Peppermint escrita por MadisonMermaid


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Bom dia amigues,

Segue uma shot simples, mas feita com carinho.
Shun e Hyoga de novo? - Sim. “Meu Casal”.
Saudades de uma boa saída pra ver performances de Drag Queen e dançar até o sol raiar, viu?
A parte em itálico é o que acontece no passado, e as artes usadas não me pertencem, foram achadas no Pinterest.
Beijos, espero que gostem.

PS: Essa fanfic foi inspirada pela música "Born Naked", da Rupaul, e foi publicada originalmente no Spirit Fanfics.



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— Tem fogo?

— Desculpe, não fumo.

— Nem eu, mas foi um bom modo de puxar assunto.

Aquela figura, de pomposo e acinturadissimo body de penas e brilhos, peruca escura e extremamente volumosa, maquiagem impecável, meia arrastão e botas douradas de salto plataforma, o olhava de cima a baixo, enquanto segurava um leque fechado nas mãos.

Estavam na rua lateral ao estabelecimento que frequentavam no momento.

— Me diga, o que uma coisa linda como você está fazendo aqui fora? E sozinho, ainda por cima?

O loiro, cujos cabelos eram à altura dos ombros, os olhos azuis profundos como o oceano e a pele dourada de sol sorriu, desviando o olhar da figura para o jogar sobre o gasto asfalto, onde alguns panfletos dançavam ao vento.

— Tenho certeza que você encontra uma companhia lá dentro em segundos. - terminou ela.

Ele deu um riso único, passou os dedos pelos dourados cabelos, numa mistura de timidez e incrível vontade de se abrir, e falou:

— Na verdade, estou fugindo de uma pessoa.

A Drag Queen o olhou novamente, prestando atenção em cada movimento que aquele misterioso rapaz realizava.

Além de lindo, ele era forte, o que dava pra ver através da justa camiseta azul que vestia e dos braços musculosos à vista. E como cereja do bolo, era dono de uma voz rouca e sexy, extremamente prazerosa de se ouvir.

— Um ex-namorado psicótico, ou só alguém muito inconveniente?

— Estou fugindo de um amigo de infância. E também da possibilidade de fazer uma loucura, se eu perder o controle.

Ela então enfiou o leque na bota, tirou uma garrafinha metálica do meio dos enchimentos que usava para dar a ilusão de seios,  a abriu, bebeu um gole e ofereceu a ele.

— Hum… me parece que você precisa conversar. Sou Peppermint Vibe.  - estendeu-lhe a mão. 

Suas unhas postiças eram longas e escuras, ele reparou.

— Sou Alexey, mas meus amigos me chamam pelo meu sobrenome, Hyoga.

— Então me diga, Alexey Hyoga, o que tanto tem esse seu amigo pra te fazer querer fugir dele ao invés de se entregar?

. . . 


 

Horas antes...

Muita coisa já havia acontecido na vida daquele grupo de jovens rapazes, que estavam sentados em torno de uma mesa coberta de pizzas e bebidas.

Guerras começaram e terminaram, sangue e lágrimas foram derramados, e os meninos que um dia foram já não mais existiam, pois agora eram homens.

E aquele era um jantar de despedida, visto que cada um deles seguiria seu caminho, até que seu dever com a Deusa precisasse ser cumprido, mais uma vez. 

Após todas as enfermidades e limitações que o Pégaso sofreu pela poderosa espada do Senhor do Submundo, finalmente havia luz no horizonte.

Seus pés e pernas se mexiam, e ele conseguia arriscar alguns passos, em uma evolução digna de um Lendário Cavaleiro - que deixou a equipe médica, alheia à sua famosa determinação, pasma e maravilhada.

Seiya sentava-se na ponta da mesa, lugar que melhor acomodava sua cadeira de rodas. Ao seu lado estava Saori, sempre solícita e atenciosa. Claro, após tudo o que viveram, seria impossível continuar ignorando o sentimento que nutriam um pelo outro, e o romance dos dois finalmente tomou o lugar de merecido destaque.

Shiryu tinha sua Shunrei, que sentava-se com ele ao lado da Deusa, e com quem partiria para Rozan na manhã seguinte.

Já o caso de Ikki era mais complexo.

