Quatro Estações escrita por Lilac


Capítulo 2
Capítulo 2 - Gênio da Química




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Rosé não tivera o prazer, ou desprazer, de cruzar com Jong Suk pelas duas semanas que se seguiram. Ela ia para a aula, sentava-se junto de Lisa e Jaehyun sempre que possível e fazia suas atividades. Em horários livres, era possível achá-la sentada na sala de estudos com livros de um lado e seu caderno do outro. É claro que ela continuava a ouvir murmúrios sobre sua aparência e, aparentemente, o apelido que Yun Oh usara para ela no primeiro dia de aula havia pegado, entre os rapazes pelo menos. Ela ainda era uma novidade e sua popularidade continuava tão alta quanto no dia em que havia chegado ali.

De todo modo, quando falaram da festa de início do semestre naquele dia, ela queria muito se negar a ir. Não gostava de beber e também não era boa naquilo. E sabia que os jogos, independente da temática, resultariam em “virar um shot” para o perdedor. E ela não era mesmo nadinha boa em permanecer sóbria virando doses e mais doses de bebidas alcoólicas. Deus sabia que só precisava de três copos de soju ou quatro latinhas de cerveja para perder completamente o equilíbrio e o rumo de casa.

Ainda assim, depois da cara de cão que caiu do caminhão de mudança que Lisa fez, acabou contribuindo para que concordasse com um suspiro exausto. Estava mesmo se sentindo cansada por aqueles dias e sabia que isso poderia reduzir drasticamente sua capacidade de bebida. Talvez ela aguentasse um shot? Talvez. Mas seria bom para se distrair assim mesmo. Ela iria.

De todo modo, cumprimentou aqueles que estavam sentados à mesa tão logo chegou, percebendo que conhecia todos ali, bom, quase todos. Estava entre amigos, pelo menos. Ajeitou a saia para se sentar de modo que não acabasse com o tecido erguido e mostrando o que não devia ao se colocar de pé mais tarde. 

Agradeceu quando lhe serviram o soju e ofereceu um sorrisinho para Jennie e Jisoo, que pareciam contentes em estar perto de seus namorados. — Ora, ora! A mocinha que não é boa em beber apareceu! Como você está? E a adaptação? — perguntou Jisoo com um sorriso largo ao se aproximar mais de Taehwan. 

— Tem sido melhor do que eu esperava, unni. Mas eu admito que tenho sofrido um pouco para repor alguns conteúdos. 

— Você é bem esperta. Vai se sair bem. Beba, sim?

Rosé assentiu e virou o copinho. Quase que de modo automático, seu rosto ficou quente e vermelho, e ela fez uma careta. Tentou negar que queria mais, mas a verdade é que havia em si uma súbita vontade de beber o suficiente para esquecer das preocupações que a universidade lhe causava. 

— Chaeyoung-ah… você e o Jong Suk sunbae se falaram depois?

Ela virou a segunda dose e balançou a cabeça negativamente, sentindo o mundo rodar de uma maneira diferente. — Não. Eu acho que ele só ficou curioso, como todo mundo. — Ela acabou encolhendo os ombros e se serviu mais bebida, logo fazendo o conteúdo de seu terceiro shot descer rasgando por sua goela. 

— Ei, você disse que não é boa para beber, vá devagar! — aconselhou uma Lisa exasperada, se remexendo em sua cadeira. Mas Rosé apenas ergueu o copinho e aceitou quando Jaehyun lhe serviu mais. 

— O meu limite é — ela soluçou — Ih, merda. Eu acho que já cheguei ao meu limite. — A loira gargalhou um pouco, bebendo o quarto copo antes que alguém pudesse tirá-lo de si. 

Taehwan assobiou e olhou-a fixamente, parecendo genuinamente preocupado com ela. — Bêbada em menos de dez minutos. Caramba. — Ele se levantou e deu a volta na mesa, ajudando-a a ficar de pé. — Talvez seja melhor você ir para casa, quer que eu te leve?

— Pode deixar que eu levo. — a voz do homem soou próxima de Taehwan, que não tardou a deixar Rosé sob seus cuidados. Jong Suk não esperava que logo no começo da festa tivesse alguém bêbado daquele modo, porque se considerasse seu próprio atraso de vinte minutos, nem havia passado tanto tempo assim. — Eu achei que ia poder beber com vocês, mas caramba… o que deu nela? O quanto ela bebeu?

