Deixando ir escrita por aflmmart


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas, simplesmente brotou essa ideia hoje pela manhã enquanto eu escutava algumas músicas tristes cof cof
Espero que gostem :D
Até a próxima :*



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A guerra tinha deixado inúmeros fantasmas para o mundo shinobi. Só o tempo poderia ajudar a aliviar os estragos que se encontravam pelas vilas, com certeza seria um árduo trabalho para os Kages reerguer tudo aquilo que fora devastado.  

Era estranho pensar que esse seria o meu trabalho, visto que Tsunade estava disposta a me passar a posição de Hokage o quanto antes. Não a julgo, eu certamente faria o mesmo se estivesse em seu lugar. Infelizmente eu não poderia recusar esse posto, mas tinha em mente que seria algo passageiro, só ocuparia tal posição até que Naruto estivesse apto a assumir, e se dependesse dele tornaria esse processo o mais rápido possível.  

Estava cansado de assumir responsabilidades desse nível, não pudera nem tirar um tempo para processar tudo que havia passado na guerra. As vezes parecia apenas um pesadelo distante, outras vezes parecia que ainda não havia acabado.  

Inúmeras noites acordava assustado, o rosto de Obito surgia em seus pesadelos o culpando pelo que ele tinha se tornado. Claro que sempre acordava exasperado e tinha que concentrar seu foco em lembrar que no final Obito o havia perdoado e até mesmo acabou ajudando a aliança Shinobi a vencer a guerra.   

Olhou pela janela, o sol já dava indícios de sair. Mais uma noite que praticamente não dormira. Suspirou derrotado. Estava cansado, talvez já estivesse velho demais para tudo aquilo. Antes que pudesse sequer tomar um banho escutou as batidas na porta. Seguiu até a sala já pensando em como se livrar de quem quer que fosse.  

— Kakashi oe! - Gai era sempre tão enérgico, mesmo naquelas horas. - Vim te acompanhar para sua posse. - Estreitou os olhos na direção do amigo. Ali estava a única pessoa que não conseguiria despistar. 

— Ainda temos tempo para isso. - Falei cedendo, dei passagem o ajudando com a cadeira pelos degraus da entrada. - Vou tomar um banho, fique à vontade. - Não esperei por uma resposta.  

Olhei mais uma vez para a capa com os dizeres  “Sexto Hokage”. Sexto Hokage repetiu mais umas duas vezes em sua mente. Nunca sequer cogitou querer isso, desde sempre era sonho apenas de Minato, Obito e Naruto, mas agora era ele que se preparava para tal. O cheiro de comida chamou sua atenção, então terminou de se vestir e seguiu para a cozinha encontrando Gai preparando um café da manhã.  

— Eu nem sabia que tinha os ingredientes para tudo isso aqui. - Comentei enquanto me servia de ovos e suco.  

— Você parece aéreo, distante.  

— Está tão na cara assim? - Senti seu olhar me avaliando, mas estava concentrado demais em olhar minha própria comida para encará-lo de volta.  

— Você precisa conversar com alguém sobre isso.  

— Tenho outras prioridades no momento. Espero poder contar com seu apoio, vai ser mais fácil se você estiver ao meu lado. - Falei sincero.  

— E algum dia eu deixei de estar? - Seu sorriso voltou para o rosto.  

— Verdade. Acho que nunca lhe agradeci de forma sincera.  

— Não se agradece amizade Kakashi. Nossa eterna rivalidade nos tornou quem somos hoje. - Sorri, ter Gai sempre presente era sem dúvidas um afago para seu emocional abalado. - Agora vamos, fui designado para te acompanhar e não o deixar se atrasar.  

— Até parece que eu me atrasaria para isso. - Sorri sem convencer nem mesmo a mim sobre isso.  

Não teria cerimônia, não havia sentido uma comemoração sendo que ao lado no hospital a situação ainda estava caótica, fazia duas semanas desde o término da guerra ainda havia muitos feridos internados. Seria apenas uma reunião entre mim, Tsunade, Koharu e Homura, Gai e Shikamaru. Todos já se encontravam no escritório quando chegamos.  

— Kakashi que bom vê-lo. - Tsunade estava radiante, sequer disfarçava o alívio de finalmente deixar o cargo.  

— É bom vê-la também Hokage.  

— Deixe disso, apenas Tsunade por favor.  

— Como queira. - Após nosso breve cumprimento todos sentamos ao redor de uma mesa, os olhares atentos de Koharu e Homura me deixaram desconfortáveis, mas eu teria que aprender a lidar com isso.  

— Há muito a ser feito. - Shikamaru iniciou, deixando de lado qualquer enrolação. Objetivo e direto como sempre. - Precisaremos de um plano diretor que possa nos dar um norte na reconstrução da vila. Agora que Tsunade vai assumir inteiramente a direção do hospital provavelmente as coisas vão se organizar por lá, mas ainda assim a situação é preocupante.  

— Com relação a isso vou contar com Sakura e Shizune para me ajudarem.  

— Quando as coisas se estabilizarem será o caso de melhorarmos e ampliarmos o setor de ensino para médicos ninjas. - Comentei. Tsunade sorriu satisfeita em minha direção.  

— Não sei se será realmente uma prioridade visto que entramos em período de paz. - Homura falou.  