Sem Esmeralda, o Fênix preferia viver encontros casuais, puramente para se satisfazer, enquanto sumia e ressurgia, sem avisos, em uma perfeita e não proposital alusão à lendária ave que batizava sua armadura.

E pra ele estava bom assim.

Os outros dois membros do famoso quinteto eram Shun, que voltaria para Tokyo - a medicina sempre foi uma paixão antiga e finalmente ele poderia se dedicar aos estudos dela - e Hyoga, cujas malas estavam prontas para sua mudança definitiva para a Sibéria.

A Amazona de Ofiúco, assim como a de Águia, também estava presente. 

As duas eram agora o braço direito de Saori, enquanto a jovem reencarnação de Athena reconstruia seu Santuário, pouco a pouco.

Afinal de contas Seiya era sua prioridade, e o mundo estava em paz.

Shaina observava a todos com atenção.

Os sorrisos, os gestos, as conversas… Adorava ler pessoas, e tentar entender o que passava em suas cabeças.

Mas, naquela noite, o que mais chamava a atenção da brava italiana eram os olhares que dois daqueles rapazes trocavam entre si.

Desencontrados, tímidos e desejosos.

— Marin. - chamou ela, sussurrando na orelha da ruiva, que pegava um pedaço de pizza - estou com uma ideia. 

— Diga.

— Depois daqui, vamos para o BeQueer?  E que tal se chamarmos o Shun e o Hyoga?

Marin os olhou, discretamente.

— Shaina, não sei. Shun talvez aceite, mas o Hyoga… acho difícil que ele queira ir a um bar gay. Ele é muito fechado.

A verdade sobre os sentimentos entre os dois pairava no ar como uma leve brisa, bagunçando seus corações, visto que nenhum deles havia dado o primeiro passo para que aquele amor florescesse, ou até mesmo fosse abordado.

Culpa, medo, vida de Cavaleiro... 

Fosse qual fosse o motivo, era uma verdade quase absoluta, porém, não declarada.

— Você acha uma boa? - perguntou Marin.

— Claro. Tentar não custa nada. E me dói o peito ver eles se despedirem assim, sem nunca terem assumido o que sentem.

A ruiva concordou, e voltou a comer a guloseima de seu prato.


 

Ao fim do jantar, lágrimas e abraços foram dados pela iminente separação, e foi quando Shaina começou a por seu audacioso plano em ação.

Chamou Shun e Hyoga de lado, e propôs que a noite fosse estendida,  levando em consideração que poderia ser a última que passariam juntos por um bom tempo.

— Onde iríamos? - perguntou o loiro.

— Pra um bar muito divertido, bem adequado pra gente como a gente. - disse ela, que intimamente rezava para que Hyoga concordasse.

E como os Deuses estavam de bom humor, sua prece foi atendida, mesmo que nem ele, e nem Shun, entendessem naquele momento o que ela queria dizer com aquela descrição.

BeQueer era um local pequeno, se comparado a outros estabelecimentos do tipo, mas muito movimentado. Escondido em um dos cantos da capital grega, era icônico pelos famosos shows e festas que proporcionava para a comunidade LBGTQI+.

Dois bares, um em cada ponta do salão principal, serviam os clientes que dançavam ao som dos DJs ou assistiam às apresentações das Drag Queens, sempre performadas em um palco bem centralizado.

A luminosidade em seu interior era baixa, e era somente quebrada pelas dezenas de luzes e feixes coloridos dos holofotes e canhões de luz, e pela decoração em tubos de neon, que adornavam todas as paredes.

Os olhos de Shun encararam com surpresa o ambiente, assim que ele se deu conta de onde estava.

Homens vestidos de todos os jeitos, desde roupas elegantes até mínimos trajes de safados marinheiros ou sungas de couro, andavam de mãos dadas, dançavam juntos ou se beijavam e trocavam carícias pelos cantos.

E algumas mulheres também.

Não demorou para que o quarteto chamasse a atenção dos demais frequentadores, que davam sorrisinhos ao passar por eles.

Um era alto, forte, nórdico. 

O outro era mais baixo, andrógeno e dono de uma beleza celestial.

E claro, as duas mulheres eram lindas.

— Shaina - Shun falava em meio a um sorriso que não conseguia conter - que lugar é esse?

— Cáspita, Andrômeda! - respondeu ela, com sua conhecida falta de paciência - É um bar. Um bar gay.

