Ginger - Drinny escrita por Queen of Sonora


Capítulo 1
Capítulo 1 - Ne te retournes pas


Notas iniciais do capítulo

Essa história foi pensada e escrita ouvindo Ginger de Feu! Cchatterton. Recomendo que ouçam e se apaixonem por ela, assim como eu ;)



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O rápido par de minutos que precisei para recuperar meu fôlego parecia ter chegado ao fim, mais depressa do que quando pensei que fosse possível. 

 

O perfume que o vento frio insistia em rebater contra o meu rosto era demasiadamente parecido com o odor de seus cabelos. E eu quase me permiti rir ao associar o cheiro dos cabelos dela com odor, palavra que sempre soa tão dura e parece se tratar de algo ruim. O que nem em sonhos seria justo de relacionar aquele cheiro inebriante. Acredite, eu adoraria que fosse possível, mas não era. 

 

Puxei fundo o ar e voltei a minha missão, correndo da melhor forma que era possível em meio a multidão de trouxas que cercavam o centro do verão francês. E é claro, ela me aguardava no ponto final de nossa aposta, com a mesma feição de desdém que sempre carregava. Sempre carregava ao menos quando estava perto de mim. 

 

— Você é realmente muito ruim nisso- comentou sem nem ao menos me olhar, - ali, naquela porta, é possível que a gente encontre o que precisa para terminar logo essa tarefa. - completou apontando para uma simplória porta de madeira em um tom velho de verde. 

 

Não respondi, apenas mantive minha concentração em recuperar o meu fôlego e segui na direção que havia sido apontada.  

 

Quando precisei retornar para o meu último ano, muitos eram os meus pesares - e sou obrigado a dizer que em sua maioria eles se concretizaram -, mas em nenhum momento eu pude imaginar que viveria uma situação como essa. Ou que ao menos sentiria o que vinha me atormentando nos últimos três meses. 

 

Ginevra nunca foi uma pessoa da qual eu tive qualquer afeição, pelo contrário. Sempre fora algo natural que eu a desprezasse e ignorasse a sua existência. E agora, num mundo pós guerra, era sem dúvidas a última pessoa que eu gostaria de ter proximidade. A perfeita integrante do relacionamento mais perfeito do mundo bruxo. A parceira da pessoa a quem eu tanto devia, e que seria sempre uma sombra no meu presente e futuro. Mas isso não impediu que o nosso querido professor de poções não achasse uma ótima ideia nos colocar como parceiros em uma tarefa impossível. 

 

Quase impossível. Como a ruiva salientou desde o primeiro momento. Mesmo com seu total desprezo, ela não negava que conhecia os privilégios que teria fazendo esse trabalho comigo, e não exitou em burlar a pequena regra de não sair do campus e se aproveitar dos meus conhecimentos sobre as ruas francesas. Onde a mesma havia descoberto a meses ser o único local onde iríamos conseguir os ingredientes para aquele trabalho. 

 

— Um bar? - questionei um tanto quanto chocado, enquanto retirava o cachecol do meu pescoço, já que dada a brilhante ideia de testarmos quem chegaria mais rápido a travessa anterior, meu corpo agora estava incrivelmente quente. 

— Estou tão radiante quanto você. - pude então pelo canto dos olhos ver que ela fazia o mesmo que eu e sorria sem humor nenhum. 

 

— E o que fazemos agora? - perguntei sem ousar me mover. Não fazia ideia de como iríamos conseguir qualquer material que fosse em um ambiente como esse. A tarefa tinha sido alterada para algo envolvendo uma cerveja trouxa? 

— Sente-se. - ordenou enquanto já fazia o mesmo em uma mesa próxima a grande janela do local. - Não vamos encontrar o que procuramos - começou, e antes que eu pudesse fazer algo além de a olhar com espanto, se apressou em completar: - O que procuramos irá nos encontrar. 

 

Finalizou a frase com um suspiro e passou a concentrar sua visão no cardápio a sua frente. Infelizmente só havia um na mesa, então me concentrei no que acontecia ao lado de fora, focando toda a minha atenção naquela grande janela. 

