Scorose - Quase sem querer escrita por Aline Lupin


Capítulo 4
Me fiz em mil pedaços pra você juntar




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Eu queria poder dizer que essas semanas foram fáceis, mas não é assim. Abrir meus olhos para mais uma aula parecia cada vez mais difícil. Deixei que o despertador tocasse mais duas vezes, até levantar, de olhos fechados. Esfreguei com força, para ver se conseguia espantar o sono. Da minha cama podia ver os cabelos ruivos da Lily. Ela parecia um anjo dormindo. Ri, internamente, pensando que ela não é assim quando está acordada.

Vesti o uniforme e um casaco grosso por cima. O inverno parecia chegar mais cedo, pois as temperaturas na parte da manhã estavam muito mais baixas do que o normal. Não dava para aguentar 5 graus logo pela manhã. Desci devagar as escadas, passando pelo salão comunal da Grifinória. Queria sair mais cedo possível aquela manhã. Precisa chegar à biblioteca e me encontrar com Leon. Era estranho, pois fazia quase um mês e eu estava estudando com ele sem que um de nós quisesse matar o outro. Ele era péssimo em Aritimancia, mas estava fazendo progressos. Consultei meu relógio de pulso e pude ver que ainda teríamos 1 hora e meia de estudos até o café da manhã. Apesar de gostar de ajuda-lo, acordar cedo era um martírio.

Cheguei na biblioteca e não avistei ele. Achei estranho, pois ele sempre foi pontual.

— Ele não vai vir hoje, Rose - uma voz de barítono disse atrás de mim, causando arrepios na minha nuca. Virei-me para encarar Scorpius, em toda sua glória. Ele estava muito bonito, com os cabelos recém lavados e suas vestes da casa da Sonserina, com caimento perfeito.

— E como você sabe disso? - perguntei, sentando em uma poltrona e largando minha bolsa no chão.

— Parece que ele curtiu muito nesse fim de semana em Hogsmeade e esqueceu que tinha marcado com você um encontro na biblioteca.

Espumei de raiva. Era típico de Leon fazer isso e de Scorpius se intrometer no que eu estava fazendo pelas manhãs. Ele não parecia contente com meu arranjo, na verdade parecia irritado. O que era bom, pois eu já estava me irritando com ele por causa da organização da festa de Halloween que seria daqui duas semanas.

— Bem, já que ele fez isso, vou dormir aqui mesmo - disse, fechando os olhos.

— Nada disso - Scorpius puxou minha mão, me fazendo ficar de pé. Bufei de raiva - Você vai me ajudar com os estudos hoje.

— E por que deveria? - ergui minha sobrancelha, com ar de deboche.

— Porque você é mais inteligente e preciso melhorar minhas notas - dizendo isso, me puxou para sentar nas cadeiras ao fundo da biblioteca e levando minha mochila nas costas. Ele largou a dele e minha em cima da mesa e puxou os livros.

— Vamos começar com poções?

 

***

Depois de uma hora meia de tortura na sua presença, Scorpius me levou para tomar café e fez o favor de carregar minha bolsa. Sentou comigo na mesa da Grifinória e fez várias piadas. Tentei não rir, mas ele parecia diferente hoje, então não consegui resistir. Alvo se juntou a nós logo em seguida, contando as últimas novidades sobre Quadribol. É claro que eu não consegui ouvir nada, pois não sou tão fã desse esporte, apesar de ser uma ótima apanhadora. Pude ver pelo cantos dos olhos Leon entrar no Salão Principal, com os cabelos loiros desgranhados e os olhos vermelhos. Ele nem mesmo tentou arrumar a gravata. Seus olhos verdes encontram os meus logo em seguida e seu olhar era de súplica. Eu não iria desculpa-lo, não mesmo.

— Rose, querida - ele disse, com voz sofrida - Perdoa-me pelo atraso. Juro que tentei acordar.

— Sei - disse, olhando para o lado. Com certeza eu estava fazendo bico, pois Scorpius começou a rir de mim - O que foi, Malfoy?

— Nada, é que você fica linda quando esta tentando ficar brava - respondeu ele, tentando conter o sorriso.