— Claro que será prioridade, as missões irão continuar e mesmo sendo tempos de paz não podemos nos dar o luxo de relaxar no ensino de nossos ninjas. Temos que ter em mente progresso em todos os setores e não somente estabilização. - Falei sério. Pelo visto eu teria muitas discussões pela frente com aqueles dois conselheiros.  

— Eu concordo. - Tsunade falou.  

— Levando isso em consideração, sugiro determinarmos uma cadeia de comando em todos os setores, sendo que o líder de cada setor deve se reportar diretamente com o Hokage. Dessa forma teremos um meio para mantermos tudo organizado. - Shikamaru era ágil, sem dúvidas eu não poderia escolher um assistente melhor.  

— E como isso funcionaria meu jovem? - Koharu perguntou.  

— O setor sensorial, aquele responsável por proteger os limites da vila, ficaria a cargo de Ino Yamanaka.  

— Mas ela é muito jovem para isso... - Homura argumentou.  

— Ino se mostrou mais do que capaz na guerra, superando até mesmo seu pai, Inoichi, em campo de batalha. - Falei sério, ambos os conselheiros olharam entre si.  

— A ANBU deve ficar sob comando de Sai. - Sai era de fato minha primeira sugestão, mas não achei que fosse a de Shikamaru.  

A reunião seguiu de forma a determinar os setores e seus líderes. Claro que Homura e Koharu tinham muito o que dizer, se intrometer, sobre o assunto. Eu me questionava a todo momento se teria alguma forma de aposentar aqueles velhos de uma vez, e assim facilitar e muito minha vida. Quando por fim encerramos esse assunto, um novo surgira e esse era ainda mais complexo.  

— Precisamos debater o futuro de Sasuke Uchiha. - Eu e Tsunade nos entreolhamos quando Koharu falou.  

— Isso é um assunto a ser tratado com os demais líderes da Aliança. - Falei, tentando me esquivar desse assunto.  

— Sim, mas precisamos saber seu posicionamento a respeito. O Uchiha está sob nossa jurisdição no momento e sabemos que seu depoimento será fundamental para a libertação ou prisão do mesmo. - Homura falava e eu só queria não ter que responder, eu já sabia o posicionamento daqueles dois sobre o assunto, e era totalmente contrária à minha.  

— Não devemos nos esquecer que foi graças a Sasuke Uchiha, Naruto Uzumaki, Sakura Haruno e Kakashi Hatake que a guerra teve um fim favorável a Aliança. Isso deve ser levado em consideração no julgamento. - Tsunade falou severa.  

— Mas isso não apaga os crimes cometidos pelo Uchiha. - Koharu argumentou.  

— Mas isso envolve muitas outras coisas, como por exemplo o massacre do clã Uchiha. Se formos colocar tudo a limpo então precisaremos rever o posicionamento dos conselheiros sobre esse fato. - Não era minha intenção ameaçar, mas se eles queriam levar tudo no preto e branco então teríamos que revisar muita coisa. Novamente os dois conselheiros olharam entre si.  

— Se me permitem falar... - Todos nos viramos para Gai que até então apenas escutava atento os demais. - Essa guerra serviu para nos mostrar que decisões arbitrárias podem alavancar em muitas consequências. O posicionamento de Sasuke Uchiha durante a guerra foi fundamental para o mundo Shinobi, e não somente para a vila da folha. Aquele garoto já perdeu tudo algumas vezes, condena-lo seria como se tivéssemos voltado à estaca zero. - Sorri satisfeito com o posicionamento dele.  

— Então sugere que o apenas devemos soltá-lo? - Koharu perguntou.  

— Não estou sugerindo nada. Até porque não cabe a mim decidir a respeito. Mas se minha opinião conta em alguma coisa acho que já nos prendemos demais a erros do passado, e isso não vai levar a nada daqui para frente,  

— Não sei. A população pode questionar sua autoridade Kakashi. - Homura foi enfática.  

— Como eu disse isso será discutido apenas na próxima reunião com os Kages, no momento ele permanece preso sob vigilância.  

Já era noite quando consegui finalmente sair daquele escritório, estava morrendo de fome, mas isso ainda teria que esperar mais um pouco. Decidi passar no hospital e olhar de perto como as coisas estavam indo.  Não foi surpresa ver que Sakura estava ali, me perguntei se ela sequer ia para casa algum horário.  

— Sakura. - A chamei, os olhos verdes adornados por imensas olheiras se viraram para mim, um sorriso mínimo se formou em seus lábios.  

— Kakashi sensei quanto tempo. Está sentindo alguma coisa? - O olhar treinado percorreu todo meu corpo procurando por ferimentos.  

— Não, não. - Me apressei a responder. - Vim saber como andam as coisas por aqui. - Expliquei.  

— Entendo. - Ela olhou ao redor. - Ainda temos muitos pacientes internados, os médicos estão fazendo turnos dobrados e os suprimentos médicos estão escassos. - Ela suspirou. - Mas ainda assim a situação está bem melhor do que semana passada. A taxa de óbitos caiu bastante, assim como os pacientes que precisam de amputações. Nossos médicos conseguiram alguns pequenos milagres entre essas paredes. - Ela finalizou orgulhosa.  

— Entendo. Vocês médicos estão fazendo um excelente trabalho. - Ela corou. Eu estava tão orgulhoso. - E quanto a você, como está indo? - Ela ficou confusa com a pergunta e demorou um pouco a responder.  

— Eu estou bem, fico feliz em poder ajudar.  

