A situação era intensa, e um passo em falso poderia condenar tanto Marley quanto Eldia. O poder do Titã Quadrúpede era essencial para estabilizar a soberania de Eldia, ou então dar a Marley finalmente a força para revidar os milênios de opressão.

De frente ao portão já aberto com acesso ao sul, Derick estava com Pietro em seus braços. O garoto estava muito fraco para sair dali sozinho.

Ellie deu um passo, e aquilo alertou a todos: os inúmeros canhões apontaram para garota, os mosquetes foram sacados e viu-se na mira de cada um dos soldados, que não hesitariam em matá-la.

— Para trás! — exclamou Derick, coberto de sangue. A lâmina fez certa pressão sobre o pescoço de Pietro.

— Se acalme. — ditou Eivor, tanto para Ellie quanto para Derick. — Solte o garoto, rapaz. Podemos te poupar.

— Poupar? Isso é algum tipo de piada? — indagou Derick, nitidamente destruído psicologicamente — Vocês não estão em posição para exigir nada.

Não muito distante dali, Akira voava com o auxílio do gás pelos arredores dos muros, próximo a um dos flancos da muralha, em direção aos canhões que miravam em Ellie. Um dos soldados virou o rosto e o Ackerman teve que agir rápido: projetou-se com velocidade contra uma casa e se deitou ali, impedindo que o soldado tivesse visão sobre ele.

— Droga... — resmungou, apertando sua própria perna. Não tinha como fazer um pouso daqueles sem usar força e se machucar.

A visão de Pietro estava completamente embaçada, é como se seus olhos ainda não estivessem se acostumado a luz, não depois de tanto tempo preso no escuro sendo torturado.

— Pietro! — Até aquela voz chegar aos seus ouvidos.

Era Sigurd, seu irmão mais novo. O loiro vinha junto ao exército eldiano, largando seu mosquete no chão para se aproximar da cena, junto a Eivor e os outros. Os olhos de Pietro se encheram de lágrimas, e logo o semblante vazio se transformou num melancólico, o que o fez abaixar a cabeça e evitar que suas lágrimas fossem expostas.

— Você não deveria estar aqui... por que te deixaram vir...? — indagou, num tom fraco e choroso.

— Porque temos um trato. Eu nunca te deixarei sozinho e você nunca me deixará sozinho também! Se lembra? — Sigurd fazia menção a uma promessa de infância, que arrancou um sorriso de lado de Pietro.

Da nuca do Titã de Ataque, Ellie foi ejetada entre o vapor, com o arredor dos olhos presos à carne do gigante.

— Ei, Pietro...

O garoto imediatamente reconheceu a voz, olhando para Ellie com certa dificuldade.

— Eu disse que iria te ajudar na missão, que iria te proteger e te guiar, mas... eu fracassei. — Os olhos da garota se encheram de lágrimas, mas o tom cabisbaixo foi mudando para um determinado, ativo — Mas eu não vou falhar novamente! Nós vamos lutar juntos, certo? Nós vamos derrotar a Resistência, eu, você, o Akira e todo o resto!

Ainda muito distante, um pouco além do portão, estava Helos, com sua postura imponente e olhar inexpressivo, em cima de seu cavalo.

— Já chega. Venha, Derick. — ordenou, dando de ombros.

E Derick, sem dar as costas, começou a caminhar para trás. Ellie e Ethan fizeram uma postura hesitante de ataque, os soldados eldianos ergueram os fuzis e os marleyanos responderam igual.

— Esperem! — a voz de Eivor ecoou — Deve ter outro jeito...

Mesmo o Ackerman parecia sob pressão naquela situação, na verdade, especialmente ele tinha porquê estar sob pressão.

— Você... é um eldiano, não é? — perguntou, olhando para Derick. — A braçadeira amarela... eu vi poucos soldados com esse emblema. Além disso, tem a caixa de metal, é a mesma que achamos no oriente.

— Sim. E daí?! — exclamou Derick, ainda mais abalado. Hesitava em seus passos, o que provocava um suspiro de Helos.

— Por que está com eles? Você faz parte de algo muito maior! Nós podemos te dar uma vida de prestígio, de luxo! Como as nove casas de Eldia!

— Vai a merda, porra! — gritou novamente Derick, fazendo mais pressão na lâmina. — Eu sou fruto de um dos estupros que vocês fazem em massa pra reproduzir a merda dessa raça... eu tenho nojo do meu sangue, e por isso eu o reneguei! Eu não sou um de vocês, e sim um remanescente das terras que saquearam e violaram!

Um silêncio ensurdecedor se fez presente. A situação era intensa, e fazia todos hesitarem, sem exceção. Eivor abaixou a cabeça.

— Entendi... — sussurrou, ainda de cabeça baixa. Uma de suas mãos desliz para a bainha de sua espada. — Ei, Pietro. Fique parado, vamos resolver isso.

Um sorriso de canto novamente surgiu na face sem esperança do jovem Quadrúpede. Confiava nos seus amigos, irmãos de guerra.

De repente, como um raio, Eivor se ejetou com o auxílio do gás nos seus pés, sacando suas espadas. Num ágil movimento, a lâmina atingiu Derick no peito, mas não antes de atravessar o pescoço de Pietro.

O sorriso foi se desmanchando na medida que seu irmão gritava por seu nome. Sangue jorrou para todos os lados, eldianos e marleyanos ergueram suas armas, e enfim, o corpo daqueles dois caíram no chão, sem vida.