Can't pull the sword from the stone escrita por tsaritta
Por entre ruas desertas de uma cidade, um rapaz de cabelos brancos caminhava.
Durante um belo final de tarde nublado, Dante havia terminado a pouco tempo seu último pedido de trabalho do dia.
Sem intenções de voltar tão mais cedo do que esperava para o seu querido estabelecimento, Devil May Cry, o jovem resolveu aproveitar o silêncio e a paz, os quais somente uma rua desabitada poderia oferecer.
— Que belo tempo hein? – Murmurou enquanto observava o céu nublado enquanto caminhava. – Me faz lembrar daquele dia. – Ele sorriu, sem alcançar seus olhos.
Dia após dia, Dante tentava abandonar com todas as suas forças as lembranças de seu irmão.
As lembranças da última vez que ele o viu.
Afinal, já havia se passado um ano. No entanto, sua memória era como um disco arranhado, que insistia em sempre tocar a mesma melodia de um passado que não havia como consertar.
Uma melodia tempestuosa, acompanhada de raios que queimam a pele e de folhas amareladas que lentamente caem ao chão, fracas e sem forças para se manterem vivas.
Um ano, e suas lembranças ainda o torturavam. Especialmente em dias nublados como estes.
— E eu ainda espero que você volte… – Mesmo sabendo que isso nunca iria acontecer.
Respirando fundo, Dante voltou a direcionar seu olhar para a rua à sua frente. Onde ele sempre deveria estar, não divagando.
Não divagando, não naufragando em pensamentos que o afundavam todo dia. Mesmo que nadar contra a correnteza de seus arrependimentos se tornava uma batalha cada vez mais difícil, ele não podia se permitir desistir.
Mas a chuva o imergia no passado.
A passos trêmulos, Dante se forçou a inspirar profundamente outra vez, – um grande nó na sua garganta dificultava sua respiração – para oferecer o oxigênio que seu não tão frágil coração precisava.
No entanto, não importa quantas vezes o rapaz tentava suprimir seus sentimentos, sua mente o culpava incessantemente.
E apesar disso, hoje ele compreende que a culpa é, de fato, dele.
Anos desde a última vez que se viram, – desde que tudo fora destruído pelas chamas – e sua primeira reação fora lutar contra seu próprio irmão, – sua própria carne – com intenção de matar, três vezes.
Por três vezes, Dante poderia ter mudado o destino com suas próprias mãos, e falhou miseravelmente em todas.
Somente depois que tudo havia sido feito e dito, que ele tentou de fato.
Mas não foi o suficiente. Ele não foi forte o suficiente. Não foi rápido o suficiente. Foi patético.
O que lhe restou foi somente um corte na palma da mão, que logo se cicatrizou em poucos segundos, a prova de um fiasco de salvamento desaparecendo sem rastros.
A brisa do vento ficava cada vez mais forte, e com ela, as gotas de uma chuva frígida batiam levemente contra o rosto do jovem de cabelos esbranquiçados.
Que já se encontrava úmido.
— Por que... Dói tanto? – Ele murmurou, cerrando os dentes dolorosamente.
Um trovão pode ser ouvido ao longe, seu ruído quase tão alto quanto o caos que havia se iniciado na mente do caçador de demônios. Um estrondo dos céus tão alto quanto o som dilacerante de um coração meio humano diante do luto, batendo de forma dolorosa e incessante contra seu peito.
Seu peito queimava agudamente como um raio, e de seus olhos azuis tão gélidos, uma cascata torrencial descia continuamente.
Cedendo a fraqueza de seus joelhos, Dante caiu de encontro ao chão, abraçando seus próprios braços trêmulos.
— Por que, Vergil?
A cada respiração uma diferente memória emergia das profundezas de sua mente, prolongando a dor invisível que o atormentava. Mas era impossível se libertar da culpa e solidão que o consumia.
Parado no meio de uma rua vazia, o vulnerável caçador de demônios permitia que a chuva batesse contra seu corpo, o encharcando junto com suas lágrimas, na esperança de que a água limpasse a sordidez de seus arrependimentos.
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