— Então é hoje.

A voz de Ysabel ecoou, olhando para a janela daquele cômodo luxuoso. O sol havia acabado de surgir no horizonte, iluminando toda casa.

— Não precisa ficar pensando nisso. Tenho certeza que Eivor trará notícias antes da coroação. — Desta vez era a voz Lisa, deitada na mesma cama que Ysabel, logo ao lado. — Você precisa confiar nele.

Ysabel fez uma longa pausa, desviando seus olhos para os azuis da ruiva. Suspirou fundo e voltou a relaxar.

— Talvez você tenha razão.

Distante dali, Ellie parecia refletir de frente a um riacho, aquele mesmo que costuma ficar quando precisa refletir sobre sua vida.

Com passos calmos, Akira surgiu logo atrás da garota, com as mãos no bolso. Com olhos semicerrados, dobrou os joelhos e se sentou ao lado da shifter, olhando para as águas inquietas.

— A gente se conheceu aqui, neste lugar. Como virei a portadora do Titã de Ataque e logo participei de treinos e operações, tive que ficar aqui, na capital, por quase um ano. — dizia Ellie, subitamente, chamando atenção de Akira. — Foi graças a esse um ano... que eu te conheci.

Os olhos azuis da garota se encheram de lágrimas imediatamente, apertando com as mãos a própria saia. Akira notou seu comportamento inusitado, era muito mais do que "lágrimas de nostalgia", soava triste.

— Ellie, o que aconteceu?

— Eu preciso ir embora. — respondeu ela, subitamente — Meu pai veio até mim. Provavelmente vou ter que retornar para Sieria e ajudar na reconstrução de Thalber. Eu... vou ficar muito tempo sem te ver.

Ellie estava cabisbaixa, mas seus vívidos olhos azuis foram direcionados para o Ackerman, que também parecia entristecido. Akira respira fundo e finalmente diz:

— Como um Ackerman, eu não posso sair da cola da realeza. — Ellie imediatamente voltou ao tom cabisbaixo, olhando para o chão. Akira, em relutância, segurou o queixo da garota e voltou a ergueu seu rosto. — Mas como Azumabito, eu sou um nobre, como você. Eu tenho poder de ir e vir, e eu não sairei de perto de você, Ellie. Não agora.

O rosto triste de Ellie foi trocado por um de surpresa. Akira não desgrudava seus olhos do dela, e ela respondia da mesma forma. Uma atração inexplicável foi juntando o rosto de um para próximo do outro, e de repente...

Um estrondo foi ouvido entre as árvores, alertando os dois. Akira se ergueu imediatamente, e Ellie hesitou por alguns segundos e, entre tosses vergonhosas, também se ergueu.

— Quem está aí?! — o homem aumentou o tom de voz, a procura de uma resposta. — Fique aqui. — disse para Ellie, que assentiu com a cabeça.

Akira segurou firmemente a bainha de sua adaga, e foi aproximando-se das árvores mais densas. Ouviu mais folhas serem pisoteadas, e foi tirando a lâmina da bainha.

— Espere, idiota. — A voz de Eivor surgiu entre as árvores.

O Ackerman de cabelos naturalmente cacheados estava agora parecendo um cachorro molhado, com suas roupas cobertas de água, lama e sangue. O manto de outrora era amarrado no flanco de seu abdômen, bem na cintura. Ele andava com dificuldade, e mesmo naquelas condições, caminhou por quilômetros. Akira se surpreendeu, Eivor rangeu os dentes e estava prestes a cair quando seu companheiro de clã o segurou.

— Leve-me... até... Ysabel... — disse, pausadamente e com dificuldade.

Algumas horas se passaram, e Eivor teve seu desejo realizado. Agora estava isolado num quarto, ainda acordado, com suas feridas sendo tratadas.

No cômodo de fora, estava finalmente o quinteto reunido: Lisa Manifield, Ysabel Gestova, William Gestova, Ellie Solastra e Akira Ackerman. Discutiam sobre os acontecimentos de Eivor, a traição de Garric e o futuro de Eldia; a coroação começaria em algumas horas.

— Durante toda minha vida, não esperava encontrar Eivor naquela circunstância. — dizia Akira, pensativo. — Desde cedo nós superamos inclusive nosso mentor, que dizia nunca ter visto tamanha habilidade em Ackerman's. Eu não entendo como alguém assim poderia estar fora dos holofotes...

— Talvez não esteja. Temos que considerar que a figura mascarada seja alguém conhecido, um Ackerman que compõe a guarda real ou então faz parte da zona militar. — continuou William, acendendo um cigarro. — O fato é que fizeram isso com um dos nossos melhores soldados, temos que esperar o pior. Não podemos hesitar, temos que levar em conta um possível golpe de estado.

— Ei, vamos com calma... — disse Ellie, sob pressão. — Garric simpatizar com marleyanos é terrível! Mas não sabemos se o mascarado tem relação com os Tybur, e muito menos se estão tramando alguma coisa contra a rainha!

— Infelizmente seria muita inocência acreditar nisso, Ellie. — respondeu Lisa, sempre naquele tom dócil e simpático. — Durante a operação anti-Marley, eu vi Garric conversando com uma marleyana. Desde então, ele tem frequentado a prisão para visitá-la, e inclusive os soldados receberam ordens para não usá-la como reprodutora. Esses movimentos estranhos, somados a constante saída dele para frequentar uma comunidade na periferia de Leotia fizeram eu e Ysabel mandar Eivor segui-lo, e o fim você já sabe...

— Nós estamos sozinhos. — interrompeu Ysabel, despertando curiosidade de todos. — As famílias Keer, Becker, Roosevelt e Erigon saíram da capital e estão resolvendo seus próprios negócios em suas cidades de controle, restando apenas três: Manifield, Gestova e Solastra. Ainda sim, não temos como confiar no exército real se até mesmo um Ackerman está junto a Garric. Nós somos as únicas pessoas capazes de parar a família Tybur. Esta é uma guerra civil, não hesitem.