Interlúdios e Intrusões escrita por konako


Capítulo 1
Pesquisa


Notas iniciais do capítulo

À pedido de fluff, dispus, dentre duas alternativas, uma "pausa na tortura emocional para um breve interlúdio de levidade e amor". Então, o anon propôs o seguinte prompt: Ruby assistindo filmes sobre lobisomens.

Aqui segue o resultado.



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Assitir a filmes mirabolantes sobre sua sensível tragédia pessoal é um momento que Ruby hesita em compartilhar com alguém. 

Depende muito da companhia. Com Ruby, tudo depende da companhia.

Ela se sente confortável discutindo as partes mais grotescas da sua natureza com Snow.

Deuses, Snow presenciou todas as partes grotescas de sua natureza. Snow viu com seus próprios olhos a cena sanguinolenta deixada por um lobo descontrolado — pedaços de Peter, que Ruby sabe que Snow jamais esquecerá. Snow adentrou a cova de um alcateia rancorosa. Snow foi ameaçada por sua mãe, presa a um pilar como petisco pronto para os dentes de Anita. Snow, então, viu dois lobos lutarem brutalmente por um frágil humano. 

Snow estava de seu lado. Snow viu tudo. E Snow ainda estava ao seu lado. É seguro dizer, então, que Snow não se assustava facilmente. Acima de tudo, Snow saberia distinguir verdades de mentiras, quando confrontada com a descrição fantasiosa de um lobisomem. 

As palavras escapam Snow mais rapidamente do que deixam dos lábios de Ruby.

“Pfft, que baboseira!”

“Ridículo”

Por um segundo mais veloz, Snow denunciou seu repúdio do filme cruzando em frente as duas. Um longa qualquer — pobre produção e péssimo roteiro —, mentindo sobre os impulsos e caráteres de lobisomens em geral. 

“Quando essa terra decidiu que lobisomens são macho men sem maneiras? Que estúpido”, Snow comentou, enchendo a boca de pipoca, até que só se ouvissem resmungos insatisfeitos de sua garganta.

“Não é? Do que eu conheço das Crianças da Lua, somos um pessoal igualitário. Não existe essa coisa ultrapassada de alfa macho e fêmea serviçal”

Snow engoliu o que conseguiu de sua pipoca, deixando em suas bochechas o bastante para articular sons.

“Eu ousaria dizer que existem mais matriarcas do que patriarcas! Anita era questionável, mas não se pode negar o puro poder e liderança que ela exalava”

Ruby riu. Ela apreciava o humor de Snow, ousando tocar em seus tópicos mais sensíveis, para então auxiliar as dores de Ruby, guiando-a pelo caminho até aceitação. Snow tornava as coisas tão mais fáceis.

“Girl boss”, Ruby debochou, roubando do balde ao seu lado o resto das pipocas de Snow.

“Girl boss!”, Snow riu, indiferente à comida tomada debaixo de seu nariz. “Céus, podemos trocar de filme? Não aguento mais olhar para a cara desse ator. Ele não sabe rosnar convincentemente”

Ruby assentiu, buscando o controle deitado torto sobre a mesa de centro. Os longos braços alcançaram-no com facilidade, enquanto Snow, agora em suas costas, tapeava as próprias pernas em súbita animação. 

“Oh! Oh! Podemos assistir aquele filme que Henry estava recomendando?”

Ruby tornou a cabeça para olhar por cima do ombro. “Qual dos milhares? Henry recomenda um filme novo todo o dia.”

“Oh, aquele...” Snow juntou as pernas próximas a si, cruzando-as sobre o sofá. “Aquele que... Que tem os...,” Ela ordenava a lembrança para a frente de sua mente, mas nada parecia se aproximar.

“De lobisomens?”

“Sim,” Snow soprou dentre lábios mordidos. “Tinha lobisomens e algo mais... Gnomos? Fadas? Deuses, eram duas espécies. E tinha um romance estranho no meio.”

“Van Helsing?”, Ruby tentou, “Aquele com o Wolverine?”

“Não,” Snow meneou a cabeça, deitando-a sobre a palma apoiada ao recosto do sofá. “Eles brilhavam no sol...”

