Barriga de Aluguel escrita por Kamila Soares


Capítulo 1
Capítulo 1 - Solução


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Comecei a escrever essa história há algum tempo e estou compartilhando o primeiro capítulo hoje com vocês. Espero contar com o apoio de todos vocês, queridos leitores, para me sentir motivada a continuar postando. Portanto, por favor, não deixem de comentar e me dar um voto de incentivo.



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"Todos temos dentro de nós uma insuspeita reserva de força que emerge quando a vida nos põe à prova.", ISABEL ALLENDE (Livro A Ilha sob o mar)

...

     Nunca pensei bem como seria meu futuro vendo através de outro ângulo diferente da minha realidade. Nunca nem se quer imaginei que minha vida pudesse algum dia ir por um rumo diferente. Assim como quando garotinha jamais imaginei que deixaria meu lar para partir para uma vida sem certezas e garantias, guiada apenas pelos planos do pai. Alguém que tão pouco conseguiria pensar com clareza no futuro. Um cara que acabou entregando-se a fraquezas, ganancia, com tão lamentável ambição. Que passou a dedicar sua vida a partidas e mais partidas, derrotas dolorosas, muito dolorosas.

     E depois disso, as coisas apenas continuaram as mesmas, andando emcírculos, sempre aquela mesma sensação de que nunca vai sair do lugar. Continuosendo a mesma Brianna para aqueles que me conhecem, aquela mesma garotaesquisita e um tanto atrapalhada. E depois de tudo também continuo morando namesma casinha de aluguel com meu pai, em uma situação semelhante a de quandochegamos aqui em Nova Iorque atraídos por oportunidades.

     George Elliot, meu pai, tão pouco mudou, continua o mesmo cara tácito e reservado, que com as dificuldades, talvez, se tornou viciado em jogos de azar. Pois é exatamente nisso que se resume esses jogos, uma ilusão de que de repente sua vida vai mudar, e por muito pouco, apenas jogando alguns dados e cartas. Como se isso fosse a chance para mudar de vida. Se agarrando a ideia de que é invencível e que se pode sempre conseguir mais e mais.

     Embora, sabemos, afinal, que se isso tudo fosse verdade, haveria salão comesses jogos em cada esquina da cidade e muito mais pessoas milionárias oupróximas disso por todo canto. Talvez simplesmente seja mais fácil apostar einvestir nesse tipo de sorte do queem suas próprias aptidões para se dar bem em um emprego. Só levar essa vida"fácil".

     Todavia quando essa boa sorte te escapa ou quando ela simplesmente não existe, o que te resta é tentar dar o seu melhor e sair catando emprego por aí. Esse é o meu caso. Acho que assim como dinheiro, sorte não é abundância para todos. Então só me resta mesmo é o meu bom senso para me manter bem longe desse tipo de atividade.

     Infelizmente, nem todo mundo pensa como eu. E meu pai está incluso nisso.George era quem tomava a decisão sobre nossas vidas até eu simplesmente metornar maior de idade e ser a fonte de renda da casa. Por causa dele havíamosdeixado Glens Falls, toda nossa vida lá, para partir para uma cidade muitomaior na esperança de que as coisas fossem melhorar. Mas ele caiu na realquando foi recusado em muitos empregos durante nossos primeiros anos aqui emNova Iorque. Isso até ele simplesmente ser atraído para sua atualcircunstância, que é o lamentável vício em jogos. Desde então, só tenho vistoisso em minha vida. Nada mudou e não espero nada próximo disso.

     Aqui estou eu então em busca de um novo emprego. Depositando todas as minhas esperanças em mais uma tentativa. Eu chegara bem cedo em uma agencia de publicidade em que havia me inscrito para ser servente, a cerca de uma semana. Eles pagam bem mais aqui do que eu costumava receber no meu último emprego, então seria ótimo se eu conseguisse uma vaga.

— Tem certeza de que não tem mais uma vaga, senhora. - Insisti. - Deu mesmo uma olhada no meu currículo...?

— Repito, senhorita, a vaga já foi ocupada esta manhã. – Eu olhava frustrada para recepcionista que me respondia com uma expressão tão indiferente.

— Lamento, mas não sou eu a responsável pela seleção.

— Mas... Olha já trabalhei em muitos lugares, tenho bastante experiência com isso... - Ela assentiu impaciente e revirou os olhos de volta para o computador, focando a atenção em tudo menos em mim.

