazer uma faísca descente sem perder o controle. – Ele estrala os dedos e pequenos raios aparecem, alguns fogem de seu controle e voam pelos trilhos e outros se apagam.

— Engraçado que foi controle o suficiente para explodir a cabeça daquele soldado. – Kai responde com um sorriso nervoso.

Eu reconheço esse sorriso e esse tom do dia que ele perguntou quem era Namjoon – Aquilo só aconteceu justamente porque estou sem o controle das minhas habilidades, Kai, além do mais, era ele ou nós, eu fiz o que era necessário.

— Parece que você aprendeu bastante com o Luhan, não é? – Kai pergunta ainda sem olhar para nada além de seu tênis.

— Cuidado. – Sehun o adverte irritado e choroso.

— Ou você vai me fazer em pedacinhos igual aquele monte de soldados? – Kai questiona com o mesmo tom despretensioso, muito interessado em seu tênis.

— Se eles não tivessem vindo para cima de nós, não teriam sido feitos em pedaços. – Sehun responde irritado e fanho.

— Você está com algum problema, Kai? – Eu pergunto ainda recostado na parede – Se ele não tivesse matado aquele soldado, nós poderíamos estar mortos, ainda bem que o Chen conseguiu fazer aquilo, se dependesse de você por exemplo, não estaríamos aqui.

— Ele era uma pessoa igual a nós, não era necessário mata-lo daquele jeito. – Kai resmunga finalmente parando de olhar para o tênis.

— Também não era necessário matar o Luhan, mesmo assim, o Sehun está sem o irmão dele, não é? – Suho pergunta sério.

— Nós não podemos ser contra eles e fazer exatamente o mesmo que eles, Suho! – Kai se exalta.

— Se você continuar pensando assim, não vai durar muito tempo, Kai! – Suho se exalta também. – No momento em que você foi mandando para aquele labirinto desgraçado toda igualdade ou compaixão foi pela janela, aqui fora não é diferente de lá, todo mundo quer as nossas cabeças e nos usar como... como... sei lá que merda, mas só servimos como um experimento, você não vê? O inimigo só é diferente agora, mas a ameaça continua a mesma ou até pior porque aqui não podemos nos defender. Acorda Kai, se não for a vida de uma pessoa que quer te matar, pode ser a de um de nós tentando te defender, é isso que você ver?

Kai não responde nada, apenas encara Suho com as sobrancelhas vincadas e uma expressão dura e séria.

— Eles tiraram a vida do Luhan, na nossa frente, tiraram a vida de vários outros rapazes lá dentro do labirinto, pode achar que sou uma má pessoa, um louco sem coração ou o que for, mas eu não me arrependerei se eu precisar matar quem for, para nos proteger. – Suho tenta manter a calma, mas está escrito em sua cara sua irritação.

Nenhum de nós fala uma palavra sequer, eu não poderia concordar mais com o Suho e estou tão cansado física e psicologicamente que não estou com um pingo de paciência para o mesmo episódio do senso moralista do Kai, se ele quer se deixar ser morto, não é meu problema.

— Tentem descansar um pouco, dormir se possível, eu vou ficar de vigia, nunca se sabe o que pode acontecer, - Suho resmunga de canto de boca a contragosto, eu acho que nunca o vi tão perturbado e irritado com um de nós – Chen, daqui um tempo eu te acordo, revezaremos turnos de vigia.

Chen apenas assente.

CHEN

 

Acordo sobressaltado, a última vez que vi Kris está marcada em meus olhos todas as vezes que os fecho, o som do tiro que tirou a vida de Luhan ainda ecoa em minha mente em alto e bom som.

A noite passou rápido, fiquei de vigia após Suho, Xiumin após mim e Kai por último, decidimos dar um descanso maior para o Sehun, quanto mais tempo passava, mais ele recuperava as suas memórias de seu irmão e mais calado ele ficava.

O sono não foi útil e não descansou meu corpo, me sinto dolorido, cansado e pesado, além do mais estou com muita fome, muita mesmo, nunca senti meu estomago doer tanto assim.

Suho se esforçou para fazer água para que pudéssemos beber, pelo menos serviu para refrescar o calor abafado que faz no subsolo nos trilhos do metrô, ele lavou seus ferimentos e sua boca, ainda cuspindo sangue, mas ele teve muita dificuldade para conseguir e no final, meu estomago só doeu mais ainda ao receber líquido ao invés de algum alimento sólido.