“Os lobisomens brilhavam no sol?” O cenho moreno franziu-se, olhos verdes agora arregalados com a possível ousadia de tal conceito. “Que tipo de loucura é essa?”

“Não!,” Snow arfou, “Os outros brilhavam no sol.”

“Temos certeza de que não são fadas?”

“Talvez,” Snow fechava os olhos, evidência de seu esforço. Ruby sabia que a memória era teimosa: existente em algum lugar, mas fugitiva. 

Vencida por seu esquecimento, Snow tornou a coluna para trás, retorcendo-se para alcançar a bolsa abandonada ao aparador atrás de si. 

“O que está fazendo?” Ruby sorriu, semblante entretido pelas dificuldades da princesa. 

“Vou ligar para a Belle”

O sangue deixou as extremidades já pálidas de Ruby, escalando de seus pés e mãos para inundar seu rosto. O rubor era quente e quase atropelava suas palavras.

“B-Belle?! Para quê? Snow!”

Esta era uma noite de amigas, Ruby gritava no crânio já abafado por seus nervos. Uma noite de amigas, Snow havia prometido. Filmes ruins, pipoca murcha, vinho barato e muitas conversas aleatórias. Esta era a noite planejada. Entre amigas.

Belle...

Oh, Belle complicaria as coisas.

Ela era amiga, claro. Mas não como Snow.

As pernas que Snow agora estendia sobre o colo de Ruby, ou os dedos que muitas vezes se perdiam em sua cintura, ou a cabeça de cabelos curtos que se aninhava na curva de seu pescoço... nada disso jamais aconteceria com Belle. 

Deuses, se acontecesse, Ruby entraria em ebulição. Se a simples menção de seu nome reduzia Ruby a confusão de sua timidez, sua presença, então, a renderia inútil.

“Calma, ela é um amor de pessoa.”

Ruby mordeu os lábios, murmurando um, “Oh, eu bem sei” em seu fôlego.

Deixando cair os olhos verdes para as juntas brancas de seus dedos inquietos, Ruby não ousou mais nenhuma palavra. Quanto mais falasse, mais trairia sua afeição — e Snow era perigosamente sagaz para os conflitos e confusões de Ruby. Não havia esconderijo.

Ruby ouviu o som das teclas numéricas pressionadas e, enfim, o tom contínuo da chamada telefônica. Para sua audição, o simples volume reduto, abafado contra o ouvido de Snow era o equivalente a uma chamada no viva-voz, em alto e bom som. Em vezes, sentidos lupinos eram um problema. Quisesse Ruby ou não, ela ouviria a seguinte conversa.

“Alô?” O sotaque familiar soltou as borboletas pobremente enjauladas no estômago de Ruby. Deuses, deuses, contenha-se!

“Hey, Belle?”

“Sim?”

“É Snow. Uh, Mary Margaret.”

“Oi, Mary! Do que precisa?”, sempre tão educada e prestativa, Belle French seria o fim de Ruby. Esta maldita afeição, patética e potente, seria seu inglório e vergonhoso fim. 

“Sei que você é a bibliotecária da cidade, então é minha melhor chance para resolver esse problema.” Snow conversava tranquilamente ao seu lado, cega ao rosto avermelhado que Ruby escondia em suas palmas. 

“Oh, um problema? Adoro enigmas. Pode dizer.”

“Henry recomendou um filme, mas não consigo, por mais que tente, lembrar do título. Lembro apenas que era baseado em um livro. Talvez você possa conhecê-lo.” A voz de Snow soava cada vez mais animada, o breve torpor do vinho aparamente desaparecido de suas sílabas. 

“Do que se trata?”

“Lobisomens”, Snow engrandeceu a palavra, alongando seu som como se anunciasse um decreto real.

A pausa no outro lado da ligação apenas despejou gelo nas veias de Ruby. 

Apenas uma pessoa na cidade tinha direta ligação com lobisomens. Ruby não escaparia desapercebida desta conversa.

“Oh”, foi o tom de Belle. “Lobisomens, uh? Tenho lido muito sobre o tema.”

Deuses, deuses, deuses!

“Não diga...” Snow entortou um canto de seus lábios, sua voz não mais totalmente inocente em seu humor. “Certamente, então, poderá me dizer qual filme estamos pensando.”

“Estamos falando de romance?”