 

Mas minha mente não andava sendo a minha melhor amiga no último mês, e a mesma vagou até a primeira aula de poções quando a ruiva a minha frente deixou claro que não gostaria de ter que tratar comigo nada além do necessário para que terminássemos aquela matéria. E eu prontamente concordei, mesmo sem emitir uma palavra sequer. Até por essa ser justamente a minha prova de que estava tão interessado em criar laços quanto ela. 

 

O problema foi o desenrolar não ter sido bem esse, visto que o costumeiro desdém da mesma por mim, e seu humor ácido eram fáceis de ter como companhia, e por mais que apenas em meu íntimo eu aceitasse, eram o que tornava a aula de poções o meu momento preferido do semestre. 

 

Até por ser o único momento onde alguém trocava algumas palavras comigo. Não era fácil voltar ao local onde tantos fantasmas me assombravam, e onde eu era uma das lembranças do maior fantasma do mundo bruxo. 

 

Eu jamais admitiria o interesse que eu vinha sentindo naquela altura pela pobre Ginevra. Naquela época, eu mal gostava de aceitar o fato de que correr pelas ruas de Paris havia sido um dos melhores dias do meu ano, e que aquele bar seria sempre uma memória confortável. 

 

Mas desde antes daquele dia era inegável o interesse que crescia a cada aula onde eu sentava ao seu lado, observando o subir e descer da cortina alaranjada de seus cabelos enquanto ela escrevia incessantemente anotações e mais anotações em seus manuscritos. 

 

Merlin havia sido muito gentil em não nos ter colocado com uma tarefa ligada a poção do amor, já que o resultado da minha seria a descrição perfeita do cheiro daqueles cabelos irritantemente laranjas. 

 

— Você já veio muitas vezes até aqui? - sobressaltei com a pergunta só então percebendo que ela olhava na mesma direção que eu. Virei completamente meu rosto para ela e aproveitei o cardápio livre para fazer a minha escolha. 

— Algumas, mas não a essa parte da cidade. - Os vinhos franceses eram sempre uma boa ideia, a questão era: Uma taça ou uma garrafa? - Minha mãe é apaixonada por alguns tipos de flores que só consegue comprar aqui, então era um bom refúgio de férias. 

— Ela parece ser legal. - voltei minha atenção à ruiva a minha frente. - Ela o salvou, de certa forma. - conclui suspirando, provavelmente ao lembrar do querido namorado. O herói. 

E de fato, minha mãe não apenas era uma pessoa legal como o havia salvo. Apesar de toda a sombra que nos seguia, Narcisa sempre fora uma mulher excepcionalmente afetuosa. Não me surpreendi quando soube da sua ação, e ninguém que a conhecia minimamente bem se surpreenderia. 

 

Aproveitei que uma garçonete passava ao nosso lado e fiz o meu pedido, percebendo que Ginevra. 

— Não vai querer nada? - perguntei arqueando uma sobrancelha e fazendo um sinal para que a garçonete aguardasse.

— Não entendo francês- admitiu desviando o olhar para a grande janela. 

 

Ri e voltei a minha atenção a garçonete trocando o meu pedido de uma taça para uma garrafa. 

 

Je ne peux parler français, — falei recebendo sua atenção. - É o que você pode dizer quando não sabe falar francês. 

Ela sorriu, pela primeira vez em todo o tempo que estava obrigadamente passando juntos, de forma sincera e agradeceu. 

— Por quanto tempo vamos esperar? - questionei vagando o meu olhar pelo local buscando qualquer sinal de atividade não trouxa. 

— Eu não sei - admitiu colocando as duas mãos sobre a mesa - Tudo que sei é que virá a nós quando perceber que estamos prontos. 

— Quem perceber? E para o que exatamente precisamos estar prontos? - A informação da mesma era muito vaga e beirava a falta de sentido. 

