The Revolution escrita por lipemorais


Capítulo 46
Capítulo 46




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PARTE 3

 

DE VOLTA AO MUNDO

 

 

LUHAN

 

Nunca me senti tão impotente quanto estou me sentindo agora.

Tao segura Kai pelo peito, Chanyeol já derrubou Xiumin e está dando trabalho para Sehun e Chen o segurarem, Lay está em prantos no chão agarrando os cabelos, Kyungsoo está preso em um choro silencioso ao lado de Suho, Baekhyun está atônito, parece fora de si.

Nunca imaginei que a quimera teria tamanho poder.

Quando Kris some envolto em uma segunda cuspida de ácido, sem termos nossos poderes, eu sei que não temos outra opção, a não ser seguir em frente.

Fecho a porta do elevador.

— Não, não, não! Não! Quem fez isso?! Abre essa merda agora!

Baekhyun acordou de seu estado atônito e engatinhou em direção a porta e se colocou a soca-la com força e desespero.

Pareceu ser um efeito contrário, ele era o único que estava calmo há poucos segundos, agora sua voz é a única que se ouve, todos estão calados, a informação parecendo se alocar dentro de cada um deles.

Tínhamos o objetivo de sair os doze.

Apenas onze estão subindo o elevador.

Heechul e sua equipe esperaram o momento perfeito para usar seus inibidores.

Conseguiram o momento exato para matar um dos mais fortes e antigos da equipe, além de ser um dos três líderes.

Olho para a cena no elevador, todos estão desmoralizados, aterrorizados, destruídos, esgotados, raivosos, incertos.

O elevador funciona quase como uma plataforma enquanto sobe, é relativamente grande, luzes brancas no teto iluminam, mas metade delas estão queimadas resultando em uma iluminação pobre e fraca.

A pouca luz projeta sombras nos rostos de todos desenhando caretas desanimadas, o que eu julgo combinar com o momento de tristeza e descrença.

— Abre essa porta! Luhan! Abre essa porta! – Baekhyun olha irado para mim. – Abre essa porta, agora!

— Baekhyun...

— Nós temos que salvar o Kris, abre essa porta agora! – Ele tenta ficar de pé, mas acaba caindo por cima de Sehun devido a perna ferida.

— Baekhyun... nós o perdemos.

— Não! – Ele protesta tentando ficar de pé e novamente, acaba caindo.

Dessa vez ele não tenta mais se levantar, apenas se limita e ficar no chão, um grito de dor sai de sua garganta.

— Quais as instruções para quando sairmos daqui, Luhan? – Suho pergunta de maneira apática. Olho para ele e me preocupo com a maneira que sua boca está mais larga que de costume, a pele está vermelha e cortada nas extremidades, ele está com dificuldade de falar e seca o sangue em sua roupa constantemente.

Demoro bons segundos para perceber o quanto o choque de perder Kris também me abalou, como me sinto aterrorizado e oprimido.

— Eu...preciso de alguns minutos...para pensar... – A dificuldade que senti para conseguir falar essas palavras me surpreende.

Nós estávamos tão perto, tão perto, eu deveria ter imaginado que algo assim poderia acontecer, eu deveria ter previsto isso, era muito suspeito os inibidores não terem sido usados ainda durante tanto tempo, ele brincou com todos nós esse tempo todo.

Será que eu subestimei o poder dele? Será que eu fui prepotente ao ponto de imaginar que ele não conseguiria me abalar?

Kris não foi o primeiro rapaz que morreu aqui dentro por minha causa, mas com certeza foi o primeiro com o qual eu convivi, lutei pela sobrevivência ao lado, essa morte, esse sangue em minhas mãos parece mais pesado, de alguma forma.

Quando vejo a caixa preta, o HD, jogado no chão, o peso de termos chegado tão perto fica ainda maior, as lágrimas vêm aos meus olhos e não consigo evita-las, fica difícil me controlar e logo estou soluçando entre minhas lágrimas, ouço vozes falarem alguma coisa ao meu redor, até mesmo tem tom de raiva, mas eu não me importo, vê-lo morrer daquele jeito, estando tão próximo de conseguir o que ele tanto queria, me despedaça por dentro.