Ruby queria desaparecer no vácuo escuro de suas palmas. Infelizmente, sua audição captava o riso surdo e sádico ecoando na base da garganta de Snow.

“Claro.”

“De vampiros que reluzem na luz solar?”

“Vampiros? Oh! Então era isso! Sim! Este é o filme!”, Snow empurrou sua mão contra as costas arqueadas de Ruby, sacudindo seu corpo do precário esconderijo. Os pequenos dedos batiam toques leves sobre Ruby, insistindo por sua completa atenção. Oh, como se Snow não soubesse a verdade: Ruby ouvira cada ruído, cada palavra.

“Está falando de Crepúsculo. E Lua Nova. E Eclipse, e Amanhecer. Uma série jovem-adulto de filmes que tratam da relação romântica de um vampiro e uma humana. A série não foca exclusivamente em lobisomens, mas um dos jovens garotos, o licantropo principal, está em um triângulo amoroso com o par principal. Se procura focar no filme mais relevante da saga, então Lua Nova é para você”

A melodia da voz de Belle carregava Ruby em uma jornada, toda vez que a ouvia. Desta, porém, era jornada turbulenta de espinhos na base de sua coluna e fogo em suas bochechas. 

“Lua Nova, huh?” Snow manteve intacto seu tom envolto, enquanto, ao mesmo tempo, desenhava semblante de provocação adereçado especialmente a Ruby. “Justamente o momento do mês quando lobisomens estão mais fracos. Uma pena”

“Oh, eu entendo,” Belle seguiu a liderança na voz de Snow, engajando completamente com seu interesse. De fato, Belle parecia ter conhecimento do assunto. “Mas, como disse, o foco não é o garoto lobisomem, mas sim o casal de vampiro e humana. A metáfora dos títulos traz o vampiro como a lua e o lobisomem como o sol, curiosamente”.

“Huh,” Snow soou sua dúvida. “Desta forma, começo a questionar a pesquisa desta saga.”

“De fato, não é a melhor série de filmes para acompanhar, se pretende estudar lobisomens.”

Oh. A audição de Ruby captou o breve tremor na voz de Belle, rápido e sutil, estremecendo a palavra estudar. 

Snow pareceu captar o mesmo.

“Então já assistiu aos filmes?”

“Sim. Estou tentando ampliar meu conhecimento sobre lobisomens, e imaginei que uma série mais recente, mirada a um público jovem, fosse ser mais fiel a alguma realidade. Meu erro.”

Ruby queria fazer a crucial pergunta esperando ansiosa em sua língua. Ela queria, tanto quanto temia. Se a fizesse, estaria denunciando irreversivelmente seu interesse, sua atenção, sua presença; fazendo-se exposta e vulnerável a todas as possibilidade, das mais cruéis às mais utópicas. 

Mas então, se não a fizesse, seguiria sem resposta para dúvida tão esmagadora sobre seus ombros.

Eram duas opções terrivelmente desagradáveis, nenhuma das quais Ruby estava pronta para fazer.

Talvez o conflito estivesse evidente em seus olhos verdes arregalados, há muito exposto e vulnerável para os sentidos de Snow, tão atenta ao seu lado.

A pequena princesa apenas assentiu silenciosamente para Ruby, um suave sorriso sábio em seus lábios.

“Deixe-me perguntar: estuda exclusivamente lobisomens?” 

O coração de Ruby acelerou, acelerou e, então, pareceu congelar no suspense da espera. A pausa de Belle foi lenta e torturante.

O fôlego que a precedeu era nervoso. Ao que soava, Belle era, também, nervosa.

“Hum... Não exclusivamente. Mas com especial e prioritário interesse”

Céus. Ruby esta prestes a arruinar-se! 

Ela mirou Snow num rogo mudo. Pergunte! Pergunte, por favor!

Snow entendeu sua súplica. Com um inclinar sutil de sua cabeça, ela fez pergunta simples, como se nada a custasse.

Como se Ruby não estivesse implodindo logo em sua frente. 

“E... por quê?” Snow ousou as preciosas palavras.

Oh, Snow White merecia a coroa de sua realeza, a lenda de seu heroísmo, a reputação de sua salvação.

Tão facilmente ela perguntava o que Ruby dificilmente ousaria.