— Eu não sei. - suspirou pesadamente e antes que eu tivesse tempo de reclamar, ela completou: - Mas sei que virá, minha fonte garantiu e não me colocaria em uma situação com você fora da segurança de Hogwarts se não tivesse certeza de que conseguiriamos. - sua voz soou firme e o olhar duro o suficiente para me incomodar. 

— Então ainda sou uma ameaça - ri sem humor - Bom saber, Ginevra - e antes que a mesma fizesse qualquer comentário completei: - Espero então que goste cabernet sauvignon. 

 

Seria um longo tempo sem nem ao menos saber o que ou quem estávamos à espera. Felizmente o meu pedido não demorou a chegar e ao menos com uma taça entre os dedos seria mais fácil lidar com essa estranha espera. 

 

— É bom. - comentou mais para si do que pra mim. O que me fez rir, eu não havia escolhido nenhum grande nome ou safra muito antiga. Apenas algo que considerei agradável para uma rápida passagem por Paris. Claro, talvez inconscientemente eu tenha optado pelo meu favorito para uma rápida passagem por Paris. E talvez, apenas talvez, indo mais a fundo em meu inconsciente, eu tenha feito a minha escolha prezando por algo que marcasse a ruiva de forma positiva essa rápida aventura em Paris. 

— Sim, mas está longe de ser dos melhores… - comentei saboreando. 

— Claro, você sem dúvidas deve conhecer muito de vinhos e qualquer outra coisa tida como fina - seu tom dessa vez foi ácido e pude ver que tinha afastado a taça de si na mesa. 

 

Antes que eu pudesse responder a altura, algo começou a se revelar no menu que ainda estava em nossa mesa.

 

Je n'aime pas les couples qui ne sont pas amis les uns avec les autres.

 

Apprendre à se connaître l'un l'autre.

 

Suspirei assim que terminei a leitura e vaguei rapidamente o meu olhar pelo espaço buscando quem poderia estar fazendo aquilo. Agora eu realmente queria que essa tarefa acabasse rápido. 

 

Ginevra pigarreou e lembrei que a mesma não sabia francês e provavelmente estava sendo consumida pela curiosidade. Ri da situação e apoiei meus cotovelos sobre a mesa, a encarando com uma sobrancelha levantada. O seu olhar parecia incentivar que eu lhe contasse o que a mensagem dizia e eu saboreei esse momento, dei mais um gole no liquido da minha taça e quando percebi que a mesma beirava esbravejar alguma reclamação enfim falei:

Ele quer que a gente se conheça melhor - falei divertido- Acho que voltaremos para Hogwarts e teremos que encontrar outro jeito de resolver essa tarefa. - terminei minha taça e depositei a mesma na mesa. Fiz menção de levantar mas fui impedido pela ruiva à minha frente que esticava o seu braço segurando a minha mão. 

— Duas linhas e apenas isso foi pedido? - perguntou encarando primeiro a mim e depois a frase que estava ainda no centro da mesa sob o menu. 

 

Voltei a minha posição anterior, livrando-me de sua mão que segurava a minha e indiquei palavra por palavra o que dizia ali. 

— Casal? Isso é ridículo! - exasperou enquanto negava com a cabeça num ato de total discordância. Ri sem humor algum e me apressei em completar:

— Me sinto tão lisonjeado quanto você, Ginevra. - mas estranhamente mesmo com a minha tom soando sarcástico, eu não conseguia controlar o calor que tomava conta da minha mão que havia sido tocada por ela. 

— Então vamos lá, Malfoy. - falou enquanto endireitava o tronco e repousava as duas mãos enlaçadas sobre a mesa. - O que eu tenho para saber de você além de tudo o que presenciei nos últimos anos? - seus lábios se esforçaram em formar um reto sorriso que chegava aos seus olhos de forma irônica. 

— O mesmo que eu sobre você, Weasley. - respondi derrotado enquanto esfregava uma mão na outra tentando esquentar as duas por igual, forçando a mim mesmo a ignorar o calor que o toque dela havia deixado em apenas uma. 

