Águas Passadas escrita por Lilium Longiflorum


Capítulo 30
capítulo trinta




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Já passava das 22h, Kitana e Harumi chegaram ante a porta do quarto da cryomancer. Bonnie orientou-as antes de entrar:

— Peço que vocês não a forcem a nada...

— Não se preocupe, doutora – disse Kitana – sabemos como ela está.

— Apesar de que... – disse Bonnie apoiando a mão na maçaneta – ela não tem muito tempo.

Harumi aproximou-se da médica, que não queria demonstrar, mas se sentia falha perante ao tratamento de Frost. A japonesa disse:

— Você fez o possível o que lhe cabia para salvar a Frost. Não se culpe.

Bonnie assentiu com a cabeça e deixou as duas entrarem no quarto.

Frost estava com o torso descoberto permitindo que fosse visto parte da camisola azul celeste de algodão que usava. Seus braços estavam nus, se podiam ver alguns pontos arroxeados em seu braço, estava assim por causa dos exames que fazia periodicamente. A pobre moça olhava fixamente as duas mulheres que estava na porta, disse com voz rouca:

— Podem vir aqui.

A luz do quarto estava um pouco fraca, dificultando a visão de Frost. As duas foram uma pra cada lado da cama. A cryomancer fechou os olhos e disse:

— Obrigada por virem aqui. Penso que vocês foram às pessoas que mais machuquei.

As duas se entreolharam, mas Frost continuou:

— Me sinto culpada por boa parte de todo o suplício que passaram desde que chegaram ao Lin Kuei. Ao pensar nisso meu coração se dilacera.

Frost mesmo de olhos fechados deixava escorrer suas lágrimas pelo rosto pálido.

***

Hanzo continuava estudando o Plano Estratégico, mas era para esquecer o que estava por vir: o casamento dele com Tanya. Por mais que ele tentasse se distrair com outro assunto, não conseguia esquecer a desventura que estava prestes a participar. Foi a biblioteca, guardou o plano em uma gaveta, trancou com uma chave. Em seguida foi para o seu quarto, nem se importava se Tanya estava próxima ou não. Se trancou no quarto, sentou-se na cama, pegou uma foto de Harumi que estava dentro de uma das gavetas do seu criado-mudo e fixou o seu olhar nela. As lágrimas logo vieram.

As lembranças vieram a mente, o dia do casamento, a lua-de-mel, o nascimento de Satoshi. A vontade que ele tinha naquele momento era ir até o Lin kuei e fugir com Harumi para um lugar bem distante, mas logo lembrou de Frost, que estava findando sua vida.

***

A cryomancer segurou firme nas mãos de Kitana, olhou-a e disse:

— Princesa, sei que nossos encontros (em sua maioria) não foram tão bons e amistosos. Por várias vezes atentei contra a sua vida, por algo que nunca me pertenceu. Todas vezes em que lhe causei dor... principalmente naquele sequestro.

Neste momento Kitana abaixou a cabeça e fechou os olhos, queria esquecer toda lembrança que tivera daquele cativeiro na Exoterra. O tempo que ficara distante de seu amado exilada nos Estados Unidos veio à tona. Embora houvesse conseguido viver bem lá, sofria muito e uma mágoa pela Frost havia crescido em seu coração. Agora aquela que fora sua arqui-inimiga estava ao seu lado, apenas esperando a morte.

A princesa ficou em silêncio e preferiu permanecer assim. Frost percebeu que Kitana estava com certa hostilidade transparecida em seu rosto, não a culpava por isso. Disse:

— Sei que tudo foi por culpa da minha loucura em querer o coração do Sub zero. Não lhe acusarei por não querer me dirigir a palavra, pois eu mereço o seu desprezo e o desprezo de todos os que estão aqui no Lin Kuei. Feri o clã com minha maldade, mas ela agora se foi. Essa enfermidade tirou-a do meu coração. Agora... nessa cama fria jaz uma condenada que pede humildemente o seu perdão para ir em paz rumo ao desconhecido.

Kitana olhou para o alto, colocou a mão na boca, tentando em vão segurar o choro. Limpou as lágrimas rapidamente e pousou o olhar sobre a enferma, esta disse:

— O desejo do meu coração agora é que você e Sub zero se casem logo, ele a ama incomensuravelmente. Vocês se merecem.