— Quatro shots. Só isso. Levou menos de dez minutos. Ela virou um atrás do outro.

Jong Suk observou-os surpreso enquanto removia o próprio paletó e o amarrava ao redor da cintura de Rosé, antes de a pegar no colo. 

— Ya! Aish, me coloca no chão! Eu posso ir para casa sozinha! — ela pronunciou em um inglês afetado e enrolado, em meio aos soluços causados pelo álcool.

Jennie começou a rir e, de forma honesta, todos ali pareciam se segurar para não fazerem o mesmo, inclusive Jong Suk. — Você está sem comer há quanto tempo? Ainda entende coreano?

A garota arqueou as sobrancelhas e o observou com as pálpebras quase fechadas. — Ye? Ye, ye, ye! Entendo sim! Eu almocei… e estudei e… estudei… estudei. E vim parar aqui. Mas eu posso ir pra casa sozinha. Solo. Entendeu? 

— Rosé, eu acho melhor deixar o sunbae te levar, sim? — Jennie comentou, colocando-se de pé com Lisa e Jisoo. — Vamos com vocês até o ponto de táxi e aí voltamos. 

— Na verdade, eu ia embora de táxi. Mas meu carro está bem ali… vocês poderiam abrir a porta…?

— Podemos sim. Ah, a bolsa dela. — Lisa quem comentou, colocando o objeto pendurado no pescoço de Jong Suk. Jisoo emitiu um risinho baixo enquanto Rosé continuava seu monólogo sobre poder andar e ir para casa sozinha. 

Nenhum dos garotos se meteu. A maioria, na verdade, sentia pena de Rosé. Porque ela provavelmente teria uma ressaca horrorosa no dia seguinte. E, além disso, as outras já seriam suficientes para garantir que Jong Suk a levasse para casa em segurança. Fora o fato de ninguém ter certeza de onde exatamente Roseanne morava.

Enfim, Chaeyoung ficou quieta, tornando a conversar apenas depois de estar com o cinto de segurança, quase inconsciente no banco. Ela tinha o rosto vermelho, mas Jong Suk se perguntava se seria necessário levá-la ao hospital. 

— O que você vai fazer comigo?

A pergunta o surpreendeu enquanto ele colocava o próprio cinto. Jennie, Jisoo e Lisa ainda estavam paradas na entrada do bar, observando-os dentro do carro. 

— Te levar para casa. Qual o seu endereço? — Rosé deu um sorrisinho de lado e o olhou de forma preguiçosa. 

— Eu não lembro. Ainda não decorei… — então, apesar de Jong Suk parecer desesperado com os olhos arregalados, ela virou-se para o outro lado e fechou os olhos. — Sunbae? E agora? O que vai fazer comigo? — ela parecia mais sonolenta quando fez aquela pergunta e Jong Suk mal podia respirar.

Ele pensou. Relutando um pouco sobre a decisão que estava prestes a tomar. — Vou te levar para minha casa. — e assim, enquanto o trio de garotas os encarava com evidente confusão, ele acenou um tchauzinho e deu partida no carro, saindo sem pressa alguma. 

— Você costuma levar garotas bêbadas para sua casa? — Roseanne resmungou, remexendo-se no banco. — Eu acho que estou enjoada… eu devia ter comido bem. Ou dormido bem. Eu não sou boa em beber, mas isso definitivamente foi rápido. — Jong Suk deu um sorrisinho e assentiu. 

— Não costumo levar muitas garotas para minha casa. Bêbadas ou sóbrias. Eu também não posso com álcool. Então, eu tomo uma ou duas doses em um intervalo longo de tempo. Mas eu nunca vi alguém se embriagar tão rápido. Alguma razão especial para ter bebido assim? — os olhos castanhos de Chaeyoung fixaram-se nele através dos cílios compridos. 

— Eu não estou feliz… — ela inspirou profundamente e se remexeu no banco outra vez, olhando através do parabrisa. — Eu não gosto daqui tanto assim, não tenho a minha irmã por perto e todos os meus amigos ficaram longe. 

— Você veio por obrigação. Entendi. Quantos anos tem sua irmã? 

— Vinte e sete. Ela é quatro anos mais velha… aqui seriam vinte e oito. — Jong Suk riu baixo, entrando com o carro na garagem do prédio onde residia. 