Heechul conseguiu me quebrar de uma maneira que eu não esperava que fosse possível, não foi apenas destruindo minha confiança, minha imagem de cientista brilhante e visionário, tirar meu poder e me fazer provar do meu próprio veneno também não foi o que mais despedaçou meu espírito.

Conviver com essas pessoas que eu já fiz tanto mal, me colocar em uma posição de igualdade com elas e conviver com elas, torcer e esperar pelo mesmo que elas e no final tirar uma delas.

Estava tão perto, ele lutou tanto, até o último minuto, sempre se preocupando com os outros, fazendo que tudo que podia para proteger a única família que ele tinha lembrança, sua vida foi tirada porque ele estava fazendo justamente isso.

Estou com a mente tão acelerada que eu não percebo um par de braços me envolverem em um abraço reconfortante, demoro para perceber que é Sehun.

— Isso é tudo minha culpa...

— Chorar não vai adiantar. – Ele me interrompe com a voz séria.

— Desculpa por tudo, eu...

— Eu sei, eu sei. – Pela primeira vez nesse dia, Sehun tem um tom de voz calmo e até reconfortante comigo.

— Eu odeio ter que atrapalhar a reconciliação dos irmãos, mas nós temos que nos preocupar no que fazer daqui para frente. – Suho se interpõe, quando olho para ele vejo a figura de líder que ele sempre assume quando é necessário, rosto sério, duro, fechado, mesmo que esteja debilitado e visivelmente com dor dos ferimentos em sua boca – Luhan, você é o único que tem memórias do mundo lá fora e o único que sabe o que pode nos aguardar, quais as instruções?

— Suho, eu acho que todo mundo aqui precisa de pelo menos uns cinco minutos de pausa...pelo menos para poder sentir a...

— É exatamente por isso que não podemos nos dar o luxo de descansar – Kyungsoo ficou com a boca entreaberta, surpreso com a maneira que foi interrompido, assim como eu – a última coisa que eu quero é ter que sentir mais uma morte de qualquer um de vocês, eu já senti mortes demais e eu...eu acabei de perder um dos meus melhores amigos agora – sua voz começa a quebrar, seu rosto mostra dor de falar com a boca machucada, mas continua sério e decidido – nós temos que nos preparar para o que possa estar por vir lá fora e... – ele respira muito fundo – e honrar o sacrifício, não só do Kris, mas de todos os nossos companheiros que perdemos ao longo do tempo. Eu sei que nós achávamos que teríamos paz quando saíssemos do labirinto, eu sei, mas só ficou claro que nossa luta só irá aumentar daqui para frente.

Quando ele termina de falar, seu rosto ainda está sério e decidido, mas lágrimas descem suas bochechas. – O que há lá fora, Luhan? – Ele pergunta mais uma vez. – O que nos espera? Você é a única pessoa que sabe alguma coisa.

Novamente, todos olham para mim esperando por alguma resposta, solução, direção, qualquer uma que seja e isso me ajuda a me concentrar. Meu irmão está finalmente ao meu lado, pode ser contra a vontade ainda, mas já é alguma coisa, nós estamos subindo à superfície depois de fugir de um ambiente totalmente vigiado e desmantelá-lo por dentro.

Aquele labirinto nunca mais irá funcionar.

Com toda a certeza estaremos sendo esperados.

— Pois bem, - eu pigarreio para me recompor – como eu já disse, uma organização chamada Clan X está movendo seus recursos para acabar com o labirinto, provavelmente, no laboratório, todo o maquinário já foi sabotado e nossas ações foram observadas de perto.

“Assim que sairmos desse elevador, as chances de estarmos sendo esperados por um grupo de soldados de contenção são bem grandes e eles não hesitaram em usar toda a força que for para nos capturar, controlar ou matar se for o caso.