      Ainda parada em frente a recepcionista, no instante em que me pus a pensar em um plano B, alguém passou muito rápido por nós e acabei nem tendo a chance de me mexer. Minha bolsa caiu sobre meus pés e algumas coisas se espalharam sobre o piso limpo e lustroso da agencia.

— Bom dia, Sr. Mason. - Ouvi a recepcionista cumprimentar, com provavelmente o sorriso mais falso do dia, senão do mês ou do ano inteiro. Eu estava tão irritada com aquelas pessoas tão pomposas e esnobes que apenas recolhi minhas coisas, as joguei de qualquer jeito dentro da bolsa e sai sem olhar para trás.

Que toda essa gentinha vá para o inferno, então.

...

 

     Desci apressado ao mesmo tempo em que tentava endireitar a gravata. Olhei ao redor, a casa estava silenciosa. O pensamento de encontrar Stella me fez desviar da cozinha. Acabei encontrando na sala, absorta em seus próprios afazeres. Seus desenhos, talvez. Meu celular tocou no momento em que pretendia cumprimentá-la.

— Oi, Ethan. Bom dia. - Olhei para Stella que me observada com indignação. - Sim... Tudo certo. Falo com você depois.

Voltei olhar para ela e tentei me desculpar com um meio sorriso.

— Anthony, amor. - Me agarrou pelas costas envolvendo meus braços. - Deveríamos passar mais um tempo juntos.

     Eu não conseguia compreender como Stella conseguia sentir uma coisa e expressar outra ao mesmo tempo. Eu sabia que ela estava magoada comigo, no entanto, de longe, nesse momento, ninguém jamais cogitaria afirmar isso. Ela não parecia mais a Stella de ontem à noite quando batia a porta do nosso quarto com força.

— Sim, tem razão. - Ela detestava a minha insistência em querer um filho, ela sabia sobre meu sonho de ser pai. Mas nesses três anos de casado ela jamais se animou com a ideia de ter uma criança nessa casa. Eu entendia e aceitava que ela tinha o direito de não querer um filho, mas tínhamos que admitir que pelo fato de eu querer o oposto isso estava abalando nosso relacionamento.

     E então nóssó brigamos e eu temo que isso comprometa o nosso casamento a ponto dedesejamos uma separação. Eu não queria chegar a esse ponto, embora tenho queadmitir que as coisas não são mais as mesmas por aqui.

     Conheci Stella quando estava me formando em publicidade, a mesma seguia a tradição da família e se formava em administração. Nós éramos colegas de faculdade e com a ajuda de Ethan, meu irmão mais velho, unimo-nos e namoramos por um bom tempo. Mas Stella sonhava mesmo era em ser estilista e quando já estávamos noivos, decidiu viajar para Paris e realizar seu sonho. Após nos casarmos, montou uma agencia de moda aqui em Nova Iorque. Quanto a mim, montei uma agência de publicidade. Não bem o que meus pais, Carlos e Elizabeth esperavam, mas eu tinha certeza que, apesar disso, eles se orgulham de mim. Claro, além de meu irmão Ethan e Alícia, minha irmã caçula.

— Estou atrasado. - Lembrei tentando afrouxar o aperto de seus braços. - Preciso ir, Stella. Nos vemos depois. 

     Lembrei que não tinha tomado café de amanhã. Teria que passar em uma cafeteria no caminho. Corri apressado tempo suficiente para segurar a porta do elevador. Dei partida no carro e sai vendo a imagem do apartamento sumindo pelo retrovisor.

     Naquele instante, deixava meu atual apartamento e seguia com destino a agência. Era mais um dia que eu iria entregar todo meu tempo ao trabalho, dedicar meu dia a isso. Na verdade, minha vida nunca esteve tão sem sentido, meu casamento está em crise e eu simplesmente não tenho mais disposição para voltar para casa. Não com Stella, minha esposa, pedindo para todos os anjos e santos que eu guardasse um tempo para estar com ela.

     Era perceptível minha indisposição, talvez estivesse estampado no meu rosto: "Não suporto a minha rotina". Era como se tudo que eu fizesse não possuísse mais um significado. Talvez a presença e o carinho de uma criança mudasse tudo, era o que eu tanto refletia.

...

— Você pode começar arrumando as mesas e servindo café, enquanto não aprende a lidar com as máquinas. - Assenti, tentando não parecer grosseira. Afinal, fora isso o que me levara a perder meu último emprego. Então eu teria que ser cuidadosa dessa vez. E controlar a minha boca.

— Elliot. - Eu definitivamente detesto quem me chama pelo meu sobrenome. Mas dessa vez deixei passar. - Há um cara na mesa 4, entregue a encomenda dele.