— Ela tem a mesma idade da minha irmã mais nova. Sabe, eu sei o que é fazer o que não quer fazer, meu pai era um homem muito rígido comigo. Eu tinha de fazer o que ele queria. Seu pai é rígido com você? 

Ela balançou a cabeça negativamente, removendo o cinto e abrindo a porta. Jong Suk desceu rapidamente e a segurou, certificando-se de pegar a bolsa da garota. 

— Meu pai é gentil… ele só quer que eu seja feliz. Eu fiz o que quis, a vida toda. É por isso que eu cedi e vim… — ela observou as costas do mais velho quando ele virou-se para que ela subisse. Rosé piscou algumas vezes, um tanto confusa até entender que devia subir ali. E assim o fez, segurando-se nele com o quanto de força que podia. — Por que seu pai era rígido com você?

— Eu era tímido demais. E ele não gostava disso. Me colocou no taekwondo mesmo quando eu dizia preferir aulas de piano. Não que eu não tenha feito ambos, mas eu precisei pausar o piano por um longo tempo. — Lee apertou o botão do elevador e esperou que a caixa metálica abrisse as portas, verificando se estava mesmo parado em seu andar antes de caminhar para dentro com a loira em suas costas. — Eu vou te emprestar algumas roupas por essa noite, essa que você está usando não parece muito confortável e-

O telefone de Roseanne começou a tocar, a garota soltou uma das mãos, não caindo apenas porque Jong Suk a segurou pelo braço que havia restado ao redor do próprio pescoço. Conseguiu ler pelo reflexo o que parecia ser “mãe” escrito no visor. Parte de si queria rir da possível encrenca em que a garota havia se metido. Mas algo dizia que ela abriria a própria boca sobre onde ela estava. E ele também estaria um pouco encrencado. 

— Hm? Oh! Oi, mamãe. — um curto silêncio, seguido de uma risada e uma Roseanne apoiando o rosto em suas costas. — Eu bebi, bebi muito, muuuuito, mesmo. E aí o Lee Jong Suk sunbaenim me trouxe pra casa dele porque eu não sei mesmo onde nós moramos agora. Eu quase dei a ele nosso endereço de Melbourne. Oh, não era o endereço em Sydney. 

Jong Suk estranhou quando ela murmurou um “desligou”, mas logo o telefone começou a tocar novamente. O elevador abriu-se e enquanto ele abria a porta de seu apartamento, Roseanne murmurou de um jeito doce e meigo um “olá, mãe”. 

— Posso ver o rosto do homem que te levou para casa? — uma voz masculina no fundo pareceu exasperada “homem? Com nossa Rosé? Tem um homem em casa com nossa Rosé? Ela está na casa de um homem?!”

— Papai… aish. — Jong Suk a colocou no sofá com cuidado e estava saindo quando Roseanne enfiou o celular em seu rosto. — Esse é o Jong Suk sunbae. Ele é bonito, não é? Ela tornou a virar o celular para o próprio rosto, resmungando baixinho, como se o homem não pudesse ouvi-la caso ela o fizesse daquele modo. — Ele é bonito, mas não fica com nenhuma moça. Eu até perguntei o que ele ia fazer comigo e sabe o que ele disse? 

— Por Deus, Roseanne! O que você está fazendo? — a mulher do outro lado da tela interrompeu e Chaeyoung gargalhou alto, Jong Suk estendeu a mão, com receio do que iria dizer. Mas certamente era melhor do que deixar a loira falando coisas imprevisíveis. Ela resmungou e relutou a lhe entregar o aparelho, murmurando que não queria, mas acabou colocando o celular na mão dele no fim das contas. 

— Senhora? Desculpe, eu fui beber com os meus juniores e um deles estava levando-a para pegar um táxi. Então, eu me ofereci para levá-la para casa. — Ele fez uma mesura, como se fosse se curvar. Percebeu, logo que havia pego o aparelho, que havia um casal do outro lado da tela. Pai e mãe. Ótimo. Rosé, por outro lado, ainda ria um pouco deitada no sofá. — Eu posso passar meu endereço se quiserem vir buscá-la, mas eu realmente só vou colocá-la na cama agora. E espero que ela durma bem, ela tem algum problema ao qual eu precise me atentar? 