Bati em sua cabeça.

— Ai, Rose, você está muito violenta - reclamou ele, massageando a cabeça.

— Estou sim, acordei muito cedo para aguentar isso - me virei para Leon, tentando lançar um olhar mais mortal possível - E você, vai ficar comigo depois da aula estudando.

— Ah Rose, pega leve - pediu Leon, suplicante.

— Nada disso, me fez acordar cedo e agora vai cumprir o combinado.

Leon bufou e se deu por vencido. Sentou a nossa frente, em vez de seguir para sua mesa. Era um costume nosso sentarmos juntos. Lógico que os grifinórios não pareciam gostar dessa interação com os sonserinos. Alvo engatou uma conversa sobre dragões com Leon e Scorpius ficou quieto. Ele parecia incomodado. O mês todo ele parecia muito incomodado, como se algo o tivesse irritado além da conta. Eu tentei descobrir, mas ele mantinha sempre a boca fechada, como se não quisesse compartilhar com ninguém seus segredos. Bufei alto e mirei meus olhos para o teto. Hoje o céu refletia o que estava acontecendo lá fora. Era nublado, com muita neve. Pensei comigo mesma que depois das aulas, eu poderia ir lá fora e fazer um boneco de neve, contudo, a neve não era em grande quantidade, pois ainda não estavamos na estação do inverno.

— Você está fazendo nevar aqui, Rose - disse Scorpius, rindo pela primeira vez em dias.

— Desculpe-me, acho que fiquei tão fixada nisso que acabei nem perceber que estava nevando aqui - disse, limpando meu casaco.

— Está querendo tanto sair lá fora? - perguntou ele, sorrindo.

— Sim, não suporto mais ficar no castelo.

— Posso levar você agora mesmo, se quiser - ele sugeriu.

— Não vai dar Scorp, temos aula - tentei repreende-lo, com meu melhor olhar, mas ele não parecia levar a sério.

Ele se levantou da cadeira e foi indo em direção a saída.

— Bom, eu vou. Se for corajosa o suficiente para quebrar as regras, pode me seguir - seu sorriso era de deboche, me desafiando a fazer exatamente o que ele disse.

Não, Rose, pensei comigo mesma, você não pode fazer isso. É contra as regras, contra tudo que você mais preza. Não percebi que estava levantando, apenas andei até ele. Alvo e Leon não pareciam ter percebido, pois continuaram sua conversa acirrada. Encontrei Scorpius parado nos corredores externos, sorrindo para a neve que caia. Ela ainda não estava cobrindo a grama, mas mesmo assim era muito bonita de se ver.

— Eu sempre gostei da neve – ele comentou, sem me olhar - Esse clima sempre passa um ar de aconchego. Lembra lareiras, chocolate quente com marshmallow e roupas bem quentinhas!

Eu deixei um riso escapar. Sorri para ele, sorri da sua inocente constatação sobre a neve. Era um clima horrível, para ser sincera, pois suas mãos e pés continuavam frios, apesar de usar meias e luvas grossas. Mas ele tinha razão, lembrava-se desse aconchego, realmente.

— Quer ir comigo na sala precisa e tomar o chocolate quente? - ele convidou, agora olhando para mim.

— Eu não sei, Scorpius - relutei, olhando meus pés - Não acho certo que nós não assistamos as aulas hoje. Temos muitas tarefas para fazer...

— Vamos dar uma pausa hoje - ele pede, com olhos suplicantes - Prometo que vai ser só por um tempinho.

Ele continuou insistindo e eu disse que não. Contudo, estava seguindo ele até a sala precisa. Havia algo nele que me enfeitiçava e eu não conseguia parar de segui-lo, só queria estar mais perto dele. Ele comemorou, fazendo uma dancinha da vitória e entramos na sala. Tinha um sofá grande, uma lareira e duas xícaras de chocolate quente em uma mesa de centro. Havia um janelão que mostrava o lado de fora, com neve cobrindo o chão e as árvores.

— Bela imaginação, Malfoy - o elogiei, sentando no sofá e pegando a caneca - Mas não pense que estou de acordo. Vamos estudar um pouco, enquanto estivermos aqui.

