Areia escrita por Siaht


Capítulo 1
I. guerreiro glorioso


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!!
Tudo bem com vocês?
Bom, estou de volta com mais uma fanfic focada na família Delacour-Weasley e essa é bem sobre relacionamentos familiares. Antes de mais nada, quero agradecer às organizadoras do Delacour's Month por esse projeto feito sob medida para me deixar muito feliz e recomendar que passem vocês passem na página do DM no Twitter (@delacoursmonth), porque só fanfic maravilhosa. Aproveito para deixar um agradecimento especial à Little Alice por ter me dado a ideia de escrever sobre a relação da Fleur com Louis para o Delacour's. Era algo que eu já queria fazer há algum tempo, então espero mesmo que gostem!
Nos vemos nas notas finais! ♥



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I

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{guerreiro glorioso}

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O menino era uma completa surpresa. A mulher ainda se flagrava pensando sobre isso, espantada com algum fato novo sobre aquela criaturinha sublime. Fleur Weasley não havia planejado ter um terceiro filho. Pelo contrário. Estava bastante satisfeita em ser a mãe de duas meninas e começando a acreditar que poderia finalmente voltar a se dedicar a sua carreira. Victoire tinha oito anos, Dominique cinco. Nenhuma das duas precisava dela de forma tão integral e a francesa tinha suas próprias ambições profissionais. Ambições que iam muito além de ser apenas “mãe”. 

Sendo assim, lhe fora um choque descobrir uma terceira gravidez. Um choque amargo. Não era algo que ela ou Bill desejavam, estando muito satisfeitos com sua família de quatro pessoas. Quatro parecia um bom número. Um número par. Um número que significava que as filhas teriam a adorável companhia de uma irmã, mas que também garantiria conforto financeiro para todos. Um número que significava que Fleur e o marido poderiam ter algum tempo para si mesmos e para os outros projetos de suas vidas. Só que agora eram cinco. Ou melhor, seriam cinco em um futuro muito próximo. 

Ela tinha uma escolha e sabia disso. Não precisava ter aquela criança. Poderia tomar uma decisão diferente. Poderia priorizar outras coisas. Poderia escolher outro caminho para si mesma. E, ainda assim, não conseguia escolher diferente. Não havia sido algo que ela planejara, o momento era um tanto frustrante, a mulher não sabia se estava pronta para retornar às fraudas e às noites mal dormidas e havia uma parte dela que se ressentia um pouco de toda a situação. No entanto, a parte que achava que tinha a obrigação de ter aquele bebê era mais forte. Então, ela optou – não sem algum pesar – por manter aquela gestação.

Bill fora pego de surpresa pela novidade. Ficara um tanto preocupado, perdera noites de sono, fizera contas demais. Porém acabou a aceitando, com a graça de quem crescera em uma família que estava sempre crescendo, a nova paternidade e logo se vira contagiado pela ideia de uma nova criança correndo pelo Chalé das Conchas. Victoire ficara encantada com a perspectiva de uma nova irmãzinha, já Dominique não parecia muito satisfeita. O ciúme infantil ficava evidente em cada um dos atos da garotinha. Fleur, contudo, sabia que a menina acabaria o bebê. Fora assim com Victoire, afinal, que um dia também não ficara contente com a existência de Domi, mas que agora era uma excelente irmã mais velha. 

De uma forma geral, tudo estava bem e todos pareciam suficientemente felizes. E embora a Weasley ainda tivesse suas dúvidas e seus sentimentos conflitantes, eles pareciam manejáveis. Até a quinta-feira ensolarada que mudara sua vida para sempre. Começara como um dia perfeitamente comum, entediante até. Talvez ela estivesse se sentindo um pouco mais cansada do que o usual, mas era provável que fosse apenas um sintoma clássico da gravidez. Fleur se lembrava de estar na cozinha, determinada a fazer um bolo para as filhas, que brincavam no andar de cima. Uma cartela de ovos e uma jarra de leite em mãos. Então, a dor começara. Repentina. Intensa. Devastadora. Era como estar sendo estilhaçada por dentro. Era como se o próprio mundo ao seu redor não existisse. Não percebeu quando os ovos e o leite escaparam de sua mão. Não ouviu o grito horrendo que saiu de sua garganta. Sequer sentiu quando seu corpo colidiu contra o chão. Todo o resto fora um borrão. 