— Mas tem que se cuidar também. - Falei enfático.  

— Não se preocupe, eu conheço o meu limite. - Ela falou sorrindo. - Agora mesmo estava para encerrar meu turno, preciso urgentemente de alguma comida. - Como se para confirmar o que dizia seu estômago fez barulho.  

— Então o que acha de irmos comer algo? - Sugeri. - Também estou precisando de alguma comida.  

— Eu adoraria. - O sorriso em seu rosto aumentou, e em mim aquilo teve um efeito estranho. Observei ela se afastar enquanto ia guardar o próprio jaleco, se sentiu feliz ao ver o quanto ela tinha amadurecido. - Kakashi sensei?  

— Oi?  

— Estava perdido em seus pensamentos? Perguntei se já podemos ir. - Ela riu.  

— Claro, claro.  

Seguimos pelas ruas pouco movimentadas, as construções eram predominantes na paisagem, sendo poucos os prédios que já estavam concluídos. Pelo que eu sabia somente o Ichiraku e o Churras-Ko estariam abertos àquela hora.  

— Onde gostaria de ir? - Perguntei quebrando o silêncio.  

— Hum... Naruto me arrastou para o Ichiraku essa semana toda, então se não se importar vou escolher o Churras-ko.  

— Sem problemas.  

Seguimos até o estabelecimento, havia pouco movimento e a funcionária nos levou até a mesa mais afastada, olhei curioso em sua direção. Qual seria o motivo para isso?  

— Sou Hirui e estou aqui para atendê-los. Posso trazer algo para o casal? - De imediato olhei para Sakura a minha frente que agora estava da mesma cor dos cabelos. Fui rápido em esclarecer.  

— Não somos um casal. Mas adoraríamos uma jarra de suco. - Hirui olhou de mim para Sakura e assentiu se afastando.  

— Tem ido visitar Sasuke? - Perguntei tentando acabar com o clima estranho que ficou após o comentário. Ela inclinou a cabeça para o lado, pensativa.  

— Não. Ele proibiu que eu fosse vê-lo. - A mágoa era nítida em sua voz.  

— Imagino que ele deve estar se sentindo envergonhado. Não deve ser pessoal.  

— Eu sei. - Sua fala era melacólica.

— E quanto a Naruto? Como anda o desenvolvimento da prótese?  

— Muitíssimo bem. Tsunade acha que no mais tardar semana que vem já poderá ser fixado. Naruto está bem ansioso. Não para de falar que precisa logo disso para poder começar seu novo treinamento.  

— Ele não cansa não é mesmo? - Ri, Naruto era bem previsível.  

A conversa fluiu sem problema algum, era fácil conversar com Sakura. Não havia cobranças nem grandes expectativas. Depois de pagar pela refeição eu me ofereci para acompanhá-la até em casa. Seguimos o caminho em silêncio, mas não era desconfortável.  

(...) 

Durante as semanas que se seguiram o trabalho era prioridade, não só para mim, mas todos estavam empenhados em reconstruir a vila, e não foi surpresa ver que, após dois meses de minha posse, a vila estava praticamente de pé. Eu estava orgulhoso do trabalho que conseguimos desenvolver, claro que a ajuda de Shikamaru foi mais que fundamental para que tudo isso acontecesse de forma ordenada e efetiva.  

Eu ainda me sentia perdido em relação a algumas coisas, mas o tempo era escasso para que eu parasse para me situar. Uma mudança notável do pós guerra foi a frequência que os cinco Kages se reuniam, com a aliança os problemas de grande porte agora eram resolvidos entre os cinco líderes, o que eu considero como um grande avanço.  

Sasuke havia sido julgado e surpreendentemente inocentado de todas as acusações. Os conselheiros insistem em dizer que meu depoimento foi fundamental, mas eles não sabem que na verdade o único depoimento que teve realmente algum valor foi o do Naruto. Ele era sem dúvidas a pessoa mais respeitada em todo o mundo shinobi.  

Agora estou eu aqui olhando para dois dos meus alunos. Sasuke está pronto para seguir viagem, mas dessa vez livre de qualquer culpa. Eu entendi quando o mesmo me pediu esse tempo para si. Ter sua vida virada do avesso como ele teve era de fato muito para ser absorvido.  

— Bom, vou ser direto. Por lei você deveria estar na prisão. Mas nós ouvimos seu apelo e todas as suas ações até agora foram perdoadas. Quebrar o Reino do Pesadelo Infinito teve grande peso nessa decisão. Além do fato de eu ter virado o Sexto Hokage, e o Naruto uma das pessoas mais importantes da guerra, ter testemunhado a seu favor. Não se esqueça disso. E por favor, não se descuide. Ou então eu serei responsabilizado. 

— Entendido. Obrigado.  

— Você tem mesmo que ir? - Olhei de canto para Sakura, seu rosto mostrava a tristeza em ver seu grande amor partindo mais uma vez. - O braço artificial que Tsunade está criando com as células do Hashirama logo ficará pronto...  

— Preciso de tempo para entender meus sentimentos. Sobre como eu devo ver o mundo ninja, este mundo. Talvez eu consiga ver coisas que nunca vi antes. Coisas que não podem ser vistas se eu não fizer isso. E há algo que me preocupa. 

— E se eu dissesse... que quero ir com você? 