— Oh. Ela tem razão, ele é bonito, não é? — Jong Suk deu um sorrisinho sem jeito com o comentário da mãe da garota que cantarolava baixinho agora, brincando com as mangas de seu paletó. — Não, tudo bem. Ela dorme aí e amanhã nós resolvemos com ela. Ela provavelmente vai ter ressaca. 

— Ah, sim. Não se esqueça que sabemos seu nome todo e seu rosto, então não faça nada com nossa garotinha, sim? 

— Sim, senhor. — Jong Suk concordou, oferecendo seu melhor sorriso aos pais da moça. A tela do celular ficou escura e então acendeu, mostrando o papel de parede da garota. Ela e, provavelmente, sua irmã estavam ali. Rindo e se abraçando. — Vem, eu vou te levar para trocar de roupa. 

— Sunbae… você tem namorada? Porque eu não devia estar aqui se você tiver namorada. — Chaeyoung o olhou de um modo estranho ainda que não fosse de um jeito ruim, o que provocou um arrepio esquisito na nuca de Jong Suk. O rapaz engoliu em seco e a ergueu, com cuidado, carregando-a para seu quarto. Pegou uma calça de pijama e uma camisa dentro do closet, mas quando virou-se para olhar a garota, ela já estava sem a blusa. 

Jong Suk engoliu em seco outra vez, sentindo-se nervoso enquanto a ajudava a vestir a camisa que havia pegado para ela. — Vem cá, vou te ajudar com a calça. — Rosé riu baixinho e se colocou de pé, se segurando no ombro do homem para não cair no chão. Ergueu uma das pernas com dificuldade e o observou subir a calça até estar na altura de sua saia, coberta pela camisa dele. 

Honestamente, ele sentia um pouco de medo de ficar ali com ela, sozinho. E se ela se esquecesse de tudo? Deus, ele estaria bem ferrado. Ainda assim, a observou vestir a calça e remover a saia antes de se deitar na cama completamente encolhida. O homem a cobriu com cuidado e pegou os travesseiros vagos da cama, colocando-os no sofá. Também pegou uma roupa limpa para si e a vestiu antes de, por fim, pegar o cobertor reserva e deitar-se no sofá para dormir. 

No entanto, quando Chaeyoung acordou no outro dia, sua cabeça doía e ela era incapaz de identificar onde estava, especialmente por causa do escuro. Sentou-se na cama e levou as mãos até a cabeça, gemendo baixinho por causa da dor. Observou atentamente o ar ao redor e percebeu que havia um remédio para ressaca e um copo com água. Ela estava mesmo tentando se lembrar onde estava e como havia parado ali quando a porta se abriu. 

Em sua mente, tudo era um apagão. Um borrão que ela não se lembrava. Como saíra do bar? Com quem? Foi então que ela percebeu Jong Suk, que colocou uma muda de roupas limpas e novas para ela sobre a cama. Roseanne engoliu em seco e se colocou de pé. — O-o que eu fiz ontem? Liga a luz, por favor. 

O mais velho atendeu ao pedido da garota e a observou com a testa franzida. Apesar da ressaca, ela apenas estremeceu levemente e o observou com curiosidade. — Eu fiz uma sopa para te ajudar com a ressaca. E também um chá. 

— Sunbae! Espera! Por que… como eu vim parar aqui?! 

Ele recostou-se na porta e sorriu um pouco, mordendo o inferior por um momento antes de começar a falar. — Não lembra de nada? — ela negou com um aceno, parecendo derrotada. — Você virou quatro shots em menos de dez minutos. Mal chegou e teve de ir embora, estava até soluçando. Eu recomendo que você tome um banho antes de vestir a roupa que eu pedi à minha irmã para trazer. Não lembra mesmo de nada? 

Chaeyoung gemeu em desgosto e sentou-se na beirada da cama, tomando o restante da água. — Eu fiz alguma coisa? Nós não… fizemos nada, não é? — Jong Suk pensou que poderia se divertir, talvez. E deu um sorriso sacana ao observá-la com as mãos na testa. — Sunbae? 

— Eu te conto depois que você tomar um banho e trocar de roupa. Ah, tem uma escova de dentes no meio das roupas. É nova, você pode usar o que quiser do meu banheiro. Esteja confortável com isso. 

O lugar era minimalista e chique. Chaeyoung gostava de como tudo era harmonioso e não havia excesso. Ela tomou um banho demorado, sentindo-se gradativamente melhor. Secou o cabelo e vestiu a roupa, uma calça e camisa social femininas. A mulher devia ser mais alta, porque Rosé precisou puxar as mangas da camisa para cima, dobrando-as até os cotovelos. Escovou os dentes para tirar o gosto amargo da boca e saiu do cômodo, olhando o próprio celular. 

