Kizuna - ligados pelo destino escrita por pollymnia


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem?

Primeiramente, obrigada por dar uma chance para essa história! Espero que possamos caminhar juntos até o final! Mas antes, preciso que leia esse aviso abaixo.

Essa história é um compilado de parte das culturas coreana, japonesa e chinesa e seus respectivos folclore e, apesar de ser apaixonada pelo tema, não sou especialista no assunto, mas pesquisei e usei da liberdade literária para trazer algumas adaptações ao enredo.

Não vou manter todos os pronomes de tratamento utilizados nessas culturas (como o sufixos -kun, -chan, -shi ou os pronomes de tratamento como oppa, unnie, sensei, dongsaeng amplamente utilizados em dramas, animes e mangás), apenas quando julgar necessário para o enredo, como algumas terminologias em língua nativa (nomes de peças de roupa, utensílios, e etc.). Meu objetivo é deixar o diálogo mais universalizado para aqueles que não conhecem a cultura e/ou não desejam se aprofundar nela.



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Kizuna (絆) 

"que denota laços ou conexões entre as pessoas"

 

Seul, 1995

— Argh!

A mulher gritou sentindo a dor de mais uma contração, a sensação de ter sua barriga endurecida daquela forma a fazia torcer os dedos dos pés e tudo o que menos queria naquele momento era estar dentro de um carro no meio da rodovia em plena madrugada.

— Querida, já estamos chegando! Por favor, aguente só mais um pouquinho — seu marido tentou acalmá-la mas foi interrompido por mais um grito da esposa que se apoiou em seu ombro amassando a manga de seu casaco com os dedos. As contrações estavam cada vez menos espaçadas e isso só podia significar uma coisa, a criança estava a caminho.

— Lee Hongbin, se minha filha nascer no meio da rodovia, eu mato você!

— Tudo bem querida, falta pouco, eu juro! — respondeu atordoado — Já avisei meu avô, eles já estão prontos nos esperando.

Tentava a todo o custo manter o carro dentro dos limites de velocidade, mas a ansiedade do pai de primeira viagem aliada a advertência de seu avô de que aquela criança não podia nascer fora dos limites de Gyeongju falaram mais alto. Hongbin acelerou o veículo ultrapassando os cento e dez quilômetros permitidos. Aquela era uma rota familiar, Gyeongju foi seu lar durante toda a infância e adolescência, o lar da família Lee, uma das pioneiras em toda a Coreia.

Estava fazendo a última curva antes da entrada para a vila da família quando foi surpreendido pelo acender repentino dos faróis de um caminhão que fez a curva na contramão. O susto foi tamanho que tudo o que conseguiu fazer em reflexo foi virar o volante de uma vez levando o carro para o outro lado da pista, na contramão da via. Os carros buzinavam sem parar e vinham direto para cima de seu automóvel. Não havia o que fazer, precisava ser rápido pois a vida de sua esposa e sua filha estavam em suas mãos.

— Hongbin! — ouviu o tom de voz alarmado de Hyeri mas não disse nada. Cheio de adrenalina apertou os dedos ao redor do volante e o virou completamente, pisou no acelerador sentindo o carro ir direto para o acostamento, um lugar seguro. Pisou no freio, mas não foi o suficiente devido a velocidade alta. Arregalou os olhos observando a contenção de concreto crescer ao seu lado, um filme se passou em sua mente e tudo o que ouviu foi o grito de sua esposa.

— HONGBIN! — em um milésimo de segundo o carro bateu na contenção e então tudo escureceu.

Hyeri gemeu incomodada e moveu minimamente a cabeça, sentiu o corpo inteiro reclamar de dor e abriu os olhos e tudo o que via eram borrões na escuridão. Piscou os olhos algumas vezes tentando focar a visão e logo as coisas foram tomando forma. Ela olhou diretamente para seus pés, logo depois para o câmbio automático do veículo, o painel preto do carro e por fim o vidro frontal completamente estilhaçado.

