Academia de Poderes Inúteis escrita por Creeper


Capítulo 2
Quatro grupos "lideram" a API


Notas iniciais do capítulo

Yo! Lhes desejo uma ótima leitura!



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O escritório do R.C.E. ficava no centro comercial em um mediano prédio branco com janelas escuras, além da fachada chamativa onde as letras garrafais azuis expunham o nome da corporação.  Corria um boato de que todo mês eles precisavam pagar um pintor para encobrir as pichações nas paredes e o mais irônico é que os Resolvedores de Casos Específicos nunca conseguiram descobrir os culpados, mas a vizinhança toda sim. 

Minha mãe se encarregou de abrir uma das portas de vidro fumê, deixando o ar frio escapar e envolver nossos rostos suados por causa do calor que fazia do lado de fora. Esperei que a mulher conversasse com a secretária e indicasse um caminho pelo infinito corredor de portas. Pelas frestas, pude ver funcionários desmaiados em suas mesas ou jogando nos computadores.

— Senhora… S-Senhorita...!  

Um rapaz no final do corredor veio apressadamente ao nosso encontro parando a poucos centímetros de nós enquanto sorria desajeitadamente e tentava arrumar as madeixas rebeldes de seu cabelo ruivo escuro.

— Senhorita está bom. – mamãe ajeitou a bolsa no ombro, rindo. – Meu nome é  Juliana Barbosa, prazer.

 – Queiras me perdoar, senhorita Barbosa. – ele arregalou os olhos castanhos. – M-Me deixes começar novamente… Boa tarde, hoje é o meu dia de realizar as matrículas, espero que não se importe. – encolheu os ombros.

O analisei de cima a baixo e pude reparar no crachá preso em sua camisa estampada por abacaxis: “Miguel Ferreira – Estagiário”. Seu sotaque português era forte e ele parecia não saber onde deixar as mãos.

Fomos levados a uma sala nomeada por uma folha de papel como “MATRÍCULAS AQUI” e nos sentamos frente a frente com Miguel, tendo apenas uma mesa cinza como separação. O estagiário fez várias perguntas para minha mãe durante o tempo em que eu revirava os olhos de tédio e me concentrava em quantas vezes o bebedouro de galão ao lado da porta fazia “glub”.

— Me deixes adicionar uma coisa… Os alunos terão a liberdade de escolherem sua grade curricular. Desde que cumpram a carga horária de uma escola comum e consigam notas azuis, estarão aprovados. – Miguel mexeu em alguns papéis, reconheci um deles como minha ficha médica.

O rapaz puxou uma folha do amontoado em que mexia e estendeu-a para minha mãe junto de uma caneta, explicando sobre o sistema de internato que a academia seguia e o termo de consentimento a ser assinado.

Nas poucas vezes em que realmente prestei atenção na conversa, reparei que o estagiário interrompia afobadamente suas próprias frases ao trocar termos entre português nativo e português brasileiro. Além de gaguejar ora ou outra.

— A-As aulas terão início apenas em treze de agosto, mas haverá uma semana de adaptação não obrigatória começando a partir do dia seis. – ele explicou.

Lancei um olhar de soslaio para minha mãe deixando claro de que eu não participaria daquilo. Ela cutucou minha cintura em um gesto rápido e estendeu a mão para o rapaz.

— Muito obrigada, senhor Ferreira.

— S-Senhor? – Miguel massageou a nuca, constrangido. – Não passo de um estagiário… E talvez um pouco novo para ser chamado de senhor. – apertou a mão dela.

Estávamos prestes a deixar a sala quando Miguel nos chamou uma última vez:

— Fareis parte do comitê de boas-vindas, nos veremos lá, Norte!

>>> 

Passei o último mês aproveitando ao máximo meus momentos na escola e em casa. Na verdade, os meus dias finais na escola me fizeram pensar minimamente que era melhor eu ir para a academia. A maioria dos meus colegas me olhava diferente e zombavam dizendo coisas do tipo: “como você é esquisito” ou “isso foi muita sorte ou muito azar?” e o resto me tratava feito atração de circo, querendo que eu espirrasse toda hora. A vida deixou de ser comum.

Em 11 de agosto, eu e Stefanie brigamos pela última bala do pacote de Halls dentro do carro a caminho para a Academia de Progresso Ideal que ficava a uma hora da nossa casa. Depois de percorrer uma estrada ladeada por grama e uma árvore solitária ou outra, o veículo foi finalmente estacionado.

— Querido, tem certeza de que trouxe tudo o que precisa? – mamãe me olhou apreensiva pelo retrovisor.