“Rosé ~ você está bem?”, a mensagem de Jisoo a fez comprimir os lábios. 

“Como foi o caminho até em casa com o Jong Suk sunbae?”, a mensagem era de Jennie e Roseanne inspirou profundamente, verificando a mensagem de Jennie e sua irmã, até que chegou nas mensagens de sua mãe que tinha três palavras ameaçadoras: “Conversaremos em casa.” 

— Você já banhou? Não vai comer? Eu realmente fiz o café para você e temos pouco tempo antes de termos que sair para as aulas. — a loira o olhou sobressaltada e mostrou a mensagem recebida da mãe. — Ah, seu pai é um sujeito simpático. Muito bom em ameaças.

— Você falou com meus pais?! — ela se colocou de pé ainda mais exasperada. 

— Eles ligaram, você disse que estava aqui e sua mãe quis falar comigo. Isso é culpa sua, mocinha. Agora, venha comer. Não temos muito mais tempo. 

Roseanne se levantou e passou por ele, observando que sua roupa estava dobrada e colocada sobre a mesa de centro juntamente de sua bolsa. Ela não disse mais nada, não estava mais tão afim de conversar ou de saber o que havia feito naquele tempo de coma, mas uma parte de sua mente se perguntava se ele a havia vestido ou se ela mesma quem havia conseguido trocar de roupa. Sentou-se na cadeira que lhe foi oferecida e começou a comer em silêncio. Jong Suk sentou-se de frente para a garota e não conseguia deixar de rir um pouco pela expressão no rosto dela. 

— Você me perguntou o que fez ontem. Você bebeu e disse que não se lembrava do seu endereço. Então, eu te trouxe para a minha casa. Seus pais ligaram, você falou com eles e depois disso eu te coloquei na minha cama enquanto pegava uma roupa limpa — ele tomou um gole do chá, observando-a com a boca cheia. — Então, você tirou a blusa e eu acabei tendo que te ajudar a vestir a roupa que você estava usando hoje. E fui dormir no sofá. 

Chaeyoung arregalou os olhos e tossiu um pouco depois de engolir o macarrão que havia colocado na própria boca. Ela não podia acreditar no papelão ao qual havia se prestado. — Para alguém que é tão boa em química, um gênio da química, como o seu histórico acadêmico insinua que você seja, você não foi muito esperta em beber de estômago vazio, não é?

Ela bebeu um pouco do chá e comprimiu os lábios em uma linha fina, unindo as sobrancelhas em confusão. — O que eu disse além de “não sei onde moro”? — Jong Suk deu um sorrisinho de canto, mas balançou a cabeça em negativa. 

— Nada, só me perguntou o que eu ia fazer com você. Acho que era uma pergunta válida. Mas pode dizer para o seu pai que eu não encostei em você de modo algum, sim? — ela engoliu em seco e terminou a própria sopa e o próprio chá. Levantou-se e foi em direção à pia, lavando as coisas que havia sujado mesmo quando o mais velho pareceu inclinado a lhe dizer para não fazê-lo. De todo modo, ele não disse e apenas acabou com a própria porção para levantar-se e caminhar com a garota até a saída. A observou guardar tudo na bolsa e inspirou o ar profundamente assim que saiu do apartamento. Chaeyoung sentia-se feliz de ter alguma possibilidade de se fingir de normal. Mas então, ela tentou puxar assunto porque o silêncio estava começando a parecer constrangedor. — O quanto o pessoal viu de… bom, o vexame. 

— Não muito. Seus amigos queriam só te colocar num táxi. Só me prometa não beber mais de estômago vazio, sim?

Ela concordou com um aceno de cabeça. Parecia fácil cumprir aquela promessa. Especialmente se ele parecia mesmo genuinamente preocupado com ela. — Eu devolvo as roupas que me emprestou limpas e passadas. Eu prometo. — o sorriso dele a fez se sentir reconfortada. Então, assim que entraram no carro e ele começou a dirigir, ela desejou ter pego um táxi. 

