A ironia em amar você escrita por SS Saibot


Capítulo 6
A prática leva à perfeição.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!



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Não foram para um café. Acabaram se aproveitando do fato de Edward ter um carro e dirigiram até Hampden, onde escolheram uma lanchonete barata e aconchegante e pediram os números mais calóricos do cardápio.

Aquela foi a primeira transgressão de Edward Cullen ao seu cardápio vegetariano no ano e Isabella comentou sobre isso com ele, que riu, bem humorado e disse que a companhia valia a pena, mas esperava sinceramente que a comida também.

Enquanto esperavam seus pedidos, o garoto da biblioteca sugeriu que eles fizessem um jogo para se conhecerem melhor, onde cada um dizia alguma coisa sobre si.

Isabella começou depois que Edward insistiu que primeiro eram as damas. 

— Tenho um gato chamado Phineas — contou, após dar um longo gole em seu refrigerante de cereja.

Os olhos de Edward se expandiram e ela riu.

— De Phineas e Ferb?

Ela riu; percebeu que estava fazendo isso cada vez mais na presença dele. 

— É, e não fique tão surpreso. É uma ótima animação.

Ele balançou a cabeça, concordando.

— Certo — E soltou: — Eu odeio picles.

Isabella não pôde evitar fazer uma careta. 

— Isso não é uma coisa reveladora a se dizer. Quem gosta de picles, a princípio?

Ele gargalhou.

— Tem razão.

— Então, desembuche — Ela insistiu. 

— Bom, eu tenho um fraco por livros de romance. Minha mãe é escritora independente, então cresci lendo e opinando sobre os manuscritos dela. Acredito que passei a gostar mais pelo costume que qualquer outra coisa e quando terminei o ensino médio, não pensei em outro curso que não fosse Língua Inglesa.

Era a vez dela, mas foram interrompidos pela chegada de seus pedidos. Uma porção de fritas com um duplo cheese burguer para ela e batatas fritas e onion rings com um triplo bacon com porção extra de queijo cheedar para ele. Edward a surpreendeu pedindo um copo com medida de um litro de milkshake de morangos silvestres para que eles dividissem. Seu lado de garota perversa não foi totalmente satisfeito quando eles tiveram canudos separados.

— Eu não gosto de livros ou filmes de romance — confessou após comer várias de suas batatas.

Edward afanou uma de suas batatas chips, gesticulando na direção dela.

— Se você não tivesse me contado, eu não teria desconfiado, mesmo após você me deixar com o ego no chão na biblioteca. Mas, você brigou comigo justo por Orgulho e Preconceito. Essa é uma das partes que não consigo entender. 

Isabella suspirou, sua expressão se fechando comicamente ao lembrar do Sr. Langford.

— Meu professor tem um senso muito antiquado e ultrapassado de métodos de instigar a leitura. Todo o nosso cronograma da disciplina é voltada para literatura clássica.

— Uau. Pelo menos, disso não posso reclamar, quando estava na escola, minha professora de literatura era bem versátil. Passamos de O Conde de Monte Cristo para Frankenstein e Crônicas de Fogo e Gelo com muita facilidade.

— Sinta-se privilegiado — Isabella bufou. 

Edward ainda a encarava com curiosidade. 

— Não consigo entender, no entanto, todas as garotas não gostam de flores e romance e cavalheirismo?

— Eu ainda gosto de todas essas coisas, mas não sou obsoleta ao ponto de querer ser influenciada e moldada nos padrões da indústria televisiva, entre outros, ao ponto de acreditar em felizes para sempre e um par romântico ideal, pessoas que mudam umas pelas outras ou qualquer outra bobeira do tipo.

Edward deixou de lado o milkshake, empurrando-o na mesa na direção dela.

— O que há de errado com um pouco de ilusão? O mundo é um lugar tão violento e triste. Se não fosse pelos livros e pelos filmes, muitas pessoas teriam se matado.

Ela sugou de seu canudo. Estava começando a achar que vomitaria. 

— E, por causa deles, muitas pessoas também estão mortas, Edward. As pessoas crescem sob uma perspectiva de romance ruim no qual um homem muda seu caráter por uma mulher ou que, o cara mais bonito vai ficar com a nerd sem graça no final. Então, essas pessoas são inseridas em relacionamentos afetivos tendo uma visão absolutamente deturpada, permanecem em relações abusivas por acharem que o parceiro poderá mudar por ele e as meninas sentem uma necessidade constante de alterarem a si mesmas apenas para se adequar aos padrões aceitáveis. Tudo isso é influência negativa.

— Você, Isabella, é uma destruidora de finais felizes — Ele pontuou e bateu com o dedo indicador sobre a mão dela que estava sobre o a superfície estufada.

— Costumo dizer que não existem finais plenamente felizes ou igualmente tristes. A vida é um padrão mediano sem fim até que se encontra a morte.

— Isso parece muito chato — Ele bufou. — E se eu pudesse provar a você que os finais podem, sim, serem plenamente felizes?

— Eu teria que pedir perdão por me equivocar — Ela sorriu, piscando para ele. — Não que eu ache que isso tenha probabilidade de acontecer.

