Souvenir - Drastória escrita por Queen of Sonora


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Ouçam Souveir - Feu! Chatterton para ler essa, e preparem o lencinho rs



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Todos pareciam absortos demais na euforia do evento. E isso torna tão fácil visualizar a sua presença aqui, como se eu pudesse olhar para o lado e flagrar um dos seus singelos sorrisos em meio aos lírios.

 

O altar te deixaria orgulhosa, essa jovem ruiva te deixaria orgulhosa na verdade. O movimento do cabelo dela com o enfeite que preencheu tão bem os seus longos e castanhos cabelos em um outono longínquo me fazem sorrir enquanto a felicito pela data. 

 

Ah minha querida, você não conteria as lágrimas ao ver o nosso menino tão esguio circulando pela Toca, tão adulto e ao mesmo tempo com o mesmo olhar de quando você nos deixou. 

 

Eu espero que você esteja orgulhosa do trabalho que eu fiz por nós dois. Não posso dizer que foi fácil, acredite, por dias e mais dias eu gritei para os móveis da mansão como eu queria que você estivesse aqui comigo para me ajudar. As coisas sempre foram fáceis com você e seu largo sorriso por perto. 

 

Como eu adoraria estar nesse momento ao seu lado, guiando você, mas ao invés disso minha companhia é a ruiva daqueles anos sombrios e dá aconchegante tarde parisiense. Tarde essa que por mais que seja uma agradável memória soa pequena e vazia quando penso em você. 

 

Meus olhos me enganam quando visualizo o belo caminho até o altar. O seu espaço ao lado do nosso menino está ali, como se esperasse por você. Assim como a gravata borboleta de Scorpius, que ninguém acerta em deixar reta, mas que você sem dúvidas daria um jeito sem nem cogitar o uso de magia. 

 

A grande magia sempre foi você, e não qualquer coisa que pudesse sair de uma varinha qualquer. 

— Eles estão prontos - sobressaltou ao ouvir a voz de Ginevra. Seu sorriso tão amigável me faz suspeitar que talvez ela entenda o que se passa na neblina dos meus olhos. 

— Vamos. - anúncio enlaçando o seu braço no meu. 

 

Nossos passos são guiados por ela, que esbanja olhares a todos os presentes. Eu mal consigo olhar para o lado, temendo perder a sua entrada. Entrada essa que eu sei que não irá acontecer, mas minha cansada mente insiste em esperar que ela aconteça. Aconteça aqui, agora, ou em qualquer momento do dia de hoje, de ontem, de amanhã e de qualquer dia que eu possa voltar a te ver. 

 

O sorriso nos lábios dele é tão como o seu, eu acho que nunca te agradeci por isso. Por me presentear com um filho que é tão seu quanto meu. Por deixar tanto de você em uma pessoa que mesmo não tendo vivido tanto com você consegue aquecer minha lembrança da felicidade que emanava de você. 

 

Eu só desperto ao ver a jovem ruiva entrar em meu campo de visão. Consigo sentir o ritmo da respiração de Scorpius alterar, o meu sorriso é inevitável. Eu estava assim naquele outono de tantos anos atrás, não estava? Completamente absorto do mundo a minha volta enquanto você realizava o mesmo caminho sinuoso até a minha escuridão. Escuridão essa que você insistia em iluminar com seu brilho de estrela. Como naquele céu de quando você me agraciou com a sua atenção plena pela primeira vez.

 

Solitária, em meio ao grande buquê de lírios brancos com centro amarelo eu encontro o motivo para deixar em fim uma solitária lágrima protagonizar uma dança pelo meu rosto. E como quem entende o que se passa a jovem ruiva sorri ainda mais abertamente em minha direção, para depois também protagonizar lágrimas divertidas ao olhar para o nosso menino. 

 

Que sorte a dele, que sorte a nossa, que sorte em especial a minha. Em meio aos lírios uma calada peônia lilás, a sua preferida. Como uma mensagem da sua presença com a gente. 

 

Como se você já não estivesse sempre presente em tudo o que nos cerca, em tudo o que me cerca. 

 

Eles mal conseguem repetir as palavras que são ditas para firmar o matrimônio. Um riso cerca o ambiente com as mãos trêmulas de nosso menino, que são auxiliadas pela da jovem ruiva. Sinto um aperto em meu braço e percebo que Ginevra segue firme ao meu lado. Segurando a mim, e talvez até mesmo se segurando, para absorver a tudo desse momento. 

 

É então que o tão esperado beijo é recebido com empolgação e mais lágrimas dos protagonistas. Como não sorrir? Como não sentir a sua falta? Como não desejar por tudo que você estivesse aqui? 

 

Antes de fazer o seu caminho de volta à multidão que já começa a sair de seus lugares em festividade, percebo o novo casal se aproximando de mim enquanto Ginevra me liberta de seu aperto. 