     Bufei baixinho. Eu havia acordado com o pé esquerdo. Havia dormido tarde, tido um pesadelo, queimado meu café da manhã, e como se já não bastasse meu pai não havia aparecido em casa desde a noite passada.

Poderia ficar pior?

     A cafeteria estava lotada, e eu tinha que me desviar sempre de alguém. Tentei ser paciente e cuidadosa, mas alguém se chocou no meu braço e eu acabei perdendo o controle sobre a bandeja. Vi a embalagem com café voar a cima de mim e se derramar sobre o meu avental.

— Eu assumo o seu lugar. – Disse uma colega de trabalho, cujo o nome não consegui lembrar.

     Ela pegou uma nova embalagem, a encheu e saiu para a mesa 4, tudo antes que eu pudesse ao menos sair do lugar. Frustrada, me abaixei e tentei limpar a sujeira. 

Lá se vai meu emprego.

...

     Me sentei na mesa para esperar minha encomenda. Estava demorando mais do que eu esperava. Peguei o celular e disquei o número de Ethan.

— Ethan. Chegarei um pouco mais tarde. - Comuniquei. Espero mesmo que só um pouco.

     Tentei visualizar o balcão de onde eu estava, tentando encontrar a garçonete que me atendera. Quando no mesmo instante, a minha frente, vi uma bandeja voar e ir ao chão.

Tarde demais.

Tentei reconhecer a garçonete, mas não consegui vê-la. Olhei para meu relógio desanimado.

— Senhor. - Ouvi. - Sinto muito pelo o ocorrido. É uma garçonete nova... Aqui está seu pedido.

Sai da cafeteria logo em seguida sem olhar para trás.

...

— Não posso aceitar que isso se repita. Se quer continuar nesse emprego tem que ser mais atenciosa e ter mais cuidado. - Disse minha patroa, uma mulher robusta e cheia de rugas. Nunca tive sorte com patrões.

Mas... Ufa! Pelo menos escapei dessa vez. Mal ela sabe o quanto esse emprego é importante para mim, e que eu seria capaz de me forçar a me ajoelhar aos pés dela para não ser demitida.

     Dei graças a Deus por ser mandada sair da sala e voltar ao trabalho. Mas agora a cafeteria não estava mais tão cheia. Me aproximei de algumas colegas que conversavam baixinho, e comecei a limpar a mesa vizinha a delas.

— Ela é uma boa cartomante, você deveria ir vê-la. Ela é eficiente em atrair a pessoa amada. – Falou umas delas, sem ainda se dar conta da minha presença.

— Shh, silêncio! - Falou a outra olhando para mim, sem disfarçar. - A garota nova ela pode te ouvir.

A primeira deu de ombros e se virou para mim.

— Ah, e aí, Elliot? Quer nos acompanhar a uma conhecida cartomante? – Falou me olhando com curiosidade.

     Não pensei muito. Apenas considerei que se eu quisesse permanecer naquele lugar teria que fazer por onde. Começando sendo gentil e amigável.

— Sim. Quando vão? - Fingi interessada, voltando a limpar a mesa.

— Essa tarde, após o expediente. - Eu tinha muito o que fazer em casa, mas ir com elas não seria tão ruim assim. Espero.

     A tarde passou voando e nada de catastrófico aconteceu até a última hora de expediente. Pequei minha bolsa e já ia até a saída, quando ouvi as duas garotas me chamarem.

— Vamos, Elliot.

— Me chame de Brianna. - Elas riram. E eu caminhei atrás delas.

— Foi uma sorte dela não ter sido demitida. Dona Sarah anda de bem com o namorado. - Comentaram, rindo alto. Falando de mim como se eu não tivesse presente.

— Afinal Brianna, você é casada? - Perguntou a ruiva baixinha.

— Não.

— Sorte a sua. - Disse a morena, e as duas voltaram a rir. Tentei dar um sorriso em resposta, mas saiu pior do que esperado.

     Dei graças a Deus quando chegamos ao tal local. Avistei uma casa que, na verdade, mais parecia uma tenda, e segui as meninas até lá. O cheiro forte de incenso não só nos atingiu em cheio quanto também nos tirou o campo de visão. Que bizarro? Como poderíamos acreditar em algo assim?

     Segui as meninas olhando cada detalhe dos ornamentos nas paredes e estantes cheias de bugigangas. Aquilo certamente é mais bagunçado que minha sala e quarto inteirinho.

— Uma de cada vez. - Falou uma voz tentando soar um tanto "sinistra". - Você primeiro.