— Você não cansa de ser assim? - ele pergunta, mas sem parecer irritado. Na verdade estava com um sorriso de orelha a orelha. Sentou do meu lado, tomando seu chocolate quente e apoiando os pés na mesa de centro.

— Não me canso, pois é isso que vai me dar sucesso - respondo-o, dando de ombros.

— Que tipo de sucesso você almeja? - pergunta ele, com indiferença.

— Quero se medibruxa, a melhor de todos os tempos.

Ele parecesse meditar sobre o que eu disse, pois não diz nada por alguns minutos.

— Sabe, você quer tanto isso, mas já parou para pensar que sua decisão pode afetar muitas pessoas? - ele pergunta, por fim, fixando o fogo crepitando na lareira.

— Como assim?

— Veja, você quer sucesso, mas a vida das pessoas irá depender daquilo que você faz – explica ele, dando de ombros – O quanto você tiver estudado sobre maldições, sobre venenos e doenças bruxas determinará o que vai acontecer com seu paciente. Não importa o quão boa você for nas provas, ou o quanto você se supera, mas sim o que você aprende e faz com seu dom.

Fiquei quieta, pensando no que ele me disse. Realmente não havia pensando daquela maneira. Só estava preocupada se realmente eu iria deixar meus pais orgulhosos e ser a melhor naquilo que faço e não pensei nos pacientes e em suas vidas.

— Acho que você tem razão, Scorp, por mais que odeie admitir – ele riu, sorrindo para mim.

— Claro que tenho, eu sempre tenho razão.

Começamos uma discussão sobre quem tem mais razão, mas não chegamos a nenhuma conclusão. No fim, não importava. Era só um momento entre amigos. O chocolate havia terminado e senti que o momento bom também estava se esvaindo. Levantei-me, ajeitando minha saia e peguei a mochila.

— Acho que vou indo – disse para ele.

— Até mais, Weasley – ele disse, sem me olhar.

— Você não vai para a aula? – perguntei.

— Não agora, te vejo depois.

Dei de ombros e sai da sala. Senti um buraco no meu peito por deixar ele sozinho. Não queria ficar longe dele e não sabia o motivo. Revirei os olhos e sai andando, indo para minha segunda aula. Era com a lufa-lufa. Aula de Herbologia, na estufa. Que ótimo.

**

— Não vou mostrar para vocês dragões, Alvo – Hagrid disse, pela terceira vez.

Estávamos na cabana dele, no final do dia. Eu, Scorpius e Alvo. Meu amigo insistia que queria ver dragões e estava confiado que Hagrid tinha um ovo ou pelo menos o contato de alguém que pudesse mostrar para ele. Alvo não parecia entender os riscos que isso implicava. Por que Hagrid teria um ovo de dragão, para começar?

— Eu sei que você, Hagrid, meu pai disse que você é de manter animais fantásticos aqui – insistiu Alvo, para desespero do guarda caças.

— Seu pai não devia dizer essas coisas – respondeu ele, olhando pela janela – Já está escurecendo, crianças. Vocês devem voltar o quanto antes ou vou estar em apuros.

— Mas Hagrid – começou Alvo, novamente, mas eu puxei seu braço.

— Chega Alvo, hora de ir – falei para ele, puxando para fora da cabana.

— Vão logo, crianças – pediu Hagrid, aflito.

Deixamos à cabana, e corremos colina a cima. Realmente era muito tarde. Havíamos parado apenas para tomar um chá e conversar com Hagrid, mas Alvo ficou insistindo tanto sobre os dragões que esquecemos o horário de voltar.

— Não faça mais isso, Alvo, você sabe que é errado chantagear Hagrid – ralhei com ele, quando chegamos aos corredores externos.

— Ah não enche Rose, você sempre é tão certinha – revidou Alvo, pisando duro. Ele sumiu de vista, me deixando sozinha com Scorpius.

— Você sempre é tão certinha – remendou Scorpius.
Caímos na gargalhada e caminhamos juntos até a casa da Grifinória.

— Bom, nos vemos na ronda? – pergunto para ele.

— É claro, te vejo depois – ele diz, sem me olhar.