 

Ela riu sem humor e desviou os olhos para a janela, não demorou um segundo até soltar um longo suspiro e começar a falar:

— Eu nunca experimentei muitos vinhos - divagou - Essa provavelmente é a segunda vez que experimento, gosto de cerveja amanteigada - conclui voltando seu olhar para mim. 

— Eu gosto muito de vinho. É provavelmente a bebida preferida de minha mãe. 

— E por isso é a sua preferida? 

— Eu não disse que é a minha preferida - ri antes de continuar - Prefiro whisky de fogo. 

— Parece mais plausível para você - a ruiva comentou sorrindo, e pela primeira vez não soou como um ato forçado. Isso me fez sorrir em resposta. 

 

Enchi a minha taça e completei a dela. 

— Então não fala desfeita, e deguste mais. - propus enquanto levava a minha taça até a minha boca. 

— Isso não pode ser real. - ela comentou antes de voltar a sua taça até seus lábios, ficando com os mesmos em um tom mais vivo após o ato. 

— O que o seu namorado não pensaria dessa cena, não é mesmo? - provoquei rindo sem muito humor. 

— Harry é compreensivo e tem um bom coração, - começou a falar e tomou mais um gole - como você bem sabe- provocou deixando claro que não esquecia que o seu querido herói havia limpado o nome da minha família - Mas sem dúvidas a minha família não dormiria em paz sabendo de onde estou e com quem estou - completou séria pousando sua taça na mesa. 

— Sem dúvidas - me limitei a responder enquanto tentava vagar pela imagem que a janela revelava. 

 

Era tão demorado a escurecer o dia que eu não fazia ideia de que horas poderiam ser. Será que de fato sua família dormiria antes que essa tarefa terminasse? 

— Você é muito ligado a sua mãe - ela não perguntou e sim afirmou. Voltei minha atenção a ela, e pude ver como seus olhos me examinavam. 

— Narcisa sempre foi uma ótima mãe - comentei tentando soar descontraído e evitando pensar nos tormentos que a mesma passara nos últimos tempos - Seria impossível não ser próximo a ela ou não amá-la incondicionalmente. 

— Uau - comentou com real surpresa e voltou a levar sua taça até sua boca - Você ama alguém - riu - Isso é uma descoberta e tanto, Malfoy - completou irônica. 

 

Suspirei e senti meus olhos rolarem. 

— Se tentar me conhecer se baseando apenas no que conheceu de mim durante a guerra, é melhor voltarmos agora para Hogwarts - falei com sinceridade e um tanto de cansaço prematuro em minha voz. 

— Então quem é você além de um comensal? - sua pergunta foi um tanto ameaçadora, a fez com as sobrancelhas arqueadas. 

— Alguém que gostaria de não ser chamado de ex comensal - baixei minha guarda por motivos completamente desconhecidos. Talvez sob efeito da mistura inebriante do vinho e dos cabelos da ruiva, que a essa altura já haviam empesteado o ambiente. 

 

Ela nada falou, apenas desviou o seu olhar para a taça antes de levar a mesma para mais um gole. Assim que terminou o ato voltei a preencher a mesma. Ela riu. 

— Sua estratégia é me embebedar para que possamos soar como um casal que está se conhecendo? - a pergunta saiu de forma divertida, o que me fez pensar se o vinho já não estava fazendo efeito. 

— Vinho é uma bebida conhecida por desinibir as pessoas - tomei mais um gole, - Espero que isso resolva o nosso problema. 

 

A resposta de Ginevra foi dada com o levar de sua taça novamente até seus lábios, que a essa altura tinham se tornado detentores de uma tonalidade avermelhada que lhe dava mais vida. Suas bochechas também começavam a receber mais vida, me levando a pensar em como tudo nela transparecia calor. Um grande contraste comigo, que provavelmente em meu todo transparecia frieza. 

 

— Vamos fazer um jogo - propus lembrando de algo que minha mãe fazia quando ficávamos esperando pelo meu pai enquanto eu ainda era criança. 