— Essa é uma viagem para pagar meus pecados. - Olhei atento e com certo desconforto a conversa entre os dois. - Meus pecados não tem nada a ver com você. - Sakura provavelmente estava frustrada, e eu não tirava sua razão. Sasuke era sempre difícil de lidar.  

— Nada a ver comigo? - Sua voz era mínima. Observei Sasuke se aproximar dela e tocar sua testa com dois dedos. Uma memória a muito esquecida surgiu em minha mente. Esse era o gesto que Itachi fazia em Sasuke quando os dois eram pequenos. Olhei para Sakura vendo seu rosto tomar a cor de seus cabelos, ela sequer tinha noção do significado daquele gesto, mas fiquei satisfeito de ver que a promessa entre os dois havia ficado subentendida. 

— Talvez na próxima. Obrigada. - Sasuke se virou seguindo seu caminho.  

Ficamos um tempo ali parados olhando-o se afastar. Por um breve momento senti como se meu dever estivesse cumprido. E de fato estava. Meus três alunos agora poderiam seguir suas vidas e conquistar seus objetivos sem qualquer interferência. Me virei para Sakura.  

— Vamos voltar? Estou realmente interessado sobre o projeto que você e Ino pretendem me apresentar. - O olhar de Sakura mudou na mesma hora, passando para um olhar determinado. Eu ainda ficava impressionado em vê-la de tal forma. Sakura sem dúvidas estava se tornando uma grande mulher, ao contrário daquela menina insegura que eu havia conhecido.  

— Vamos.  

A apresentação das duas jounins foi impecável, e não havia dúvidas sobre qual seria meu veredito. Eu nem sei dizer se elas entendiam o quanto eram necessárias para a vila, e tentei deixar isso claro quando concordei de prontidão com seu projeto. Uma clínica de saúde mental voltada para crianças era sem dúvidas uma ideia inovadora.  

As duas saíram praticamente pulando de entusiasmo do meu escritório e não contive o sorriso que surgiu ao vê-las assim. Era contagiante. Senti o olhar analítico de Shikamaru ao meu lado, me virei em sua direção.  

— Ande desembuche.  

— Você deveria ter consultado os conselheiros antes de aceitar. - Ele suspirou. - Sabe que eles vão encher o saco por conta disso.  

— Acho que já passou da hora deles se aposentarem. - Bufei. - De qualquer forma você sabe tanto quanto eu que independente do que eles digam eu vou levar esse projeto adiante.  

— Eu sei, e concordo com você.  

O pôr do sol já era visível quando por fim sai do escritório. Só agora a rotina do serviço estava se estabilizando, e confesso era bom ter horários definidos. Segui rumo a minha casa, precisava de um bom banho e claro um tempo com meu precioso livro. Ah tempos não conseguia uma hora de leitura tranquila. Qual foi minha surpresa ao encontrar Sakura nos degraus de entrada da minha casa? Me aproximei e notei que ela estava com os olhos fechados e a cabeça encostada na parede.  

— Sakura? - Ela sorriu mas não abriu os olhos. - Tudo bem?  

— Uhum. 

— E o que faz aqui? - Ela abriu os olhos e o sorriso aumentou ainda mais.  

— Vim agradecer. - Sua voz estava arrastada, indicativo que tinha bebido.  

— Entendo. Mas não precisa, qualquer pessoa teria feito o mesmo no meu lugar.  

— Mesmo assim. - Ela voltou a fechar os olhos, no segundo seguinte ressonava tranquila encostada em minha parede.  

Era óbvio que não seria hoje que eu teria meu momento de paz. - Falei comigo mesmo. Contrariado eu me aproximei, pegando seu corpo em meu colo e levando para dentro. Tentei ser o mais suave possível ao coloca-la sobre minha cama e retirei seus sapatos a cobrindo. Daria uma bronca em Tsunade, onde já se viu. Sakura ainda nem tinha atingido a maioridade. Fui até o guarda-roupa pegar uma muda de roupas para mim e um cobertor para que eu pudesse dormir na sala. Era óbvio que a rosada só acordaria no dia seguinte, e com uma bela de uma ressaca.  

Depois de um banho tomado, preparei um ramén para mim rapidamente ansioso para me jogar no sofá, o livro já esquecido teria que ficar para outro dia. O sono era maior. Antes de finalmente deitar fui até o quarto novamente, levando uma garrafa com água e uns comprimidos para dor de cabeça, deixando na mesa ao lado da cama, ela precisaria.  

Acordei sentindo o cheiro incomparável de café, ergui minha cabeça sobre o sofá olhando Sakura encostada na pia da cozinha concentrada na xícara em suas mãos.  

— Bom dia. - Arrumei a máscara em meu rosto e me sentei esticando meu corpo, era óbvio que estava dolorido. O sofá era pequeno demais. - Se sente melhor?  

— Sim, obrigada por cuidar de mim ontem. - Seu rosto estava tão vermelho quanto sua roupa. - Desculpe ter aparecido daquela forma.  

— Sabe que não deveria beber, ainda não é maior de idade. - Fiz minha melhor expressão de sério. - Não sei o que diabos Tsunade tem na cabeça.  

— Ah... não. Ela não pode nem sonhar com isso. Na verdade, eu acabei bebendo com Ino, se Tsunade souber é capaz dela me matar. - Os olhos verdes estavam arregalados de medo.  