Achei estranha a atitude pouco comunicativa dele. Desde a sala precisa ele parecia distante, como se algo o incomodasse muito. Dei de ombros e dei a senha para o retrato da Mulher Gorda. Hoje a senha era Tortinha de Merengue. Quem diabos inventa essas senhas? Entrei no salão comunal. Estava abarrotado de alunos. Via origamis de pássaros voando pelo ar e um rock bruxo tocando ao fundo. Sorrindo comigo mesma, pois nós grifinórios somos muito baderneiros. Bem, eles são. Eu sou diferente, muito organizada, não gosto de festas e tão pouco brincadeiras. Não sou corajosa. Por que estou nessa casa, então? Eu não sei, nem o Chapéu Seletor soube responder, quando perguntei. Ele apenas disse: “Você está onde deve estar. Sua coragem está escondida dentro do seu coração, no momento certo você saberá usar”. Que diabo de resposta era aquela? Esse enigma eu não soube responder e isso que adoro enigmas. Por que eu não fui para a Corvinal?

— Weasley, tem alguém chamando você lá fora – disse Samuel Flint, quintanista. Ele era muito bonito, realmente. Cabelos escuros e olhos verdes. Mas era apenas um garoto, então estava fora do meu radar. Ri comigo mesma, eu não tinha uma lista de garotos que eu pudesse namorar, sendo que odeio contato físico.

— Obrigada, Flint – disse.

— Sempre as ordens, Weasley – ele fez uma reverência, que causou risadas dos seus colegas.

Revirei os olhos e parti para a saída do salão. Lá estava Leon, com seu cabelo recém lavados e olhos vermelhos. Ele carregava sua mochila e parecia irritado.

— Achei que fossemos nos encontrar na biblioteca depois das aulas – disse ele.

Suspirei frustrada. Eu tinha esquecido por causa de Alvo. Aquele idiota!

— Desculpe-me Leon, eu realmente sinto muito – comecei, mas ele levantou a mão.

— Não quero desculpas, senhorita Rose – disse ele, sério, mas seus olhos denotavam certa malícia – Vai ter que me compensar me acompanhando na ronda de hoje.

— Mas hoje vou fazer a ronda com Scorpius.

— Hoje não, já falei com ele - explicou Leon, como se tivesse organizado isso de propósito. É claro que ele fez isso - Ele não pareceu ligar muito, estava dormindo mesmo.

Senti a raiva borbulhando dentro de mim. Como ele pode?

— Ótimo, então vamos – decidi.

Pedi para Leon esperar eu me trocar e deixei-o conversando com o grupinho de Flint dentro do salão comunal. Troquei-me o mais rápido possível, tentar conter a raiva que sentia. Por que Scorpius estava me evitando? O que estava acontecendo? Achei que seriamos amigos, de verdade. Mas ele era difícil demais de lidar e compreender.  Enxuguei uma lágrima teimosa e parti para a ronda de hoje.

— Tudo bem? – perguntou Leon, depois de 30 minutos de ronda.

— Sim – murmurei, sem olhar para ele.

— Sabe Rose, passamos muito tempos juntos e sei quando você não está bem.

Fiquei quieta, sem querer me entregar. Não queria dizer que estava péssima por causa de Scorpius, porque eu não estava. Não mesmo.

— Que tal fazermos uma coisa? – ele propõe – Vamos correr até os jardins e ver a neve?

Funguei, tentando segurar as lágrimas. É exatamente o que fiz hoje, com o Scorpius. Apenas assenti e ele me puxou pelo ombro. Andamos abraçados até os corredores externos e contemplamos a neve cair.

— Hey, eu sei que você não está bem. E posso imaginar o motivo – fala ele, em tom baixo, perto do meu ouvido. Apesar de estar triste, ele realmente está aquecendo meu coração – Mas não acho que vale a pena ficar assim. Tenho certeza que ele vai perceber que está sendo idiota por não estar dando valor para uma garota como você.

Não respondi, tentando entender o que ele queria dizer com essas palavras. Senti algo diferente no ar, com uma intenção diferente.