“As instalações do labirinto são em uma área totalmente abandonada e inóspita, praticamente uma cidade fantasma, é uma região tóxica para a maioria das pessoas, mas não para nós, foi uma maneira de nos escondermos de toda a população e qualquer bisbilhoteiro de plantão, estaremos longe da sociedade e não teremos qualquer tipo de ajuda de ninguém, poderemos contar apenas com nós mesmos.

“Nós sairemos de um pequeno estabelecimento comercial, não estaremos longe de uma linha de metrô, embora esteja desativado, os túneis serão um bom meio de locomoção escondido e abaixo do radar, é para lá que iremos.

“Eu sei que estamos todos esgotados, mas as chances de termos uma última luta é bem grande, então fiquem atentos, lutem rápido e poderemos fugir, nosso foco nesse momento é conseguir fugir e nos esconder para conseguirmos encontrar o Clan X, lhes entregar esse HD e, torcermos, para que eles consigam achar uma cura. ”

— Você se lembra bem da área? – Suho tenta se certificar e acalmar um pouco.

— Eu acredito que sim, não fica muito longe, talvez duas ruas... – eu tento relembrar dos mapas estudados para escolher a melhor área quando estávamos fazendo o projeto das instalações – eu lembro que escolhi esse lugar eu mesmo... – fecho os olhos e quase consigo ver – acho que... saindo a esquerda...a terceira rua a direita...encontraremos a placa do metrô...não tem erro.

— É a parte de estarmos sendo esperados que me preocupa, - Kyungsoo resmunga – alguma chance de você imaginar que tipo de força eles usarão?

— Considerando o fato de existir inibidores... acredito que há uma possibilidade de eles serem usados, se Heechul tiver sido inteligente, ele mandou que fizessem pelo menos um protótipo de dispositivo que pudesse usar contra nós, além de armas de calibre pesado.

— Armas? – Tao ecoa confuso.

— Vocês se lembrarão logo, logo. Aliás, Kyungsoo, fique atento, eu sei que deve estar cansado, exausto para usar a melhor definição, mas quando sairmos desse elevador e estivermos em um ambiente que não é monitorado constantemente, você deverá sentir um surto de energia muito alto e talvez ter dificuldade em controlar seus poderes, o mesmo vale para todos vocês, mas principalmente, Kyungsoo, Sehun e Suho, fiquem muito atentos.

— Alguma maneira de nos protegermos dessas armas que você falou? – Chen pergunta ainda choroso, olhos inchados e vermelhos.

— Teremos de erguer barreiras, paredes de pedra, por exemplo, mas...sem saber se Kyungsoo conseguirá controlar seus poderes lá fora eu não sei se seria uma boa ideia.

— É arriscado, - Kyungsoo concorda pensativo – alguma chance de outra barreira funcionar? De gelo, por exemplo?

— Não, as balas a atravessariam...e eu não sei se conseguiria proteger por muito tempo com barreira telecinética.

— Eu protejo todo mundo. – Kyungsoo afirma sério.

— Kyungsoo...

— Eu terei um surto de energia, não é? Ficarei mais forte e poderei erguer proteções mais fortes, não é?

— Em teoria, mas também pode funcionar ao contrário e você acabar tendo dificuldade para controlar...

— Vamos torcer que eu terei mais força do que o normal. – Ele conclui querendo dar o assunto por encerrado, o que eu acho um erro, mas também sei que não temos muita escolha.

— O clima mundial está bem instável, inclusive no nosso país, quando fui capturado e preso, estávamos enfrentando uma das piores geadas, mas não acredito que o clima ainda esteja assim quando sairmos, pode ter esquentando, não sei dizer.

— O que é geada? – Lay pergunta e me dou conta que eles não devem se lembrar dessa palavra.

— Frio, muito frio. – Respondo.

— Eu sabia que deveria ter pego roupas mais pesadas no baú. – Chanyeol resmunga.