— Diga isso para o porta-malas lotado. – Stefanie cruzou os braços atrás da cabeça. – Finalmente vou ter algum espaço extra naquele quarto! – gabou-se.

— Eu não estou saindo de casa para sempre, sabia? – franzi as sobrancelhas e dei um sorriso sarcástico.

— Me deixe sonhar um pouco, loiro oxigenado. – ela bagunçou meus cabelos.

Mamãe deixou o carro na calçada oposta a do gigantesco prédio azul rodeado por altíssimos muros brancos que eu não daria um mês até estarem pichados. De qualquer forma, o R.C.E. realmente fez milagre em construir tudo aquilo em um curto período de tempo.

Stefanie e mamãe ajudaram-me a carregar as malas, já que minhas mãos estavam ocupadas por uma caixa de papelão cheia de coisas importantes e com coisas importantes eu queria dizer minha coleção de mangás.

— Mãe, por que o Norte tem uma cabeça tão grande? – Stefanie arrastou a voz.

— Mãe, por que eu tenho esse animal como irmã ao invés de uma pessoa normal? – cometi o erro de olhar para trás e encarar aquela anta de cabelo azul claro.

— NORTE, CUIDADO! – mamãe berrou repentinamente.

Assim que registrei sua fala, alguma coisa chocou-se em mim e meu corpo cambaleou para trás ao mesmo tempo que o barulho característico de algo partindo-se ecoou por toda a rua, porém, a única coisa que enxerguei foi um copo de caldo de cana virado dentro de minha caixa.

Incrédulo, procurei pela fonte do desastre, encontrando uma garota igualmente pasma que encarava uma poeira cinzenta rodeada por cacos brancos de porcelana na calçada.

— Olha o que você fez! – fui o primeiro a exclamar, agarrando o copo de plástico e afastando-o dos meus mangás.

— O que eu fiz?! Foi você quem trombou em mim! – a garota revidou raivosa. – Agora o jarro está em pedaços, droga! – ajoelhou-se em frente aos cacos.

— É apenas um jarro, e quanto a minha coleção de mangás? – fitei o líquido esverdeado que se espalhava pelas folhas e capas, sentindo o desespero e estresse crescerem dentro de mim.

— Que se dane a sua coleção de mangás, esse jarro guardava as cinzas da minha avó! – seus olhos escuros me fuzilaram. 

— E por que você trouxe as cinzas da sua avó para a academia?! – questionei indignado. 

Antes que a garota pudesse responder, mamãe agachou-se para ajudá-la, colocando os cacos no lenço que sempre carregava. Stefanie desferiu um tapa em minha nuca, sussurrando um “cabeção”.

Tomado pela boa vontade de minha mãe, engoli todo o meu orgulho e juntei-me à tarefa de recolher os pedaços do jarro. A garota de coques laterais e franja mantinha o olhar fixo em mim de uma maneira que fazia minha testa queimar, então fiz o favor de retribuir, criando faíscas de tensão no ar.

— Vejo que chegaram! – uma voz levemente conhecida anunciou.

Ergui a cabeça, deparando-me com a mesma camisa brega de abacaxis e cabelos ruivos bagunçados de Miguel. Seus braços abertos e sorriso largo desapareceram ao notar a situação.

— P-Passasse alguma coisa? – ele indagou tímido.

— Nada. – eu e a desconhecida falamos em uníssono. Nos encaramos imediatamente, rosnando um para o outro.

— Oh, percebo que tu e a Yara já se conheceram! – Miguel bateu uma mão na outra. – Sendo assim, me acompanham, por favor?

Adentramos o campus da academia, Stefanie caminhou pela grama clara, fazendo mamãe sussurrar ameaçadoramente para que ela andasse no percurso de pedras como todos. Diversos alunos passavam por ali, alguns visivelmente mais empolgados que outros. Gritos, explosões e música estouravam nossos ouvidos, possivelmente a origem estava do lado de trás do prédio.

— Estamos animados hoje, não? – Miguel riu constrangido.

O que exatamente “animados” significava para ele?

O ruivo quis ser cavaleiro e puxar a porta do hall de entrada para nós, o que ele não percebeu é que a placa dizia “empurre”. Belo comitê de boas-vindas, R.C.E.

— Nós não deveríamos... – Yara olhou para mamãe e Stefanie.

— Shh, só mais um pouco. – Stef esboçou um sorriso satisfatório.