     Nem me dei conta que se referia a mim até as garotas me olharem. Pensei rapidamente e decide acatar. Afinal, o que eu tinha a perder?

     Empurrei as cortinas e a minha frente se encontrava sentada uma senhora de frente para uma mesa. Sua aparência era exatamente como o resto da casa, exótica e exagerada, fora isso, seu rosto era apenas comum, como qualquer mulher da idade dela.

     Sua mão erguida em direção a cadeira tentava me fazer sentar. Como se precisasse pedir. Eu agora me sentia curiosa, mas ainda cética.

— Me mostre sua mão esquerda. - Segurou minha mão e seus olhos me analisavam com notável interesse. Mas havia algo mais...

     Um arrepio me subiu pelas costas. E quando pensei que ela fosse ler as linhas em minha mão, ela depositou sua mão sobre a minha, e de repente seus olhos estavam fechados como se tivesse sido de alguma forma apagada.

     Foi quando seus lábios começaram a se mover novamente, e o som de sua voz pairava sobre a sala.

— Você passará por muitas dificuldades. - Sorri, incrédula. Que novidade! Quando foi que nunca passei por dificuldades? - Há muitos sentimentos surgindo... Sentimentos conflitantes. Você não terá controles sobre eles. Mas terá que perceber o que se passa a sua frente e dentro de si mesma, pois tudo, para você, vai está no escuro e você não vai querer enxergar. Sua vida depende disso, dependerá de suas escolhas. Você terá uma grande missão, mas você mesmo poderá acabar impedindo-se de ver as coisas com clareza. Em especial ao que se passa dentro de você. Lembre- se de abrir os olhos e admitir o que sente. - Ela abriu os olhos de repente, mas não disse mais nada.

Tentei puxar minha mão de volta, mas seu olhar intenso me repreendeu.

— Vejo muitas coisas acontecer com você. Mas tenho certeza de que o que foi dito já é o suficiente. Adeus, Brianna.

     Fiquei surpresa com o que ouvira, e me perguntei se havia ouvido certo. Como elapoderia saber meu nome? Um novo arrepio surgiu na minha espinha. Mas dessa veztive certeza de que tudo tinha a ver com aquele ambiente esquisito. Afinal,qual o sentido de tudo aquilo? Qual o sentido daquelas palavras?

     Assim que voltei para casa, percebi o quanto estava exausta, e como imaginei, com pouco dinheiro. Melhor que voltar de mãos vazias, afinal.

     O cansaço não é algo que me faz parar, mesmo que um dia, talvez, eu possa conseguir realizar meus sonhos. Mesmo assim jamais pararia. Nada mudaria, continuaria sento a mesma garota responsável, disposta e esperta. Modéstia à parte!

     Sentei-me na primeira e única poltrona que vi e me pus a pensar em meu pai. O que eu não faria por ele? George é a única pessoa em minha vida, e eu nunca poderia me imaginar perdendo-o. Jamais!

     George sempre teve sua postura firme e ereta, sempre foi um cara sério e de poucas palavras. Assim como eu! (Ah, nem tanto assim!) Ele é assim desde que me conheço por gente, mas agora nunca o vi tão abatido. Com essa situação lamentável, me pus várias vezes a pensar no que poderia levar alguém a se viciar em jogos. Seria mesmo por ganancia? Ou seria por prazer? Não, acho que não! Na verdade, eu jamais poderia pensar mal de meu pai, alguém tão bom que sempre esteve a me apoiar.

     Lembro-me de quando era criança e ele me contava histórias, tantas que me enchiam de ilusões e ao mesmo tempo de curiosidades. Saber como é ser uma princesa rica e cheia de poder, que logo se apaixonaria por um lindo príncipe encantado, se casariam e, previsivelmente, tudo se finalizaria em "felizes para sempre". Mas desde que cresci, a única verdade é que só tenho visto isso nos livros.

     Também já pensei muitas vezes em como é ter uma mãe, chegava a surpreender meu pai com perguntas, mas só havia uma resposta para elas. "Sua mãe renunciou a nós, escolheu continuar com seus privilégios", nunca descobri o verdadeiro significado por trás dessas palavras. E todos os dias desde muito pequena, imaginava como seria minha mãe. Teria meus cabelos castanhos avermelhados, minha pele pálida ou meus olhos castanhos? Antigamente sempre persistia no desejo de conhecê-la. Mas agora não tenho mais isso em mente.

     Minhas lembranças foram interrompidas com o estrondo da porta que batia na parede bruscamente. Era George, mas um dia chagava estranho e abatido.