— Ah, você disse uma coisa ontem a noite e eu fiquei curioso… você me acha bonito? — ela percebeu que ele sorria e apertou a bolsa em seu colo, inspirando profundamente. — Sua mãe concordou com você se te serve de consolo. É realmente só uma curiosidade. Sei que para estrangeiros elogiar a aparência de alguém não é grande coisa. 

Ela assentiu, tentando controlar os próprios nervos. — Você é bonito. Você sabe que é, não? — ela ergueu as sobrancelhas, engolindo em seco. 

— Eu acho que sei, mas é engraçado ouvir isso de outras pessoas. E você estava bêbada, então eu fiquei curioso sobre ser um pensamento seu ou um pensamento da bebida. — Ele a olhou com um sorriso largo assim que parou em um semáforo fechado.

Chaeyoung riu um pouco e encostou a cabeça no vidro do passageiro, balançando a cabeça negativamente. — Você é bonito e deve saber que não é culpa da bebida porque todas as garotas do departamento matariam por uma chance com você,  sunbae-

— Jong Suk. Não vamos mais ficar sendo formais um com o outro sim? Me chame só pelo meu nome, se preferir. 

— E se eu não preferir? — Ele encolheu os ombros, como quem diz que a escolha cabia apenas a ela. Roseanne inspirou o ar de modo profundo, fechando os olhos com força. — Bom, de todo modo. Você disse algo que me deixou bem curiosa. Você leu meu histórico acadêmico?

Ele assentiu, batendo com os dedos no volante antes de sair outra vez. Como ele tinha acesso àquelas coisas? Era bem estranho pensar que ele havia tido interesse em seu histórico acadêmico. Com qual propósito? Como a faculdade podia permitir aquilo? Não era invasão de privacidade?

Ficaram quietos até que ele estacionasse em frente ao prédio do departamento e, quando Park Chaeyoung estava prestes a descer, o mais velho tornou a abrir a boca. — Eu estava procurando alunos para me auxiliarem. Eu já tinha visto alguns bons históricos, mas decidi olhar o dos novatos também. Não sou um maluco perseguidor se é isso que estava pensando. De todo modo, eu acho que você devia saber que o professor assistente de vocês acordou indisposto e você vai ter aula comigo hoje porque ele me pediu para substituí-lo. 

Rosé mudou a própria expressão de choque para incredulidade e, então, para alegria. Ela seria convidada para um projeto? Tinha um bom histórico para isso? Mas então, murchou um pouco. Talvez ele não quisesse alguém com potencial de desleixo elevado em seu projeto e ter bebido na noite anterior tivesse matado suas chances. Mas então, outra bomba despencou por sua cabeça. Ele daria sua primeira aula do dia. Química inorgânica experimental. 

No fim das contas, ela apenas moveu a cabeça em concordância e desceu do carro. Por irem para a mesma direção, ela não conseguiu sequer disfarçar que não haviam se encontrado. Caminhavam juntos um ao lado do outro e, para a infelicidade de ambos, já estavam todos no laboratório quando Jong Suk abriu a porta para que Roseanne entrasse. Os burburinhos estouraram enquanto ela pegava seu caderno de anotações na bolsa e retirava o jaleco do gancho para vestí-lo. Sentou-se na mesa em que estavam Jaehyun e Lisa, ficando entre os dois enquanto o próprio Jong Suk começava a distribuir entre os grupos uma folha de informações sobre os reagentes que deveriam usar. 

— Posso ter a atenção dos senhores? Vocês já tiveram tempo de sobra para os burburinhos, sim? Eu vou explicar como será feito o experimento uma única vez, então mantenham a atenção. Lembrem-se que não é permitido o uso de saias, shorts, cabelo solto ou sapatos abertos dentro do laboratório. Todos que estiverem usando algo do tipo, devem sair da sala, trocar de roupa ou prenderem os cabelos. O jaleco também é obrigatório, todos vocês são veteranos aqui, então vamos evitar acidentes. — Chaeyoung percebeu que seu olhar estava fixo no homem apenas quando Lisa a cutucou e sussurrou baixinho em seu ouvido.

— Você dormiu na casa dele, não é? — Rosé maneou a cabeça em concordância e Lisa assobiou baixinho. 

De todo modo, passaram o resto da aula concentrados no experimento, Jaehyun fazia as anotações enquanto Lisa, Rosé e os demais colegas participavam na fase de execução do experimento. Roseanne tinha dedos ágeis e movimentos precisos, de modo que alguns de seus colegas preferiam que as partes mais complexas fossem feitas por ela. 

