Academia de Poderes Inúteis escrita por Creeper


Capítulo 30
O dia de gripe do Norte


Notas iniciais do capítulo

Postando cedo essa semana! Espero que gostem ♥!



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O segundo dia no acampamento passou mais rápido do que o primeiro. Sem sinal de chuva, Alberto voltou para dar uma olhada no local (lê-se alunos), ora ou outra se fingindo de bom velhinho e pedindo por uma demonstração de nossos poderes, apesar de estar sempre sendo seguido por alguém da equipe do R.C.E.

Procurei ficar de olho em Milena para que o velho não a incomodasse, mas havia momentos em que a garota simplesmente desaparecia da vista de todos e voltava dizendo que estava tirando fotos da natureza com sua câmera polaroid. Eu não entendia aquele comportamento antissocial, não havíamos brigado durante nosso tempo de dupla, não é?

O sol se pôs e nos acomodamos nos ônibus junto a nossas mochilas, novas queimaduras e picadas de mosquito, prontos para deixarmos a floresta. Alberto despediu-se educadamente de Heitor, dizendo que seríamos sempre bem-vindos ali e que poderíamos voltar mais vezes. 

Quando o veículo deu a partida e afastou-se minimamente da entrada do acampamento, o diretor disse aos alunos que não voltaríamos e deixou seu corpo cair em um dos bancos da frente, dormindo pesadamente pelo resto da viagem. 

 

>>> 

 

Quando acordei na manhã seguinte, não tive vontade de sair da cama. Ou melhor, não conseguia. Todos os meus membros doíam, minha garganta estava seca e o nariz entupido. Fiquei encarando o teto por cinco minutos, decidindo o que fazer.

Eu não havia faltado a nenhuma aula desde minha matrícula, então aquele seria o momento. Puxei meu cobertor até a cabeça e me encolhi de modo que os joelhos tocassem a barriga. Por mais abafado que estivesse ali dentro, eu sentia calafrios percorrendo o meu corpo.

Acabei fechando os olhos novamente e dormindo um pouco até o despertador de Kaíque tocar vinte minutos depois. Acordei em um sobressalto e ouvi seus murmúrios e o barulho que seu jeito estabanado produzia ao vasculhar o quarto à procura de seu uniforme.

— Você não vai levantar? – ele perguntou cansado.

— Não, tô doente. – minha voz saiu anasalada. 

Estendi a mão para fora do calor do cobertor e tateei a cabeceira em busca do meu celular, agarrando-o para mandar uma mensagem no grupo da União Rebelde, avisando que iria faltar. 

Aconcheguei minha cabeça no travesseiro e resolvi voltar a dormir. Nesse tempo, tive um sonho esquisito, envolvendo a mim e Milena em um lugar desconhecido que parecia vazio ao mesmo tempo que muito bagunçado. A garota tentava me dizer algo, todavia, um chiado ensurdecedor me impedia de ouvi-la e seus olhos foram cobertos por uma tarja preta.

Despertei assustado e com a respiração ofegante às 09:18 de acordo com o relógio em minha cabeceira. Toquei minha testa, sentindo a palma da minha mão queimar. Aquele sonho devia ser fruto da minha febre.

Funguei e tomei coragem para jogar os pés no chão e ir ao banheiro. Estava completamente grudento de suor, precisava de um banho. Já no corredor, coloquei uma mão na parede para apoiar-me e segui vagarosamente, soltando uma tosse ou outra.

Tomei uma ducha fria, escovei os dentes e assoei o nariz, dando início às ideias ruins do dia. Minhas narinas coçaram e um espirro surgiu automaticamente, queimando parte do papel toalha que eu segurava. Depois desse, veio outro. E outro. Foram pelo menos seis espirros até que eu conseguisse voltar para o meu quarto carregando uma tonelada de papel higiênico enrolado na mão e um estoque de papel toalha dentro dos bolsos. 

As chamas haviam ficado maiores e mais vibrantes. Não sentia dor nenhuma ao espirrar, mas doía se o fogo tocasse minhas mãos.