— Tudo bem, não sou eu que vou contar. Mas me prometa que vai se cuidar melhor. Ainda bem que veio parar aqui em casa, sabe lá o que teria te acontecido se tivesse ido para um lugar qualquer. - Ela estremeceu, provavelmente entendendo o peso das minhas palavras.  

— Prometo. - Falou rapidamente. Ela olhou para sua xícara. - Fiz café, espero que não se incomode.  

— Só se tiver um pouco para mim. - Sorri e ela retribuiu o sorriso.  

— Tem sim.  

Meu humor não estava dos melhores por ter dormido de qualquer jeito, mas claro que o dia estava só começando e quando entrei no escritório lá estavam, Koharu e Homura prontos para me importunar. Suspirei desejando internamente achar uma forma de fugir dali sem maiores problemas.  

Mas era óbvio que Shikamaru não me daria essa folga, e como se soubesse o que eu pretendia veio logo até a porta me dando passagem para entrar. Estreitei meus olhos em sua direção e ele sustentou o olhar como se me desafiasse a fugir. Era inútil então me dirigi até a mesa e esperei pelo sermão que ambos os conselheiros já deveriam ter na ponta da língua.  

O resto do dia seguiu sem alardes, apenas pilhas e pilhas de documentos para que eu assinasse e nessas horas eu me lembrava do quanto era bom manter Shikamaru por perto. Mas só nessas horas. Já era hora de ir embora quando Ino apareceu pedindo para falar comigo.  

— No que posso te ajudar Ino? - Perguntei educadamente.  

— Vim me desculpar. - Ela abaixou a cabeça e continuou a falar. - Sakura me contou que acabou indo até sua casa. Foi culpa minha termos bebido, e prometo que isso não voltará a acontecer. - Shikamaru olhava de mim para Ino com olhos curiosos.  

— Sim foi errado, mas como disse para Sakura eu não vou contar a Tsunade sobre o ocorrido, não se preocupe. E fico satisfeito de saber que vocês duas aprenderam a lição.  

— Obrigada Hokage.  

— Se era só isso... 

— Eu já estou indo. Até mais Shikamaru. Hokage. - Ela fez uma leve reverência antes de sair.  

— O que aconteceu ontem à noite? - Shikamaru se sentou na minha frente.  

— Sakura estava sentada bêbada na entrada da minha casa. - Suspirei coçando minha nuca. - Ao que parece elas beberam para comemorar o andamento do projeto.  

— Sakura e Ino bêbadas? Tá aí uma cena que eu gostaria de ver. - Um sorriso malicioso brotou em seus lábios.  

— Não pense besteiras Shikamaru. Ela acabou dormindo no chão mesmo e eu a levei para dentro. Só isso.  

— Não pensei besteiras. - Ele se defendeu. - Até porque só existe uma única mulher para mim. E essa por si só já é bem problemática.  

— Se for quem eu estou pensando então de fato você tem motivos para ficar preocupado. - Ri de sua careta. Temari era sem dúvidas uma mulher de opinião forte.  

(...) 

Era o dia da inauguração da clínica e isso era motivo para uma celebração. Junto de Sakura e Ino organizamos um baile beneficente para comemorar. A ideia foi delas é claro, mas era algo que renderia bons frutos. Todo o dinheiro arrecadado iria ser investido no orfanato que agora existia em Konoha.  

Me olhei no espelho satisfeito com minha aparência, Gai e Yamato passariam aqui para irmos até o salão. Seguimos os três conversando e rindo, já tinha uma fila razoável na entrada e felizmente eu não precisaria ficar ali esperando. Vantagens de ser Hokage.

Já dentro do salão percebi como as duas haviam se esforçado para fazer aquilo dar certo. O lugar estava bem arrumado, convidativo. Um palco médio estava na frente de algumas mesas e uma pista de dança se fazia presente no meio do salão. Levei minha mão até o bolso satisfeito por ver que não tinha esquecido o papel que continha meu discurso. Uma das partes negativas de ser Hokage.  

Naruto estava ali, nem parecia o ninja cabeça oca que eu conhecia. Sua postura e vestes me lembravam de Minato. Claro que isso quando estava de boca fechada. Notei que ao seu lado estava Hinata, os dois próximos demais. Finalmente o cabeça oca tinha descoberto que a Hyuga era apaixonada por ele? Bom esperava que sim, aqueles dois mereciam ser felizes.  

O salão aos poucos foi enchendo, rostos conhecidos por toda a parte. Me sentei na mesa principal ao lado de Tsunade e estávamos entretidos numa conversa quando fiquei sem palavras ao ver Sakura e Ino se aproximarem. A rosada vestia um longo vestido vermelho que acentuava bem suas curvas que até então não tinha sequer reparado. Uma fenda deixava a mostra sua perna direita revelando o quanto seu treinamento estava em dia. O cabelo que sempre vivia preso em um coque agora caía solto em ondas até a cintura emoldurando um rosto iluminado com um batom no mesmo vermelho intenso do vestido. Tsunade percebeu meu olhar e se virou em direção a aluna. Tentei manter o foco, o que era difícil. Sakura estava perfeita, e essa era a primeira vez que constava que a via como uma mulher de fato, não mais uma adolescente.  

— Feliz aniversário Sakura! - Tsunade se levantou a puxando para um abraço. Que dia era hoje? Aniversário da Sakura? Fiquei desconfortável por não ter percebido. Ino estava atrás e me olhava de forma estranha, mas ignorei me colocando de pé sem saber como prosseguir. Eu deveria abraçar Sakura pelo aniversário? Teria essa intimidade com a rosada? Mas antes que pensasse demais Sakura o envolveu num abraço apertado. Apenas retribui desajeitado o gesto.  