Ela se recordava de dor, de sangue, de lágrimas caindo como uma tempestade por seus olhos, de Victoire ajoelhada ao seu lado, seu rosto bonito de menina desfigurado pelo pânico, de se preocupar com Dominique. Se recordava especialmente da certeza de que iria perder aquele bebê e de que a culpa seria total e inteiramente dela. Uma espécie de punição por não ter desejado aquela criança em um primeiro momento. Por haver uma parte dela que ainda não sabia se desejava. Por ser uma pessoa tão claramente horrível. 

Mas, apesar de todas as probabilidades, ela não perdera aquele bebê. Apenas horas mais tarde, Fleur se daria conta – de forma consciente – de tudo o que acontecera naquela tarde. De como Victoire havia corrido até a casa dos avós, arrastando Dominique junto com ela, e pedido ajuda. De como Arthur e Charlie – que estava de férias na casa dos pais – a haviam levado até do St. Mungus e avisado Bill no trabalho. De como o seu filho ainda estava dentro dela, crescendo em seu útero. As notícias boas, no entanto, acabavam ali. 

A segunda surpresa veio em seguida. Ela estava grávida de um menino. Garotos eram tão raros em famílias veelas que a mulher nem cogitara que algo assim pudesse acontecer. Em sua mente sempre pensara naquela criança como sua terceira filha. Não havia motivos para imaginar algo diferente. Ainda assim, havia motivos para o predomínio de linhagens femininas, quando se tratava de veelas. A magia delas passava de mãe para filha, porém costumava atacar os meninos e atrapalhar seu desenvolvimento. Em outras palavras, o corpo de Fleur estava literalmente rejeitando aquele bebê e aquela era uma gravidez de risco. 

A mulher chorou por horas após a notícia. Incapaz de fazer qualquer outra coisa. Incapaz de pensar racionalmente. Incapaz  de fazer algo além de se sentir miserável. A culpa dominando cada poro de seu corpo. Bill ficou ao seu lado durante o tempo todo, a segurando em seus braços, sussurrando amáveis palavras de consolo. Mas ele não conseguia entender. Não de verdade. E ela não conseguia explicar. Ou melhor, não se atrevia a dizer que seus primeiros sentimentos em relação ao filho foram de medo, incômodo e rejeição. E que agora aquela criança – que não havia feito nada errado e sequer havia nascido – estava sofrendo por culpa dela. E de sua perversidade. 

Se Fleur não conseguia ser racional naquele momento, o mesmo não podia ser dito de seu constante, firme e adorável marido. Bill a ajudara a se manter calma e a se lembrar que a França tinha medi-bruxos realmente especializados em veelas. Os dois acabaram concordando que ela deveria partir para sua terra natal. O que era algo bom. Por mais que houvesse aprendido a amar a Inglaterra naqueles dez anos e criado um lar ali, nada nunca seria comparado ao seu país natal. Sua língua materna. Sua própria cultura. Viver como uma imigrante era sempre viver sem um pedaço de si, sabendo que suas raízes estavam em outro lugar e sentindo uma ausência constante e inexplicável. Além disso, ela poderia ver a mãe e a irmã e sabia que elas a ajudariam durante esse momento difícil. Sabia que precisava do abraço das duas mais do que nunca. 

Então, Fleur pegara as filhas, porque não conseguia conceber ficar longe delas, e fora para a França. Os medi-bruxos franceses, de fato, foram mais otimistas, porém, não muito. Ainda seria difícil, ainda era uma gravidez de risco e seu bebê ainda tinha altas chances de não sobreviver. Só que agora havia alguma esperança e ela precisava se agarrar a isso ou iria enlouquecer. Por alguns meses, tudo ficara relativamente bem. Ou, ao menos, suficientemente estável. Até a mulher atingir o sexto mês da gestação. Era novembro, o outono pintava o mundo em tons de laranja e seu filho decidira que era o momento de nascer. A primavera começava a morrer e Fleur não conseguia não se indagar se seria aquele também o destino da pequena vida que carregara – com tanta dificuldade – em seu ventre. 