— Amor... — chamou baixinho e engoliu em seco sentindo o gosto férrico na boca, moveu a língua e sentiu um ardor, havia mordido a parte frontal da língua. — Hongbin — insistiu mais uma vez e levou a mão à cabeça que doía vertiginosamente sentindo enfim o líquido quente que escorreu pelos seus cabelos, assustada, olhou para sua mão e avistou a coloração avermelhada.

Em um gesto automático tateou a barriga a fim de ver se havia alguma fratura ou corte grave, mas milagrosamente tinha apenas alguns pequenos cortes nos braços devido aos estilhaços. Estava prestes a chamar o marido mais uma vez quando abriu a boca, mas sem conseguir vocalizar nada, era mais uma contração.

Após despertar de seu torpor, Hyeri tentou tirar o cinto de segurança, precisava acordar seu marido, ele não estava nada bem. Hongbin estava completamente coberto de sangue e tinha os olhos fechados, a batida foi toda na lateral do carro justificando o não acionamento dos airbags e consequentemente, o corte na cabeça de Hyeri. Com muito custo conseguiu se soltar do cinto e então se arrastou para perto do Lee. Trêmula, tocou o marido chamando-o algumas vezes, mas sem sucesso. O corpo de Hongbin estava caído para o lado da porta do motorista e ele parecia não estar respirando. Precisava fazer alguma coisa ou então perderia o marido e, mais do que nunca, precisava ter sua filha longe dali.

Com os olhos marejados tateou o corpo dele procurando o celular mas não o encontrou. Desceu as mãos pelo assento e com dificuldades se abaixou para verificar o chão do carro encontrando o aparelho caído próximo dos pés de Hongbin, ficou aliviada de o aparelho estar funcionando apesar da tela quebrada. Discou o número da casa dos Lee e aos prantos informou tudo o que tinha acabado de acontecer.

— "Querida, por favor, fique no carro. A ambulância que contratamos vai buscar vocês em breve" — ouviu a doce voz de Soohyun, a avó de Hongbin, tentando acalmar — "Vai ficar tudo bem."

Hyeri respirou fundo após desligar a chamada e fechou os olhos, estava exausta. Inclinou o corpo e vocalizou a dor ao sentir mais uma contração

— Por favor, venham logo. Eu não sei se temos muito tempo! — suplicou em voz alta, mesmo que ninguém pudesse a ouvir.

— Moça, como você está? — abriu os olhos e avistou ao lado um homem pelo vidro do passageiro, ao longe ela podia observar outros carros parando e pessoas se aproximando para prestar socorro.

— Eu estou bem, mas meu marido está desacordado e sangrando muito — conteve um gemido ao sentir mais uma contração, ouviu o barulho de um pequeno estouro e então suas pernas foram encharcadas — Minha bolsa estourou! — o homem arregalou os olhos entendendo a situação e ergueu as mãos afoito.

— Aguarde um momento, estamos chamando a ambulância, eles não demoram.

— Chamem os bombeiros, precisam tirar meu marido daqui. Conversei com a família do meu esposo, eles moram a quinze minutos daqui e já pediram uma ambulância. Só chamem os bombeiros para tirá-lo daqui — insistiu.

Hyeri mal terminou a frase e avistou uma ambulância seguida de um veículo do corpo de bombeiros vindo em alta velocidade em sua direção, certamente Soohyun havia os informado também. Dois socorristas saltaram do veículo e vieram correndo em sua direção, logo atrás os bombeiros se aproximaram com um equipamento desencarcerador para o resgate.

— Com licença! — Hyeri ouviu a voz dos bombeiros se aproximando. Eles averiguaram a porta e, com muito cuidado, conseguiram tirá-la completamente para poder se mover livremente.