— Obrigada pelo dia de hoje Kakashi sensei. - Ela sussurrou ainda me apertando contra seu corpo.  

— Obrigada você Sakura. Parabéns pelo aniversário também. - Ela estremeceu ainda em meus braços. - Acho que agora você já é adulta para beber. - Brinquei e ela riu, fazendo nossos corpos tremerem em sintonia. Nos afastamos e percebemos que os olhares estavam sobre nós. Obviamente ela corou e seguiu seu caminho com Ino.  

— Eu vi isso. - Tsunade tinha uma sobrancelha arqueada enquanto falava.  

— Isso o que? - Perguntei sem entender. 

— Vocês dois.  

— Não sei do que está falando. - Fui sincero.  

— Cuidado Kakashi, sabe muito bem que esse é um caminho perigoso. - Ela me alertou. Virei meu rosto para onde Sakura estava conversando animada com Naruto.  

Depois do meu discurso uma mesa com comes e bebes foi liberado, assim com a pista de dança. Os casais se amontoavam buscando um espaço para rodopiarem. Yamato ao meu lado olhava para um grupo de mulheres que o encarava de volta. Gai também estava concentrado naquele grupo.  

— Vocês deviam ir falar com elas. - Tentei encorajar.  

— Não é para nós dois que elas estão olhando. - Yamato falou cabisbaixo.  

— Como assim? - Olhei ao redor, éramos as únicas pessoas naquela direção.  

— É você que elas estão encarando. - Gai falou rindo. Olhei espantado, me virei em direção a elas e no mesmo momento começaram a cochichar entre si.  

— Uma perca de tempo então. - Falei tranquilo.  

— Por que você não convida uma delas para dançar? Já está na hora de pensar em uma família Kakashi senpai. - Estreitei os olhos para Yamato, tanto pelo comentário em si, como pela forma que me chamou, ele claro não se intimidou e abriu um largo sorriso.  

— Sabe que não penso sobre isso.  

— Pretende morrer sozinho meu amigo? - Gai me olhava curioso.  

— O dia que vocês dois resolverem essa questão aí posso pensar a respeito.  

— Isso é um desafio? - Claro que Gai levaria nesse sentido.  

— Não. - Me apressei a falar. Longe de mim fazer daquilo uma aposta.  

— Mas acho que todos nós devemos pensar seriamente a respeito. Estamos ficando para trás. - Yamato se virou para onde os mais novos dançavam em pares. - Até mesmo Sai conseguiu encontrar alguém. - No meio da pista Sai dançava, desajeitado, com Ino. Os dois sorriam um para o outro como se compartilhassem o melhor dos segredos.  

— Eu não sabia que estavam juntos. - Comentei.  

— Naruto também não fica atrás. Parece que se deu conta que Hinata sempre esteve por perto. - Gai comentou e olhei os dois dançando mais no canto. - Me preocupo com Tenten, sei que perder Neji foi um tremendo baque emocional para ela. Mas ao que parece Lee está empenhado a conquistá-la.  

— E nós viramos as velhas fofoqueiras. - Comentei rindo, os dois me acompanharam na risada.  

— Posso saber o motivo de tanta risada? - Sakura se aproximou sentando ao lado de Gai.  

— Você não acha Sakura, que Kakashi deve pensar em começar uma família? - Fechei a cara para Yamato, mas a risada de Sakura me chamou a atenção.  

— Sabe Kakashi sensei, opções é que não faltam. - Ela se virou para o mesmo grupo de mulheres que estávamos olhando minutos atrás.  

— Yare, yare. Me deixem em paz com esse assunto. - Falei irritado. - Por que não está dançando assim como seus amigos? - Perguntei para Sakura tentando mudar de assunto. Ela se virou olhando para a pista de dança.  

— Todos tem seus pares. - Falou simplesmente, e eu entendi. O par dela não estava ali e isso a deixava triste.  

— Dance comigo. - Me repreendi assim que tais palavras saíram de minha boca, mas o convite já estava feito não tinha porque retira-lo. Fiquei de pé parando na sua frente e lhe estendendo a mão. Ela mordeu o lábio enquanto olhava minha mão pensando a respeito. Um sorriso tímido surgiu em seus lábios quando ela segurou minha mão. A conduzi até a pista sentindo os olhares sobre nós. Ela ao meu lado olhava para baixo envergonhada. 

— Todos estão nos olhando. - Ouvi ela sussurrar.  

— Se for atenção demais podemos voltar até a mesa. - Eu não queria que ela se sentisse desconfortável.  

— Não, tudo bem. - Ela levantou o rosto e sorriu para mim. Coloquei minha mão sobre sua cintura fina, tentando conter a vontade que tinha de acariciar. A outra mão eu segurava a sua suavemente. Ela colocou sua mão em meu ombro e nos encaramos por um momento antes que começássemos a dançar.  

Eu obviamente nunca fui chegado à dança, nada do gênero me era atrativo. Mas ali naquele momento eu soube apreciar cada segundo, e quando a música acabou não nos separamos. Eu pelo menos não queria. Me sentia confortável em tê-la daquela forma e sabia que depois que nos afastássemos eu provavelmente não teria mais nada como aquilo. Fiquei satisfeita em ver que ela tão pouco queria parar, o sorriso em seus lábios tingidos de vermelho era algo que me tomava a atenção e felizmente ela estava de olhos fechados como se aproveitasse ao máximo nossos movimentos.  

