-Chapeleiro, cadê você? –  a Lebre de Março perguntava enquanto saltava pela mesa no escuro completo.

Todos sabiam que fazer uma festa do chá dentro de casa dava má sorte, mas estava chovendo e dava mais azar não fazer a amada festa.

E com azar ou não, todos já estavam reunidos na casa do Chapeleiro Maluco, foi preciso apenas arrumar a mesa, trazer os pratos e talheres, os tipos de chá, as xícaras e bules e organizar os amigos na mal arrumada mesa.

Deu no que deu, mal foram trinta minutos de festa, o chá mal ficara pronto e um terrível blecaute assolou o País das Maravilhas.

-Estou aqui, meu amigo saltitante – o chapeleiro respondeu acendendo seu ‘chapéu de blecautes’. Claro, porque um chapeleiro tem de estar preparado para qualquer ocasião. Alias, uma chapeleiro deve ter um chapéu para qualquer ocasião, por mais banal e ridícula que seja.

-Bem melhor-  o gato risonho murmurou flutuando ao lado do iluminado.

-Agora que temos a luz podemos continuar o chá.

Não era por brincadeira que ele era chamado de Chapeleiro maluco, uma vez que ele REALMENTE era maluco, mas não podemos negar sua inteligência, o chapeleiro jogou um dos seus chapéus reluzentes para cada uma dos participantes da festa garantindo pequenos pontos de luzes pela grande e desarrumada mesa.

-Muito bem pensado – o gato ironizou – mas como tomaremos o chá?

Sim, nem mesmo o maluco chapeleiro se arriscaria a esquentar o chá no escuro, mas a festa tinha de continuar, senão haveria grandes desastres. Se o azar por fazer uma festa do chá dentro de casa foi um blecaute, ele nem gostariam de imaginar como seria o azar que não fazer a festa os traria.                                          

-Faremos a festa do chá gelado! – o iluminado chapeleiro decidiu quase que por uma epifania. Suas idéias sempre foram as melhores, disso nem mesmo o Gato Risonho poderia discutir.

-Festa do chá gelado – a lebre repetiu pulando de excitação e quase derrubando seu chapéu, mas não pode evitar cair de sua cadeira, mas já estava acostumado até demais com esses acidentes. Não era a toa que sem que percebesse o Chapeleiro vivia trocando as xícaras e peças quebrantes que ficavam perto da lebre por repicas de plástico ou acrílico.

-Festa do chá gelado, que seja – o gato ergueu sua xícara e todos começaram a mais maravilhante festa do chá gelado que o País das Maravilhas já viu.