Em seguida deram espaço e a socorrista se aproximou ligando a pequena lanterna para ver a dilatação de suas pupilas. Ela fazia várias perguntas que Hyeri tentava responder na medida do possível. Todo cuidado era pouco para assegurar a saída da jovem gestante de dentro do veículo — Tudo certo, podemos tirar.

A socorrista se afastou e os bombeiros voltaram e se posicionaram ao seu lado, e após uma contagem rápida a colocaram na maca. Os socorristas então caminharam a passos rápidos para a ambulância.

— Não! E ele? Vocês precisam cuidar dele também! — pediu desesperada.

— Hyeri, me ouça com atenção — o outro socorrista surgiu dentro da ambulância — Os bombeiros estão movimentando o carro para tirar seu esposo de lá, vai ficar tudo bem — tentou acalmá-la, mas Hyeri estava impassível.

— Eu não vou sair daqui sem Hongbin!

— Senhora Lee — ouviu um homem de terno que ela reconheceu como um dos empregados de Junghyuk, chefe da casa Lee — Tenho ordens para levá-la para a vila o mais rápido possível. A senhora sabe que a criança não pode nascer aqui. Um de meus homens vai acompanhar os bombeiros que levarão o senhor Lee para o hospital de Gyeongju. Ele não ficará sozinho, tem a minha palavra.

Hyeri olhou dentro dos olhos do segurança procurando algum traço de mentira e só então assentiu, concordando em deitar-se na maca. As portas da ambulância se fecharam e o veículo rumou com pressa a caminho da vila de Gyeongju.

Quando as portas se abriram novamente Hyeri observou a forte chuva que caía quase a impedindo de ver a fachada da imponente residência. No mesmo instante uma dúzia de empregados se aproximaram abrindo guarda-chuvas enormes em ambos os lados criando um caminho seco para que a maca pudesse passar tranquilamente até o quarto preparado para o nascimento da criança.

— Vá chamar as amas! — a governanta ordenou a uma das empregadas que logo correu pelos longos corredores até a casa mais aos fundos da propriedade, onde os empregados dormiam.

— Precisamos das amas prontas — exclamou afobada.

— Quantas?— questionou uma das moças já se levantando.

— Todas!

Quando ouviram a seriedade do pedido, todas as jovens moças vestiram-se apropriadamente e saíram em disparada pelos corredores à serviço daquele momento único, mas temeram profundamente ao presenciarem os relâmpagos e trovões que varriam os céus.

Ao lado do quarto das amas, no pequeno almoxarifado, uma mulher observava pela pequena fresta da porta se ainda havia alguma movimentação.

— Elas já foram — sussurrou aliviada e então um gemido sôfrego escapou pelos lábios da outra jovem que sentia as dores das contrações mas estava impossibilitada de vocalizar sua dor.

— Jihyun, eu não vou conseguir!! — disse chorosa. A mais velha se aproximou segurando sua mão e limpando o suor que escorria pelas têmporas.

— Não diga isso, Jian! Você é uma menina forte e essa criança também! Vamos lá, vai dar tudo certo!

Jian respirou fundo sentindo a necessidade de empurrar, apertou a mão da mais velha e trincou o maxilar tentando fazer esforço sem gemer ou gritar.

"Vocês viram a Jihyun?", ouviram a voz da empregada mais uma vez.

"Não senhora", um dos empregados respondeu.

"Precisamos dela, urgente!"

— Você precisa ir — Jian constatou enquanto recuperava o fôlego após mais um puxão.

— Não, não posso deixá-la sozinha — retrucou fazendo Jian sorrir.

— Jihyun... sabe que não temos escolha. Você nasceu para esse momento, foi instruída desde cedo para esse dia. A criança Lee não tem culpa de nada.

"Acharam?", a empregada perguntou em tom desesperado.

"Ainda não".

"Céus!"

— Vai, Jihyun! — pediu segurando a mais velha com força. — Eu estou bem, vá!