— Por quê? – sussurrei para mim mesmo ao ver a pilha de papel queimado dentro do cesto de lixo que eu arrastei para o lado de minha cama.

Meus olhos lacrimejaram, minha boca se abriu e outro espirro veio. Já era o décimo terceiro. Esperava que nosso quarto ficasse inteiro até o final do dia. 

Deixei minha cama e procurei pelo meu antialérgico na cômoda, paralisando ao me dar conta de que o frasco estava vazio. Engoli em seco e empalideci ao pensar que precisaria descer para a enfermaria.

Tudo bem, eu conseguia fazer aquilo, não é?

Respirei fundo, coloquei o celular no bolso e pressionei um papel toalha no nariz, preparado para descer as escadarias e chegar aonde queria. Seria fácil. 

Minhas pernas fraquejaram ao descer o primeiro lance de escadas, possivelmente pela falta do café da manhã. Reclamei mentalmente por ser tão fraco em relação a uma gripe. Stefanie sempre pegava alguma gripe (por nunca carregar guarda-chuva ou beber água gelada no inverno) e mesmo assim passava o dia como se nada estivesse errado.

Transformando aquilo em algo pessoal, respirei fundo e ergui a cabeça, conseguindo chegar à enfermaria. A enfermeira de cabelos cacheados presos em um rabo-de-cavalo arregalou os olhos assim que me viu sem uniforme e segurando um papel toalha contra o rosto, além de que ela já sabia o que esperar de mim.

— Como se sente? –  Jéssica perguntou após me mandar sentar na maca. 

Dentro da sala branca, bem iluminada e com cheiro de álcool em gel, expliquei meus sintomas e o porquê daquilo. Ela checou minha temperatura, mexeu em uma das diversas prateleiras de frascos e caixas de comprimidos e me deu um remédio que eu deveria tomar novamente dali a 8 horas.

— Você disse que seus espirros estão mais fortes, é isso? – ela conferiu suas anotações. – Acha que é por causa da gripe?

— Não. Já estava assim antes. – balancei as pernas, lembrando-me de quando chamusquei o cabelo de Yara.

— Oh, sim. Então não se preocupe, você não é o primeiro com o poder “aumentado”. Talvez isso se dê ao crescimento. –  Jéssica escreveu algo em sua caderneta e empurrou os óculos para o topo da cabeça. – Minha recomendação é que evite sair do seu quarto, já que seu poder tende a ser perigoso. – moveu-se na cadeira giratória, assentindo.

Balancei a cabeça em afirmação, agradeci e saí de lá com meu remédio para gripe e um novo antialérgico. A palavra “perigoso” ecoou por minha mente, deixando-me receoso.

Antes que eu pudesse voltar para meu quarto, meus devaneios foram interrompidos pela imagem de uma senhora afobada. Ela ajeitou os óculos redondos e levantou as sobrancelhas finas quando passei ao seu lado.

— Ei, jovenzinho, pode me ajudar? – perguntou docemente. Aquela era a professora Rita de Língua Portuguesa, gostava de usar vestidos floridos e tinha cheiro de pão recém-assado.

Pensei em explicar que deveria ir para o meu quarto, mas ela era uma senhora legal demais para ter um pedido de ajuda ignorado. Aproximei-me e fiz um sinal para que ela prosseguisse.

— Vamos encenar um tribunal na aula, então preciso de mais carteiras. Como não queria tirar de outra sala, me deixaram pegar as do almoxarifado. – ela explicou colocando uma mão no rosto. – Já tem dois alunos me ajudando, porém, eles estão demorando muito. – comentou preocupada.

— Tudo bem. – afirmei e dei um sorriso fraco. – Eu vou lá buscar e avisar a eles que é para voltarem. 

Eu não descia até o almoxarifado desde que aquele lugar deixou de ser o esconderijo. Na verdade, imaginei que ninguém descesse lá e que aquelas carteiras plastificadas e caixas iriam apodrecer.