— Eu acho que essa é sua - Lily comenta tímida. - Eu queria que ela gostasse de lírios como eu,- ri nervosa - Mas tudo dela remete a peônias então eu precisava que pelo menos uma entrasse comigo para me dar sua benção. 

 

Eu não tenho palavras. Eu realmente não as tenho. Elas sempre foram coisa sua. Falar de forma espontânea e ser receptiva. Limito a minha ação a aceitar a solitária peônia - tão linda como você - e depositar um beijo no topo da cabeça daquela jovem que agora é uma de nós. 

— Ela amaria você. - confesso com meu rosto ainda próximo do dela, que sorri ainda mais e passa a se afastar, carregando o nosso menino, que agora por vez é um homem. 

 

Nem se eu vivesse um par de vidas imaginaria viver esse momento, e eu sei, você diria que é porque eu nunca me permiti acreditar que coisas boas poderiam me cercar. Você nunca esteve errada, e sempre fez de tudo para provar o quão errado eu estava. Estar com você sempre foi uma quebra da escuridão, um suspiro de tranquilidade em meio ao caos que insistia em me cercar. O algo bom pelo qual eu nunca esperei, que veio sem avisos, da mesma forma com a qual se foi. 

 

— Você vai ficar bem? - Por Merlin, como você pode me felicitar com um filho tão seu que se não fosse os loiros cabelos eu jamais acreditaria que tinha algo meu. 

— Eu já estou bem. - esbanjou o sorriso mais sincero que posso - Você é o meu maior orgulho, meu filho. - confesso o puxando para um abraço. 

 

Sinto seu corpo relaxar em meio ao meu aperto para então retribuir o mesmo. 

— Eu queria ela aqui. - sua voz sai abafada em meu ombro. - Ela teria gostado da Lily…

— E teria acertado essa sua gravata! - completo arrumando pela milionésima vez a mesma, ganhando uma gargalhada dele. 

— Voltamos em uma semana. - declara e antes que eu possa responder, volta a falar - Vamos direto para a mansão. - sua voz é firme, em tom de promessa.

— Eu vou ficar bem, filho. - pouso minha mão em seu ombro - Quando eu me casei com sua mãe eu não voltei a aquele mausoléu por mais de um mês, por favor seja como seus pais - peço em meio a risos.

— Obrigada - e antes que eu possa perguntar o porquê disso sua resposta surge de uma vez - Por ser o melhor pai do mundo. 

 

A quem eu tento enganar impedindo que as lágrimas tomem conta do meu rosto? Esse garoto, tão jovem homem, é uma cópia sua quando o assunto é me encher de orgulho e roubar as poucas palavras que habitam meu ser. 

— Eu amo você, filho. 

 

Não existe muito o que prolongar nessa festa para mim, por mais que a felicidade me alcance, eu ainda sou rodeado pela escuridão quando estou aqui. E por isso é tão simples aparatar de volta a nossa mansão após a saída dos noivos. 

 

Um whisky de fogo conseguiria enfim aquecer o meu ser? Provavelmente não da forma que apenas os seus longos e delicados dedos faziam. Se você estivesse aqui eu te tiraria para dançar uma de suas canções francesas preferidas. 

 

Você sempre foi tão boa em preencher tudo com vida. Sorrio ao lembrar dos seus passos largos pela sala principal, principalmente quando o nosso menino já estava tão perto de vir ao mundo e você mesmo após reclamar o dia todo de como aquele peso pra incômodo dançava, alegando que apenas isso acalmava o pé de valsa em seu ventre. 

 

Meu sorriso é quase reprimido quando me pego embalando o meu corpo por esse mesmo salão. Isso não faz o menor sentido sem ter você em meus braços, ou sua risada ao não conseguir me abraçar por conta do nosso jovem homem. 

 

Eu gostaria de abrir meus olhos e encontrar você rindo de mim, como se todos os últimos anos tivessem sido uma brincadeira de esconder, a onde você magistralmente se saiu bem, mas que agora espera ansiosa pelos meus braços. 

 

Minha querida Astória, os meus braços, o meu corpo, o meu sorriso, todo o meu ser foi feito para ser sua morada. E eu daria tudo para poder ter tido ciência disso pelo menos um par de anos antes de quando passei a te ter ao meu lado. 

 

Por Merlin, você acalmou toda a escuridão em meu ser com tanta maestria que eu me questiono o quão melhor enquanto homem eu teria sido com sua presença. 

 

Você sempre insistiu em dizer que a bondade estava em mim e você apenas me ajudava a aflorar ela. Eu nunca concordei, e também nunca desejei lembrar da minha vida num mundo antes de você. 

 

Que crime o destino de ter demorado tanto em me agraciar com você. E também que belo o mesmo que te trouxe aos meus braços naquele inesquecível Maio em meio a uma madrugada jovem. O quão mais novos éramos do nosso garoto? Na verdade, tínhamos a mesma idade, não é mesmo? 