Nós continuamos andando, em silêncio e bem devagar, não sei se isso é um reflexo da fraqueza que estou sentindo, mas as luzes ao nosso redor não se acendem com tanta intensidade quanto antes e estão demorando um pouco mais também.

— Será que ainda estão nos procurando? – Sehun pergunta com a voz fanha e falhando, olhos vermelhos e inchados.

— É bem capaz. – É a única coisa que Suho responde.

— Será que o tal Clan X está nos procurando? – Eu acrescento – Uma ajudinha não cairia mal.

— Se pelo menos tivesse um jeito de falarmos com eles. – Xiumin lamenta quase choramingando, ele está andando devagar e está bastante pálido.

— Mesmo se tivesse, nós, provavelmente não saberíamos usar já que ainda não lembramos de quase nada. – Suho aponta, ele também soa cansado, embora tente não parecer.

— Será que podemos fazer uma pausa? – Xiumin quase suplica quando chegamos a mais uma estação, já subindo na plataforma e se jogando no chão.

— Certo, uma pausa rápida. – Suho concorda bem animado.

— Ainda bem que toda essa linha está abandonada. – Sehun é o único que parece não se render ao cansaço tão facilmente.

— Temos que pensar no que fazer quando esse túnel terminar. – Suho resmunga parecendo estar perdido em pensamentos. – Uma hora vamos acabar dando com o fim da linha.

— Meu irmão disse que o Clan X sabia de tudo que estava acontecendo...ou pelo menos de boa parte, eles devem estar a nossa procura também. – Sehun aponta tentando parecer esperançoso mesmo com a situação atual. – A assistente dele deve saber que fugimos e com o HD.

— O que te faz pensar isso? – Kai pergunta sentado à beira da plataforma balançando as pernas.

— O nome Tiffany me vêm à cabeça quando lembro do Luhan, ele não parava muito em casa estava sempre... – Sehun para procurando a palavra certa para o irmão dele nos observando no labirinto – ocupado...e essa assistente pessoal dele... ele sempre estava falando com ela, se tem uma pessoa que sabia do que ele fazia era ela, e vocês ouviram o que ele disse, ela deve estar a par de tudo até... – ele não termina a frase e a deixa pendurada em sua boca, não quer falar da morte do irmão.

— Eu só espero que ela esteja mesmo e que nos encontrem rápido. – Suho conclui pulando da plataforma recomeçando a andar.

O resto do dia não foi muito diferente disso, nós andamos muito, ou pelo menos por muito tempo, estávamos tão exauridos que andávamos devagar e parávamos em quase toda estação, foi quando vimos a falta de brilho vindo de algum lugar acima e percebemos o cansaço estar dando lugar ao sono que decidimos parar e dormir naquela estação.

Infelizmente, a estação que escolhemos era talvez a mais podre e suja que vimos naquele dia, um cheiro horrível nauseante pairava, Kai disse que lembrava lixo e Sehun disse que a palavra chorume vinha a sua mente, nenhuma palavra veio à minha.

— Essa é uma coisa que eu não fazia a menor questão de me lembrar. – Kai resmungou franzindo o cenho e cobrindo o nariz com a barra da camiseta.

Além disso chão era pegajoso fora o pó por todo lugar e as baratas que saíram correndo quando as lâmpadas se acenderam quando eu me aproximei.

— Não sei como não demos de cara com outras coisas. – Suho exaspera. – Eu vou tentar jogar um pouco de água aqui para limpar pelo menos um pouco.

Com muito esforço, mais uma vez, ele conseguiu fazer um jato fino e tímido de água, em um pequeno pedaço de chão e depois a mandou para longe deixando o local livre da sensação de grude pelo menos.

— O Luhan não mentiu quando disse que nossos poderes poderiam ser afetados aqui fora, - ele resfolega se jogando no chão de maneira torta e descuidada – isso me esgotou.

— Eu não consigo mais me teletransportar, não importa o que eu faça. – Kai reclama preocupado.

— Isso é o meu máximo. – Xiumin projeta a mão para frente e dela sai uma considerável névoa que atinge uma pilastra de metal congelando-a na hora – Mais que isso está fora de cogitação.

— Acho que eu e o Chen somos os únicos que ainda conseguem fazer alguma coisa. – Sehun comenta. – Se bem que desde meu surto de raiva, eu não tentei mais nada.