Desci o último degrau e segui pelo corredor, escutando vozes animadas no final dele. E lá estavam os tais dois alunos, usando as cadeiras como se fossem escudos e fazendo menção de se acertarem enquanto imaginavam que estavam em alguma batalha.

— É sério isso? – parei ao lado da porta do que costumava ser nosso esconderijo. Estava fechada e sem nenhum sinal de uso.

— Norte! – Eduardo e Ienaga gritaram surpresos e largaram as cadeiras imediatamente.

— A professora está esperando vocês, sabiam? – cruzei os braços e arqueei uma sobrancelha.

— Droga, nos esquecemos completamente da Rita. – Eduardo mordeu o lábio inferior.

— É que esse lugar nos traz tanta nostalgia! –  Ienaga respirou fundo e cruzou os braços. – E você? Achei que estivesse doente. – encarou-me curiosa.

— E estou. –  funguei profundamente.

Péssima ação. Graças a poeira espalhada no ar pelas carteiras terem sido remexidas, uma queimação espalhou-se pelo interior de minhas narinas e meu rosto foi para baixo, lançando um espirro.

Calor. 

Quente. Quente. Quente.

Arregalei os olhos ao perceber que a gola de minha camiseta estava pegando fogo. Não foi apenas chamuscada como das outras vezes, estava realmente pegando fogo! Minha reação instantânea foi bater as mãos no tecido, mas tive de afastá-las imediatamente por causa do calor.

Eduardo e Ienaga cerraram os dentes, completamente pasmos. O garoto foi mais rápido ao puxar uma apostila jogada no chão e abaná-la em minha direção. Contudo, o vento apenas fez a chama alaranjada aumentar. Automaticamente, recuei alguns passos, mantendo uma distância segura de Eduardo.

— Já sei! –  Ienaga gritou e passou correndo por mim.

Diferente da pele de minha mão, a pele do meu pescoço não queimava ou latejava com o calor. Parecia acostumar-se a ele. 

Próxima a escada, havia uma daquelas grandes caixas vermelhas que se sobressaiam e guardavam uma mangueira de incêndio: um hidrante de parede. Ienaga tentou abri-lo, colocando todo seu esforço naquilo.

Passos ecoaram pelos degraus, provavelmente atraídos por nossa agitação. Quem quer que fosse, eu torcia para que ajudasse mais do que aqueles dois. 

— Ei, o que está acontecendo?! – a figura indagou incrédula. 

Ela arregalou os olhos ao entender a situação e pulou os degraus restantes, indo ao meu encontro feito um raio. Eu não vi o que me acertou, apenas sei que era molhado, escuro, tinha um cheiro forte e vinha de um copo de plástico. Ah, e apagou o fogo.

Encarei por longos segundos minha camiseta queimada e molhada, registrando o que havia acontecido. Toquei meu pescoço, conferindo seu estado e percebendo que estava tudo bem com ele, diferente de meus dedos avermelhados e doloridos.

— O que você jogou em mim? –  questionei pausadamente, incomodado com a cor e o cheiro.

— A água dos meus pincéis. –  Amanda agitou o copo. Ela carregava um estojo na outra mão. – Vim procurar vocês, já que estavam demorando.

— É verdade, você estava pintando uma faixa para o tribunal. – Eduardo segurou seu queixo e a apostila que segurava desapareceu. – Certo, Norte, o que foi isso? 

— Eu não faço ideia. – neguei com a cabeça, hesitante. – Meus espirros estão mais… Intensos. – mordi o lábio inferior.

— Igual o meu desaparecimento. – o vice-líder franziu o cenho e fitou sua mão vazia por um instante. – Laura, o que você acha? –  olhou para a amiga que estava a um bom tempo concentrada no hidrante de parede.

— Eu acho que precisamos de uma reunião depois da aula. Exatamente aqui. – afirmou determinada e correu escada acima.

— Espera aí, ainda precisamos levar as carteiras! – Eduardo berrou.

 

>>> 

 

No final do dia, resolvi que era hora de sair da cama onde passei o dia inteiro deitado lendo mangás e dormindo. O remédio fez efeito e eu já me sentia bem melhor. 