Jihyun encarou os olhos da mais nova com tristeza e saiu do almoxarifado sem olhar para trás. Sabia que se o fizesse não deixaria Jian sozinha! E enquanto caminhava com pressa pelos corredores, sentia os olhos marejados ao lembrar-se do dia em que acolheu a pequena órfã na Vila, mesmo a contragosto dos demais. Jamais podia imaginar que o destino de Jian a levaria àquelas condições, tendo uma bebê sozinha abandonada por quem escolheu amar.

Entrou nos aposentos com uma reverência, ouvindo os pedidos desesperados da Lee a respeito de notícias de seu esposo. Ela não estava bem. Seus braços estavam com vários curativos e sua cabeça enfaixada, mas ela apertava os braços das amas enquanto gritava por notícias.

— Querida, por favor, se acalme! — ouviu Soohyun, a matriarca, pedir — Ele já está em cirurgia e em breve teremos notícias — tentou tranquilizá-la.

"Eu disse que a tempestade era mau agouro".

"Má sorte, má sorte", cochicharam as amas deixando-a mais apavorada.

— Eu preciso saber! Eu quero ouvir a voz dele me dizendo que vai ficar tudo bem. — suplicou em sua fragilidade.

Jihyun encarou as amas com rigidez e todas se calaram imediatamente. Se aproximou com cuidado, postando-se à frente de Hyeri silenciosamente, chamando a atenção da mulher que apenas respirava com dificuldades, sentindo as lágrimas correrem por sua face.

— Senhora, sabe que seu marido a ama, não sabe? — a mais jovem assentiu chorosa ao ouvir a voz terna da parteira — Sabe também que o fruto desse amor está aqui lutando para vir a esse mundo cumprir seu propósito. Eu entendo que esteja preocupada, mas precisa confiar no destino que os céus traçaram para vocês. Essa menina é uma benção para todos nós. Precisa se concentrar para que ela venha em segurança — Hyeri assentiu soltando as amas e secando as lágrimas — E não se preocupe com os burburinhos, senhora. Os céus sempre anunciaram as bençãos divinas através da chuva.

Um relâmpago cortou o céu quando Hyeri voltou a gemer fazendo força para puxar. As amas que estavam ao seu redor faziam orações pedindo que os céus iluminassem o caminho da pequena criança e clamavam pelas bênçãos dos deuses. Jihyun dava instruções observando a pequena cabeça começando a coroar. Os olhos de Soohyun enchiam de lágrimas de alegria.

Ao mesmo tempo, Jian gemia contido enquanto descia as mãos para sua pelve à procura da cabeça do bebê. Faltava apenas mais um puxão.

O choro da vida ecoou pelo quarto. Soohyun deixou as lágrimas escorrerem pelo rosto enquanto fazia uma prece silenciosa, agradecida. Hyeri esticou os braços pedindo pela filha e Jihyun a entregou para a mãe após a cobrir com um lençol dourado bordado com fios de ouro. As lágrimas desciam copiosamente enquanto observava o rosto pequeno relaxar assim que se aproximava do calor do colo de sua mãe.

— Minha preciosa Seulgi! — sussurrou beijando o topo de sua cabeça e então todos os presentes ajoelharam-se perante a pequena bebê que era amamentada.

Dentro do pequeno quarto aos fundos da vila, Jian não aguentou mais e soltou um grito quando puxou o bebê e o pousou em seu colo desnudo, o toque pele a pele acalmando o choro de quem descobria o mundo pela primeira vez.

— Você é linda! — disse emocionada, constatando que era uma menina — Vou chamá-la de Hyejin.

Pegou seu vestido e limpou o vérnix do rosto da bebê depositando um beijo em sua testa. A pequena abriu os olhos e encarou curiosa o rosto da mãe, iluminado pela fraca luz da lamparina improvisada. Jian soltou um riso contido e começou a limpar sua filha com cuidado, arregalando os olhos já marejados quando notou algo no corpo da pequena. Ela abraçou a bebê em instinto protetor e começou a chorar mais uma vez.