Os olhares sobre nós era um constante aviso que aquilo era de alguma forma inadequado. Mesmo que não parecesse nenhum pouco para mim. Então quando a segunda música parou eu tomei a liberdade de nos afastar. Sorri ao ver a careta que ela fez ao abrir os olhos e notar que ainda era o centro das atenções.  

— Sabe que suas fãs irão ficar decepcionadas. - Ela comentou enquanto voltávamos para a mesa, Yamato e Gai continuavam ali. Ambos me olhavam de uma forma estranha.  

— Se te faz sentir melhor, eu realmente não me importo. - Ela riu.  

— Obrigada, eu achei mesmo que não fosse dançar. - Ela corou.  

— Não seja por isso, estou à disposição.  

— Não sabia que você dançava Kakashi. - Yamato falou segurando a risada.  

— Mais uma coisa que meu rival me superou. Assim fica difícil competir amigo. - Gai ao contrário de Yamato não fez questão de se segurar.  

E- le dança muito bem mesmo. Agora as mulheres irão cair matando em cima para conquistá-lo. - Sakura entrou na brincadeira. Me encolhi na cadeira ligeiramente irritado.  

Os três continuaram a zoar com a minha cara, mas tirando isso a noite foi de longe mais agradável do que realmente esperava. Já era madrugada quando resolvi ir embora.  

— Eu também vou. - Yamato falou já se levantando ao meu lado. 

— Me esperem então, vou me despedir de Lee e Tenten e vou também. - Observei Gai se afastar. 

— Então os senhores de idade já se cansaram? - Sakura ria divertida. Eu e Yamato nos viramos para olha-la.  

— Fica rindo Sakura, a idade chega para todo mundo. - Yamato falou, esse já era perceptível que tinha passado do limite na bebida.  

— Alguém tem que cuidar dos amigos bêbados não é mesmo Sakura? - Perguntei e ela fechou a cara.  

— Um dia eu vou vê-lo de guarda baixa Kakashi sensei, e vou me aproveitar da situação. - Ela provavelmente não percebeu como sua frase soou ambígua. E não seria eu que diria algo a respeito.  

— Hum Kakashi... Sakura quer seu corpo nu. - Me virei de olhos arregalados para Yamato que ria sozinho da própria piada. Eu deveria estar vermelho de vergonha, Sakura certamente estava.  

— Eu não falei nada disso. - Ela falou esganiçada, já fechando a cara para Yamato. - Capitão Yamato cuidado com o que fala.  

— Não dê importância Sakura, amanhã ele sequer vai se lembrar que disse isso. - Mas eu com certeza vou. Claro que não completei em voz alta.  

— Acho melhor eu procurar por Ino, depois dessa acho que vou embora também. - Ela olhava pelo salão.  

— Ela já foi embora. - Gai falou ao se aproximar. - Acabei de ver ela saindo com Sai.  

— Argh. Ok então.  

— Eu a acompanho. - Sugeri, novamente as palavras pareceram sair sem controle algum de minha boca.  

— Minha casa fica do lado oposto da de vocês, não se preocupe. - Ela se levantou procurando por algo, até que achou sua bolsa.  

— Kakashi tem razão, já é tarde. Não é certo que uma moça como você ande sozinha essas horas. Deixe que eu cuido do Yamato. - Gai falou sério, mas seus olhos revelavam algo a mais quando me olhou. Assenti.  

— Certeza? - Sakura perguntou para mim.  

— Sim, não vai ser nenhum incomodo. - Falei dando meu melhor sorriso, mesmo que ela não pudesse ver por conta da máscara.  

— Fazia uma noite agradável, com temperaturas amenas por ser primavera e claro que as árvores pelo caminho estavam todas floridas. Sakura a cada passo fazia uma careta como se algo a tivesse incomodando.  

— Já falei, esquece o que Yamato falou sei que não foi sua intenção. - Tentei deixa-la mais tranquila.  

— Ah, não estava mais pensando sobre isso. - Ela falou seguida de uma nova careta.  

— Então o que te incomoda? Está fazendo caretas desde que saímos.  

— Esses sapatos deveriam ser proibidos. - Ela olhou para os próprios pés. Eu deveria concordar, aquilo não parecia ser feito para andar, deveria exigir muito esforço se manter em pé em um salto tão alto e fino como aquele. Por outro lado, assim que ela esticou o pé para que eu pudesse ver a fenda em sua perna se abriu revelando a pele alva de sua coxa roliça. Sakura não tinha noção alguma do que aquilo me causou, mas no momento seguinte eu corria com ela em meus braços, sua expressão de assustada por ser pega de surpresa não me impediu de continuar o caminho daquela forma. Parei em frente a sua porta a colocando de pé.  

— Problema resolvido. - Ela parecia tentar voltar ao normal balançando a própria cabeça.  

— Eh... er... obrigada eu acho. - Ela falou desconcertada. Dei um breve aceno me afastando.  

Segui até minha casa confuso, o que diabos tinha sido aquela noite? Que sensações eram aquelas? Porque estava olhando daquele modo para Sakura? As perguntas vinham com facilidade, mas não obtinham qualquer resposta plausível.  