Assim que troquei de roupa e deixei o quarto para ir a reunião da União Rebelde, dei de cara com dois rostos conhecidos, cujo uma de suas donas mantinha a mão fechada e levantada como se fosse bater na porta.

— Você está acordado. – Yara arregalou os olhos e recolheu a mão.

— Yara falou para virmos te ver antes da reunião! – Érica contou empolgada. – Você está bem? Podemos pedir uma Fanta Maracujá para o Thiago, isso sempre resolve minhas gripes.

Contei como estava me sentindo e neguei a Fanta Maracujá, me prendendo unicamente na primeira frase de Érica. Fui pego de surpresa quando a mão de Yara espalmou minha testa e ela me olhou seriamente. Sequer pisquei, apenas ficando paralisado.

— É, está sem febre. – ela afirmou com a cabeça.

— Em compensação, está completamente vermelho. – Érica segurou seu queixo, analisando-me.

Engoli em seco e bati as mãos nas bochechas, tentando esconder o rubor que se espalhou por elas. É claro que eu estaria vermelho com aquela abordagem!

— Então, vamos para a reunião? – desconversei em um pigarro, fechei a porta do quarto e as ultrapassei, seguindo sozinho pelo corredor.

Meu coração começou a palpitar rapidamente. Qual é, ela só estava conferindo se eu estava com febre, então por que meu corpo reagiu daquele jeito? 

A resposta era tão óbvia que doía.

Chegamos ao almoxarifado onde todo o grupo já estava reunido em frente a caixa vermelha, nos aguardando. Assim que nos unimos ao semicírculo, Ienaga fez uma gesticulação dramática e uma reverência exagerada, exclamando:

— Meus caros, eis aqui o nosso novo esconderijo!

— Um hidrante de parede? – Victor arqueou uma sobrancelha e deu um sorriso sarcástico.

— O nome disso não é caixa de abrigo? – Yara ponderou.

— Acho que é caixa de incêndio. – Milena assentiu.

— O nome não importa! – a líder bufou impaciente. – O que importa é que é falso! – gargalhou convicta.

Ela aproximou-se da caixa e com o punho cerrado bateu no que deveria ser o vidro de proteção da mangueira, entretanto, fez-se um som de metal. Vendo que aquilo não seria o suficiente para nos convencer, a líder levou a mão até uma das pontas do vidro e raspou-a com a unha, retirando uma espécie de película.

Não, não era uma película. Era um adesivo extremamente realista de um vidro guardando uma mangueira de incêndio. Boquiabertos, não conseguimos produzir uma palavra sequer, somente sons desconexos de incredulidade.

— Percebi na hora que o Norte espirrou fogo na própria roupa. – Ienaga gabou-se. – E eu sempre estranhei o fato desse hidrante ser bem maior do que os outros.

— E como isso se torna um esconderijo? – Yara perguntou.

A líder deu um longo pigarro de orgulho, tateou um dos lados do hidrante, dobrando seus dedos ali e puxando como se fosse uma porta. A parte vermelha moveu-se para frente, revelando um enorme buraco na parede. Não conseguíamos ver o fim daquilo por estar escuro.

— Ai, meu Deus! – Érica deu um gritinho histérico, não sabia se estava feliz ou assustada.

— E aí, quem vem com a gente? – Eduardo ligou a lanterna de seu celular e saltou para dentro do buraco.

Milena foi a primeira a segui-lo, em seguida os gêmeos, por fim eu e as meninas. Ienaga foi a última para que pudesse fechar a porta, tornando o lugar abafado. Enquanto atravessamos o misterioso corredor em fila, sendo guiados pela luz de Eduardo, uma euforia cresceu em meu peito, afinal, estávamos em uma passagem secreta e isso era incrível.

Paramos ao chegarmos em uma porta de madeira, Eduardo pressionou a maçaneta e empurrou com o ombro, já que parecia estar emperrada. Ele entrou primeiro e em um “click” a luz amarelada da sala preencheu parte do corredor.