— Ah, minha pequena! — sentiu as lágrimas rolando pelo rosto livremente — Não se preocupe, meu anjo; eu irei te proteger. — assegurou com determinação.

O anúncio de que o chefe havia chegado ecoou na porta do quarto principal e logo Junghyuk surgiu no aposento trajando suas tradicionais vestimentas coreanas. A postura impassível do líder se desfez quando olhou admirado o pequeno ser que descansava no colo da mãe.

Se aproximou de sua esposa que ignorou a etiqueta e encostou a cabeça em seu ombro não contendo o sorriso de uma avó afortunada. Soohyun, o questionou baixinho e Junghyuk trincou o maxilar e respondeu em poucas palavras para que apenas a matriarca pudesse ouvir. O susto foi contido e logo a mais velha virou o rosto para trás, contendo as lágrimas discretas, mas que não passaram despercebidas por Hyeri.

— O que foi? — questionou sentindo o sorriso morrer — Tem notícias de Hongbin? — Um silêncio invadiu o quarto e então Hyeri buscou pelos olhos de Junghyuk, mas esse não a encarava — Mãe? — suplicou chamando a avó de seu marido pelo apelido carinhoso.

Soohyun se aproximou pegando em sua mão e negou. Hyeri sentiu o choro irromper na garganta e então lágrimas quentes desceram pelos olhos enquanto apertava o enlace em sua bebê que mamava tranquilamente em seu colo.

Hongbin havia partido.

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— Ela é linda! — Jihyun entrou no quarto de Jian trazendo o café da manhã e parou para observar a pequena e faminta Hyejin sendo amamentada por uma Jian sorridente.

— Ela é sim — respondeu sem tirar os olhos de sua pequena — Se você está aqui é porque deu tudo certo — comentou e Jihyun assentiu — Que os céus abençoem o caminho da jovem princesa.

— Tudo o que sabemos não passam de histórias escritas nos livros mas o futuro de todos reside naquelas pequenas mãozinhas.

— Ela será bem instruída, tem pais que a amam — a mais velha diminuiu o sorriso e se aproximou de Jian cautelosa.

— Sobre isso...

A porta do quarto se abriu abruptamente e Jihyun olhou para trás apenas para colocar-se de pé e inclinar o rosto para baixo. Junghyuk olhou para as duas mulheres e entrou no aposento preenchendo o ambiente com sua presença imponente, mantinha as mãos pousadas atrás das costas enquanto caminhava com a postura altiva em direção a cama. Ele olhou o bebê no colo dela e Jian envolveu a filha com mais firmeza, temendo o pior mas olhando-o sem demonstrar medo. A empregada desencostou-se da cabeceira da cama e como pôde reverenciou o mais velho, repetindo o gesto de Jihyun.

— Que os céus abençoem a casa de Lee e sua descendência! — cumprimentou com os votos pelo nascimento da jovem Seulgi. Junghyuk a encarou por alguns segundos e então desviou os olhos para a vista da janela.

— Creio que sabe o motivo da minha visita.

— Sim, meu senhor, e como disse das outras vezes, não tenho intenção alguma de romper com a paz daqueles que me acolheram. — assegurou.

— Espero que suas palavras sejam verdadeiras. Esse é o único motivo que as mantém sãs e salvas dentro da vila porque já não há mais nada além da minha misericórdia para a ajudar agora. — Jian arregalou minimamente os olhos sentindo o peso daquelas palavras — Está dispensada de suas obrigações pelo resto do dia. Considere isso um presente para o recém-nascido. — virou-se e caminhou até a porta quando ouviu a voz firme da empregada.

— Recém-nascida. — olhou para trás e Jian o encarou impassível — É uma menina, meu senhor.