Tomou um banho gelado tentando acalmar os ânimos e se jogou na cama, obviamente não dormiria nada aquela noite, felizmente amanhã era domingo e não tinha que ir até o escritório. Se revirou na cama algumas vezes, mas já se sentia entediado. Olhou de relance sua pequena estante e optou por pegar um de seus preciosos livros.  

Apesar de saber de cor e salteado, não era uma leitura maçante. Sentia que toda vez que relia encontrava detalhes que antes não havia percebido. O casal protagonista vivia uma história repleta de altos e baixos, regado a algumas brigas, mas também a muito sexo. E nessa parte mestre Jiraya adorava detalhar com exatidão. Eu já estava na metade do livro, lá fora o dia já amanhecera a algum tempo, mas pouco importava. Foi quando leu um trecho que de alguma forma dessa vez mexera com seu interior.  

Minha felicidade era ver que ela estava feliz, mesmo que isso não fosse ao meu lado.”  

O protagonista estava disposto a deixar sua amada ser feliz ao lado do homem que ela supostamente achava amar, e nesse caso não era ele. De imediato me veio à mente o rosto de Sakura, como se a história se desenrolasse em minha mente sendo eu o protagonista disposto a deixar Sakura viver seu amor com Sasuke.  

Era isso então? Estava amando Sakura como um homem ama uma mulher? Não estaria confundindo os sentimentos? Aquilo parecia irreal demais. Não, é claro que eu não amava Sakura, só fiquei meio atordoado ontem à noite por constar que agora ela era de fato uma mulher. Mas o rosto dela não saia de sua mente, e não tinha nada a ver com a atração física que sentira na noite anterior, ela vinha ganhando sua atenção aos poucos com sua determinação, generosidade e espontaneidade. O atrativo físico era um mero adendo no composto geral.  

Tentando apagar de minha mente aquele emaranhado emocional, sem obter êxito algum eu saí pela vila sem rumo. Ficar em casa lendo romances obviamente não ajudaria. Pelo caminho as pessoas me cumprimentavam animadas, algumas elogiavam o baile da noite anterior falando que a vila precisava ter mais eventos como aquele. Agradeci a cada elogio de forma polida, ou acabaria parando a cada cinco passos preso em uma conversa mais extensa.  

Havia um enorme contraste da vila que estava ali na sua frente agora,  com aquela que tinha sido destruído por Pain. Os prédios de agora eram mais altos, com design mais limpo. A matéria prima já não era só a madeira e podíamos ver uma variedade de tons, concreto, vidros. Um sinal de que as coisas estavam evoluindo como planejara.  

Os estudos de Naruto iam cada vez mais promissores, e talvez deixasse o cargo de Hokage mais rápido do que previra. Mas havia uma incógnita que o atormentava diariamente sempre que pensava a respeito. Futuro. O que faria depois? Como se imaginava dali a cinco, dez anos? Não tinha resposta. Talvez porque nunca foi um homem de planejar, seguia a vida um dia de cada vez. Até porque sempre duvidava que voltaria vivo sempre que saía em missão.  

Parou de andar quando percebeu que estava nas margens do rio Naka. Muitas famílias estavam reunidas ali, fazendo piqueniques embaixo das floridas sakuras. Família. Pouco se lembrava de viver esse conceito. Não tinha lembranças de sua mãe, e as que tinha com seu pai agora já pareciam distantes demais. O mais próximo de família que tinha era o antigo time sete, e esse por sua vez havia seguido seu caminho, enquanto ele permanecia paralisado naquela solidão.  

Dias em que se sentia perdido assim eram os piores. Se deitou no imenso gramado tentando absorver a energia que as pessoas emanavam ao redor. Não percebeu que cochilou, porque assim que voltou a abrir os olhos já era noite. Mas não foi isso que o assustou, se virou rapidamente para o lado ao perceber que havia uma pessoa ali do seu lado.  

— Sakura? O que faz aqui?  

— Vi você dormindo tão tranquilamente que apenas me joguei aqui do lado. Esse lugar traz uma paz não traz? - Ela olhava atenta a lua, um vento suave fazia seus cabelos balançarem e se enroscarem em sua boca e nariz, mas ela não parecia preocupada.  

— Sim. - Respondi, mesmo que não precisasse necessariamente de uma resposta.  

— Sasuke-kun me enviou uma mensagem. - Seu rosto era sereno. Mas meu coração se apertou ligeiramente.  

— Isso é bom, e o que ele disse? 

— Pediu para que eu fosse com ele.  

— Entendo. E quando você vai? - Voltei a me deitar, tentando controlar a angústia que surgia em meu peito.  

— Amanhã pela manhã. Já conversei com Tsunade, não pretendo ficar mais do que três meses fora e ela concordou. Agora só preciso da sua autorização.  

— É isso mesmo que você quer? - Tive que perguntar.  

— Sim.  

— Então por mim tudo bem. - Ela se apoiou nos cotovelos, agora me olhava sorrindo.  

— Obrigada por tudo Kakashi. - Meus olhos tinham a melhor visão do mundo naquele momento. Porque era nítido que ela estava feliz e se ela se sentia assim, então eu ficaria feliz por ela. A frase do livro veio novamente a sua mente, e agora ele entendia perfeitamente o significado daquelas palavras.  

“Minha felicidade era ver que ela estava feliz, mesmo que isso não fosse ao meu lado.”  


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