Depois que afobadamente Miguel percebeu seu erro, todas as minhas malas foram amontoadas no chão do hall (junto a algumas outras que eu julguei ser de Yara), marcando a hora da nossa despedida. Mamãe abraçou-me fortemente e eu pude ter certeza de que ela choraria mais tarde, talvez na frente de Stefanie, mas não na minha. Senti a ausência de seu perfume, pois ela havia parado de usá-lo desde que descobriu que era um dos fatores que me faziam espirrar.

— Prometa que vai se comportar. – ela segurou meu rosto entre suas mãos, acariciando-o com os polegares e olhando no fundo de meus olhos.

— Eu prometo. – sorri sem jeito. – Prometa que cuidará de Nata, Cacau, Cleópatra, Floquinho, Bergamota e Siri. – pedi dolorosamente. 

A pior parte daquilo tudo era deixar meus animaizinhos em casa. Suspirei pesadamente, evitando ficar emotivo demais. Sabia que mamãe e Stef cuidariam bem deles por mim.

A mulher deu uma risada abafada e me envolveu em seus braços novamente, dessa vez por menos tempo.

— Até mais, fedido. – Stefanie estendeu-me o punho fechado. O toquei igualmente como fazíamos desde a infância.

Vê-las ir embora quase me fez chorar, todavia, respirei fundo e foquei-me no novo cenário. Miguel virou-se para o balcão da recepção e entregou os uniformes para mim e Yara, junto às chaves de nossos dormitórios.

— Ouçam, muita coisa aconteceu nessa semana de adaptação. – o estagiário juntou as mãos, ansioso.

— Tipo? – arqueei uma sobrancelha.

— “Tipo” alunos dividindo-se em quatro grupos para ver quem irá “liderar” a academia. Essa última parte não ficou muito clara para mim. – Miguel semicerrou os olhos e encolheu-se.

Eu não deveria ter saído da cama naquele dia.

— Em uma semana? – Yara questionou descrente. – Mas o R.C.E. não deveria organizar e “liderar” eles próprios? 

— Surpreendente, não? – o rapaz cerrou os dentes. Tinha a aparência de quem não dormia há dias. – A direção do R.C.E. achou melhor não interferir, alegando que fazia parte da adaptação. Desse modo, vamos fazer o que o chefe manda. – ele inflou as bochechas coradas.

Miguel debruçou-se sobre o balcão mais uma vez, dando uma pasta de papel pardo e uma pequena ficha presa por um clip na capa para cada um.

— Essa pasta contém a grade de horários e matérias para decidirem de quais participarão. E essa ficha deve ser assinada pelos líderes desses quatro grupos.

— E onde eles estão? – olhei ao redor, captando alguns alunos vagando por ali.

— É aqui que começa o tour pela academia. Encontrem-os enquanto conhecem o campus. – Miguel inclinou a cabeça na tentativa de parecer adorável. Português desgraçado.

— Fala sério. – eu e Yara pronunciamos ao mesmo tempo e voltamos a rosnar um para o outro.

— Boa sorte. – o rapaz sorriu e acenou para dois homens fortes que tomavam café em um canto. – Pedirei a eles para que levem suas malas para os dormitórios. Vão se divertir.

Divertir, é? Certo.

Puxei meu celular para conferir a hora e notei que deixei o Instagram aberto, devo ter clicado em algum lugar errado, pois fui direcionado a live de uma garota de cabelos rosas.

Good morning, meus queridos seguidores! Estou aqui para mostrar mais da minha rotina na “Ei Pi Ai” que para quem não sabe é a Academia de Progresso Ideal! — ela sorriu convencida para a câmera.

O que me chamou a atenção não foi o jeito ridículo de pronunciar API, mas sim que no fundo da live era possível enxergar a mim e a Yara. Foi então que percebi que o volume estava alto ao ponto de chamar a atenção da garota de coques para o meu aparelho. Sem dizer nada, ela virou a cabeça na direção da figura de cabelos rosas em um canto do hall, que segurava o celular no alto.

— Eu fiquei sabendo que tem alunos novos hoje, então vim cumprimentá-los, me sigam!

Nossa imagem foi tornando-se maior na tela até a garota estar a centímetros de nós, ainda sem tirar os olhos de seu aparelho.

— Oiê, eu sou a Bianca Sarri! Deem um “alô” para os meus seguidores!

Esse nome me soou estranhamente familiar, então lembrei que a seguia por indicações de colegas da escola que a achavam “atraente” (eles usaram outra palavra) quando ela era ela mesma (não fazia ideia do que isso significava), mas nunca havia de fato assistido uma de suas gravações. Yara revirou os olhos e afastou-se, quis fazer o mesmo, contudo, fui puxado pela tal Bianca.