— O que você quer dizer com isso? – perguntei, por fim, com medo da resposta. Eu não tinha percebido, mas havia deixado que ele me tocasse. Não havia parado de abraça-lo, depois que chegamos ao corredor.

— Quero dizer que você é inteligente, linda e vale muito mais do que qualquer garota que já conheci – respondeu ele, olhando de lado para mim. Ele sacou a varinha, desvencilhando do meu abraço e fez um feitiço sem usar a voz. O que me surpreendeu, pois esses feitiços são avançados para nós. Da ponta da sua varinha saiu faíscas de cor rosa que se transformaram em um lindo lírio branco. Minha flor favorita.

— Como você...

— Eu sei, eu vi você falar para o Alvo, várias vezes, na verdade – disse ele, sem graça. Ele a entregou para mim e pude sentir um cheiro doce vindo das flores, que não era  comum para elas. A magia é algo maravilhoso, quando sabemos usar.

— Obrigada, Leon – agradeci, sorrindo – Nunca imaginei que você era tão avançado em magia.

— Aprendi com meu pai – comentou ele, um pouco distante, sem me olhar.

— Está tudo bem? – pergunto para ele, tocando seu braço.

— Está sim – responde, sorrindo, mas seus olhos transpareciam tristeza – Vamos voltar?

Assenti e nós caminhamos de volta para o castelo. Andamos em silêncio, pois as palavras não pareciam adequadas naquele momento. Sentia o cheiro do lírio a cada passada, me envolvendo como se fosse um calmante. Realmente Leon me surpreendeu dessa vez. Ele parou no corredor que dá acesso ao meu dormitório e parecia relutante em ir embora.

— Você vai ficar bem? – perguntou ele, fitando-me com preocupação.

— Vou sim, essa flor já está me acalmando – sorri para ele, corando violentamente.

Ele deu alguns passos, ficando próximo de mim. Beijo minha bochecha e se afastou, sem tirar dos olhos dos meus.

— Te vejo amanhã? – pergunta ele, se folego.

Eu também estou sem folego e apenas assinto. Ele sorri para mim e se vai. Quando estou chegando no retrato da Mulher Gorda, ele me chame de novo.

— Acho que não fiz isso direito – diz ele, dando passadas largas e minha direção.

Eu perco a respiração. Não posso acreditar no que ele vai fazer. Não mesmo, não pode ser, mas é. Ele toma minha nuca e cola seus lábios nos meus. Primeiro seu toque é macio, sem urgência. Ele quer meu consentimento e eu permito que ele aprofunde o beijo. Só havia beijo um garoto, no quarto ano. Não foi uma experiência boa, o beijo foi molhado demais. Mas esse beijo é quente e faz meu coração acelerar. Ele envolve minha cintura com sua outra mão e continua segurando minha nuca. Deixou cair minha mochila em um baque surdo, mas nenhum de nós percebe. Nossas línguas estão dançando em sincronia, como se já soubéssemos o que fazer. Paramos apenas para respirar. Nossas respirações são ruidosas e posso sentir seu coração bater mais rápido sobre minha mão. Ele ainda está de olhos fechados, encostando a testa contra a minha. Ele está sorrindo. Eu também.

— Agora sim, até amanhã - ele abre os olhos e continua sorrindo, me roubando outro beijo de tirar o folego.

Dessa vez ele desaparece pelo corredor, me deixando estática no chão.

— Menina, você vai entrar ou não? – a Mulher Gorda diz, irritada.

— Ah, sim. Torta de Merengue – respondo, sem olhar para ela, pegando minha mochila no chão.

— Que horror, vocês jovens não tem vergonha – diz ela, enquanto entro pela porta.

Eu não acredito no que aconteceu, sinto que foi tudo um sonho. Toco meus lábios com as pontas dos dedos, sentindo ainda a pressão dos lábios dele sobre os meus. É suave e acalentador. Pela primeira vez na vida sinto que posso tocar em alguém sem me sentir desconfortável. Entro no dormitório, sem fazer barulho, pois minhas colegas estão dormindo. Troco de roupa e visto meu pijama e deito na cama, cobrindo meu corpo até o pescoço. A cena do beijo se repete várias vezes, até eu apagar.

 


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