“Oh...” Belle era tomada desprevenida pela pergunta a cara princesa. Ruby não a culpava. Eram onze horas de uma sexta-feira à noite, em uma chamada inesperada. Até mesmo Belle French, munida de conhecimentos intermináveis e indestrutível bravura, seria testada por tamanha surpresa. “Você sabe...”

Não sei! Não sei! Nunca soube tão pouco em minha vida! Ruby berrava sem som no desesperado vácuo de sua mente. 

“Sei?” Snow tinha abordagem mais tranquila. “O que sei?”

“Eu precisava entender sobre... você sabe...”

Ruby ouviu o riso que Snow continha fechado em seus lábios.

“Refresque minha memória.”

“Mary! Por favor. Falo de Ruby”

“Fala?”

“Claro!” Belle arfou, soprando ruídos na estática da chamada. O som abafado da voz fazia parecer que Belle pressionava com força o telefone ao rosto, escondendo suas palavras de ouvidos intrometidos. Pouco sabia ela que Ruby estava logo ali. “Eu precisava de melhores fontes para entender a única loba que já conheci—”

“E você buscou Crepúsculo?”

“Não é como se Ruby contasse muito de sua natureza para seus amigos. Tento entendê-la com o que posso.”

Ruby era muda. Imóvel, congelada no seu lugar e roubada de pensamentos coerentes. Apenas um fino e contínuo ruído branco preenchendo seu crânio esvaziado.

“Filmes não são a fonte mais confiável. Tome por mim. Sou um tipo de especialista.”

“O que me recomenda? Livros?”

“Tampouco.”

“... então?”

“Por que não... o convívio?”

“Eu e Ruby somos amigas! Saímos o tempo inteiro. Temos um convívio extremamente agradável.” 

“E aí está você, tentando entendê-la através de um filme para adolescentes.”

Belle resmungou notas sem sentido, um reclame teimoso, sem argumentos.

Ruby já começara a repensar a benevolência e heroísmo que atribuíra a Snow. Fosse o vinho, fosse a hora da noite, Snow estava sendo estranhamente insistente. Belle tinha razão em ceder a sua irritação.

“Em minha defesa, a saga é uma das poucas que aproximou-se de comunicar fielmente o fator telepático dos lobos. Ruby havia me mencionado algo sobre e me foi uma surpresa descobrir que algum cineasta distante havia dado um chute certeiro.”

Então Belle lembrou daquela velha conversa. 

Um sorriso despercebido curvou os lábios de Ruby. Ela não imaginaria que uma conversa tão breve e desimportante pudesse ter ficado salva em sua memória — preservada a ponto de tornar-se curiosidade e, então, procura. Belle era tão doce, tão atenciosa, tão carinhosa, tão—

“Agora que você diz, meu interesse aumentou. Gostaria de assistir este filme.”

“É bom entretenimento, se você aprecia história de romances dramáticas.”

“Por favor, eu vivo uma história de romance dramática.”

“Então gostaria dos filmes. Fico feliz em ter ajudado”

Sem saber nomeá-lo, um sentimento de perda alojou-se no peito de Ruby, na implícita despedida de Belle. Em poucos minutos de uma conversa confusa com Snow, Ruby já havia acostumado-se com sua calorosa presença e não estava pronta para vê-la ir.

Maldição, Ruby julgou-se, já tornava-se tristemente apegada a Belle.

Mas haviam sido esclarecedores poucos minutos de estranha conversa, ao menos. 

Ruby tivera grande dúvida solucionada (mesmo que dezenas de outras perguntas houvessem surgido prontamente em seu lugar) e estava segura no conhecimento de que, de uma forma ou outra, Belle tinha interesse em si. Em sua espécie, em sua novidade, em sua intriga. Mesmo se Belle a visse somente como lobisomem e nada mais, Ruby estava contente em ter sua atenção. 

Era o bastante. Era algo com que Ruby poderia viver, satisfeita. Não pediria por muito mais — pois sabia que ousar para além de suas habilidades sempre resultara em tragédia. Ela estava contente com o básico de sua relação. Era... o bastante. 

Para Ruby, ao menos.

Para Snow, não.

“Belle, um momento”

Snow interrompia a sutil tentativa de Belle de desligar. Etiqueta ao telefone, ao que parecia, não era uma das lições da família real.