Junghyuk arqueou as sobrancelhas e soltou um riso descrente antes de deixar o quarto levando consigo toda a atmosfera pesada que o rodeava. Jian encostou-se na parede respirando aliviada pela primeira vez e então olhou rapidamente para Jihyun que a encarava pesarosa. Só então Jian se permitiu chorar se livrando da angústia que sufocou seu coração naquele momento.

Os três dias do funeral foram os mais sombrios, a vila foi trancada para qualquer um que não fosse convidado e ninguém poderia sair. Todos usaram um hanbok preto e as mulheres tinham um laço branco no cabelo. Junghyuk usou um tipo de jaleco branco, vestido apenas pela metade como símbolo do início do processo do velório, informando que a preparação do corpo para a cremação ainda não havia finalizado. Ele permaneceu no salão principal da vila tendo Soohyun e Hyeri ao lado para receberem os cumprimentos. No altar, havia um incensário que era observado de perto pelos empregados para não se apagar antes da hora.

Após os cumprimentos, os convidados foram encaminhados a outro salão onde serviram a mesma refeição nos três dias, a yukgaejang, uma sopa apimentada para espantar os maus espíritos. Ali todos puderam comer e beber soju à vontade, era o momento de memória pelos momentos vividos com o falecido.

No meio da manhã do segundo dia, a família se dirigiu à sala onde Hongbin estava sendo preparado para cremação para se despedir e finalizar o processo, naquele momento Junghyuk vestiu completamente o jaleco branco. O corpo de Hongbin foi coberto por um tecido amarelo e colocado um enfeite por toda sua extensão. Ao fim, a família retornou para o salão e o corpo foi colocado dentro do caixão por Junghyuk e alguns empregados.

Em seguida cobriram o corpo com um papel de seda branco com escritos budistas e então o levaram ao salão do altar onde todos ficaram de costas para que seu espírito pudesse se alimentar de sua primeira refeição.

No último e terceiro dia logo cedo após o café da manhã, todos se prepararam para a cerimônia de cremação ao formarem uma fila. Nesse momento, Junhyuk apagou as velas e incensos e se posicionou em primeiro lugar carregando o retrato de Hongbin envolvido em um laço preto. Tal gesto era algo que Hyeri deveria fazer como esposa de Hongbin mas a jovem não estava em condições, apenas se agarrava à sua filha, por isso, decidiram que seria melhor ela ficar atrás do caixão juntamente com Soohyun. Seus pais vieram logo atrás e depois os demais convidados seguiram o cortejo silencioso até o salão das refeições onde foi oferecido o café da manhã ao falecido e como feito no dia anterior, todos ficaram de costas.

Quatro empregados trajando vestes tradicionais levaram com cuidado o caixão preto lustroso com detalhes em dourado para fora da casa e assim iniciou-se o cortejo para a cremação. Tudo o que se ouviu, além dos passos no caminho de pedras era o choro baixinho de Hyeri que segurava a pequena Seulgi no colo, a jovem viúva foi amparada pelos braços acolhedores de Soohyun que chorava silenciosamente.

O caixão foi levado até o crematório particular da vila e a família foi para a pequena sala de reverências enquanto aguardavam o corpo ser cremado. Não muito tempo depois, Junghyuk surgiu com a urna e apenas os familiares seguiram em direção ao cemitério da família. Eles observaram a foto de Hongbin mais uma vez e finalmente se despediram.

— Vou cuidar bem da nossa pequena, querido. Ela vai crescer forte assim como você. — Hyeri tocou a foto do marido e levou um beijo ali com a mão — Eu te amo.

E enquanto a urna era depositada no cinerário, uma pequena silhueta escondia-se por entre as árvores. Durante o tempo em que as lágrimas silenciosas escorriam pelo rosto, guardava na memória a lembrança daquele belo sorriso.


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Notas finais do capítulo

Seulgi (슬기) : Jade fina

Hyejin (혜진) : Competente, Séria, Amigável, Generosa

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