Todas as lembranças da mulher sobre o trabalho de parto estavam deformadas pelo medo. Pelo pânico que parecia corroê-la por inteiro. Aquilo não estava certo. Era muito cedo. Aquela criança não estava pronta. E, ainda assim, nem seu corpo nem seu bebê aguentariam por mais tempo. Aquela era a única chance dos dois sobreviverem, o que não fez muito para aliviar os temores da francesa. No fim, e após uma cesariana de emergência, os dois sobreviveram. Só que ninguém parecia acreditar que seu menino tinha realmente alguma chance. Ele era pequeno, frágil e adoentado. E dela. Tão absurdamente dela que chegava doer. 

Fleur queria protegê-lo, queria tocá-lo, queria pegá-lo em seus abraços e acariciá-lo como havia feito com Victoire e Dominique, após seus nascimentos. Mas não podia. Porque o garotinho precisava dos cuidados da UTI neonatal para sobreviver. Precisava daquele ambiente estéril, esbranquiçado e desprovido de calor humano. Precisava estar cercado por tubos e  medi-bruxos, tendo seu corpo mínimo invadido por agulhas, poções e feitiços. Era tudo cruel e brutal demais para alguém com tão pouco tempo de vida. Alguém tão insuportavelmente jovem e inocente. E a mulher sentia o peso da culpa novamente em seus ombros. Aquela certeza de que havia falhado com seu filho e que poderia perdê-lo sem ter tido sequer a oportunidade de segurá-lo. 

Fleur era uma mulher racional e compreendia que seu menino tinha poucas chances. Uma parte dela achava que seria até melhor começar a aceitar aquela perda e a preparar seu coração para o inevitável. Outra parte, no entanto, achava que aquilo seria uma traição. A mais sombria deslealdade. Ninguém mais acreditava naquela criança, se ela – como mãe – também não acreditasse, o que ele teria? Ela precisava se manter forte, precisava ficar ao lado de seu bebê – ou tão próxima quanto possível –, garantindo ao menino que, apesar de um início conturbado,  ele era amado, era desejado e tinha algo pelo que lutar. Precisava ter fé em seu filho, porque ninguém mais teria. Então, Fleur secou suas lágrimas, praticamente se mudou para aquele hospital e escolheu chamar seu garotinho de Louis. Um nome de reis franceses. Um nome que significava “guerreiro glorioso”. Era o que ela esperava que ele fosse. Mais do que isso. Era o que sabia que ele seria. 


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Notas finais do capítulo

Ok, isso deveria ser uma one-shot, mas eu realmente empaquei na parte final e não estava nada satisfeita com o meio. Abril está sendo um mês muito mais agitado e caótico do que eu previ, me deixando com quase nenhum tempo livre, fora alguns problemas bem chatos de família e um certo bloqueio para escrever. Por ter um carinho gigantesco por essa história e querer contá-la da melhor forma possível, resolvi torná-la uma shortfic. Dificilmente vou conseguir terminá-la até o fim do mês, mas prometo atualizar em breve. Acho melhor entregar algo de qualidade, ainda mais algo que me é tão caro, do que uma história completa não tão boa assim.
Sobre o capítulo em si: queria focar nos sentimentos confusos e contraditórios da Fleur e desmistificar essa ideia de maternidade perfeita e sempre linda. Não tenho filhos ainda, mas entendo que mães são pessoas e podem ter sentimentos contraditórios, e nem sempre bonitos, sobre seus filhos e isso não as torna pessoas ruins. Na verdade, imagino que maternidade seja sempre complicada de alguma forma e que a culpa seja um sentimento bem presente. Isso não quer dizer, no entanto, que falte amor. Enfim, teremos mais sobre isso em breve.
Ah, todo esse negócio de veela e gravidez mágica saiu da minha cabeça mesmo, porque os elementos mágicos de fantasia estão aí para serem usados haha
Espero que tenham gostado! ♥
Beijinhos,
Thaís



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