Adentramos um a um o ambiente repleto de caixas de papelão abertas de onde transbordavam papéis e capas protetoras de roupas. Teias de aranhas se formavam nos cantos das paredes e um som entrecortado ecoava da saída de ar.

A lâmpada acima de nossas cabeças piscou por um instante, fazendo com que todos olhassem para cima e então de volta para baixo, terminando de avaliar o local. 

— Legal, né? – Ienaga colocou as mãos na cintura.

— Bom… O que garante que esse lugar não seja usado pelo R.C.E.? – Amanda tocou uma das paredes, intrigada.

— Se for assim, eles não são fãs de limpeza. – Victor arrastou o pé no chão, movendo uma camada grossa de sujeira.

— Por que o R.C.E. precisaria de um esconderijo? – Yara ponderou.

— Talvez seja só um quartinho de bagunça? – Érica deu de ombros.

— Escondido atrás de um hidrante de parede falso? – Eduardo cruzou os braços.

— Talvez eles não queiram que ninguém descubra que são bagunceiros. – Milena riu baixinho e tateou as caixas.

Curioso, peguei uma das capas protetoras de roupa que escapava de uma das caixas. Arregalei os olhos ao reconhecer o nome da loja impresso em dourado e acompanhado do logotipo de uma linha passando pela agulha.

— Cortecos. – sussurrei. – É onde minha mãe trabalha. – abri o zíper da capa, revelando um terno de cor grafite que cheirava a naftalina.

— Uau, que chique. – Érica observou a roupa.

— É, o R.C.E. usa uniforme em ocasiões especiais. – passei os dedos pela sigla bordada em prateado no lado direito do paletó. – Que ocasiões são essas, eu não sei.

— Então, vamos ficar ou não? – Ienaga apoiou-se em uma das pilhas de caixas.

— Se nos descobrirem, levamos uma advertência e pedimos desculpas. – Eduardo levantou as mãos em um gesto inocente.

Ele falava tão naturalmente que eu praticamente me deixei levar. O que era uma advertência por entrar onde não devia? Era melhor do que ter de ir ao quarto de Ienaga.

Após um pequeno debate sobre os prós e os contras, concordamos em transformar aquele lugar em nosso novo esconderijo, prometendo ter o dobro de cuidado e sigilo. 

Nos sentamos no chão empoeirado para conversarmos e eu torci para o antialérgico estar trabalhando naquele momento. 

— Eu queria perguntar sobre os poderes de vocês. – Ienaga cruzou as pernas em estilo borboleta. – Acha que aumentaram do ano passado para esse?

— Definitivamente. – eu e Eduardo respondemos simultaneamente.

— Minha onda depende dos meus sentimentos, até agora não tive nenhum grande caso. – Érica olhou para cima.

— Na verdade, hoje você ficou frustrada por não conseguir abrir a latinha de refrigerante e… Ela acabou explodindo. –  Yara lembrou. 

— Ah, é verdade, teve isso. – a garota ruborizou.

— Eu tenho conseguido mudar as cores de coisas maiores, tipo a cômoda do nosso quarto. – a dos coques contou.

— Meu poder depende da Amanda, nada novo. – Victor bufou.

— A lava parece cada vez mais real para mim. – Amanda abaixou a cabeça.

— Foi o que eu pensei. – a líder suspirou pesadamente. – Minhas queimaduras de sol estão demorando mais para sumir. – fez um biquinho.

Um silêncio pairou em nossa rodinha e inconscientemente todos os olhares caíram sobre Milena, deixando a garota pálida de apreensão.

— Não tive mudanças. – ela balbuciou colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Quando você manifestou seu poder? – Eduardo questionou em um tom suave.

— Depois do meu aniversário de doze anos em setembro. – Milena encolheu os ombros. 

Ienaga e Eduardo fizeram sua costumeira troca de olhares. A líder respirou fundo e adquiriu um semblante sério.

— Conhece o hospital em que você nasceu? – indagou.