— Bom, eu já escrevi um livro cuja narração era em primeira pessoa e feita por uma formiga. Isso mostra o quanto eu sou resiliente, não é?

A sobrancelha de Isabella devia estar tocando a linha de seu cabelo com o espanto. 

— Uma formiga?

Edward parecia se divertir com a anedota. 

— É. Uma formiga, depois, um camaleão. Virou uma saga.

Ela gargalhou.

— Não posso competir com isso. A coisa mais legal que já fiz foi um concerto em Liverpool.

— Você toca?

Isabella assentiu com a cabeça. 

— Desde os seis anos. Violino.

— Isso parece incrível. Quando eu tinha oito anos, meus pais me levaram para um observatório. Na verdade, era um campo aberto na Suíça. A irmã da minha mãe mora lá. À noite, todo mundo se reúne nesse espaço, levam cobertores travesseiros e observam às constelações.

— Isso sim parece incrível.

Edward sorriu.

— Pareço mais com o meu pai do que com a minha mãe.

Em vez de responder com outro fato sobre si mesma, ela caiu na risada. 

— Ele também tem esse cabelo indefinível?

Edward lhe mostrou a língua. 

— Não. Herdei essa zona do meu avô Anthony, o pai do meu pai.

— Bom, eu pareço muito com a minha mãe, mas ela tem cabelos louros e eu...Bem, evidentemente não tenho — Sugou um gole de milkshake e também o pôs de lado, decidindo que queria gastar o último espaço de seu estômago, antes que estivesse empanzinada, com o restante das fritas. — Sou fruto de uma produção independente, então meu cabelo muito provavelmente é uma herança genética do doador.

— Está de brincadeira?

Isabella riu do tom incrédulo dele.

— Não estou. Minha mãe é assexual. Isso quer dizer que ela nunca sentiu atração sexual por ninguém, mas sempre quis ser mãe. Quando ela ingressou na profissão dela, viu a oportunidade perfeita para uma gravidez sem par romântico.

Os olhos de Edward pareciam pratos e Isabella não pôde evitar achar aquilo cômico.

— Assexual? — Ele repetiu o termo desconhecido. — Tipo, de assexuada?

— Não. Assexuada é o termo que já conhecemos que se referem aos seres vivos capazes de se reproduzir sozinhos. Assexual é um termo também presente na bandeira LGBT, embora poucas pessoas o citem. É usado para definir pessoas que podem sentir vontade de se envolver romanticamente com alguém, mas não possuem desejo sexual.

Isabella deu de ombros. 

— Minha mãe nunca quis se casar porque acha que os homens são esdrúxulos e porcos na maior parte do tempo, porém, ela já se envolveu com algumas pessoas, mas é difícil fazer durar se você só consegue corresponder à parte emocional de um relacionamento.

— E não há nenhuma comunidade para pessoas como ela? 

— Até tem, mas compromissos não são coisas que podem ser simplesmente arranjadas sem haver uma "conexão", entende? Pelo menos, não mais. Ela já conheceu alguns outros asssexuais, mas não sentiu vontade de se envolver com nenhum deles. 

Edward balançou a cabeça.

— Não fico surpresa que odeie os homens. É de família.

A cabeça de Isabella pendeu para trás quando ela gargalhou.

— Eu gosto de homens — corrigiu. — Adoro o Luke Evans.

O jeito como Edward semicerrou os olhos foi muito fofo. Tão fofo, na verdade, que ela se viu obrigada a usar essa palavra raramente citada em seu vocabulário para descrevê-lo.

— Eu tenho uma concorrência?

— Talvez? — Ela perguntou, roubando uma batata do prato dele e gesticulando em sua direção com a metade mordida presa entre os dedos. — Ele é gay, então, acho que não. De qualquer forma, a ironia mesmo, você ainda não descobriu.

Mas, ela achou que estava perto, pois os olhos dele estavam colados em seus lábios. Involuntariamente, ela passou a língua por eles, apenas para ter certeza de que não havia resquícios de molho picante ali. Estavam brincando de caça ao tesouro ali e Edward estava quente, muito quente mesmo. Sobre o que estavam falando mesmo?

— Ainda tem mais a descobrir? — Ele indagou, os olhos ainda em sua boca.

— Sempre há — Ela pigarreou e deu um sorriso, voltando a fixar os olhos verdes. — Você não vai adivinhar qual é a profissão da minha mãe.

— Conselheira matrimonial? — chutou, erguendo as sobrancelhas.

— Um pouco mais radical — sugeriu.

Stripper?

— Certo, menos radical que isso. Minha mãe é psiquiatra, mas há alguns anos ela vem trabalhando com palestras de orientação sexual para adolescentes e jovens.

— Uau.

— É. A Dra. Renée segue à risca o padrão da teoria fazer a prática.

— E você, gosta de seguir à risca o padrão da teoria?

Isabella pensou por um momento e o sorriso que já estava em seu rosto se expandiu pelos seus lábios quando respondeu:

— Gosto mais de pensar que a prática leva à perfeição.

 


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Notas finais do capítulo

Beijo imenso >>>