Scorose - Quase sem querer escrita por Aline Lupin


Capítulo 34
Dois anos depois




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Rose fitou a prancheta a sua frente. O paciente fora acometido por uma maldição Cruciatus e delirava, falando palavras desconexos. Ela o fitou triste, não podendo fazer muito, a não ser lançar feitiços calmantes, para que ele pudesse dormir um pouco. Era uma madruga estressante no St. Mungus e como estagiária, precisa cuidar dos pacientes da ala de acidentes mágicos e maldições. Isso a mantinha muito ocupada, longe de pensamentos negativos. Ter terminado o colégio fora muito difícil para ela, depois de tudo e agora, cursando o curso de Medibruxaria, parecia que seu mundo havia voltado ao eixos. Quase isso.

Ela rumou pelos corredores do hospital, fazendo sua ronda, para ver se nenhum paciente havia saído de suas camas. O que era muito comum acontecer. Alguns queriam ir ao banheiro, mesmo que soubessem que o banheiro ficava dentro das alas de enfermaria e quartos privados. Outros estavam desorientados, perdidos, acometidos por maldições diversas. Havia aqueles que queriam apenas fugir. Esses, eram os mais difíceis de conter, pois se era um homem, por exemplo, tinha mais força do que ela e mesmo que usava a varinha, as vezes a pegavam desprevinida. Aquela noite, no entanto, parecia calma. Sem incidentes. O que era bom, muito bom. Iria até a cafeteria, tomar um café para se manter acordada e terminar um capítulo de um livro sobre maldições. Fazia parte do seu programa de estudos.

Seguiu para a cafeteria e encontrou-a quase vazia. Havia outros colegas de trabalho, tão cansados quanto ela. Um deles dormia, recostado na cadeira, com a cabeça para trás e boca escancarada. Pobre Josh, pensou Rose, passando por ele, com o café na mão, que havia retirado da máquina de café. Por ser uma máquina feita por trouxas, era muito mais fácil conseguir café. Quando precisava ser atendida pela manhã, pela balconista, o café vinha frio algumas vezes, outras vezes, era intragável. 

Pegou uma mesa perto das janelas que iam do teto ao chão, dando vista para um jardim, que não seria visto por olhos trouxas. O local era repleto de árvores e pouco iluminado. O que facilitava para Rose, que não queria ter a menor distração. Pegou dentro da bolsa de couro, que carregava no ombro um livro de encadernação de couro, com letras douradas, que se movimentavam sozinhas, embaralhando por vezes. O livro de Maldições era repleto de maldições das trevas, algumas conhecidas, outras, nem tanto. E ela precisava estar treinada para saber fazer o contra feitiço, se houvesse, ou feitiços que contessem os problemas causados pelas maldições. Começou a lê-lo, bebericando o café preto, sem açucar. Naquele instante, mergulhava nas palavras que lia, sem se dar conta de nada ao redor. Mas, ao que parecia, não estava tão atenta assim. Não naquela madrugada. Sua visão periférica pegou um movimento. Ela se virou, imediatamente. Ela o viu. Seu coração disparou. Sua boca secou. Suas mãos começaram a tremer, de repente. O copo de café que estava em sua mão caiu, espatifando no chão. 

— Scorpius...- murmurou, atônita.

Ele a fitou, sério. Estava a algumas mesas de distância dela. Mas, não se aproximou. Parecia estático. Ou, talvez, não quisesse se aproximar dela. Parecia mais velho. Na verdade, estava mais velho. Dois anos mais velho. Seu rosto, que parecia infantil, agora tinha traços marcados no maxilar e no queixo. Uma barba rala podia ser vista, ao redor das bochechas e queixo. Seus cabelos estavam curtos. Ele vestia um avental do hospital, em tom azul claro. O que indicava que trabalhava ali.