— Ei, espera aí! – Bianca arregalou os olhos. – Eu volto depois, gracinhas! – desligou o celular e ajeitou as madeixas. – Ufa, ser famosa cansa.

— Percebo. – arqueei uma sobrancelha e acabei reparando em seu visual.

As vestes de Bianca eram compostas por uma jaqueta rosa que carregava um emblema de gato no peito e meias estampadas debaixo da saia cheia de forros.

— Ah, você gostou? – ela deu uma rodadinha. – Vários estilos me permitem influenciar várias pessoas. Hoje eu estou de… Como se chama mesmo? Hara… Harajuku. Isso. – sorriu convencida.

Assenti sem saber ao certo como continuar aquela conversa, concluindo que naquele dia ela não devia estar sendo ela mesma.

— Precisa de ajuda para conhecer a academia? – Bianca aproximou-se, mostrando que era minimamente mais alta do que eu.

— Na verdade, preciso achar os líderes dos grupos ou algo assim. – sacudi a ficha a ser preenchida.

— É o seu dia de sorte, eu sou a líder do grupo Super Gatinhas! – Bianca falou alto o suficiente para que Yara escutasse, pegou uma caneta roxa de glitter e a girou nos dedos.

Bastou essa frase para Yara retornar, estendendo sua ficha como uma criança muda e direta.

— Estão interessados em entrar? – Bianca assinou ambas as fichas, fazendo um coração no lugar do pingo da letra i. – Eu prego sobre a beleza de nossas habilidades e como isso nos torna celebridades em potencial.

— Qual a sua habilidade? – Yara franziu levemente as sobrancelhas.

Bianca nos mostrou as costas de suas mãos, prendeu a respiração até inflar as bochechas e suas unhas acenderam-se em sequência como pequenas lâmpadas fluorescentes.

— Eu chamo de unhas luminosas. – ela expirou, consequentemente apagando as luzes de seus dedos. – Esplêndido, né?

— Nossa, você nem imagina. – resmunguei analisando a ficha.

— Sabe, o nome do grupo é Super Gatinhas, mas se você entrar pode ser Super Gatinhas e Gatão. – Bianca piscou um olho.

Como se uma força divina fosse convocada para me livrar daquela saia justa, um garoto baixinho correu pelo hall de entrada e derrubou Bianca de maneira brusca. Um grupo de pombos veio logo atrás, formando uma nuvem de penas.

— Está tentando recrutar os novatos, sua… Sua pomposa?! – o garoto de cabelos pretos berrou.

— Concordamos que os novatos eram de quem os visse primeiro, não é, Felipe? – Bianca não se conteve ao chutar a barriga dele.

— Sem chances, você fica nesse hall o tempo inteiro rondando todos feito um urubu! – Felipe rebateu, a voz carregada de dor pelo chute.

— Não pode me comparar a um urubu quando é seguido por um exército de pombos! – Bianca balançou os braços, afastando as aves.

— O que eu posso fazer se minha habilidade faz esses bichos me enxergarem como estátua? – ele gritou, seu rosto ficando vermelho.

Em meio a discussão, eu e Yara tomamos a decisão mais inteligente de todas: sair de perto.

— Pare de me seguir, bobão. – Yara pediu.

— Não estou te seguindo, bobona. – coloquei uma das mãos nos bolsos, guardando a chave do dormitório ali.

Nós tínhamos o quê? Seis anos?

— Ah, não, Felipe! – uma garota gorda de longos cabelos ruivos parou em nosso caminho, olhando para além de nossos ombros. Nossa presença foi a segunda coisa que ela notou. – São alunos novos? – piscou lentamente.

Ponderei sobre responder, parecia um título perigoso a se ter por ali. Yara não foi tão esperta quanto eu e confirmou.

— Creio que Felipe não assinou suas fichas. Posso assiná-las se quiserem, sou a vice-líder do grupo Nova Era, meu nome é Ana Carolina. – ela apresentou-se timidamente. – Nosso grupo tem como objetivo dar uma chance a essas habilidades e enxergá-las de maneira positiva.

Uma das penas dos pombos grudou-se na manga de minha camiseta, causando um formigamento em minhas narinas. Automaticamente cobri meu nariz e boca, o que foi em vão, pois um segundo depois o vapor quente e a ardência escaparam, chamuscando metade de minha ficha.

— Uau! – Ana deu um pulinho para trás, assustada.

Yara arregalou os olhos e moveu os lábios sem pronunciar nenhum som.