— Um jogo? - indagou desconfiada. 

— Na verdade é uma brincadeira infantil, - repousei minha taça mais ao canto e estiquei meu braço para fazer o mesmo com a dela - É algo que minha mãe fazia comigo quando passavamos tempo demais esperando pelo meu pai. 

 

Ela seguiu minha ação com os olhos, mantendo as suas mãos pousadas na mesa. 

— Me de suas mãos - pedi e ela afastou as mesmas da mesa em uma forma de espanto e negação. Forcei um sorriso simpático e pedi novamente. 

— Ora vamos, o que eu posso fazer com as suas mãos? - indaguei com as sobrancelhas arqueadas. Ela pareceu ponderar a sua decisão mas cedeu me entregando suas mãos, com certo receio. 

 

E incrivelmente as duas estavam tão quentes quanto haviam deixado a minha que tinha sido tocado anteriormente. Confirmando mais ainda minha teoria de que tudo sobre ela era quente como a cor de seus cabelos. 

— Quem estiver com as mãos por baixo tem que tirar elas antes que a pessoa que está com as mãos por cima consiga bater nas mãos do adversário - antes que eu terminasse de responder ela bateu nas minhas rindo de forma divertida. 

— Ainda não começou, Weasley - repreendi sem paciência e pude ver a mesma reprimir um sorriso. 

— Ok, não vamos contabilizar então que você já começou perdendo - falou de forma divertida - Mas acho justo te lembrar que sou a mais nova de uma família repleta de homens, - pausou enquanto arrumava os cabelos atrás da orelha - E graças a isso sou incrivelmente boa nesse seu joguinho. 

— Não é uma disputa, Ginevra - repreendi tentando lembrar a ela que a nossa tarefa no momento era justamente nos conhecermos melhor. 

 

Ela deu de ombros e preparou suas mãos acima das minhas, passando então a me encarar de forma desafiadora, esperando apenas pelo meu sinal para começar. 

 

E assim, entre pequenas pausas para mais vinho e algumas risadas que pela primeira vez soaram sinceras vindas de nós dois, seguimos por incontáveis minutos. E sinto que poderia ter ficado ainda mais tempo desfrutando desse momento. Era como se pela primeira vez em longos meses eu finalmente estivesse passando por um momento comum, um momento genuinamente leve e sem preocupações. Eu não ouvia cochichos sobre o que havia acontecido durante a guerra, não recebia olhares reprovativos e nem ao menos lembrava o que de fato me assombrava. 

 

— Ainda bem que não estamos contando - Ginevra começou a falar enquanto preenchia sua taça com o final de nossa garrafa - Porque você está perdendo de uma forma muito feia Malfoy - completou de forma divertida enquanto tomava o líquido de sua taça, soando quase como se fosse algo habitual da mesma, isto é, como se fosse costumeiro frequentar bares em Paris e apreciar um bom vinho. 

— Claro - respondi de forma irônica e dei conta de terminar com o último gole em minha taça. 

 

Antes que eu pudesse pedir por mais uma garrafa, percebi que a ruiva me encarava seriamente. 

— O que foi? 

 

Ela não me respondeu com palavras mas sim se levantou levemente curvando seu corpo sobre a mesa e tocou uma mecha do meu cabelo que escapava em frente ao meu rosto, com o seu rosto a poucos centímetros do meu falou:

— Eu nunca acreditei que seu cabelo fosse realmente assim - falou seria ainda tendo uma mexa em sua mão. 

— Assim como? - controlei minha voz e respiração, a aproximação havia deixado o seu cheiro mais forte do que eu jamais havia sentido e o calor que o vinho causava tornava a situação um tanto quanto… Atraente

— Loiro desse jeito de forma natural - respondeu enquanto parecia examinar seriamente em busca de algo que a provasse o contrário. 

— Mas que besteira - exasperei enquanto segurava a sua mão na intenção de tirar a mesma do meu cabelo, mas isso não aconteceu. 