Era estranho, mas não demorou para o virginiano perceber que ele se sentia estranhamente bem ali e com a impressão de total acolhimento, algo que o maravilhou.

— O que acha daqui, Hyoga? - perguntou Marin, propositalmente.

— Desde que a vodka seja boa, por mim tudo bem.

— Shaina, Marin. - Shun as chamou - Será que podemos deixar esse passeio só entre a gente?

Tal pedido não foi recebido com surpresa. 

Que Shun era homossexual, Shaina sempre soube, mesmo que nunca o tenha visto com alguém. 

Do mesmo modo, ela sabia que um dos possíveis medos do virginiano era o que Ikki, sempre tão austero, acharia daquilo, além da opinião de seus outros companheiros, também.

— Não se preocupe. Boca fechada.  - ela mimicou um zíper a se fechar em seus lábios - E Shun, nós também temos nossos segredos.

A italiana puxou Marin pela mão, trazendo o escultural corpo da ruiva colado ao seu.

Segurou-a pela cintura, e logo as duas trocaram um delicioso e inesperado beijo.

— Aposto que vocês não imaginavam, não é? - perguntou a Mestra de Seiya, limpando os lábios após o ósculo.

— Sinceramente, não.- respondeu Hyoga, verdadeiramente surpreso, enquanto Shun sorria e as invejava amigavelmente, pensando em como queria receber do Cisne aquele mesmo tipo de carinho.

Música vai, bebida vem, o siberiano preferiu ficar próximo à uma das paredes. Shaina era sua companhia, enquanto Marin e Shun dançavam como se não houvesse amanhã.

Copo de vodka pura em uma mão, a outra dentro do bolso de seu jeans acinzentado.

O jeito como aqueles cabelos verdes balançavam ao som da música era de arrepiar.

Os movimentos do corpo, os sorrisos… tudo casava perfeitamente, compondo um cenário no qual ele se perdia.

O conceito que Hyoga tentava definir, ao observar Shun dançando tão desprendido, era complexo e prazeroso, e ele simplesmente não conseguia tirar os belos e profundos olhos azuis de cima de Andrômeda.

— Hyoga - Shaina cutucou seu ombro direito, e somente aí ele parou de observar a pista de dança - Posso te fazer uma pergunta? Quero que seja sincero. Porque continua negando o que sente por ele?

Seria até uma surpresa aquele comentário se a observadora não fosse ela.

Aquela Amazona era muito astuta, e Hyoga sempre soube disso.

— Sinceramente, Shaina, não sei o que responder… talvez seja porque eu nunca me imaginei tendo a possibilidade de poder me declarar, ou medo de investir em algo que possa acabar me machucando ou afastando os outros de mim e dele. Sabe, não sou bom com sentimentos, nunca fui.

Em um momento extremamente raro, o Cisne admitia as próprias fraquezas. 

— Vocês dois partem para caminhos diferentes amanhã. Talvez essa seja a última oportunidade que tenham, por um bom tempo. E Hyoga… Seiya, Shiryu e até mesmo Ikki jamais se afastariam de vocês.

Hyoga ficou pensativo.

As palavras da Cobra lhe calaram profundamente.

Com a aproximação de Marin, que já alegre alcoolicamente logo prensava a namorada contra a parede, Hyoga resolveu lhes dar privacidade.

Pelo menos um casal naquele grupo estava se divertindo.

Afastou-se alguns passos, e foi quando viu que um rapaz alto e castanho falava animadamente e bem próximo de uma das orelhas do mais novo dos Amamiya.

“Isso está errado”, pensou o russo.

Deveria ser ele ali, falando ao pé do ouvido, dançando, pegando e beijando o belo rapaz que Shun era.

O japonês então sorriu, e recebeu de quem lhe falava um afago na lateral do rosto.

O íntimo do sempre reservado Cavaleiro do Gelo estremeceu, enciumado e decepcionado consigo mesmo.

Shaina estava certa, aquela podia mesmo ser a última noite que o veria por um bom tempo.

Mas, acovardando-se, simplesmente virou as costas e saiu, sem perceber que Shun já havia dispensado o suposto pretendente, de modo simpático e definitivo.

. . .

— Então é por isso que você está aqui fora? 

Perguntou a Drag, pegando novamente a garrafinha e virando mais um gole.