 

Por Merlin, agradeço a esse mesmo universo pela felicidade ter atingido o nosso menino com tanta facilidade. 

 

Você iria rir comigo ao lembrar do nervosismo do mesmo ao falar pela primeira vez sobre a garota nova. A ruiva Potter entrará para a sua casa dois anos depois dele. Ruiva essa que circulava todas as histórias que ele me contava durante as férias. Sempre esteve ali, o destino brincando de contar como o dia de hoje chegaria. 

 

Mas toda essa felicidade parece injusta por não ser compartilhada com você. Por não ser repleta pelos seus conselhos. Você sem dúvidas o teria ajudado mais, o teria garantido um compromisso com aquela jovem ao primeiro sinal de amor nos olhos do nosso menino. 

 

Você bem sabe, eu nunca fui bom em tomar a frente dessas situações, e só Merlin sabe o quão sortudo eu fui de ter você para rir da nossa combinação de roupas naquele dia de Maio que me levou aos melhores anos da minha vida. 

 

Como não deixar as lágrimas tornarem a minha visão turva? Se em meio a esse salão eu estou sozinho com as suas músicas francesas, desejando que você tenha estado aqui por todos esses anos. Eu amaldiçoou o destino por ter pregado essa peça de tamanho mal gosto em mim, e me amaldiçoou por ser já tão amaldiçoado a ponto de ter conhecido a felicidade plena por um tão curtos pares de anos. 

 

Sinto meu coração inflar como se pudesse sair do meu peito e deixo que minhas pernas fraquejam enquanto o meu corpo encontra o mármore frio do chão. Eu queria poder sustentar por mais um par de meses, até anos, a máscara forte que eu vesti após a sua partida, mas eu não posso. Eu não posso mais estar aqui sem você e aparentar estar bem. Não existe um seguir em frente sem você, um seguir em frente sem quem me mostrou a luz dentro de toda a escuridão. 

 

E com a esperança de que seus lábios alcance os meus e seu rosto encontre o lugar dele, no vão do meu pescoço, eu fecho os meus olhos. Podendo enfim, esvaziar toda essa dor presa em meu ser e conseguindo por um rápido momento sentir você aqui, antes da minha velha companheira escuridão me atingir. 

 

Eu amava sua pele dourada
Você que me deu tudo
E sua mão entregue
Eu amava a pele dourada
Mas agora eu choro seu nome
E agora eu choro seu nome

Um pássaro canta eu não sei onde
É, eu acho, sua alma que vela
Os meses se passaram, as estações
Mas eu continuei o mesmo
Que ama, que espera, que volte a primavera
Que ama, que espera reconhecer um dia a primavera

Nós não nos veremos novamente sobre a Terra
Diz o poema, o passado vem mais rápido do que a gente pensa
La, la, la, la, la, la

De joelhos eu imploro ao céu e ao mar
E a esse pedacinho de urze
Única lembrança por recompensa

Qual é esse lugar onde na sombra confusa
Os demônios e os anjos se misturam?
Ah, eu me junto a você nessa névoa espessa
Que o tabaco, o benjoim, obscurecem
Então eu choro seu nome
Sim eu choro seu nome

Um pássaro canta eu não sei onde
É, eu acho, sua alma que vela
Os meses como sempre se passaram, as estações
Mas eu continuei o mesmo
Que espera, que volte a primavera
Que ama, que espera conhecer o fim do inverno

Nós não nos veremos novamente sobre a Terra
Diz o poema, o passado vem mais rápido do que a gente pensa
La, la, la, la, la, la
De joelhos eu imploro ao céu e ao mar
E a esse pedacinho de urze
Única lembrança por recompensa
Sim como Apollinaire
Única lembrança por recompensa

Nós vamos recuperar a confiança
Nós vamos recuperar a confiança
Como uma terra firme
Como uma terra firme
Para sempre

Nós vamos recuperar a confiança
Nós vamos recuperar a confiança
Como uma terra firme
Como uma terra firme
Para sempre
Do outro lado
Do outro lado do mar
Para sempre

Eu não tenho mais nada de você
Você sabe, sua ausência me pertence
A gente se deixou na beira deste bosque
É um lindo jardim, eu acredito
É um lindo jardim, eu acredito
É um lindo jardim que a beira desse bosque
A borda deste bosque
Onde a gente se deixou

Nós não nos veremos mais
Nós não nos veremos mais
Nós não nos veremos mais
Nós não nos veremos mais
Senão do outro lado do mar
Para sempre

Nós não nos veremos mais
Nós não nos veremos mais
Nós não nos veremos mais
Nós não nos veremos mais
Senão do outro lado do mar
Para sempre

Eu não tenho mais nada de você
Você sabe, sua ausência me pertence
A gente se deixou na beira deste bosque

A gente se deixou lá




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