 

Nossos olhares se encontraram e foi como se aquele momento durasse mais do que realmente deveria ter durado. Eu pude então perceber que seu hálito de vinho chegava ao meu rosto de forma quente, tão quente quanto a sua mão que eu agora segurava, e também pude ter plena visão de quando a mesma umedeceu os lábios antes de voltar a se sentar. 

— Não é besteira - rebateu de forma séria - Apenas é loiro demais - concluiu voltando seu olhar para a janela. 

— Assim como o seu é laranja demais - retruquei rindo da absurda acusação. Então eu era loiro demais? Por Merlin! Eu apenas sou um puro sangue Malfoy com uma mãe Black igualmente loira. 

— Claro que o meu é laranja demais - esbravejou - Eu sou uma Weasley - completou gesticulando com as duas mãos e só então percebi que minha mão ainda segurava a sua. E pela sua expressão ela também só percebeu naquele momento. 

O silêncio beirou preencher o local. 

— A resposta também vale para mim - me apressei em romper a possibilidade de que todo o nosso avanço fosse quebrado - O cabelo loiro é algo que nós Malfoy temos, e bem, minha mãe também é loira apesar de ser uma Black - completei. 

 

Ela apenas concordou com a cabeça e voltou seu olhar para a grande janela. Antes que a situação se prolongasse o centro de nossa mesa voltou a ser preenchido com uma frase em meio ao menu, chamei sua atenção para observar. 

 

Je m'amusais ...

 

Dites un secret à l'autre.

 

Dessa vez eu não sorri após ler a frase e desejei não ter que traduzir a mesma. Desejei não estar ali fazendo essa inútil tarefa. 

— Ele estava se divertindo - eu suspirei antes de continuar - E quer que contemos um segredo um para o outro. 

— Só isso? - indagou surpresa - Sou apaixonada pelo Harry desde antes de entrar em Hogwarts. 

Fui obrigado a rir.

— Isso não é nenhum segredo, Ginevra! - controlei o riso - Sempre foi nítido na forma como você o encarava, e olha que eu percebi isso sem nem ao menos ser da mesma casa que vocês! - completei ainda me divertindo. 

— Ok, o que você quer saber? - Questionou não muito feliz e passando a cruzar seus braços sobre a mesa. 

— Não faço ideia - falei sinceramente - Qual o seu maior medo? - perguntei de forma despretensiosa, eu realmente começava a querer que essa tarefa acabasse. 

— Perder mais alguém que amo - falou de forma séria desviando seu olhar para a janela. 

 

Suspirei sentindo o peso daquela frase. Quantas pessoas a guerra havia tirado de sua vida? Quantas mortes eu possuía uma parcela de culpa? Esse assunto sempre seria uma sombra em minha vida.

— E você, qual o seu maior medo? - perguntou com o rosto em uma máscara de seriedade que não chegava aos seus olhos que transpareciam uma tristeza profunda. 

— Que tudo isso seja um sonho e eu acorde de volta a guerra - como quando um feitiço é dito, falei a frase de uma só vez, temendo perder a última gota de coragem em assumir isso a alguém. 

— É estranho perceber que isso também te assombra - a sinceridade tomou conta de suas feições e de seus olhos - Eu também tenho esse medo - confessou. 

— Eu não consigo dormir - comentei encarando a ponta dos meus dedos que estavam sob a mesa - Desde antes disso tudo realmente começar - suspirei - Eu só não consigo - assumi me sentindo derrotado 

— Quantas pessoas você matou? - sua voz era séria e eu não tive coragem de subir meu olhar para encarar o seu rosto. 

— Nenhuma - respondi ainda sem encarar a ruiva - Não conseguiria viver com isso - suspirei pesadamente - Já é difícil demais sobreviver com o pouco que fiz. 

 

Quando meus olhos enfim voltaram a focar em seu rosto pude ver um misto em suas feições. Raiva, ressentimento e até um pouco do que parecia compaixão. Ri sem humor nenhum. 