— Pai? O que ouve? – Perguntei, caminhando na direção dele para ajudá-lo a se sentar.

— Nada, filha, não ouve nada. – Respondeu rapidamente.

     Ajudei ele a tirar o casaco e, em seguida, o fiz se sentar. Olhei aterrorizada para seu rosto, seu nariz sangrava. E como se já não bastasse, havia ronchas e arranhões em ambos os braços.

— Você está ferido? Por favor, me conte o que ouve, pai. – Eu disse voltando analisar seu braço ensanguentado. 

— Não foi nada demais, filha. Não se preocupe. – Me estiquei para pegar a maletinha de cuidados.

     Meus pensamentos foram a distância. Ao passo que tentava me convencer de que tudo estava bem, algo me fazia considerar que era muito suspeito. Castiguei-me por pensar nisso. Mas no fundo, enquanto tentava inutilmente me convencer de que George estava falando a verdade, eu de fato achava que seria impossível e absurdo considerar a hipótese de ter sido apenas uma queda, levando em consideração os graves ferimentos.

— Não se preocupe com nada Bri... Ai! – Protestou recolhendo o braço. - Eu vou dar um jeito em tudo, filha. – Beijou o alto da minha cabeça e saiu antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa.

     Não consegui me mover. Desejei inutilmente poder mudar tudo, mas como? Soltei um suspiro derrotada ao ver a figura de George desaparecer aos poucos de vista.

...

— Bom dia, Sr. Mason. Trouxe o jornal, achei que gostaria de encontrá-lo aqui. - Disse Victoria, minha secretária.

— Certamente. - Falei sem olhá-la, meus olhos fixos na tela do meu notebook.

— Não estou te reconhecendo, meu irmão. - Reconheci a voz de Ethan.

     Sempre contei tudo ao meu irmão, sempre fomos confidentes, tanto que desde pequenos dividíamos tudo, brinquedos, segredos e uns objetos a mais. Na adolescência nada mudou, sempre fui o mais tímido, Ethan o "pegador", esse era o que sempre me arranjava namoradas no colegial.

     Agora maduros cada um com uma família formada, ouquase, ainda possuímos essa união impressionante. Ethan me conhecia porapenas um olhar.

— Bom dia para você também, Ethan. - Tentei entrar na brincadeira. Ethan caminhou até a minha mesa e ficou de frente para mim.

— E aí? O que foi agora?

— O de sempre. Não consigo ter um minuto de paz com Stella, sem ficarmos discutindo o tempo todo.

     Ethan dificilmente leva a sério os assuntos que temos. Para ele tudo era apenas uma crise passageira e que logo eu desistiria de tudo só pela ideia de "ter uma criança berrando em casa". E que de acordo com ele: "Stella é bonita demais, seria um desperdício!".

— Ter um momento de paz nunca é difícil, irmão. E nem é preciso ser ditonada. Você sabe. – Bateu de olho para mim, mas abandonou o sorriso quando meviu com expressão séria. Ele sabia bem que para mim aquilo era um assunto sério e delicado.

 

— Está bem, cara. Mas Anthony, irmão, você só tem 26 anos! Não precisa ser como o papai. Para quê mais responsabilidades? – Caminhou até mim com uma caneca na mão, movendo a cabeça na tentativa de ler o jornal dobrado em cima da minha mesa. - Está pensando mesmo em se separar da Stella?

Ele perguntou depois de um tempo.

— Ethan, sei que não está nem aí para relacionamentos duradouros. Mas isso importa para mim. Não estou tentando ser como papai, mas você sabe o quanto admiro o relacionamento dele com a mamãe. Eu quero isso para mim. Mas sinto que não tenho como controlar as coisas com Stella.

     Ela quer que fiquemos justos, eu quero um filho, ela não. Não me sinto disposto a desistir do meu sonho de ser pai, mas...

     Não consegui dizer mais nada. Peguei o jornal sem interesse nenhum em lê-lo, abri as folhas passando os olhos rapidamente pelas manchetes, até parar nos anúncios e foi então que encontrei a semente de uma ideia.

— É um anúncio sobre uma clínica de reprodução assistida. – Mostrei o jornal para Ethan que me olhou sem interesse, não compreendendo a importância daquilo. - Eles utilizam uma biotecnologia conhecida como Inseminação artificial, muito utilizado atualmente para casais que não conseguem ou não podem ter um filho da forma normal. E ainda utilizam "barrigas de aluguel". É isso, Ethan! É assim que terei meu filho.

Continua...


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Notas finais do capítulo

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