“Sim?”

“Não consigo encontrar o filme online. Sabe como posso assistí-lo?”

“Oh... Online?”

“Na internet”

“Inter...net?”

“Na internet”

“Belle não entende de internet, Snow! Ela mal entende de celulares!” Ruby sussurrou em voz arranhada, tentando ao máximo suprimir todas as emoções arruinando seus interiores para fazer o mínimo de som possível. “Apenas, desligue! Pare de incomodá-la. Nós podemos piratear a saga, não tem problema—”

“Piratear!?” Snow, tão exasperada quanto Ruby, cobriu o telefone para poder respondê-la, a ríspida inflexão de sua voz comunicando por completo sua ofensa. “Piratear? Você quer dizer, roubar”

Ruby mal conseguiu conter o rosnado. 

“Você era uma fugitiva! Você roubou ovos da Granny. Você roubava do gado de Regina. Mas, piratear é muito para você?”

“Sou uma Rainha, devo liderar por exemplo”

“Snow. Eu vou matar você”

Snow quase gargalhou, olhos claros brilhando com um específico tipo de malícia. A mão que encobria o telefone lentamente aliviou a pressão, forçando Ruby a diminuir sua voz para seguir em esconderijo.

“Pfft, como se conseguisse levantar um dedo” Foi a última coisa que Snow disse, antes de voltar a sua conversa com Belle.

“Snow White.” O tom de Ruby, minúsculo, tentava seu melhor em ser intimidante. Simplesmente, assim, não era nada.

“Diga, Belle,” Snow fingiu um suspiro pensativo, como se as próximas palavras saídas de sua boca não fossem um plano calculado com cautela. “Você, por acaso, então, teria o box de DVD da série?”

“Por sorte, sim. Estava em promoção e, bem, como não entendo a internet, achei melhor meios mais próximos”

“Entendo.”

“Snow.” Ruby tentou mais uma vez. Novamente, em vão.

“O que você acha de trazê-lo para cá? Podemos fazer uma maratona dos filmes, o que acha? Você pode contar de suas descobertas e eu, uma própria especialista, posso fazer meus comentários. Acredito que tiraríamos bom proveito desse... estudo.” 

Ruby quase vibrava com energia contida. Seus dedos firmes, fechados ao redor do encosto do sofá, trincando madeira e arruinando o estofado de Snow. A tal altura, Ruby não importaria com o dano. Antes o sofá fosse destruído, do que sua própria sanidade.

“Ah.” Belle pausou. Um suspiro animado inflou sua voz. “Ah! Fala sério? Eu, oh, eu, de fato, adoraria! Sinto-me tão sozinha na minha exploração e, francamente, a biblioteca é tão solitária sextas à noite. Ah! Eu, sim! Eu adoraria!”

O estofado estourou como um balão, soprando espuma para o alto. 

“Snow.” As tentativas de Ruby reduziam-se a um pedido. Singelo, desesperado, moribundo pedido.

Snow mirou os olhos de Ruby. Snow mirou as unhas enterradas fundas em seu sofá. Snow mirou os pedaços de espuma que flutuavam no ar até o chão. E, enfim, Snow mirou Ruby novamente.

Snow sorriu.

“Então está combinado. Espero você aqui. Sabe onde, não?”

“Sei, sei! Os DVDs e... O que devo levar?”

O sorriso de Snow alargou-se, seus olhos de heroísmo maléfico jamais quebrando contato com Ruby, submissa e desarmada em seu foco. 

“Somente sua presença será o suficiente.”

“Estarei aí em 10 minutos!”

Snow deitou sua mão sobre os dedos trêmulos de Ruby, o golpe final de seu ataque.

“Mal podemos esperar”

A chamada se encerrou com um click. O gongo ensurdecedor anunciando a derrota de Ruby. 

A cabeça despencou de sua força e os dedos perderam a rigidez, amolecendo abaixo da palma da princesa.

“Snow?” Foi o sopro desfalecido de Ruby.

“Sim?” A outra era um raio de energia, vibrando com o êxtase de sua vitória. 

“Você fez de propósito, não?” 

Mais um sorriso diabólico no rosto heroico. “É claro.”


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Notas finais do capítulo

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