— E eu acho que estou perdendo força, as lâmpadas não acenderam com a mesma facilidade de ontem. – Concluo.

— Tentem dormir, eu vou ficar de guarda primeiro já que não fiquei ontem. – Sehun fala ao se levantar.

Eu acordo sem saber ao certo ou entender o que estava sonhando, a única coisa que identifico e consigo me lembrar, é a voz de Kris gritando, quando abro os olhos demoro um pouco para entender o que vejo e me assusto quando Kris me chacoalha mais uma vez.

— Chen...Chen...é sua vez de ficar de guarda. – Ele me chacoalha de novo para me acordar, mas a voz parece estranha.

Eu sorrio em alegria e descrença, mas quando pisco meus olhos, o rosto sério de Kris dá lugar ao rosto pálido e cansado com sorriso longo demais de Suho. – Porque você está me olhando desse jeito? – Ele me pergunta preocupado.

— Não... nada. – Ele não precisa saber, conhecendo ele como eu conheço, deve estar procurando um jeito de se culpar pelo que ouve com Kris e Luhan há alguns dias e eu não quero fazê-lo sentir-se pior ainda. – Já é a última vigia? – Eu pergunto começando a me levantar e me espreguiçar, meu corpo ainda está quente do sono, mas dolorido de ter que ficar no chão.

— Sim, nos acorde quando a luz começar a aparecer ali em cima.

— Eu preciso de água.

Ele levanta a mão acima da minha boca e eu bebo, minha sede vai embora, mas a fome só parece se acentuar ainda mais, preciso de alguns segundos parado sentindo meu estomago se retorcer.

Enquanto todos dormem, eu tento me manter acordado, mas me sinto fraco, muito fraco, me pergunto há quanto tempo essas linhas estão abandonadas e quais as chances de acharmos alguma coisa que possamos comer.

A julgar pelo estado das estações nas quais estivemos, eu diria que faz um bom tempo, o suficiente para que toda e qualquer comida aqui já estar totalmente estragada e isso me desanima e preocupa.

Não poderemos continuar por muito tempo se não acharmos comida.

Quando vejo luz aparecer no topo de uma escada e o calor começa a deixar o local mais abafado ainda, acordo os outros, Xiumin é o que tem mais dificuldade para acordar e o que parece mais fraco, estou começando a ficar preocupado com ele, não sei se vai aguentar mais muito tempo sem comer.

— Nós temos que pensar em alguma coisa para fazermos, não tem sentido continuar andando em túneis de metrô sem um destino. – Kai resmunga choramingando ao meu lado.

— Nós precisamos achar comida primeiro, e dar um jeito de darmos uma pista que seja para o Clan X nos achar, precisamos da ajuda deles. – Suho afirma resoluto. – O problema é que qualquer pista que tentemos deixar para o Clan X, vai ser uma pista suficiente para o tal do Heechul também. – Ele acrescenta bufando tentando pensar em alguma coisa.

— Isso se o fedor do Sehun não os avisar primeiro. – Xiumin reclama com a voz cansada.

— Você também não está lá muito cheiroso. – Sehun reclama de volta.

Basta olhar para nós um pouco que é fácil ver que estamos só o caco, rostos sujos, cabelos oleosos e bagunçados e roupas sujas, fora o cheiro de suor que vem crescendo.

— Na próxima estação que encontrarmos, eu vou tentar lavar as nossas roupas, - Suho reclama parecendo cansado e impaciente – e dar um banho em cada um. – Ele acrescenta cheirando embaixo do próprio braço.

Também estou preocupado com ele, além daquele sorriso rasgado em seu rosto devido os ferimentos, ele não para de cuspir sangue o dia inteiro e está muito, muito pálido.

Xiumin foi o primeiro a se jogar no chão da plataforma quando achamos a primeira estação do dia, ele está pálido e a respiração está fraca e irregular, é o único que ainda está vestindo sua camiseta e o mais suado, todos nós tiramos as nossas, está muito abafado hoje e as roupas parecem nos sufocar aqui embaixo.

— Fiquem de olho nele, eu vou tentar pelo menos...nem eu sei... – Suho diz pegando nossas camisetas para tentar lavar, ou ao menos molhá-las, não sei se isso vai funcionar.

— Você está bem, bochechudo? – Pergunto a Xiumin sentando ao seu lado, mas tentando manter o olho em Suho também.

— Eu...preciso...comer. – Ele suspira.