— Sim. Eu não sei o que fazer. Eu já tive dois curtos relacionamentos com garotas, mas durante todo esse tempo era ele quem eu secretamente queria. Situação difícil, não é?

Ela então removeu parcialmente sua persona, ao tirar a peruca e liberar os curtos cabelos próprios da redinha que usava para os prender.

E com uma voz levemente mais grossa que antes, disse:

— Sim, muito. E eu a entendo perfeitamente. Sabe, Hyoga, eu gostaria de lhe contar minha experiência. Por muito tempo eu também fugi de mim mesmo. Fui casado por vários anos com uma mulher extraordinária, que me deu um filho a quem amo do fundo do coração. Essa época, em que precisei passar a imagem de algo que eu não era, e nunca fui, me fez sentir como um único carro dirigido em uma longa e solitária rodovia… sem nunca conseguir chegar a lugar algum, e pior… rodando na contra mão. Tudo isso em busca da fantasia que eu vivia, onde eu era um homem hétero, que não procurava a intimidade com a esposa por estar sempre cansado, e que por algum motivo qualquer vestia as roupas dela quando estava sozinho em casa.

E ela, que agora era ele, riu.

— Ninguém merece passar por isso. E se aceita o conselho de alguém já muito vivido, não perca tempo. No futuro você vai desejar que tivesse tomado uma atitude muito antes, e isso pesa demais.

Hyoga ficou pensativo.

Realmente estava cansado de viver em negação, em procurar e nunca se achar, pois somente buscava a felicidade em lugares errados, mesmo sabendo intimamente que era ao lado de Shun que estava seu desejado tesouro.

— Bem, Hyoga, te digo mais uma coisa e este é meu último conselho, então escute bem: Todos nascemos nús. O resto... ah, meu querido, o resto é drag! - disse Peppermint, rindo e recolocando a redinha e a peruca.

— Quando cansar de fugir, entre pra ver o show. Vai estar um babado.

— Obrigado, Peppermint. - disse ele, trocando com ela um aperto de mão.

A Drag lhe deu a garrafinha de presente, e tomou o leque novamente nas mãos.

— Se vier aqui novamente e eu não estiver performando, devo estar atendendo no bar. Pode procurar por Albert, quem sabe né, vai que não dá certo com seu amigo...

Peppermint soltou uma risada alta e sonora, que o fez rir também.

Se despediu, com uma típica e perfeita batida de seu enorme leque, e entrou, ajeitando os enchimentos de seu peito, enquanto andava com os quadris sambando para lá e para cá.

— Albert… - repetiu o russo, espantado por ganhar ali, naquele lugar inusitado, uma rápida e significativa lição. E vinda de alguém cujo primeiro nome era o mesmo de seu saudoso mestre Camus.

Alguns minutos depois, Peppermint Vibe balançava a peruca em uma performance maravilhosa, deixando o público admirado com sua versão de Tina Turner, ao dublar a icônica musa em The Best.

Shun tentava assistir ao show, do lado das duas Amazonas namoradas, mas sua mente e seus olhos não deixavam de procurar pelo Cisne.

Onde estaria Hyoga? Estava ficando preocupado, enquanto mil coisas passavam por seus pensamentos.

Foi quando sentiu um toque suave em seus dedos, e virou-se para se encontrar com os olhos azuis que tanto amava, e que miravam diretamente dentro dos seus.

— Hyoga. - disse, enquanto era puxado para longe da aglomerada multidão.

O loiro titubeou, mordeu os lábios, olhou para o chão de padrão quadriculado do local e franziu o cenho levemente.

— O que seria de nós se eu te beijasse, hoje e aqui, neste lugar? - perguntou, enfim.

Shun sorriu.

— Seríamos felizes.

A resposta, tão simples e profunda, foi o suficiente para acelerar o coração dos dois.

E o doce japonês cerrou delicadamente as pálpebras, assim que sentiu os gelados e tão desejados lábios de Hyoga chocando-se contra a quentura dos seus.

E aquele seria só o começo.


 

FIM


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Notas finais do capítulo

Bem, espero de coração que tenham gostado :)

1. BeQueer é um bar gay em Athenas, achei pelo google :)
2. Tomei uma certa liberdade aqui em relação aos efeitos da espada de Hades no Seiya.
3. As namoradinhas que Hyoga menciona são Freya e Eiri.

Beijos, e obrigada a quem ler.



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