— Não nasci em um hospital. – ela agitou a cabeça negativamente. – Minha mãe entrou em trabalho de parto no sítio dos meus avós e não dava tempo de chegar ao hospital. Chamaram uma parteira.

Eu não precisava olhar para os outros para saber que haviam perdido a cor assim como eu.

— Isso é mau. Muito mau. – Ienaga deu uma risada forçada, colocou o cotovelo no joelho e apoiou o peso da testa na mão. – Argh, não consigo pensar! – levou as duas mãos à cabeça e a inclinou para trás.

— Ao invés de ficar quebrando a cabeça procurando a origem dos poderes ou pistas que nos levem a pseudomorta, devemos pensar em como tirar isso de nós. – Victor ditou.

— No caso, a pseudomorta teria a resposta. – argumentei.

— No caso, se não for pseudo, vamos ter que nos virar, não é? – o gêmeo rangeu os dentes. 

— E-Eu posso ajudar em alguma coisa? – Milena ofereceu timidamente.

— Por enquanto não. – Eduardo afagou seus cabelos gentilmente. 

Milena torceu a boca e seus olhos brilharam marejados, emburrada feito uma criança (bem, ela era uma). Ienaga encerrou o assunto sobre nascimentos e poderes ali, jogando o baralho de UNO no meio de nossa rodinha e desafiando-nos para uma partida.

Na décima rodada, quando os nervos já estavam à flor da pele e Ienaga e Victor já estavam quase saindo na mão, resolvemos guardar o baralho e deixar o esconderijo silenciosamente, tendo todo o cuidado de apagar a luz e fechar as duas portas. 

Ienaga passou o pulso pelo adesivo de vidro, fixando-a na base vermelha para que ninguém mais descobrisse que aquilo era falso. Em meio a sua tarefa, seu celular e o de Eduardo apitaram.

Os dois sacaram seus aparelhos e pela expressão em seus rostos, era uma mensagem do Informante. Nos sentamos no último degrau da escada e nos juntamos ao redor do líder e da vice, colando nossos rostos para conseguirmos ler melhor.

 

xxxx-xxxx: Para esquentar o jogo, resolvi dar pontos pelas quantidades de membros em cada grupo. Um ponto por membro (com exceção

da Milena que já havia sido contabilizada). [18:04]

xxxx-xxxx: Deslocados: +42. Total: 52 (pontos pela caça à bandeira e membros).

Nova Era: +30. Total: 30 (pontos por membros).

União Rebelde: +7. Total: 22 (pontos pela aluna nova e membros).

Super Gatinhas: +18. Total: 18 (pontos por membros).

—Informante. [18:06]

 

— O quê?! – Ienaga berrou pasma. – Fomos de primeiro para penúltimo lugar em um piscar de olhos! Isso é muito injusto! – apertou seu celular.

— Acho que deveríamos nos preocupar com os gritos que estão vindo lá de cima, não acham? – Yara apontou para a escada. Realmente, vozes abafadas e agitadas chegavam até o almoxarifado.

— Ela tem razão. – Érica havia pegado seu próprio celular e aberto um storie do Babados da API.

— Como eu disse, fofoc… Notícias em tempo real! — a voz de Bianca saiu do aparelho. — Vocês podem ver isso no feed depois, mas vou contar por aqui primeiro. Temos atualizações no jogo do Informante e… 

Os dois primeiros stories foram para contar sobre as pontuações e os três últimos mostravam o mais puro caos no refeitório, provavelmente de onde vinham os gritos que estávamos ouvindo, cheio de alunos raivosos discutindo uns com os outros e gesticulando afobadamente. 

— Os alunos ficaram irritados porque esses novos pontos deram vantagem a certos grupos.— Bianca fez um biquinho. Estava vestida como uma colegial japonesa. — E agora estão tentando conseguir mais membros para seus próprios grupos, que loucura! Aliás, se você é uma garota de estilo, venha para o Super Gatinhas!


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Notas finais do capítulo

E agora?
Até o próximo capítulo!
Beijos.
—Creeper.



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