— Acho que cumprimos com o que foi pedido - falei em um tom médio, encarando seriamente o menu à nossa frente esperando que algo surgisse. 

 

Mas nada aconteceu e pude ouvir Ginevra suspirar pesadamente. 

— Eu me diverti - a ruiva começou a falar e então pausou como se ponderasse até onde poderia ir com essa frase - essa tarde, com você. 

Meu rosto instantaneamente se voltou à sua face a tempo de ver a verdade em seus olhos e também o pesar que assumir isso lhe causava. Sorri apenas com o canto dos meus lábios. 

— Eu também, Ginevra - completei recebendo um sorriso cansado da mesma. 

 

Antes que esse momento morresse em um silêncio, como caminhava para acontecer, um bilhete surgiu no centro de nossa mesa. 

 

Le jardin préféré de Narcissa

 

Tu n'as que le temps de la nuit pour embrasser les fleurs

 

Tirei uma nota de dinheiro trouxa e depositei na mesa, Ginevra me encarava sem entender. Ri lembrando que a mesma não sabia francês.

— Vamos - me limitei a falar enquanto lhe estendia a mão. Ela se manteve parada apenas me encarando - Por favor, Ginevra, temos que chegar a um lugar antes que a noite beije as flores - repeti a frase do bilhete sem revelar o nome do local tão querido de minha mãe. Por algum motivo, era como se não fosse justo com Narcisa que eu revelasse que estávamos nesse momento indo ao seu local especial.  

— É sério? - questionei incrédulo intercalando meu olhar entre a ruiva que se mantinha imovel e a janela que agora estava à minha frente - Não é uma boa hora para ser uma rebelde - completei - Só vamos logo terminar com essa tarefa. 

 

Ela então atendeu ao meu pedido, mas sem entregar sua mão a minha. Levantou e saiu na minha frente. Apressadamente arrumei meu cachecol e parei ao seu lado na entrada do bar. Certo, essa tarefa não seria tão fácil visto que não poderíamos apenas aparatar e eu não sabia até onde o meu senso de direção era bom utilizando de métodos comuns como caminhar. 

— Para onde vamos? - questionou - Era o nome da sua mãe no bilhete? - essa última pergunta soou com uma curiosidade um pouco acusatória. 

— Seja quem for que te falou para virmos até aqui - peguei sua mão enquanto a guiava por entre as pessoas - Conhece também Narcisa e provavelmente sabe que você está comigo. 

— É claro que sabe - falou enquanto tentava puxar sua mão para longe da minha - Eu não me arriscaria a sair do castelo sem que soubessem que estou com você! - exclamou enfim se soltando de mim. 

— Ginevra, eu não me importo - falei enquanto encurtava o espaço entre nós - Temos pouco tempo para chegar ao local que foi pedido - completei buscando uma calma que eu já não possuía mais - Você pode por favor segurar a minha mão enquanto eu faço o possível para que a gente consiga terminar essa tarefa? 

 

A vi inflar os pulmões e seu rosto tomar feições pouco felizes, mas em sequência a mesma não só me deu sua mão como entrelaçou seus dedos no meu, fazendo com que a surpresa passasse por todo o meu ser. Felizmente me lembrei de que não havia tempo para ficar comovido com tal ação ou se quer deixar minha mente vagar nos sentimentos estranhos que vinham me acompanhando. 

 

E foi assim que passei a apressadamente atravessar pelo caminho que torcia para ser o certo, tendo Ginevra prendendo minha mão em um aperto entre seus dedos. O anoitecer que antes soava como tão demorado agora parecia já pedir espaço no céu e com isso a adrenalina ia tomando conta do meu ser, quando eu eu felizmente pude ver o jardim ganhar forma à nossa frente. 

 

— Ali! - apontei com minha mão livre e apenas quando paramos para esperar pela passagem pelo tráfego de carros olhei para a ruiva. 

 

Mesmo parados a mesma não soltava da minha mão e parecia tão animada quanto eu com a rápida aventura. O sorriso que ela serviu ao me olhar por aquele curto minuto parecia capaz de incendiar o inverno mais frio de todos os tempos. E por isso me senti obrigado a sorrir de volta, enquanto o calor de sua mão aquecia em todo o meu corpo. 

