O Desenho da Amizade escrita por Max Lake


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Eu não sei bem o que dizer aqui, então boa leitura! =)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/801047/chapter/1

A campainha tocou. Natália se sentou na calçada, vendo o céu se acinzentando aos poucos. Não demorou muito para a porta ser aberta por Miranda. As duas abriram um sorriso simultâneo ao trocarem olhares. Por mais que estivesse mais madura, Miranda apresentava a mesma aparência de revoltada que tinha quando era adolescente, com sua blusa de alça caída, o cabelo colorido e enrolado em cachos e a tatuagem de caveira no pulso.

Miranda também analisava Nat. Ainda tinha a mania de cobrir toda a pele, não importando quanto fizesse de calor - ao menos o céu nublado justificava o casaco, a calça e as luvas. Carregava uma mochila nas costas, mas parecia bem leve.

—Nat! Oi!

Abraçaram-se e trocaram beijos no rosto, Miranda a puxou pela mão para dentro. Conversavam enquanto atravessavam o terraço.

—Fiquei bem feliz quando me ligou.

—E eu fiquei feliz que me atendeu.

—Se lembra das regras da casa?

—Lembro.

Nat parou no tapete e tirou o par de sapatos. Sentiu o chão frio e molhado, acreditava que a faxina tinha acabado por agora. Mesmo com a aparência de adolescente, a casa continuava em perfeito estado. O plástico cobria o sofá e a poltrona, a televisão de tubo dava um ar retrô para a sala, mesmo que a outra TV presa na parede contraste com as intenções.

—Sua mãe saiu?

—Sim. É difícil ela ficar por aqui. Ei, não senta ainda. - Miranda pegou um pano e o colocou no plástico do sofá. - Pronto. Quer água? Suco?

—Não, obrigada. Eu trouxe um presente.

Da mochila, Nat tirou seu caderno de desenhos e pegou uma folha solta. Respirou fundo antes de entregá-la. Miranda abriu um sorriso de satisfação. Era ela própria, ainda na adolescência, deitada na grama do Parque Público, bem longe de qualquer olhar curioso, pois vestia apenas um lençol branco por cima do corpo e fazia muito frio no dia.

—Nossa! Você guardou depois de todos esses anos!

—Sim, guardei.

—Eu me lembro daquele dia como se fosse ontem. Ainda me deve por me fazer ficar nua em público por horas no frio.

—Desculpa por isso. Tava uns 18 graus, eu acho.

—Ficou lindo o desenho!

—Obrigada.

—Mérito da bela modelo também, é claro, mas você mandou muito bem!

—Sei.

As duas riram e se abraçaram com bastante força. Miranda se sentia de volta ao passado, quando ela e Natália eram tão próximas que pareciam irmãs. Lembrar dos motivos que as fizeram se separar fez Miranda adotar um tom mais sério na voz.

—Obrigada. Sério. Eu pensei que tinha rasgado depois que você e Alex terminaram.

—Eu pensei em fazer isso, mas eu superei.

—Nat, eu não fiz por mal. Foi idiotice minha, eu sei disso.

—Miranda…

—Alex era uma péssima pessoa, me manipulou mesmo quando vocês namoravam.

—Miranda…

—E continuou depois que vocês terminaram, e eu estava magoada. E ele também, aí nós apenas… Dormimos juntos.

—Ei! Eu superei! Esqueça o Alex, ele é passado e arranjou uma nova trouxa pra enganar. Você era, é e sempre será minha melhor amiga e isso não vai mudar por causa de um homem. Agora, que tal guardarmos esse desenho?

—Sim. Já sei onde deixá-lo. Vem.

As duas passaram pela cozinha, subiram as escadas para o segundo andar e chegaram ao quarto de Miranda. Continuava tão igual à última vez que Natália aparecera, com roupas espalhadas pelo chão, gavetas quebradas e algumas fotos penduradas na parede - a maioria sendo delas juntas. Miranda ficou de pé na cama e colocou o desenho no teto, mas não o prendeu ainda.

—Que tal? Assim, a primeira coisa que verei quando acordar será seu desenho.

—Ótimo. Tem algo a ver com sua alta autoestima?

—Possivelmente. Quer dizer, é como me olhar nos espelho, só que em forma de desenho.

Deitou-se, tirou totalmente a roupa e pediu para que Nat fizesse o mesmo. Obedeceu com reticência, ficando com uma blusa e a calcinha. Ficaram abraçadas na cama, encarando o futuro lugar do desenho.

—Miranda.

—Hum?

—Eu vou embora.

—Tá cedo. Fica mais cinco minutos.

—Não é isso. Passei numa entrevista de emprego, aí vou ter que me mudar para outra cidade.

Miranda a encarou sem acreditar no que ouvia. Estava tão feliz pela amiga que escondia a tristeza por essa ser a última vez que se veriam. Ouvia-se a chuva caindo fora da casa

—Então, essa visita é uma despedida?

—É um até logo. E quero aproveitar ao máximo.

—Como será o emprego?

—Professora de Artes. Espero me dar bem por lá.

—Claro que irá. Você é uma artista incrível e ser professora de artes pode ser seu primeiro passo.

—Valeu pelo apoio.

—Pra isso que sirvo. Pra te apoiar. - Miranda inclinou-se sorrindo. - Mas não pense que ficará livre de sua dívida.

—Jamais pensaria nisso. Acho que até morta você iria me cobrar essa dívida.

—Sim, mas você sabe o motivo, né?

—Sei?

—Sim. É que eu te amo, Nat, e vou sentir sua falta. Mas, por enquanto, vamos dormir sob essa chuva.

Miranda encostou a cabeça no ombro de Nat e adormeceu com facilidade. As horas passaram, o quarto escureceu e Miranda só acordou porque ouviu um barulhento trovão. Nat não estava mais com ela, só havia o desenho, seu caderno e sua mochila.

Por pior que pudesse admitir, foi mesmo a última vez que se falaram.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! =)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Desenho da Amizade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.