— Nós vamos dar um jeito, só aguenta mais um pouco. – Eu o puxo pelo braço para ajudá-lo a se levantar.

Alguma coisa chama sua atenção, ao longo da plataforma, ele olha para longe, concentrado em alguma coisa que eu não sei o que pode ser. De repente, ele se levanta e sai correndo desengonçado até parar em frente um objeto de metal com a frente transparente que eu acho que...

— Uma máquina de lanches. – Ele se alegra apoiado no objeto.

O nome salta em minha mente e um cheiro doce me dá água na boca, eu não lembro o que eu comia aqui, mas era alguma coisa doce e bem gostosa.

Quando a luz se acende e eu vejo pacotes coloridos lá dentro meu estomago ronca tão alto que eu tenho medo que alguém possa ouvir lá em cima e vir atrás de nós, mas é mais forte que eu, quando dou por mim estou olhando de pacote para pacote com água na boca.

Chocolate, salgadinhos, bolachas, eu fico perdido entre tanta coisa que eu não sei dizer o que é, que meu corpo parece reconhecer, mas eu simplesmente não consigo entender o que seja.

— Quebra isso, Chen, quebra isso logo! Agora! – Xiumin se exalta.

Depois da euforia inicial eu volto para a realidade – Xiumin, essas coisas devem estar todas estragadas, há quanto tempo será eu estão aí? Nada disso deve prestar mais.

— Não quero saber! Eu preciso comer alguma coisa se não, eu vou cair duro, eu juro! – Ele se irrita, me empurra de lado e começa a dar socos e cotoveladas na porta de vidro da máquina de lanches.

Eu tento segurá-lo, mas estou tão debilitado que o surto de energia motivado pela fome dele é demais para mim, preciso da ajuda de Kai e Sehun para pará-lo, quando finalmente conseguimos, ele está com a mão vermelha e ralada onde bateu no vidro.

— O que está acontecendo? Porque tanto barulho? – Suho nos pergunta.

Eu tento explicar, mas Xiumin pula na frente todo eufórico apontando para a máquina de comida e falando que temos que pegar todos aqueles pacotes e matar nossa fome.

— Eu não sei se isso é uma boa ideia, com certeza estão todos vencidos. – Suho pondera olhando receoso para a máquina, mas seu rosto diz ao contrário e eu quase consigo ver em seus olhos a vontade que ele está de abrir e pegar todos os pacotes lá dentro.

— É isso ou morrer de fome! – Xiumin está imparável e nada que dissermos servirá de alguma coisa. – Vocês podem morrer de fome, se quiserem, mas eu vou me arriscar.

— E se isso nos fizer mal? – Sehun pergunta receoso, mas não tira o olho da máquina e não para de lamber os lábios.

— Pelo menos eu vou morrer feliz. – Xiumin dá o assunto por encerrado e volta a esmurrar a máquina.

Nós nos damos por vencidos pela fome e procuramos alguma coisa para quebrar o vidro, Kai pega um pedaço das cadeiras da estação e joga contra o vidro.

Pelo jeito que nós avançamos em cima dos pacotes de comida, nem parecia que estávamos mesmo tão preocupados se eles ainda estavam bons para o consumo ou não.

Puxamos tudo que conseguimos pegar, nos sentamos em volta deles e começamos a abrir um a um.

Boa parte deles estava de fato, muito ruim, os odores que subiam quase me faziam vomitar, embora não tivesse o que vomitar no meu estomago, outros estavam verdes e mofados, mas uma pequena parte parecia boa, pelo menos parecia.

Se não estivesse com tanta fome eu provavelmente teria jogado fora um pedaço de chocolate que mordi e tinha um gosto que eu simplesmente não conseguia identificar, mas algo me dizia que aquele não era o gosto de chocolate, as bolachas salgadas foram as únicas que não tinham cheiro, aparência ou gosto ruim, mas ainda assim desceram meio esquisitas.

Depois de comer, Suho, que parecia menos cansado, conseguiu fazer água para que nós bebêssemos, lavou nossas camisetas e calças e ainda conseguiu jogar jatos d’água em todos nós.

É estranho admitir, mas me sinto melhor depois de ter comido, ainda me arrepio quando me lembro do gosto de algumas coisas, principalmente do que Xiumin chamou de marshmallow, mas o gosto não podia ser aquele.

Não andamos muito mais naquele dia e logo paramos em uma outra estação e decidimos ficar naquela plataforma aquela noite.


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