Assim que a aula acabou, todos estavam reunindo suas coisas quando Jong Suk deu tapinhas na mesa para chamar a atenção dos alunos que falavam um pouco alto demais. — Eu gostaria que a senhorita Park Chaeyoung permanecesse aqui, por gentileza. — ela arregalou os olhos, mas assentiu com um aceno de maneira tímida. 

Logo que não havia ninguém além dela, embora Lisa e Jaehyun estivessem lhe esperando no corredor, Jong Suk apoiou-se na mesa e a encarou com seriedade. — Senhorita Park, se você achar que é adequada, eu gostaria de convidá-la para fazer uma avaliação para participar do meu pequeno projeto. Eu já trabalho com alguns alunos que a senhorita conhece, como a senhorita Kim Jennie e o senhor Nakamoto Yuta. Agora eu estava pensando em escolher alguém da sua turma e você tem um ótimo histórico.

— Eu adoraria! — ela respondeu quase de imediato, como se não tivesse pensado. — Digo, seria ótimo. Ótimo mesmo. Obrigada, sunbae! 

— Não me agradeça, você não vai mais ter vida. 

— Agradeço, sim. Eu realmente fico feliz com a oportunidade! — ela se curvou, observando-o manter aquela expressão séria e nada semelhante àquelas que havia visto dentro do carro naquele mesmo dia. — Jong Suk? Obrigada também, por ontem. Eu realmente agradeço. E me desculpe por… qualquer coisa que eu tenha feito. 

— Se você quiser evitar os burburinhos, eu sugiro não me agradecer aqui… agora, vá antes que fique estranho. — o Lee a aconselhou, fazendo-a sorrir e curvar-se em uma mesura. Quando saiu, no entanto, Jennie e Jisoo quem estavam com Lisa ao invés de Jaehyun. 

As garotas apenas esperaram que Jong Suk passasse por elas com um aceno de cabeça antes de Jennie sair puxando-a em direção ao pátio. — Então, você dormiu na casa do sunbae? O que aconteceu? Como é a casa dele? Por favor, conte tudo! 

Ela com toda certeza não poderia escapar dos burburinhos. Não agora depois dele ter aberto a porta da sala para ela e, certamente, não depois que ele a pediu para ficar no laboratório por último. E certamente já haviam se espalhado os rumores de que ela havia ficado bêbada rapidamente e sido levada para casa por Jong Suk. 

Naquela altura do campeonato, a melhor das hipóteses para Rosé era torcer para que algum outro rumor começasse a se espalhar. Um boato que fosse maior do que qualquer boato que fizesse menção a ela e a Jong Suk tendo qualquer relacionamento além da amizade. Contar tudo para as três garotas poderia ser uma péssima ideia, no entanto, especialmente em espaços públicos porque, no fim das contas, as paredes pareciam ter ouvidos e ela nunca seria capaz de dizer quando alguém estaria na espreita para espalhar novos rumores.

Então, em uma decisão arriscada, mas que acabaria por ser uma boa sacada já que ela também não estava com vontade de encarar os pais naquele dia só para levar uma bronca, Chaeyoung parou de andar e inspirou profundamente. — Eu conto. Mas na minha casa. Depois das aulas. Certo? 

Jisoo e Lisa se entreolharam e Jennie respirou de forma exasperada, quase desapontada. Mas no fim das contas, nenhuma delas tinha muito o que fazer além de concordarem que sim. Poderiam ouvir depois da aula. 

— A gente se encontra aqui. E aí vamos embora juntas. — Rosé assentiu, mais para si mesma do que para as garotas. Não tinha muito o que contar. Mas definitivamente não precisava de ouvidos curiosos que contassem histórias mentirosas sobre o que havia acontecido. Dizer que havia bebido e tirado a própria roupa com toda certeza acabaria distorcido para algo como “uma noite de sexo selvagem”. A julgar pelo burburinho que havia fomentado naquela manhã, ela não teria o anonimato tão cedo. Em sua mente ela só conseguia pensar que estava verdadeiramente ferrada. Não que isso fosse novidade, no fim das contas. Ela quase sempre estava mesmo meio fodida. Na verdade, agora ela preocupava-se com a imagem que fariam de Jong Suk. 

Ele também, certamente, não precisava dela para ter a atenção de todos. Lee Jong Suk, de forma natural, era popular.


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