 

Atravessamos o tráfego parado ainda sorrindo e apressados chegando enfim ao jardim, mas sem um real norte de onde iríamos encontrar o que procurávamos. 

— Ali! - foi a vez da ruiva tomar frente - Só pode ser ali! 

 

Meu olhar se focou para onde a mesma apontava e sorri ao perceber que algo brilhava de forma um tanto quanto mágica bem ao centro do jardim. E dessa vez a ruiva foi quem nos guiou ainda no mesmo ritmo. 

 

Ali pousado em meio às flores mais baixas um vidro nos esperava, com um bilhete preso nele. 

 

Ce n'était pas si difficile, n'est-ce pas?

 

Maintenant, restez ensemble tout en tenant la bouteille et profitez de la beauté de la nuit.

 

Ri ao terminar de ler. Realmente, não foi tão difícil. Na verdade, tinha sido um tanto quanto divertido. 

— Fale logo! - a ruiva exigiu mas não de uma forma brava, mas sim divertida como se ansiasse por mais diversão. 

— Precisamos apenas segurar o frasco juntos e ver a bela noite - traduzi e mantive meus dedos sob o frasco. 

 

Para que Ginevra fizesse o mesmo e assim pudéssemos cumprir o que fora pedido, foi preciso que seus dedos ficassem um tanto quanto sob os meus. Suspirei e me esforcei para mascarar o ato virando o rosto para o lado oposto ao que a ruiva estava. Nossos corpos estavam próximos. O seu cheiro voltava a ser algo que tomava conta de tudo o que eu aspirava. O calor e a tontura causados pelo vinho pareciam voltar a tomar conta do meu corpo. E quando a cabeça da ruiva repousou em meu ombro percebi que eu não era o único afetado. 

 

E agradeci por isso. A noite começava a tomar conta do espaço e a lembrança mais vívida do que a paisagem para mim sempre será a do momento onde pude não apenas sentir o toque daqueles cabelos quase fumegantes em minha bochecha. Sem dúvidas, tudo nela era quente. E aquelas sensações confusas dentro do meu ser pareciam não ter a intenção de se acalmarem. 

 

Assim como o céu, o líquido em nossas mãos adquiriu um tom lilás que logo passou a ser um escuro roxo. 

— Podemos voltar, então? - Ginevra levantou sua cabeça de meu ombro como se o ato anterior não tivesse acontecido e falou voltando a usar da sua comum feição de desinteresse. 

— Acho que sim - respondi sentindo enfim o cansaço tomar conta do meu ser. 

 

Caminhamos até o portal que havíamos usado para chegar até a cidade luz e em silêncio nos despedimos ao voltar para o castelo. 

 

Aquela estranha tarde não se repetiu, assim como a leveza em nossa comunicação só voltou a existir em curtos momentos um bom par de anos mais a frente, quando outro Malfoy passou a ter sensações confusas por conta de uma Weasley. A diferença entre as sensações de Scorpius e as minhas fora que as dele evoluíram para um sentimento genuíno pela jovem Lily, enquanto os meus se dissiparam assim que a jovem de cabelos escuros e forte predileção pela cor roxa adentrou a minha visão e posteriormente a minha vida. 

 

A tal tarde em Paris voltou apenas a nos fazer companhia, quando após esses tantos pares de ano, Ginevra me confessou que havia descoberto que o líquido tomava a cor ao fim da noite de acordo com o que a dupla estivesse sentindo e, jurou não lembrar o tom exato que a nossa havia tomado antes da coloração final ser atingida. 

 

Sorri, fosse lá o que o lilás significasse não era tão importante quanto o todo daquele dia.


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Notas finais do capítulo

Meio sem querer estou criando uma linha de história ligadas ao Draco, espero que gostem a ponto de acompanhar as outras. Dress Up For You está ligada a essa ;)



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