— Uma última coisa, - talvez a mais importante e que mais me preocupa – como eu já disse, uma vez lá fora, o procedimento de apagar as suas memórias começará a falhar devido os estímulos externos do mundo... vocês podem vir a ficar confusos, memórias embaralhadas poderão pipocar em suas mentes. Eu preciso que vocês façam o máximo para se concentrar caso isso ocorra.

— Assim que sairmos isso já irá ocorrer? – Suho pergunta precavido.

— Poderá variar, irá depender de pessoa para pessoa, essa que é a verdade. Por isso que eu preciso que vocês se foquem em sobrevivermos e fugirmos de qualquer que seja a força que nos espera lá fora.

Sinto como se estivesse falando apenas com as paredes, com exceção de Suho, Kyungsoo e Sehun, todos estão dispersos, olhando para pontos perdidos pelo elevador ou chorando em silêncio, arrisco dizer que Baekhyun poderia me atacar a qualquer momento se estivéssemos apenas nós dois aqui dentro.

— Eu sei que é muita coisa e nós acabamos de perder um companheiro...

— Não se atreva a falar que ele era seu companheiro! – Baekhyun explode de repente. – Ele era nosso companheiro, seu não, não, para você ele era só mais uma cobaia, todos nós somos! – Ele se exalta mais ainda e Chen e Tao precisam acalmá-lo.

— Nós daremos um jeito, ele está em choque pela perda do Kris. – Suho assegura ficando em frente à porta – Você deveria ficar na frente, - ele aponta um lugar ao lado dele – a partir de agora, você dita o que fazer.

Fico surpreso com o quanto isso me deixa sem jeito, mesmo depois de todo o mal que fiz para todas essas pessoas ao longo do tempo, mesmo depois de tudo, será que esse é um gesto amigável dele?

— Minhas pernas estão tremendo. – Comento ficando ao lado dele.

— Bem-vindo ao clube. – Ele ri, mas o som é cansado e quase amargurado – Alguma chance de você conseguir fazer uma leitura da área quando subirmos, sabe, ver quantas pessoas estão nos cercando?

— Eu não sei nem se conseguirei me proteger ou usar minha telecinésia, estou esgotado.

— Nós podemos acabar morrendo, não é? – Me surpreendo quando Xiumin pergunta a minha esquerda, ainda soa nervoso, mas talvez tenha entendido que precisaremos trabalhar juntos.

Eu engulo seco e com dificuldade um nó que se formou em minha garganta e nunca foi tão difícil na minha vida dizer um simples – Sim.

Nós podemos estar indo rumo ao nosso último suspiro, inclusive eu, a realidade pareceu me encarar agora, em todo o tempo que estive dentro do labirinto eu sabia que minha vida corria risco lá dentro também, mas eu tinha um refúgio, eu conseguia lutar, não estava exaurido igual estou agora.

Quanto mais eu penso e avalio todas as variáveis possíveis, vejo que as probabilidades não estou ao meu favor.

— Tomem o máximo de cuidado possível, - Suho dá as últimas instruções – sempre tivemos o Lay para contar se precisássemos ser curados, mas dessa vez, ele está fora de cogitação.

— Suho eu...

— Sem discussão, Lay,  - Suho o interrompe – você ouviu o que o Luhan disse, se tiverem tantas pessoas nos esperando e tentando nos machucar como ele disse, não teremos tempo de curar ninguém. Entendido? – Ele pergunta para todos.

Arrisco olhar para trás e ver a reação e é exatamente o que eu esperava, o que antes eram homens tristes, cansados e perdidos, agora são rostos determinados e atentos. – Tao, você ajuda o Baekhyun a se mover.

O elevador começa a desacelerar, ouço murmúrios atrás de mim, atentos, ansiosos, aflitos, a atmosfera ficou tão pesada instantaneamente que quase sinto o peso dela em minhas costas, mas é com muita razão.

As portas se abrem e sou banhado pela luz do mundo exterior.


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