— Desculpe. – esfreguei o nariz a fim de me livrar da irritação interna. Eu sabia que dali em diante ficaria sentindo o cheiro de fumaça pelo resto do dia. Tinha de me lembrar de tomar o antialérgico assim que retomasse minhas malas.

— Como eu ia dizendo… – ela certificou-se de se afastar um pouco. – Se estiverem interessados, basta me procurarem. – assinou as fichas, tomando cuidado para não se queimar com a borda chamuscada da minha.

— Claro. – falei por educação. – Sabe nos dizer onde podemos encontrar o próximo líder?

A ruiva bateu o indicador na ponta do queixo, pensativa.

— Podem achar o Kaíque no terraço, ele está sempre dormindo por lá. – informou e fechou a cara instantaneamente.

Foram longos lances de escada até chegarmos ao terraço, onde a brisa e o sol da manhã nos receberam de bom grado. Deitado no meio do chão quadriculado e tendo uma revista cobrindo o rosto, o possível Kaíque repousava despreocupadamente.

— Ei, você. – Yara chamou.

— Estou ocupado, volte mais tarde. – ele abanou uma das mãos.

— Precisamos da sua assinatura. – expliquei.

— Peça para qualquer um do grupo Deslocados, não temos um líder definido. –  emitiu um bocejo.

— Ana Carolina disse que você era o líder. – Yara argumentou.

— Apenas para questões formais. Não precisamos de um líder nesse grupo. Você não quer ninguém dando ordens de como ficar deslocado, não é? – Kaíque retirou a revista de seu rosto, revelando seus cabelos castanhos medianos e olhos cor de oliva.

— Vai assinar ou não? – perguntei impaciente.

Kaíque aparentou pensar, fazendo um biquinho.

— Só porque vocês são bonitinhos. – ele sentou-se com as pernas cruzadas.

Optei por ignorar sua frase e entreguei-lhe sem jeito a ficha queimada. Não era sempre que um garoto me chamava de bonitinho.

— Caso não se encaixem em nenhum grupo, é aqui que ficam. – Kaíque rabiscou o meu papel e o de Yara rapidamente. – Não nos esforçamos para sermos os melhores, mas também não nos esforçamos para sermos os piores. Somente aproveitamos nossa existência. – voltou a deitar-se.

— Deplorável, porém, é a opção mais aceitável até agora. – a garota comentou.

— Por aí. Venham me ver sempre que quiserem, gracinhas. – Kaíque piscou um olho e colocou a revista sobre o rosto. 

Aflito para dar o fora dali, abri a porta que levava a escadaria. Meu coração falhou uma batida ao ter duas mãos desconhecidas invadindo meu campo de visão e cobrindo meus olhos e boca. Tentei gritar e me debater, contudo, quem quer que estivesse me segurando, era forte. Yara gritou, sendo abafada em seguida.

O sujeito (na verdade, senti que se tratavam de duas pessoas) me empurrou e obrigou-me a descer escadas e virar no que julguei serem corredores. Tropecei e bati nas paredes diversas vezes, desajeitado.

Minha visão foi devolvida minutos depois e meu corpo se encontrava em uma sala repleta de cadeiras espalhadas de maneira desorganizada e um quadro branco cheio de desenhos e termos.

Ofeguei apavorado, procurando pelos “sequestradores”. A única imagem presente na sala era uma garota de curtos cabelos pretos e olhos delineados.

— Se me permitem, vou me apresentar.. – sua voz soou firme. – Sou Ienaga, a líder da União Rebelde. – apontou para si mesma de modo orgulhoso.

— Você nos arrastou para cá. – Yara a incriminou prontamente.

— Sim e assinei suas fichas também. De nada. – Ienaga assentiu satisfeita e nos entregou os papéis. – Nosso grupo tem o objetivo de se rebelar em oposição a esse sistema e fugir dessa academia, pois não aceitaremos servir de cobaias ao R.C.E. Estão conosco ou contra nós?

Eu nem tive de raciocinar direito para expressar minha mais pura opinião.

— Essa daí é pirada. – comentei impressionado.

Uma pseudo celebridade, um louco dos pombos, um preguiçoso paquerador e por fim uma revolucionária. O meu sábado não podia piorar.

— Infelizmente, preciso concordar contigo. – Yara me olhou de soslaio.

— Ok. Talvez isso os faça mudar de ideia. – a expressão de Ienaga tornou-se séria e ela estalou os dedos.

 


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Notas finais do capítulo

E as desventuras do nosso protagonista já se iniciaram. O que virá a seguir?
Até semana que vem, se cuidem e bebam água!
Beijos.
—Creeper.



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