Harumi olhou ternamente para Kitana, com os olhos marejados e disse:

— Perdoe-a, para que ela vá em paz.

Kitana virou para o lado e viu em cima de uma cômoda um retrato de Frost, sorrindo ao lado de sua mãe. Respirou fundo e pensou em tudo o que havia conversado com Harumi a respeito do comportamento de Frost, antes de ela ter contraído a malária. Voltou o olhar para a cryomancer, segurou as mãos dela com firmeza e disse, mesmo seu coração estando incerto com relação ao perdão, mas sabia que as palavras tinha poder. Então disse:

— Eu te perdoo, Frost!

Frost respirou fundo e disse sorrindo:

— Obrigada, Kitana.

A cryomancer se voltou para Harumi, que terminava de limpar as lágrimas com as costas da mão direita, segurou a mão esquerda da japonesa e disse:

— Harumi, me perdoa por tentar matar o seu filho, por te machucar...

— Frost – disse Harumi interrompendo – eu nunca guardei mágoa de você. Desde o começo percebi que você é uma garota que precisava de ajuda, mas ninguém entendia isso.

— Você sempre foi uma mulher tão boa. Não merece ficar sozinha.

— Ah Frost... até você vem falar disso. O Hanzo não me pertence mais e...

— O coração dele sempre foi seu. Ele te ama mais que tudo. Não desista dele...

Nisso Frost pediu a Harumi que pegasse uma chave que estava debaixo de seu travesseiro. A japonesa obedeceu e ficou observando a chave. Perguntou:

— Por que você me deu essa chave?

Frost começou a tossir, depois de alguns segundos, apontou para uma cômoda onde tinha apenas uma gaveta e disse:

— Naquela gaveta... tem o que vc precisa saber...

Nisso Frost começou sentir o seu corpo tremer, a fronte pingava de suor e ela começou a sentir um frio incontrolável. Harumi disse:

— Ela está com febre!! Vamos chamar a doutora.

— Não, Harumi – disse Kitana – já não há o que fazer, ela está entrando em agonia.

Harumi aflita segurou as mãos da cryomancer e dizia:

— Frost, por favor...

Frost parou de tremer, olhou para Harumi, deu um leve sorriso e expirou. Harumi em lágrimas chamou-a várias vezes, mas não obteve resposta.

A mãe de Satoshi se debruçou no corpo de Frost e disse em prantos:

— Eu queria ter te ajudado... o seu fim não deveria ter sido assim.

Kitana foi em direção a Harumi, colocou a mão no ombro dela e disse:

— Preciso avisar a doutora...

Harumi se levantou, entre soluços disse:

— Queria tanto ter ajudado ela a sair dessa vida.

— Não estava ao seu alcance fazer isso, Harumi. Agora ela está em um lugar melhor.

A japonesa assentiu, deu uma olhada na chave que Frost havia lhe entregado e a colocou no bolso, enquanto Kitana ia para a porta, esta perguntou:

— Você não vem?

Harumi olhou para Frost, fechou os olhos dela, deu um beijo em sua fronte e disse:

— Descanse em paz.

Segurou as lágrimas e foi com Kitana. Esta abriu a porta e todos se levantaram, Harumi saiu por ultimo, colocou a mão na boca e se lançou nos braços de Takeda que estava próximo. Ele a abraçou e deixou que ela chorasse em seu ombro.

Todos já entenderam o que havia acontecido. Kitana abraçou Sub zero, depois de alguns segundos ele se voltou para ela e disse:

— Por mais maldades que ela tenha feito... Ela morreu com honra.

Bonnie chegou logo que soube da notícia, pois havia atendido uma pequena ocorrência com um soldado das F.E.Ela disse ao grão-mestre:

— Vou examinar o corpo antes de vocês embalsamarem.

Kuai assentiu e ela entrou no quarto.

***

A lua já estava alta, Harumi estava sentada na raiz de uma árvore no jardim ocidental do palácio enquanto observava a chave que Frost havia lhe dado. Takeda aproximou-se dela, sentou-se ao seu lado e perguntou:

— E então, Harumi? Ela te disse alguma coisa com relação à gravidez da Tanya?

Harumi respirou fundo, mostrou a chave a Takeda e disse:

— Acho que o que eu preciso saber está nessa chave.

— Como assim?

— Veremos em breve.


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