Rose não sabia o que fazer. Fazia tanto tempo que não conversavam. Fazia muito tempo. Na verdade, não sabia se queria conversar com ele. Olhou para frente, sentindo o coração ainda acelerado. As bochechas quentes. A indignação tomou conta de si. Ele nunca lhe enviou uma carta. Uma carta que fosse, para se explicar. Para dizer que sentia falta dela. Ele nunca lhe dirigiu a palavra. Nunca respondeu suas cartas. Desde que fora enviado para o reformatório, se esquecera dela. Mas, ela nunca se esqueceu dele, nem por um segundo. Apesar disso, se recusava a falar com ele. Porém, não poderia continuar ali. Pegou o livro sobre a mesa, colocou dentro da bolsa e se levantou abruptamente, quase fazendo a cadeira cair. Ela rumou para o outro canto do salão, passando por entre as mesas, para que ele não visse as lágrimas que se formavam em seus olhos. Não conseguia suportar mais. Precisava se trancar em um banheiro. Precisava respirar. Não conseguia respirar. Nem ao menos pensar. 

Quando chegou a saída da cafeteria, sentiu uma mão tocar seu cotovelo. Virou-se imediatamente, percebendo que era Scorpius. Ela se afastou dele, continuando seu caminho pelo corredor, indo para longe dele, sem uma direção fixa. Só precisava manter distância. Precisava manter seu coração seguro.

— Rose - escutou ele. Depois de dois anos escutou sua voz. Isso era tão...- Rose, espera...eu...

— Não - negou com a cabeça. As lágrimas nesse momento vieram com força, borrando sua visão.

Ela seguiu em frente, finalmente, encontrando um banheiro. Se trancou em uma cabine, sentando-se na privada e colocou a cabeça entre os joelhos. Não conseguia respirar. Parecia que estava a beira de um ataque de pânico. As lágrimas doiam tanto. Seu peito doía tanto. 

— Rose - escutou a voz dele, ecoando no banheiro - Por favor, precisamos conversar.

— Isso...é...um...banheiro femini...no! - tentou falar, mas sua voz saiu entrecortada.

— Eu sinto - ele disse. Os seus passos ecoavam pelo chão. Estava se aproximando da cabine. Ela podia ver seus sapatos brancos. 

— Não sente - ela protestou, mas já, cansada para dizer qualquer coisa. Então, permaneceu em silêncio, deixando que as lágrimas lavassem sua alma. 

— Rose, eu sinto tanto. Eu...pedi transferência...eu pensei que você estaria aqui, na verdade...eu...Eu sabia que você estaria aqui. Alvo disse que você está estagiando no St. Mungus.

Maldito Alvo!, pensou, irritada. 

— E o que você quer? - perguntou ela.

— Me explicar...eu...não podia fazer isso com você...coloca-la no meio de todos os meus problemas...Eu precisei me manter afastado, para seu bem. Para o bem da sua família...

— Não, você não pensou no meu bem. Você simplesmente se afastou de mim. Me excluiu da sua vida. Então, não, não você não pensou em mim. Só em si mesmo - Levou o dorso aos olhos, secando as lágrimas que escorriam, com força. Não queria mais ouvi-lo. Queria apenas sua paz de novo - Por favor, saia.

— Rose...por favor...- ele murmurou - Por favor...

— Não. Apenas vá embora Scorpius.

De repente, escutou os passos dele, se afastando. Fora uma eternidade escutar a porta do banheiro se fechar. Fora o momento mais excruciante de sua vida. Mas, precisava para sempre esquecer dele. Pois, tudo que sentiu naqueles dois anos não foram fáceis. Ela ainda conseguia se lembrar de cada instante que passou sozinha. Dois natais horríveis. Dois aniversários. As pessoas cochichando sobre ela nos corredores de Hogwarts. E cada dia que passou longe dele foram os mais difíceis. As cartas que enviou, sem nunca receber uma resposta. Não, ela não queria mais explicações. Contudo, ficou ali no banheiro, por um longe tempo. Até que pudesse de fato, encarar o mundo de novo. 


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